terça-feira, setembro 30, 2008

Palavras, poesia, TIC no 1º Ciclo...

...pela mão da fada Zami :)

aqui

(Obrigada pelo carinho!)

Resolver problemas...

Uma aluna anda a fazer um projecto surpresa... Não sei o que será... Hoje encontrei na caixa de correio isto:

Assunto: Já fui ao blog
5:25 Professora já fui ao blog deixar a minha entrada sobre o meu projecto surpresa! E sem erros penso eu! Beijinhos
o blog está muito giro!

Assunto: Não consigo
5:32 Professora !!!!!!Eu na hora do scratch time como eu não tinha pen eu guardei e enviei para o meu mail e está cá, mas quando o abro diz-me que não consegue ler e aparece como se eu tivesse aberto o scratch normalmente sem o projecto! Mas eu agora estou a desconfiar de que se calhar tenho de instalar a nova versão no meu pc! Amanhã falo consigo!bjs

Assunto: Já consegui
5:40 Olhe prof afinal como eu tinha a versão antiga não dava para abrir, mas já instalei a nova versão e já consegui abrir o projecto! Estou muito feliz!bjs


Foi bom só ter visto estas três mensagens depois do problema resolvido. Dei-lhe tempo e espaço mesmo sem saber... Era só do que ela precisava. E de ir conversando comigo, partilhando as conquistas. A felicidade por uma conquista apenas sua.

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Na aula, hoje, outro aluno: Professora, passei ontem três horas a resolver o problema do projecto do meu relógio digital que comecei no Scratch time! Ah! E fui ao blog avisar que ia aparecer um projecto novo!

À tarde no correio: Professora, o projecto do relógio já está no blog da turma prontinho e completo.

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Entretanto, a equipa especialista em arranjos gráficos reformulou por completo a aparência do blogue... (está mesmo muito bonito!). Uma delas dizia: já coloquei a letra mais escura para se ler melhor...

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Já corrigi o erro ortográfico do projecto dos incêndios e coloquei outra vez no blogue!

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Estão no sexto ano, têm 11 anos... Falamos muitas vezes da importância de se tornarem cada vez mais autónomos... mais responsáveis... e de como é bom ir crescendo e evoluindo... aperfeiçoando as nossas capacidades ao longo do tempo. São conteúdos importantes de todas as aulas que temos em conjunto...
Reagir aos desafios e resolver problemas não é uma coisa da Matemática.
É uma coisa da vida. É uma forma de estar, de pensar e de ser.

O GTscratch é cada vez mais deles e menos meu.
Gosto de ver asas a crescer por dentro e por fora.

Geração Best...

O entusiasmo tem sido grande.
Os momentos de "chuva de ideias" (em AP) até conseguirmos um nome e assinatura do gosto de TODOS, sem excepção, permitiram momentos interessantes de gestão de conflitos (turma complexa...), desenvolvimento da capacidade de argumentação, criatividade, comunicação entre todos com respeito pelas ideias de cada um, envolvimento activo dos não nativos que dominam precariamente a língua portuguesa (três alunos)...
Esta é uma turma cujo diagnóstico revelou muitas fragilidades de vários tipos...
É bom senti-los já envolvidos, desejando ser melhores, sempre... Geração Best foi a escolha e empolgam-se com boas intenções para este ano, levados pelo entusiasmo...
Queremos animá-los a não desistir, a esforçarem-se, porque sem esforço nada se conquista. Este tem sido um trabalho muito mais virado para o seu interior (auto-estima fragilizada em muitos, com comportamentos decorrentes dos medos e inseguranças de quem pouco espera de si próprio, que chamam a atenção nem sempre pelas melhores razões)... E eles começam a perceber o carinho dos professores e estão receptivos à mudança... Aguardemos...

Em EVT estão a trabalhar o conceito de logotipo... na aula de AP ficou decidido trabalhar naquela disciplina o estudo de um muito especial para a turma/blogue (o par sou eu e a professora de EVT). Divulgar-se-ão os trabalhos de todos no blogue (alunos ofereceram-se para os digitalizar em casa) e a turma escolhe o que deseja ver como símbolo "de si".
Sugerimos o Imagine como hino... há alunos que já sabem cantar a canção (foram para casa procurar e escutar... muitos pais fãs registaram com agrado o interesse dos filhotes e acarinharam), imprimiram a letra para levar para a aula de Inglês. Na aula de AP, em que construímos finalmente o blogue, escutámos em silêncio... fomos partilhando em português o significado do poema.
Um aluno perguntou se podia ir investigar a história de John Lennon e fazer uma biografia para divulgar no blogue (é que a morte trágica acabou por ter de ser tema de conversa...). Já começou...
Um deles, descobri hoje quem foi, acrescentou já ao blogue a partir de casa uma barra de vídeos com a canção Imagine...
Querem partilhar livros lidos, filmes vistos, trabalhos feitos ao longo do ano...
Já estão a escrever com vontade nos cadernos (mesmo os que não gostam de escrever) apresentações pessoais em português... que terão de ser também escritas em inglês... e até em moldavo... em russo...
Hoje, ensaiámos a experiência com o computador pessoal de uma aluna (pouco fala português) que tem os caracteres necessários. Resultou e foi bom vê-la feliz e a aproximar-se de nós. Perguntou se podia, por exemplo, fazer os textos e projectos Scratch em duas línguas - russo e português (eu escrevo melhor russo que a minha língua ucraniana). Vai ser um blogue diferente este que agora está a nascer... Ajusta-se tudo às necessidade deles, aos problemas detectados... procurando que todos cheguem lá... onde é preciso e urgente chegar, com exigência. Alguns alunos, entusiasmados, até decidiram começar já a escrever uma história... Dois fizeram hoje uma entrada pequenina.

Muitos familiares de alguns meninos estão espalhados pelo mundo. O blogue será uma maneira de aproximar todos, de manter contacto, de unir.
Como sempre... as TIC não serão o fim... serão o meio (de partilha com o mundo, neste caso) para gerar vontade de trabalhar "com as mãos"... desenhando, escrevendo, escutando... descobrindo outros sons e sabores para além dos da moda. Mas, pelo meio, podem ser educados para a correcta e responsável partilha de conteúdos pessoais através da Internet, educação para o uso responsável e equilibrado das TIC. Tudo se aproveita.
Os professores e as famílias têm responsabilidade acrescida nestes tempos em que facilmente se cede ao digital pelo digital. Em que, deixado ao acaso, sem mediação, sem controlo do tempo, das ferramentas, ou dos conteúdos, o contacto da criança com o computador (tal como o contacto com outras "ferramentas") empobrece e limita em vez de enriquecer e alargar horizontes. Dá trabalho acrescido a pais e professores pensar no como fazer e como acompanhar os miúdos?
Mas tudo o que vale a pena, dá muito trabalho.
As gerações que estão a nascer e a crescer têm um caso de amor com o digital desde muito cedo nas suas vidas. Para que não se torne um amor de perdição, uma atracção fatal que os consuma... são precisos gestos, é preciso semear equilíbrios dentro das crianças e dos jovens.
Explicar-lhes, provar-lhes, dar-lhes exemplos pessoais e próximos de que vida é feita de todas as coisas juntas...
Tarefa fácil? Não...
E exige tempo, muito tempo... Coisa que esta sociedade de vertigem, esta política de números e lucros, esta vida de stress e aceleração constante esquecem em todos os minutos roubados, sorvidos (raramente oferecidos ou saboreados).
Tenho pena que assim seja.
Com uma mão dá-se, com a outra tira-se.
Com mais tempo... teríamos todos tempo para fazer melhores coisas com o tempo que houvesse.
Tempo para sermos melhores.
Provavelmente...
... tempo para sermos os melhores.


segunda-feira, setembro 29, 2008

P8

Um novo espaço para eu seguir atentamente...

Primeiro virtualmente (encontros da Universidade Virtual de Aveiro no Second Life) e depois "realmente", na Universidade de Aveiro propriamente dita, o destino ditou o cruzamento de algumas linhas e fios comuns (as teias, pois...) entre o Carlos, o Fausto e eu.
As TIC como cenário, o Scratch como ferramenta... um dia contamos o resto :).

Aqui fica a ligação ao recanto do Fausto...

http://labs.sapo.pt/ua/cfausto/

Quem quiser, siga-lhe o rasto!

8)

Sala 16 e A-Team... a história continua

O primeiro blogue criado com alunos.
Estão agora no 9º ano...
Sala 16 está viva(o)... e a Mónica continua a fazer o papel de principal animadora.

Acabei de encontrar por lá:

S.O.S - "O Auto da Barca do Inferno"

S.O.S - Probabilidades

S.O.S - Estrutura Atómica


Cada bocadinho de tempo investido foi semente que deu fruto...
Parabéns Mónica!

sexta-feira, setembro 26, 2008

Ambições...

A sessão foi animada (com os percalços de sempre).

Bom ter por lá o meu lutador... aluno novo na turma que, por circunstâncias da vida, fica na escola TODOS os dias das 8:00 às 18:30 ou 19... (já no ano anterior acontecia).
Feliz por vê-lo tão entusiasmado com o Scratch... a aparecer e a participar de forma tão concentrada e empenhada. Bom auspício para o apoio, de que necessitará (muito) e irá frequentar comigo. Já estamos ligados, sinto. Hoje foi mais um dia de aproximação.
Tenho de urgentemente garantir que se instala na BE-CRE o Scratch (ele perguntou se havia... pois saíu do Clube às 16:45 e é para lá que costuma ir). Eu não posso estender sequer mais um pedacinho de tempo para lhe encurtar a solidão de final de semana.... saio dali a correr para dar a última aula de sexta até às18:30.

A esta hora, a única sala com computadores fixos será disputada todas as sextas por três professoras (pelo menos). Acordámos alternar. Para quem precisava da sala pelo menos uma vez por semana (e já era tão pouco para cada uma de nós)...

É o choque tecnológico que apanho, todas as vezes que quero ir mais além. Tudo depende da sorte e do azar. Um jogo triste. Eles reclamam. Já nem sei o que lhes responder.

Os meus objectivos individuais até são bonitos e muito tecnológicos, mas ambiciosos demais para os parcos recursos de que disponho.

"E, já agora, partam-se os lápis (sem controlo parental, um lápis pode desenhar coisas que eu sei lá...)"

(Já depois de ter escrito esta entrada, encontrei ISTO aqui e... assim descobri melhor título para o que queria dizer... e melhores palavras para encerrar o texto. Agradeço a Ferreira Fernandes!)

O Kiko continua a falar comigo todos os dias (apanha-me no gmail... e lá me desafia no chat por dois minutos). Há dois dias falou em novidades no blogue... e eu fui ... e já lhe deixei conselhos, porque quando se quer criar uma espécie não endémica, ela não pode ser solta no habitat, correndo-se o risco de interferir na biodiversidade (por exemplo tornando-se dominante e exaurindo os recursos de outra nossa com a qual tenha de competir por alimento...).
Há paixões que semeamos, depois é preciso acompanhá-las... são assim uma espécie de responsabilidade... enquanto ele quiser...

Mas aquilo que me fez vir até aqui foi outra coisa.

Eu também sei que a solução não é colocar computadores nas mãos de todos (não se fazem melhores cidadãos assim instantaneamente, já o disse muitas vezes), como até posso aceitar os estudos que dizem fazer mal aos mais pequenos mais do que x horas com um computador, em casa... na escola... e etc.
E bem sabem que reclamo muitas vezes do tempo que não tenho (porque me foi tirado) para os educar para a tecnologia (e não só...) e...

Mas olho para a soberba evolução dos escritos do Kiko desde que o conheci (e podem ir ler alguns dos primeiros do blogue dele) com a convicção de que a paixão pelas borboletas teve um papel (e ele aí anda pelo campo, ao ar livre, não é obeso, pelo contrário), o computador teve outro (a possibilidade de partilhar essa paixão, de arrastar outros com ele, de encontrar quem partilhe do seu interesse, de a cultivar), a família tem feito o seu (acarinhando este interesse... o Kiko vai ao Lagartagis, o Kiko é sócio, o Kiko pode comprar crisálidas pela Internet...), eu tive o meu enquanto professora (despertar paixões, partilhar o meu blogue, preocupar-me com a sua educação para as TIC, criarmos o turbêturma... o desejo de criar o seu blogue... a minha exigência com a escrita...).

OK. Posto isto, falemos de outras coisas mais ou menos óbvias.
Fast-food na barriga dos miúdos? Bolos? Refrigerantes? PSPs? Telemóveis? Jogos e mais jogos? Falta de exercício? Muita TV? Prisão na escola o dia todo? (hoje um dos meus disse que fica por lá o dia inteiro, pois apenas o podem ir buscar às 18:30... já no ano anterior era assim).

Foi o mundo que fizemos para eles... Em cada família se vai gerindo a oferta e os benefícios/malefícios de certas escolhas, ou da frequência de uso seja lá do que for. Os alimentos estão por aí... quem faz as escolhas, as combinações e a receita de_vida são as pessoas. A escola tenta ajudar no que pode mas é cada vez mais complicado. Ninguém tem tempo para nada e andamos a correr e a fingir muitas vezes que nos preocupamos deveras com tudo isto. Agora estamos muito preocupados com os malefícios do computador e da Internet e até da influência negativa destes na já deficiente aprendizagem dos básicos... passou a ser moda bater no computador porque ele não só não salva, como também pode destruir.

Eu cá, apesar de tudo, até acho que, COM A DEVIDA ORIENTAÇÃO (como em tudo na vida, afinal) é mais produtivo um computador bem usado do que muitas das, desculpem a expressão, porcarias que os miúdos têm à mão ao longo do dia, sem qualquer tipo de mediação ou controlo parental. E, muitas delas, imagine-se, para além da via dos olhos, até são colocadas no interior do seu corpo por via da boca! Pasmemo-nos!

Afinal de contas até na Finlândia uma arma pode ser bem ou mal usada. Como um garfo ou uma faca. Qualquer objecto, mesmo o mais insuspeito, tem potencial de morte. Já todos sabemos isto. O que determina o gesto não é o objecto, é a pessoa. Não deixar as crianças aproximar-se de nada do que muito eventual e remotamente possa constituir um risco (atenção, há muita coisa a colocar nesta lista se formos criativos, não batam só nos computadores) é uma estratégia que faz sentido? Pensemos bem...

Eu nunca me queixo do que me dão. Só me queixo do que nos tiram (como o tempo) que poderia ajudar a fazer realmente melhores cidadãos com as coisas que se oferecem às crianças. Com as coisas que habitam o seu mundo, as coisas que compramos e colocamos dentro de casa. Gestos nossos (quem não quer comprar computadores não compra, certo? Ninguém é obrigado a ter nada que não queira junto dos seus rebentos. Pelo menos em casa... onde pode mais facilmente proibir... já na rua...)

(Muitos alunos meus - palavras de pais, âmbito da tese - passaram a jogar menos em casa, a ver menos televisão... para, em vez disso, pensar, trabalhar e construir projectos bem difíceis no Scratch... ou escrever nos seus blogues. Esse fenómeno está a começar a acontecer com as novas crianças recrutadas para o Clube Scratch Time... aprender a pensar com a ajuda de um computador pode fazer toda a diferença, aprender a raciocinar, a escrever... uma das alunas dizia-me que tinha vergonha de escrever porque dava muitos erros... se vissem a felicidade dela ao perceber que ali era possível escrever histórias e depois corrigir os erros e depois mostrar na internet a beleza do seu trabalho... assim se vai reconstruindo a confiança perdida... não é Mia? Não é Kiko? E tantos outros que já me passaram pelas mãos... Ontem duas pequenitas andavam às voltas com um tubarão... queriam que desse uma volta completa... pusemos virar 1... mas ele não virou... e aí pusemos 1000000 e ele virou um bocadinho - elas não se aperceberam do movimento de volta completa várias vezes - e depois pusemos 1000000000000 assim muito! Falei com elas e vamos começar a experimentar os valores de forma mais organizada e apontando num papel... expliquei que vão aprender algo importante sobre ângulos, vão investigar, vão fazer matemática... olhos brilhantes... alegria incontida... acabaram de chegar do primeiro ciclo... o computador vai ser a perdição delas na parca hora e meia semanal que tenho para lhes oferecer.) NAda disto é incompatível com passeios ao ar livre, exercício físico... Bem os vejo de bicicleta por aqui... e sei das muitas actividades desportivas que desenvolvem. Opções.

Termino com algumas das palavras de Ferreira Fernandes:

(...) Aliás, os computadores só são a mais recente das indecências com que se corrompem as nossas criancinhas. O próprio ler já é grave. Começa-se a soletrar, passa-se a folhear O Primo Basílio e daí é um passo até ao desagregar da família. Por isso o mais importante que há para dizer do Magalhães é que ele pode levar a marotices. Que ele nos abre o mundo, como aquele que lhe deu o nome, é de somenos. Desliguem-se os Magalhães! E, já agora, partam-se os lápis (sem controlo parental, um lápis pode desenhar coisas que eu sei lá...)

quinta-feira, setembro 25, 2008

Este meu fado...

Onde estava eu hoje às 12:30 da noite?
A escrever a letra para dois fados... :)

Cumpria assim um pedido de uma ex-aluna da Turbêturma... a minha Teresa fadista (agora no 7º ano)... que me escreveu uma mensagem da qual destaco um bocadinho:

"(...) Queria pedir-lhe que me fizesse um poema em quadras para eu colocar num fado. Estou-lhe a pedir tal coisa porque é muito difícil encontrar letras para mim (...)"


Nunca me amarro ao mastro, nem tapo os ouvidos.
Gosto do cantar das sereias. E lá vou eu...


(trim trim... às 5:00 o danado tocou... depois, algures de manhã, fui ter com ela e ela cantou o que escrevi... fiquei arrepiada... ela gostou muito... demos abracinho bom com muitos risos e aplausos das meninas com quem convivi dois anos e de quem tenho muita saudade.)


Os meus objectivos individuais mais inesperados são os que me dão mais prazer.

"Escrever poesia para um aluno se ele precisar e pedir... escrever mesmo que não peça, nem se aperceba que precise..."

quarta-feira, setembro 24, 2008

EXacto EXperimental

clipart office microsoft


... aulas... reuniões... papéis e... novidades noutros lados... (quisera eu que o tempo esticasse... pois...)

... e não, continuo a não estar interessada em concorrer, em ser repescada... nem me tinha apercebido... perguntaram-me hoje...
(já ouvi falar de uma desistência... não é fácil ver tantos passarem à nossa frente, toma-se mais consciência disso depois... ok... para mim continua a valer a pena, feito o primeiro balanço. Cada um é como cada qual.)

adiante... dormir...

(daqui a pouco tenho de me... levantar...)

terça-feira, setembro 23, 2008

Esfoladelas, arranhões, lágrimas e sorrisos...

Apareceram hoje 15 (da minha tal turminha...) para se inscreverem no Clube Scratch time. Entusiasmo grande. Percebi que ainda faltam alguns e para a semana seremos mais.
Aprendemos várias coisas hoje, lá pelo Clube...

A seguir fomos directamente para a aula de Matemática. Conversa muito séria sobre a minha preocupação com eles, sobre a necessidade de criarmos uma estratégia conjunta, para que haja sempre uma mão estendida na direcção de cada um. Formação de grupos de trabalho. Início da correcção em grupo dos exercícios do teste diagnóstico, em jeito de revisão do quinto ano, de aproximação mútua (entre eles, entre mim e eles), de colocar os motores a aquecer antes de levantar voo. Regras e reflexões para que tudo seja possível. Detesto ralhar, quero gastar todos os minutos a ajudar, não tenho feitio de polícia, preciso da vossa ajuda, o desafio que tenho é igual aos dos problemas que vocês têm para resolver na Matemática... Entendido?

... vá lá não chores...
mas se o meu pai vê estes erros todos no teste...
... é entre ti e mim. Só me importa com o que vais fazer a partir daqui... e estou por perto a ajudar. Não quero essa atitude, não te quero aí parado a olhar para o que foi. Agora é só para a frente que vais...
Mais tarde já sorridente... percebi o problema, percebi por que me tinha dado mal... e a parceira (perdida em grupo de quatro rapazes): afinal o grupo até se deu bem e não funcionou nada mal...
Estás a ver? O que te disse eu quando te convenci a ires para lá? Valia a pena experimentar...
(Minutos antes havia estado ao meu colo... dei com ela chorando, inconsolável, porque nenhum grupo a havia escolhido... depois convenci-a a aceitar o impensável... primeiro o mimo, o consolo... a seguir o desafio duro. Aceitou experimentar. Correu bem.)

E é esta a teia que um professor gere em hora e meia (muito mais poderia contar mas o tempo não chega)... entre lágrima e sorriso, ralhete e chamada de atenção, consolo, encorajamento, festa no rosto, ajuda próxima, desafio aqui, resposta acolá, consoante o que o coração e a nossa experiência aconselham.
E ainda não os conheço bem. Mas é o que ando a tentar fazer nestes primeiros dias de trabalho... Nem só de conteúdos matemáticos respira a aula, mesmo enquanto se fazem os exercícios com os conteúdos lá dentro. Não deixo nunca de os olhar, de lhes sentir o pulso, de lhes tirar a febre em cada instante. Exijo muito, sim. Estico a corda, empurro os limites, não tenho pena de ninguém, chego até a ser dura (não se riam, que é verdade), mas não vou a lado nenhum nem olho para outro lado, quando estou ao lado deles a pedir. Não coloco quatro rodas na bicicleta, nem deixo de estar atenta. Porque a queda faz parte, a frustração também e só se cresce quando percebemos o alcance de cada gesto conquistado com esforço nosso, depois de algumas esfoladelas e arranhões.

O meu diagnóstico é todos os dias.
Os meus objectivos individuais são simples e não consigo traduzi-los em números.

(E por mais que tente calar-me, há dias em que me apetece mesmo muito conversar convosco... Agora, com licença... tenho de ir às imensas contas Scratch, criadas hoje no Clube, adicioná-los como meus amigos...)

domingo, setembro 21, 2008

Preciosidades...

Vim de fugida. Virei sempre que se justificar. Logo hoje... justificou-se.
Deixo-vos em excelente companhia.
Foi um acaso. Estou aqui a trabalhar, claro... e, a partir de uma sugestão de leitura feita pelo meu amigo JMA, cheguei à página do autor José Antonio Marina. Tinha de partilhar antes de me recolher. E assim as moscas ficam menos solitárias... :)
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Destaco o projecto intelectual do autor... AQUI
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E, pela (imensa) oportunidade, um registo curioso (não li ainda, mas gostei do índice):
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Capítulo Primero: Cartografía de los miedos. .....................................................3
Los metólogos. ...................................................................................................4
Capítulo dos. El deseo de intimidar ...................................................................5
Capítulo tercero: El polo subjetivo, el carácter miedoso .....................................8
El miedo inconsciente. .......................................................................................9
Capítulo cuarto. El polo objetivo: el peligro.......................................................11
Capítulo quinto. La angustia y los miedos patológicos .....................................12
Capítulo sexto. Otros miedos patológicos...........................................................13
Capítulo séptimo. Las fobias sociales................................................................ 14
Capítulo octavo. Aparece la valentía y capítulo noveno: Elogio y nostalgia de la
fortaleza............................................................................................................ 15
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Pois...
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A Caminho editou já dois livros deste autor (infelizmente nenhum deles é aquele que procurava e precisava agora... mas fico de olho nestes dois para um tempo com mais tempo, pois sinto que vai valer a pena... são as minhas intuições...)
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E, agora sim, sinto-me melhor por vos depositar aqui algum mel nestes tempos de fel.
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(Deixo a teia às abelhas e às borboletas... em vez de a deixar às moscas... :)

sábado, setembro 20, 2008

A teia... (às moscas?)

... pois é.
Não estranhem as muitas ausências que se podem seguir a esta entrada. Não estou doente nem parada. Apenas admiti finalmente que, ou me convenço de que só tenho duas mãos, ou o excesso de preocupação pelo que anda irremediavelmente atrasado não terá boas consequências na sanidade mental e energia que ainda me vão caracterizando.

Uma turma muito complicada, blogue novo - desejo deles (a criar brevemente em AP) para unir a diversidade e procurar resolver problemas graves que se vão detectando aos poucos e fazem dela uma forte candidata a insucesso demasiado extenso - mais de 50% com muitas dificuldades de vários tipos e em várias áreas que não permitirão enfrentar o sexto ano se não forem vencidas (sim, que cosmética não faço - exigo, dou de mim, apoio, envolvo, motivo, mimo, acarinho, acompanho... mas...).

Alguns meninos a progredir na sua escrita por conta dos blogues individuais que foram agora reactivados e também exigem atenção, mimo e acompanhamento para consolidar os progressos (tal como aconteceu com o meu Kiko das borboletas... se descobrimos algo que capta o seu interesse... esse tem de ser o ponto de partida para os ajudar a crescer em muitos aspectos). É um trabalho silencioso e invisível mas que consome muito tempo e não estará à vista em nenhum portefolio para avaliação. Comento projectos, comento entradas em blogues, dou sugestões, corrijo erros, respondo a mensagens, o meu kiko (agora no 7º) apanha-me no Gmail e deixa-me no Chat as novidades sobre as lagartinhas... e eu escuto... deixo beijinho. Tenho saudades da minha Turbêturma...

O Clube Scratch time, em duas das sessões fundido com apoios de Matemática, onde já estive hoje ( http://scratchtime.blogs.sapo.pt/ ) a fazer a síntese da sessão de ontem - mais um espaço para manter activo, pois vai envolver muitos meninos (a minha turma mais "especial" deste ano vai ter um canto só seu às terças e tenho muitos candidatos ao Clube... preciso de começar por algum lado o processo de cativar, o processo de reabilitação da confiança pessoal e da motivação para aprender). Muitas contas novas para comentar, talvez mais uns blogues individuais. O tal plano tecnológico que a mim sai-me do corpo, da alma e do coração a todas as horas, mas que, para quem o escreveu, deve ser assim uma coisa mágica para a qual chega e sobra a míngua, esmola, migalha de tempo que nos é concedida na componente não lectiva. Não consigo não ficar muito muito mas mesmo muito zangada ao pensar nisto. E eu não costumava sentir-me zangada. Nem triste.

E depois o resto do trabalho do professor. O normal, claro, e o anormal que lhe tem sido acrescentado durante estes últimos anos de má memória... avizinha-se a confusão dos objectivos, das grelhas, dos portefolios, das reuniões (que há todas as semanas... mais uma na próxima). Ontem às cinco da manhã, antes das aulas que iriam durar o dia todo, andei de volta do digifolio mais um bocadinho... são coisas que levam tanto tempo! Como fazer? Quando? Nem sonhem que vou andar a caminhar com dossiers para a escola ou a fazer fotocópias de tudo o que tenho para o equivalente a quatro disciplinas! (Nem falo das áreas.)

A tese ensarilhada, parada. E era um dever, um direito meu. Tudo desrespeitado, menorizado por uma tutela pouco preocupada com a essência do saber (mas aflita com as aparências), embora eu tenha optado por algo tão próximo da acção e dos meninos e da escola. Mas não roubo aos meninos para a tese. Tento roubar a mim. Esta semana nem a mim pude roubar. Só deixando de dormir. Ou faço bem feito, ou não faço. (E deveria ter de fazer formação extra - riam-se! - porque não há equivalência em créditos para cadeiras como seminários de apoio... mesmo tendo eu sido colocada directamente no segundo ano e dispensada de fazer dez disciplinas). Começo a fazer de cabeça o balanço aos pontos negativos que se vão acumular nas minhas grelhas :). Dá-me uma certa vontade de rir e aguardo o resultado para poder contar como se "somaram" os meus defeitos, recusas e rebeldias em defesa do sagrado... Em vez de me preocupar com isso, vou mas é entregar-me ao desafio de tentar por todos os meios salvar a turminha que me traz tão preocupada. O carinho e o tempo gastos com os meninos, em detrimento de parvoíces sem nexo, não dá muitos pontos? Paciência!

(Estarei por outros lados... E estou sempre aqui, da maneira possível... mesmo na ausência. E não fujo... só que não consigo tratar este meu ninho como se fosse mais uma coisa que tem de ser... Quando conseguir e o meu coração pedir, enxotarei as moscas e deixarei de mim o que puder.)

Melhores tempos virão. Preciso de acreditar.

Despite the formidable difficulties, I remain optimistic, perhaps because there is to me a contradiction in being simultaneously pessimistic and an educator.

(A Place called School – John Goodlad, 2004 [1984], p. 361)


quinta-feira, setembro 18, 2008

STOP

Dia cheio a minha sexta STOP Monte de testes para ver STOP Uma turma de sexto em que a maioria... nem quinto STOP Alguma aflição STOP Tese parada há uma semana STOP Tentativa de retomar o digifolio para o processo de avaliação... (tanto tempo gasto) STOP Segunda dose de Scratch time... yes!!! STOP A Mia está a escrever cada vez mais e melhor no seu blogue... Yes!!! STOP A teia talvez se reduza à expressão mínima :( STOP Esta semana bem contadas... 50 horas? STOP Mais no fim-de-semana STOP Falam em chuva forte STOP Haverá chuva forte que chegue para le(a)var tudo o que não é preciso e nos consome?
STOP STOP STOP

Adenda à anterior...

A "bombomdemorango" que "se havia esquecido de que estava na escola" enquanto esteve no Clube Scratch time... enviou-me mensagem... e eu lá fiz entrada no blogue do Clube (mais tarde serão eles a fazer...) depois de comentar os projectos (crucial nesta fase toda a atenção possível).

Ela vai ficar contente quando descobrir...
http://scratchtime.blogs.sapo.pt/744.html

Scratch... apetite... sorrisos

Como não gosto de andar em câmara lenta no que interessa realmente, abri as portas do Clube já esta semana. Às quintas nenhum aluno meu pode estar comigo... então investiguei entre as turmas de quinto ano alguma com horário compatível, sem alteração profunda da vida e do tempo. Com tanta tanta sorte que a DT dessa turma é a nossa Teresinha do Talvez uma Península... e a prof. de Matemática a Graça, que é mulher de TIC TIC TIC e sempre pronta para mais um desafio (quero articular o Clube com PCT e outras disciplinas). Não acredito em recolha de inscrições no ar, com papéis que pouco falam do que podem realmente aprender e fazer neste espaço... primeiro mãos na massa... experimentam... depois decidem se se sentem bem e inscrevem-se.
Chegaram-me hoje os primeiros sete.
Pequeninos, doces, vivos, alegres.
A minha mãe disse que estar aqui uma hora e meia é menos uma hora e meia de estudo... mas deixou-me vir experimentar.
A minha disse que se eu gostar posso ficar e se não gostar não tenho de ficar.
Não quero mais do que isso, respondi-lhes. E acrescentei: e se a tua mãe descobrir que aqui numa hora e meia estudas mais e aprendes mais do que sozinha em casa? Ela riu-se.
Tinha 90 minutos para lhes abrir o apetite e mostrar que o difícil pode ser muito saboroso
Comecei. Apresentei... expliquei como instalar em casa, onde procurar informação sobre o Scratch para mostrar aos pais, exemplos de projectos feitos por alunos meus e, finalmente, as mãos na massa.
Outra vez magia. Já tinha saudade. Desafio, entusiasmo, confiança a crescer, cabeças a pensar. Corrigir erros ortográficos com gosto nos pequenos diálogos em alguns projectos. Aos 5o minutos estavam conquistados e só pediam para se inscrever.

Aos 85, quase a tocar e ninguém se apercebeu. Uma conta criada (bombomdemorango), alguns projectos muito interessantes concluídos e uma aluna no final dizendo... é tão bom... até me esqueci... nem parece que estamos dentro da escola.
Pois... (disse eu) este é o nosso espaço mágico Scratch time!
E saí a correr para ir dar aulas porque passei o intervalo a gravar projectos nos computadores...
Espero para a semana ter mais meninos...
Como terão contado a história deste bocadinho aos outros para lhes abrir o apetite? Perguntarei à Teresa... :)

Luto com unhas e dentes para preservar estes tempos de magia.
É preciso. É urgente.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Alunos: zero - resto: tudo

Adivinhava-se que começaria a acontecer. As reuniões cada vez mais difíceis (em quantas escolas país fora?). Zangados, aborrecidos, tristes ou só indiferentes. Discussões sem rumo, feridas abertas. Avaliação de desempenho, horários, avaliação de desempenho, diagnóstico, objectivos, grelhas, guiões, avaliação de desempenho, horários, distribuição de serviço, horários, avaliação de desempenho... Durante duas horas pouco mais conseguimos do que sentir o peso e aflição de tudo o que está a ser feito à escola. Alunos? Já não é tema de conversa possível nas reuniões. Há lá tempo! O mal-estar instalou-se há alguns anos e não reconheço esta escola. Cada ano pior que o anterior. Mais feridos, mais distantes, daquilo que importa e uns dos outros.
Escola sem sorrisos é como ave sem asas: não há magia que a eleve.
Deixa de ser lar. É só madrasta casa que, por sorte, ainda tem alguns jardins com flores onde entro a certas horas do dia para me purificar de todo o mal.
Sonho com o dia de amanhã, sem reuniões. Com o momento em que vou fechar a porta da sala.
E não me venham dizer que faço mal em me esconder, me proteger.
Tenho ninhos para tomar conta: quero sobreviver, por eles. Precisam do alimento que lhes levo. Da força das minhas asas para o procurar. Cada vez menos energia para combater por todos. Mão sábia soube como nos levar à rendição, à subjugação. Regra a regra, lei a lei, quase sem darmos por isso. A extinção do melhor que sempre habitou as escolas. De uma escola com tempo a uma escola sem respiração.
Tentarei continuar a combater os absurdos como puder, em cada gesto com sentido. Fundamentarei cada decisão em direcção contrária. Continuarei a aceitar as penalizações como consequência das opções que for fazendo. Não farei nada que sinta ser prejudicial aos alunos. Partilharei reflexões durante o processo. Falarei sempre de esperança e de luz (a dos jardins)
Objectivos individuais escassos para tanto mal a precisar de emenda, eu sei, mas não consigo mais...
(O resto da energia pertence-lhes a eles.)

terça-feira, setembro 16, 2008

Little girl blue...


(ler ao som da música)

Ninguém começa apoios no primeiro dia de aulas... mas a DT avisou-os da hora e dia e eles apareceram. Elas.
E eu estava à espera de braços abertos. Não as conhecia. Elas sabiam quem eu era e vieram ao meu encontro. Sentámo-nos no jardim. Para quê uma sala se o sol ainda brilha neste restinho de Verão?
Pedi à C. que falasse um pouco de si... Do que tinha acontecido com a Matemática no ano que passou.
Eu cá baldei-me umas vezes. E muitas vezes ia para a rua e para o GOD (sem ironia... Gabinete de Orientação Disciplinar...)
E este ano? O que decidiste antes de começar o ano?
Prometi a mim própria que ia melhorar porque sei que consigo.
Gosto que prometas a ti própria. Não quero que me prometas nada a mim. Sabias que quando fazes coisas que te prejudicam é a ti que roubas o tempo e as coisas boas que seriam possíveis se decidisses fazer diferente?
Senti nascer ali afinidades. Talvez, quem sabe, um ano diferente.
Adoro História e odeio Matemática.
Já percebi... Mas talvez eu consiga... Sabes que vamos estar muitas vezes juntas... Matemática, Ciências, Estudo Acompanhado, Área de Projecto, Apoio...
Estou feita...
Estás feita porque vais acabar a gostar disto tudo e nem vais ter tempo para vir para a rua um bocadinho...
Pois é... Sei lá... podia vir para a rua em História... Ah não! História não que eu adoro.
Estás feita - disse-lhe a sorrir.
Ela riu-se. Pois estou.
A N. chegou mais tarde. Veio há uns poucos meses de um país de África pouco habitual (embora ex-colónia). Sorri, pouco percebe. Não quis falar muito de si. A algumas perguntas dizia: não sei dizer... E eu pedi que me pedisse para parar sempre que não percebesse... Também não gosta nada de Matemática, isso ficou claro nas caretas que são linguagem universal. Diagnóstico simples.

A seguir foi a nossa primeira aula de Matemática. A C. havia pedido para se sentar à frente. Ela e a N. Foi a primeira coisa que fiz: cumprir o desejo. E pedi à C. que ajudasse a N. com os registos, porque confiava nela e achava que ela ia ser um excelente apoio para a N., até para a Matemática porque num instante as dificuldades iam passar.
Quer vir também ao Clube Scratch time... mais de 20 dedos no ar na turma... que é como quem diz a turma quase toda quer vir mais cedo para a escola para estar comigo mais um bocadinho de volta dos computadores e da programação.
A C. na aula de Matemática fez os registos todos. Serena ajudou a N.
E eu pensava... como já gosto destes miúdos mesmo sem os conhecer (quando aprofundarmos os laços então...)

Miúdas e miúdos às vezes tão cheios de uma solidão a gritar por um carinho, uma atenção. Muitas batalhas a vencer com nomes diferentes.
Estarei do vosso lado.
São a minha equipa. Têm de ser uma equipa e não um conjunto de pessoas, foi o que lhes disse. (Sinto nesta turma que estamos longe ainda de ser um grupo... muita exclusão... clivagem entre melhores e alunos estrangeiros e outros novos na turma e alunos com dificuldades. Essa será a minha primeira luta - uni-los em torno de algo. E não vai ser fácil, já percebi.)

Precisei de papel para fazer este diagnóstico e começar já a trabalhar para resolver os problemas? Não. (Mas esta semana vou assustá-los com o enorme papel A3 frente e verso que lhes colocarei à frente... depois passarei umas horas a corrigir 400 páginas de testes diagnósticos de M e CN no fim-de-semana - 4 páginas por teste x 4 turmas x 25 - ... não sei se no próximo ano continuarei a alinhar neste pesadelo. Sinto que desta forma os estou a trair. Afinal de contas o que poderia acontecer se me recusasse?)

Quer acreditem quer não, minhas meninas azuis, temos semelhanças nós três. Alegrias, tristezas, solidões, luzes e escuros convivendo no interior da caixinha de segredos que somos. Sei como se sentem. Por alguma razão concederam-me o dom de vos sentir por dentro, como a mim própria.
Se acreditarem nisso, se confiarem em mim, juntas aprenderemos muito este ano. Cresceremos muito.

Simplex...

... notificação por carta que chega na sexta 12, com data de 5... e 15 dias para resolver (ontem foi feriado)... divergências de valores (no caso a página, como todos os anos, só tem zeros... não se percebe a divergência, mas pronto... depois de tantas dezenas de anos sem aborrecimentos, haveria de chegar o dia da burocracia... sempre se atrasa mais uns dias a devolução do que nos é devido por pagarmos sempre a mais antes de tempo). Que é simples, que vai-se à net, que se procura em divergências e que se resolve. Sim, lá se vai à net (até porque o contribuinte está fora do país para além do prazo dos 15 dias). E na net lê-se: nesta data, não há quaisquer divergências a registar. Telefona-se para as finanças a explicar e perguntando afinal há ou não há?... Pois, não sei...Tem de vir cá com os papéis! Mais uma hora para levar tudo a Setúbal a quem tratou do assunto (esperando que consigam resolver), pois já não são horas de finanças e amanhã são aulas e reunião de tarde e depois de amanhã aulas desde cedo até tarde sem horário para finanças e depois de depois de amanhã exactamente o mesmo. Faltar aos meninos? Nem pensar. E depois acaba o prazo.
Assim gastei esta tarde.
Simplex!

Os reencontros matinais com os meninos que se conhecem, as boas vindas aos novos. O melhor do dia.

O pior? Pela frente turmas que deixaram de poder ter só 20 alunos, mesmo com crianças especiais e numa delas, para além dessas, três que mal falam o português... E nas aulas de Matemática a minha turma Scratch nunca poderá ter acesso (para darmos continuidade ao trabalho) à única sala com computadores fixos de uma escola que funciona das 8:15 à meia-noite e tem de responder a TIC 9º, AP TIC 8º, CEF informática, e mais CNO (já temos um e os formadores e os alunos também vão precisar ajustar horários... diurnos...) e mais o que for que não me lembro... que tem de dar um bocadito a cada...
Se nem um projectozito em sala de aula tem espaço, que fazer se a maioria realmente precisasse não de um PC por sala mas de vários, como eu gostaria de ter nesta turma e não consigo? (Portáteis nem pensar em tentar... só para montar e arrumar no fim, gasto tempo a mais de aulas... isso é bom em clube... onde tentarei compensá-los com o possível, uma vez por semana...Também foi azar... não coincide o horário desta turmita com um buraquito ou outro para requisitar a sala... está sempre ocupada nos blocos de M e de CN... isto na educação às vezes ter tecnologia, com qualidade, disponível é assim como uma roleta...)

Não se faz e pronto! (Depois logo explico na minha auto-avaliação... e fica tudo resolvido... há lá problema em privar os alunos da experiência! Mania minha que tenho de fazer estas coisas diferentes. Vê se sossegas!)

Tudo tão simplex, não é?

segunda-feira, setembro 15, 2008

Da janela do meu quarto: crianças felizes (a tempo inteiro)...

Para além dos arranjos no jardim, outra missão foi cumprida em férias: esvaziar a garagem, limpá-la e pintá-la. Nesse processo, muitos objectos foram distribuídos por quem os quis, outros foram para o lixo. Entre estes, uns móveis de pinho velhos (os primeiros da minha primeira casa). Nem um dia depois, alunos meus já os haviam (re)utilizado para montar um forte no muro que separa a piscina do campo onde se divertem a brincar. A conselho de um pai, que os ajudou, mudaram tudo para longe, para os confins do "campo da bola". Entusiasmados, e também com sugestão e ajuda deste doce pai, construíram à volta dos objectos desmontados e montados ao seu jeito, uma tenda índia. Contaram-me que depois até poderiam fazer ali trabalhos de grupo escondidos do mundo e como o pai os havia ensinado a entrelaçar as ervas em volta das canas. Ai os sorrisos...
Todos os dias os tenho ouvido, visto da janela do meu quarto, crianças felizes, correndo, brincando, andando de bicicleta, montando a tenda lá longe, escondendo-se nela, arrastando de bicicleta um carrinho com rodas construído com a ajuda desse mesmo pai...
.

Ontem, Domingo, andaram por estes lados (devem regressar hoje - feriado por aqui) e, quando os vejo, dou comigo a pensar na sorte que têm por poderem viver num local assim e ainda poderem usufruir de uma rua acolhedora e segura, longe e perto do olhar dos pais.

Só tenho pena dos horários sobrecarregados da escola, que dão jeito aos pais (no dizer de quem entendeu ser esta espécie de escola a tempo inteiro a solução para todos os males), mas que os prendem na gaiola muito mais tempo do que o necessário. Outras soluções existiriam... porque era importante que todos os pais, independentemente das profissões, tivessem tempo para os filhos... tivessem tempo para brincar com os filhos, tivessem vontade de ter (mais) filhos (a população está a envelhecer dramaticamente, como escutámos há dias... porquê?)

Da janela do quarto de algumas pessoas não se devem ver muitas crianças felizes na rua... talvez por isso se esqueçam de como era ser criança no tempo em que o foram. Se alguma vez o foram.

(A vida devia ser uma coisa assim bem mais simples do que aquilo em que se transformou. Aquilo em que deixámos que se transformasse.)

domingo, setembro 14, 2008

A vida difícil de alguns...

Não sabia do Clóvis.
Acabei de o descobrir aqui...

(Ainda bem que é Domingo para alguém.)



Madeira viva...


Já que estamos em maré de manos... Parabéns ao meu que nasceu hoje!
(Hoje tens mais "dois anos" do que eu... mas não te preocupes que em Outubro isso passa e tudo volta ao mesmo)

Claro que continua, qual Gepeto, a dar vida à madeira e a deixar as novidades no blogue. E eu fiz um pedido já a pensar no Natal: um caracol grande para o jardim...

Não consigo entender...

Educadora de Infância de mão-cheia, com trabalho sempre excelente junto dos seus meninos. Paixão que lhe vem de longe. No seu grupo de pré-escolar a única que podia ser avaliadora. Concorresse ou não a titular, lá viria a comissão de serviço para a designar como responsável pela avaliação, sempre que necessário.
Tem passado estes últimos tempos em reuniões e formação para a Avaliação.

Abriu o ano triste, com comunicação aos pais explicando onde a fazem gastar o tempo em vez de se se dedicar a preparar as actividades (coisa que sempre fez de forma carinhosa e criativa... podia contar-vos histórias de magia e sonho que tem proporcionado aos meninos, ao longo de muitos anos de dedicação intensa, iniciativas onde tem participado com eles, prémios que lhes foram atribuídos por um desempenho especial... talvez vos conte uma).

Pelo menos seis (com a possibilidade de virem a ser sete) manhãs por período (um mês inteiro de actividades) terá de faltar aos seus meninos para visitar e avaliar as suas colegas. E gastará muitas horas de volta de grelhas e portefólios para cumprir os absurdos emanados em gabinetes por quem parece preocupar-se tanto com papéis que se esquece do mais importante.
Durante o encontro, os pais espantados, sem perceber exactamente o que era aquilo. Tanta coisa a precisar de ser desocultada, denunciada. Tanta coisa escondida, tanta coisa na sombra. Uma Mãe pediu para se escrever na acta que não concordava com o facto de ver a educadora do seu filho mais ocupada com burocracias do que a exercer a sua real função.

Mais perto de mim, no agrupamento, uma das melhores professoras do primeiro ciclo que conheço, ficará sem turma e sem aulas para poder... avaliar os seus colegas. Já nem falo do que vai acontecer aos professores avaliadores na minha escola.
Tudo multiplicado por Portugal inteiro.
Isto é o quê, exactamente?
Que consequências trará a um já tão débil sistema?
Contribuirá realmente (como supostamente pretendido) para uma melhoria da qualidade educativa e do sucesso escolar?
Não consigo entender...

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Partilho uma das histórias desta Educadora:


Há uns anos encomendou à Amazon uns livros para os seus meninos.Explicou-lhes que o havia feito e que os livros viriam de avião… e teriam que passar por vários meios de transporte até chegarem às suas mãos…
Oh Lena! Achas que o avião podia passar por aqui e deixar cair os livros para não se gastar tanto tempo?
Hummmmm. Talvez... Acho que vou falar com eles...
Nascida ali a ideia, foi ao aeroclube da zona e convenceu um dos pilotos a fazer um voo sobre o jardim, em dia a combinar. O resto ficaria por conta dela.
Uma costureira, avó de uma das crianças, em segredo construíu um pára-quedas grande e colorido. Depois a Lena guardou a chegada dos livros. Atou-os ao pára-quedas e escondeu tudo. No dia certo, à hora combinada, momento de recreio, um contacto do piloto por telemóvel anunciava estarem os motores a aquecer… passados poucos minutos já o avião fazia vários voos sobre o Jardim, luzes acendendo e apagando, piloto acenando... (ela soube mais tarde que algumas pessoas da zona, surpresas, haviam telefonado ao aeroclube preocupadas com as manobras.)
As crianças, que ao longo do tempo foram sendo preparadas para a possibilidade, ficaram agitadas e felizes:
Lena! Lena! Deve ser o avião que traz os nossos livros!!!! Vamos ver! Vamos ver!
Sim, sim... mas primeiro vão já com a Cristina lavar as mãos porque está quase na hora do almoço e depois vêm ter comigo lá fora.
Saíu a correr, trepou a uma árvore com atrapalhação e prendeu o pára-quedas como se este tivesse caído dos céus e ali tivesse ficado suspenso...
Conseguem imaginar a festa, a alegria das crianças quando vieram ao exterior e deram com os livros na árvore? Pois...
E aqueles livros, para sempre com um significado especial, tornaram-se durante muito tempo o centro da vida... já fazendo crescer água na boca pelo aprender a ler um dia e decifrar-lhes todos os mistérios escondidos nas palavras...

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Mais aventuras e actividades da Lena e dos seus meninos descritas por si própria...
http://jornalnaonda.blogspot.com/search?q=helena+martinho

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Participação activa no Latitude 60 com o seu grupo. Foram premiados pelos trabalhos apresentados no concurso “À descoberta das regiões polares”e a Lena apresentou a actividade num Encontro, a convite dos responsáveis. (Página 2 do folheto, sessão 4)http://anopolar.no.sapo.pt/comite/docs/IIIWorkshop_panfleto.pdf

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Alguns artigos da Lena (sobretudo para a publicação Cadernos de educação de infância )
AQUI

e haveria muito mais para contar...

Já perceberam o que se perde afastando estes profissionais do que é realmente importante?

(E não é coincidência o apelido Martinho... é minha mana e tenho imenso orgulho nela. Era muito pequenina quando decidiu ser educadora. Há paixões assim. Triste é haver quem insista em afastar-nos do amor que nos move...)

sábado, setembro 13, 2008

Da luz e do branco...

Já vos contei. Finalmente matámos a hera que matava lentamente o jardim.
Não foi fácil. É muito complicado controlar as coisas daninhas quando se instalam e se assenhoriam de tudo.

Novas trepadeiras começam agora o seu trabalho de crescer. Antigas procuram novo caminho.

Mesmo com ar de começo, gosto deste jardim em espera. Prometendo sombras e delícias quando a glicínia branca - Wisteria floribunda 'Alba' - recuperar e quando os Trachelospermum jasminoides (verde e variegata), mais conhecidos por Jasmim-estrela, crescerem e se cumprir o arco sob o qual descansarei das batalhas.
Gosto de promessas. Desta coisa de sentir nas minhas mãos o poder de ajudar a que se cumpram.
Vício de professora?


Há uns anos a glicínia era assim como se vê abaixo... Depois sofreu maus tratos em mãos de pretensos especialistas que a trataram de forma errada. Culpei-me porque não vigiei os gestos, porque de certa forma fui ausente, fui cúmplice.
Não floriu este ano.

Agora foi para a terra (deixou o vaso que a prendia, já não compete com raízes malvadas). Aguardo que a liberdade, o carinho, a água e o tempo produzam o milagre esperado e a sarem de todos os males.
Não volto a perdê-la de vista, nem deixarei que mãos erradas se aproximem dela.
Fez-me falta o branco. Fez-me falta a luz.

Quem sabe na próxima Primavera...


Ontem...

Olha a stora de Matemática!!! Olha a DT!!!
Todas ao molhinho (mais coisa de meninas, sim) muitos abraços e beijinhos a mim, à Nena...
Os rapazes com sorrisos, mas mais contidos.
Foi delicioso. Já cheira a flores e a mel.

O beijinho de uma Mãe (também professora à espera de colocação)enquanto trocava seringas (a colocar em pontos estratégicos para o caso de uma hipoglicémia grave) e pacotes de açúcar com a DT, por conta do cuidado extremo que temos que ter ao longo do ano com uma diabetes agressiva de uma das alunas mais vivas, fortes, especiais e doces (ela ri-se com a ironia carinhosa) que tenho conhecido... Responsável e autónoma (sempre com a sua bolsinha para medir, administrar, comer o que é necessário às horinhas certas), estas medidas destinam-se apenas a situações que que a descida é rápida e pode acontecer a inconsciência. Aí passamos nós à acção, às medidas de suporte de vida, até que a ajuda médica chegue se não conseguirmos fazer subir os níveis de açúcar.
No ano passado pedimos a uma enfermeira que viesse até nós ensinar-nos como proceder, como lidar com esta condição. E apanhámos alguns sustos embora, felizmente, nunca tenha sido preciso nem a injecção salvadora, nem apoio médico, por se ter conseguido sempre reverter a situação. Ela aninhada em nós enquanto calmamente se faz o que tem de ser feito.

Somos o prolongamento do colo, do coração e das mãos dos Pais na escola.
Podemos às vezes até ser mais do que isso.
O confidente, o psicólogo, o enfermeiro que cuida ou salva.
Nesta turma têm de confiar em nós até a vida de um filho.

Há lá grelha onde isto caiba...

sexta-feira, setembro 12, 2008

Eu deambulo, tu deambulas, ela deambula...

Diagnóstico: palavras a mais
Objectivo individual: desenvolver urgentemente a capacidade de síntese.
Indicador: evolução do comprimento das entradas da teia.
Instrumento de medida: régua (de escala validada previamente)
Instrumento de registo: grelha apropriada (unidade de medida a usar: cm).
Resultado esperado: atingir valores entre 3 cm a 5,07 cm de comprimento das entradas. (Os critérios de classificação - em anexo algures - serão estabelecidos em função da percentagem de entradas com determinado comprimento, sendo que o excelente só será atribuído caso 100% das entradas meça 3 cm)
Esclarecimento: Não há necessidade de ler as entradas, a medição será suficiente, já que o tempo não chega para tudo e é preciso operacionalizar e objectivar a avaliação.

(Vim cá acima ao post escrever isto, depois de ter percebido os cinco metros e meio de teia que teci sem dar conta. Há coisas que escrevemos sobretudo para as arrancar do peito, não para ser lidas por outros... não há paciência nem tempo... nos tempos que correm... para ler o que sai da entranha de terceiros com problemas graves na competência de síntese. Está feito o diagnóstico de uma das minhas dificuldades. Se decidirem avançar por aí abaixo... não se queixem depois de não conseguirem diagnosticar como deve ser e se atrasarem para alguma reunião importante... E não me venham cá dizer que se tenho tempo para isto, então mais valia calar-me e ir trabalhar. Acordei mais cedo só para deambular... não prejudiquei o trabalho. Até ver, eu é que decido como uso as minhas madrugadas...)

Ora bem... já coloquei ontem a fotocopiar mais de 100 folhas A3 frente e verso (só para os meus sextos anos)... fazendo a conta a dezenas de turmas do agrupamento e mais de uma centena de professores (só nesta escola)... dá... deixa cá ver... multiplicando por ... e fazendo a conta... é só fazer a conta... pobres árvores, pobre magro orçamento das escolas... vã filosofia a que corria desde há alguns anos de contenção nas cópias (e o plafond reduzido a condizer no cartão electrónico) subitamente interrompida...

Esta coisa dos testes de diagnóstico globalizantes por obrigação para constarem em dossiers e fazerem de indicadores de nem sei exactamente o quê, mesmo quando os professores conhecem os alunos há um ano ou até há dois anos e procedem habitualmente a diagnósticos regulares e menos onerosos...
Eu, por exemplo, faço pequeninos ditados de números, reconhecimento de figuras e sólidos na entrada do 5º, e coloco questões oralmente, ou escritas no quadro, respondidas em papel de cópias desaproveitadas, quando é oportuno e necessário, no início e em qualquer altura, e aplico muitas outras soluções em que a avaliação formativa regular serve também de diagnóstico do que vai acontecendo, das competências em progresso, o que é necessário completar antes de avançar - embora o meu avançar não se mantenha arrumado unidade a unidade e a minha visão do currículo seja mais "holística" e interligada - tudo bem entranhadinho na acção e ajustado à medida de cada turma, cada criança ou grupo de crianças, do ano de escolaridade em causa... e ao próprio estilo e abordagem do professor ou sequência pela qual opta... que nem todos andamos propriamente a seguir os manuais linha a linha. Alguém se lembra da chamada "gestão flexível do currículo" em que por caminhos adequados e diversos podemos chegar aos mesmos objectivos? Alguém se lembra de um indicadorzito da avaliação dos profs sobre "projectos inovadores"? (Respirar aqui que este começo foi denso.)

Solução: se realmente querem prosseguir por esta via... Urgentíssimo um plano tecnológico mais profundo e de longo alcance!!... Todas as salas equipadas com um computador por aluno e resposta digital aos testes que passariam a ser virtuais... com resultados logo tratadinhos e arrumadinhos estatisticamente. Ou isso... ou a pegada ecológica da educação deste país vai ser brutal e terá um impacto nunca antes visto (e nem estou ainda a falar do que já ouvi: salinhas para colocar... todos os portefólios dos professores... e processos gordos cheios de impressos e grelhas... cruzes! Das grelhas não me safarei... mas ninguém verá um papel meu na escola. A net fez-se para quê?) (Breve momento de reflexão tecnológica.)

Se eu tivesse a certeza absoluta de que todo este gasto absurdo era a favor dos alunos... Que esta rigidez, esta inflexibilidade na gestão do trabalho, esta uniformização, fronteirização, "papelarização", burocratização anti-simplex servia melhor a educação... Mas não tenho essa crença. Aliás, até tenho exactamente a convicção contrária. Manobras de diversão. O mais importante não é feito.

Argumentar que assim se desoculta o trabalho de cada um, que fica tudo a nu, que toda a gente tem de trabalhar e mostrar que trabalha (quem trabalhava e quem não trabalhava, quem já fazia e quem nunca fez), que começar o ano a corrigir uma infinidade de testes de crianças que conheço tão bem (e para as quais até nos demos ao trabalho de fazer uma espécie de prova globalizante no final de Junho, com as mesmas características, em jeito de aferição... enfim... já no estilo PAM...) soa-me a falso, não me conforta, não me acrescenta, não nos enriquece...

Depois de passar esta onda... lá terei de fazer então o diagnóstico ao meu jeitinho, ao longo de TODO o ano, que às vezes pode passar tão simplesmente por me sentar ao lado de uma criança e fazer uma pergunta, conversar um bocadinho com ela sobre o trabalho que estamos a fazer ou fizemos... ou iremos fazer... na aula... fora dela... responder a um mail, corrigir um erro ortográfico num blogue seu e procurar que se envolva activamente na correcção da sua escrita, reconhecendo e identificando as dificuldades (bom que se habituem a fazer esses "auto-diagnósticos"). Nada é tão fiável como os gestos deles, as palavras deles, os olhos deles, os interesses deles. Eles são o meu guia durante uma aula inteira. Aula a aula. Dia a dia. Mês a mês. Sobretudo quando os conheço pela primeira vez e tenho de adivinhar os medos, os receios de responder, as inseguranças, a vergonha de dizer "não percebi". Quando finalmente consigo que se sintam em casa, passa a ser tão mais fácil o diagnóstico... Quando o medo desaparece e a confiança se instala, não me largam mais... "oh professora, não percebi nada disso! Oh professora eu não dei isso, eu não sei isso! Podia explicar outra vez?..." (Respirem outra vez, que isto está a ficar complicado...)

No ano passado, o breve diagnóstico que fiz para o PCT deu resultados baixos na minha turminha scratch (mesmo com questões acessíveis) e deu-me também trabalho conseguir limpar os efeitos nefastos de chegar à escola nova e começar a trabalhar com a triste sensação de que se tinha falhado logo à entrada... Há formas mais subtis e úteis de diagnosticar, motivar e ajudar ao longo de todo o ano e não apenas à entrada para, mais do que servir as crianças... salvaguardar a nossa avaliação(?)...
Afinal de nada serviu. Na maioria das vezes de nada serve. Com esse diagnóstico ou sem ele... procuro é ligar-me rapidamente à alma de cada um, dar-lhes o direito a um passado limpo e sem mácula ao entrar na escola nova e grande... e é aí que o verdadeiro diagnóstico e acompanhamento começam, quando a confiança nasce e a exigência grande não causa receio nem espanto, é apenas desafio...
Assim foi. E tudo correu bem. Os Pais satisfeitos, os resultados e progressos óptimos, os miúdos moralizados e motivados para que lhes seja sempre exigido mais. Este ano lá estarei para lhes "queimar mais uns neurónios" como dizia a minha Mada. E a minha Turbêturma lá estará no sétimo ano, como o meu A-team que seguiu já para o nono... E este ano virá nova turma ao meu encontro que não conheço bem, mas passarei a conhecer... porque me distribuirei por várias disciplinas e áreas (o que é um privilégio, já que este ano o horário se equilibrou apenas com 6ºs anos tendo eu herdado uma turma de outro professor).

... como se os papéis pudessem mudar por milagre o que a seguir vai acontecer nas aulas. Como se os meus colegas com 6 e 7 turmas (tenho um colega com 9 - EM) pudessem realmente ajustar tudo o que descobrem a cada turma, a cada criança por conta de um teste diagnóstico... como se um professor sem amor, passasse a amar por obra e graça do papel... Quem acredita nisto? Quem acha que assim se resolvem os problemas do insucesso? Afinal de contas... mesmo sem este exagero... os resultados já foram "tão bons" no ano que passou... Há estratégias menos pesadas e mais em conta para produzir bons resultados. (Chega de pausas... se aguentaram até aqui, já não falta muito.)

Sabem quantas horas passei em casa a visitar os projectos dos alunos, a acompanhar o seu trabalho virtual, a encorajá-los via mail ou a responder a perguntas (síncrona e assincronamente), a diagnosticar, sem o saberem, as suas dificuldades, mas procurando logo ajudar, corrigir, enriquecer o que estava em falta? Quem inventa as coisas que escreve nas mil leis sobrepostas, pressupondo um tempo que não existe (farto-me de o repetir), terá a mínima ideia do que deveria ser a escola neste século XXI? Da importância de um professor com tempo para os alunos e com tempo para si? Para se actualizar? Para estudar? O mundo não está congelado... avança... Não tenho culpa se alguns não aproveitassem esse tempo... O sistema deveria estar preparado para acarinhar e apoiar quem trabalha e prova que tem bons resultados com isso, não para punir toda a gente indiscriminadamente, impedindo quem sempre se dedicou de fazer tão bem feito quanto gostaria e poderia (sim, que às vezes tudo isto me parece bem mais um imenso castigo, um tau-tau de colher de pau, uma coisa assim de vais pró quarto e não jantas, do que propriamente uma estratégia para o sucesso...)

E eu divago, divago... mesmo sem tempo para divagar (tinha de o fazer antes de começar o ano... mesmo que esta entrada seja indigna do que por definição deveria ser um post num blogue...)...
É este desejo de ver os papéis em ordem para depois tentar trabalhar a sério com os alunos até começar a dança das grelhas e da avaliação.
É este desejo de me limpar do cinzento antes de ir ao seu encontro. Saudades deles e das aulas. Sem esta aflição que se sente no ar. Este desconsolo escondido por trás de uma azáfama fingindo que a escola se está a cumprir mais agora, em jeitinho militar de formigueiro. E uma colega que cedeu: licença sem vencimento. (Iria ser uma das avaliadoras.) E outra que se interroga... falta pouco tempo... acho que me vou embora antes (também titular e também avaliadora). Ambas do meu departamento.
(Eu disse que estava quase a chegar ao fim? Não disse nada...)

Em cada dia que passa tomo consciência da cada vez maior importância da decisão que me manteve no certo caminho para a pessoa que sou e queria continuar a ser. Passei de primeira a quinta do grupo. Agora sou apenas a primeira das Professoras sem título de nobreza. E esse é exactamente o pódium em que quero estar. Pelo menos tenho um bocadito de ar a mais para respirar (enquanto os avaliadores, mais uma vez, andam às voltas com formação, formação, formação para fazerem aquilo que ouvi há dois dias repetidas vezes na TV - canal um: este ano lectivo vai trazer um desafio novo para os professores que serão avaliados pela "primeira vez"...)
Pela primeira vez... O povo deve ter ficado estarrecido... Eu cá fiquei.

Se não confiavam na avaliação que sempre tivemos (vão confiar mais nesta???), que dizer da dos pais e dos alunos que senti sempre do meu lado e me deixavam com a consciência serena do dever bem cumprido? Somos avaliados todos os dias. O nosso trabalho exposto a todos os olhares. Frequentemente fui professora de filhotes de colegas, funcionários, pessoas que me conheciam... Os meus alunos seguem para as mãos dos colegas do terceiro ciclo... é possível realmente esconder o que fazemos e quem somos? Viver mais de 20 anos sem ser avaliado? Como explicar se agora vier a ter mais insucesso na minha avaliação feita pelos pares, com as novas grelhas e indicadores tão precisos e válidos, se os outros indicadores continuarem a revelar que mereceria mais no que é essencial? Como explicar que essa avaliação já não me vai levar a mais lado nenhum, portanto não constitui em si motivação para fazer melhor? Era assim para premiar o mérito, dizia-se. Seria? Será?
Felizmente para o sistema eu não funciono com cenoura. É mesmo só amor. Que traz sempre com ele o sentido de responsabilidade e a consciência da importância da missão. Não deixo de ser quem sempre tenho sido.
(Sim, eu sei, menti-vos... ainda faltava muito... juro que agora é mesmo só mais um pedacinho...)


Perdoem-me os que acreditam em tudo isto. Os que acham que agora sim estamos no certo caminho. Eu cá sou mesmo um animal estranho, com mais feitio de aranha, borboleta e cigarra do que de formiga. E até trabalho muito. Se for trabalho-causa de boas consequências para os alunos, por gosto, que não cansa. Se me deixarem ser na diferença em que acredito.
Mas gosto de cantar pelo meio, e de colher flores, e de escrever poesia, e de fazer festas aos gatos, e de me sentar só a olhar e a pensar, e gosto de ler e de reler e, sobretudo, de ter tempo para conversar com eles, para estar com eles noutros tempos não formatados por uma estrutura que já não (n)os serve.
Ter esse tempo de qualidade para me renovar, para nos saborearmos, permite-me uma energia especial junto deles. E eles precisam tanto dessa minha paciência disponível que os acalma, que os agita e que os move...
Esse colo, esse ninho com asas.
Quero sentir que cada gesto, cada papel, cada reunião tem um sentido, é útil.
Quero ir feliz para a escola, todos os dias, com muitas coisas para partilhar com eles.


Se não puder viver, se não puder respirar, se o peso do desencanto me vergar, partilho o quê?
Serei professora como?