A escola dos meus/nossos sonhos não pode ficar só nos meus/nossos sonhos.
A qualidade da matéria sonhada é apenas a de manter o nosso olhar no alto. Nada mais. Para alcançar os desejos são precisos muitos gestos. A quantidade/complexidade dos gestos é directamente proporcional à grandeza e elevação dos sonhos...
(É que embora morem lá no alto, os sonhos não caem do céu como frutos maduros, só porque passou o tempo justo...)
E ainda há que ter em conta os lobos, papões e bruxas que se vão interpondo entre nós e os sonhos, a escola dos meus sonhos. Eu cá mantenho a espada afiada, feitiços e encantamentos nas mangas e outras ferramentas de combate, para ir tentando afastar quem deseja uma escola das trevas, uma escola adormecida e afogada em papéis por cem anos, engolida por eles, uma escola onde o mal persista e se agrave pela ignorância dos que, alheando-se da sua essência, julgam conhecê-la.
Feita a introdução, aqui fica a história:
Desde o período passado que estava combinada uma sessão/aula apresentada por alunos da Turbêturma às suas professoras de Área de Projecto (Isabel, também Directora de Turma e professora de História e Paula, professora de EVT) e aos colegas menos experientes.
O pedido foi feito pelas próprias professoras por causa do entusiasmo dos alunos que levaram o Scratch para dentro daquela aula. Queriam aderir à ideia, ajudá-los, mas não sabiam como. Logo ali delineámos a estratégia de propor aos alunos mais experientes que assumissem uma sessão formal em data a combinar. Foi hoje.
Embora sem aulas de manhã, lá fui para a escola mais umas horas ajudá-los e filmar a actividade.
Depois de um primeiro percalço que atrasou imenso o trabalho (a 'net, como sempre, foi abaixo nos portáteis por deficiência da rede sem fios) lá conseguimos começar. Colegas ajudando os "professores" escolhidos pela turma, foram completando as explicações e partilhando os seus truques pessoais...
Eu acho que foi excelente, mas sou suspeita.
Desta vez, para além do encantamento que os alunos sempre me provocam, foi a reacção das professoras que me deixou entrever mais um pedacinho da escola dos meus sonhos a juntar a esta onde os alunos também são agentes de conhecimento e de progresso/formação dos adultos seus professores, desmultiplicando os fios destas teias tão do meu agrado (aranha por vício e convicção).
As duas professoras foram fazendo perguntas aos pequenos grandes "professores" e pareciam, elas próprias, crianças a entusiasmar-se minuto a minuto com os projectos apresentados, com o potencial revelado pela ferramenta e, depois, com os primeiros passos de aprendizagem de domínio da programação com o scratch...
Saímos para a rua as três. Elas cheias de sorrisos e ideias, antecipando com prazer a continuação deste trabalho nas aulas de Área de Projecto, onde irão voltar a estar nas mãos dos alunos para continuar a progredir... Ficou decidido que até ao final do ano o scratch seria a ferramenta para a produção dos mais variados projectos integrando saberes de várias disciplinas. Adorei! Eu nem sabia que havia programas capazes de fazer isto tudo! Já estou cheia de ideias! E onde é que isto começou?
Nós na rua a rir... eu a falar de Papert, do Logo, do MIT... de construcionismo... adiando o almoço.
E embaladas pelo entusiasmo perguntaram: seria possível eles darem uma aula a outras turmas? É que eu tenho uma turminha que precisava mesmo de desenvolver uma actividade assim. E eu também gostava que eles fizessem isso no meu 5º ano que é a minha Direcção de Turma...
Só pude responder:Isso era excelente! A S. da Turbêturma, depois de dar aquela aula aos professores, sugeriu que se fizesse o mesmo com alunos. Eles vão ficar felizes por poder ir a outras turmas e ajudar outros colegas!
É por esta escola dos meus sonhos, esta escola de exigência e responsabilidade, de preparação sólida dos alunos para um futuro inimaginável, esta escola de partilha com tempo para preparar e reflectir sobre as experiências, sem ser na rua à hora do almoço, que me bato. E, qual cavaleiro andante, estarei sempre ao lado da minha dama: a escola dos meus sonhos que hoje me deixou espreitar à sua janela e me fez sentir recompensada por todo este trabalho que tenho desenvolvido desde o início do ano lectivo (no mestrado e nas aulas com os alunos) em torno da utilização do Scratch em ambiente formal de aprendizagem. Mais importante do que o grau académico é o facto de poder, pelo caminho, oferecer alguns gestos que nos aproximem deste sonho cheio de urgência.
ADENDA: Falamos de alunos de 6º ano (11/12 anos)
Relativamente ao final deste vídeo... os meus alunos do 5º ano já descobriram que conseguem arrastar imagens da 'net directamente para o écran de trabalho do Scratch sem ter de gravar os documentos previamente para posterior importação... truques! Um dia partilharão com os mais crescidos essa descoberta... :)
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