Educadora de Infância de mão-cheia, com trabalho sempre excelente junto dos seus meninos. Paixão que lhe vem de longe. No seu grupo de pré-escolar a única que podia ser avaliadora. Concorresse ou não a titular, lá viria a comissão de serviço para a designar como responsável pela avaliação, sempre que necessário.
Tem passado estes últimos tempos em reuniões e formação para a Avaliação.
Abriu o ano triste, com comunicação aos pais explicando onde a fazem gastar o tempo em vez de se se dedicar a preparar as actividades (coisa que sempre fez de forma carinhosa e criativa... podia contar-vos histórias de magia e sonho que tem proporcionado aos meninos, ao longo de muitos anos de dedicação intensa, iniciativas onde tem participado com eles, prémios que lhes foram atribuídos por um desempenho especial... talvez vos conte uma).
Pelo menos seis (com a possibilidade de virem a ser sete) manhãs por período (um mês inteiro de actividades) terá de faltar aos seus meninos para visitar e avaliar as suas colegas. E gastará muitas horas de volta de grelhas e portefólios para cumprir os absurdos emanados em gabinetes por quem parece preocupar-se tanto com papéis que se esquece do mais importante.
Durante o encontro, os pais espantados, sem perceber exactamente o que era aquilo. Tanta coisa a precisar de ser desocultada, denunciada. Tanta coisa escondida, tanta coisa na sombra. Uma Mãe pediu para se escrever na acta que não concordava com o facto de ver a educadora do seu filho mais ocupada com burocracias do que a exercer a sua real função.
Mais perto de mim, no agrupamento, uma das melhores professoras do primeiro ciclo que conheço, ficará sem turma e sem aulas para poder... avaliar os seus colegas. Já nem falo do que vai acontecer aos professores avaliadores na minha escola.
Tudo multiplicado por Portugal inteiro.
Isto é o quê, exactamente?
Que consequências trará a um já tão débil sistema?
Contribuirá realmente (como supostamente pretendido) para uma melhoria da qualidade educativa e do sucesso escolar?
Não consigo entender...
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Partilho uma das histórias desta Educadora:
Há uns anos encomendou à Amazon uns livros para os seus meninos.Explicou-lhes que o havia feito e que os livros viriam de avião… e teriam que passar por vários meios de transporte até chegarem às suas mãos…
Oh Lena! Achas que o avião podia passar por aqui e deixar cair os livros para não se gastar tanto tempo?
Hummmmm. Talvez... Acho que vou falar com eles...
Nascida ali a ideia, foi ao aeroclube da zona e convenceu um dos pilotos a fazer um voo sobre o jardim, em dia a combinar. O resto ficaria por conta dela.
Uma costureira, avó de uma das crianças, em segredo construíu um pára-quedas grande e colorido. Depois a Lena guardou a chegada dos livros. Atou-os ao pára-quedas e escondeu tudo. No dia certo, à hora combinada, momento de recreio, um contacto do piloto por telemóvel anunciava estarem os motores a aquecer… passados poucos minutos já o avião fazia vários voos sobre o Jardim, luzes acendendo e apagando, piloto acenando... (ela soube mais tarde que algumas pessoas da zona, surpresas, haviam telefonado ao aeroclube preocupadas com as manobras.)
As crianças, que ao longo do tempo foram sendo preparadas para a possibilidade, ficaram agitadas e felizes:
Lena! Lena! Deve ser o avião que traz os nossos livros!!!! Vamos ver! Vamos ver!
Sim, sim... mas primeiro vão já com a Cristina lavar as mãos porque está quase na hora do almoço e depois vêm ter comigo lá fora.
Saíu a correr, trepou a uma árvore com atrapalhação e prendeu o pára-quedas como se este tivesse caído dos céus e ali tivesse ficado suspenso...
Conseguem imaginar a festa, a alegria das crianças quando vieram ao exterior e deram com os livros na árvore? Pois...
E aqueles livros, para sempre com um significado especial, tornaram-se durante muito tempo o centro da vida... já fazendo crescer água na boca pelo aprender a ler um dia e decifrar-lhes todos os mistérios escondidos nas palavras...
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Mais aventuras e actividades da Lena e dos seus meninos descritas por si própria...
http://jornalnaonda.blogspot.com/search?q=helena+martinho
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Participação activa no Latitude 60 com o seu grupo. Foram premiados pelos trabalhos apresentados no concurso “À descoberta das regiões polares”e a Lena apresentou a actividade num Encontro, a convite dos responsáveis. (Página 2 do folheto, sessão 4)http://anopolar.no.sapo.pt/comite/docs/IIIWorkshop_panfleto.pdf
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Alguns artigos da Lena (sobretudo para a publicação Cadernos de educação de infância )
AQUI
e haveria muito mais para contar...
Já perceberam o que se perde afastando estes profissionais do que é realmente importante?
(E não é coincidência o apelido Martinho... é minha mana e tenho imenso orgulho nela. Era muito pequenina quando decidiu ser educadora. Há paixões assim. Triste é haver quem insista em afastar-nos do amor que nos move...)
Votos de Boas Festas
Há 6 anos
5 comentários:
A grande teoria pedagógica do momento não tem nada a ver com o ensino mas com a economia (apesar de coisas idiotas como as que contas) e chama-se accountability. De acordo com esta teoria, ensinar é menos importante do que verificar o que se fez (daí perdermos tempos infinitos com grelhas e grelhinhas - as dos conselhos executivos têm 25 páginas cheias de aberrações indescritíveis). Ainda de acordo com os nossos expertos (especialistas em coisa nenhuma, conhecedores de nulidades), economicamente é fixe aumentar os alunos nas turmas para elevar o rácio aluno/professor e assim diminuir custos mas depois pode-se gastar rios de dinheiro em fantochadas cheias de grelhas e muito mais, tudo fotocopiado, arquivado, indexado...
Para preencherem as grelhas, os conselhos executivos vão ter de deixar de fazer a gestão das escolas (como é que vão verificar se as avaliações de todos os professores se encontram a dentro da média das disciplinas e outras coisas do género?) tal como os professores vão deixar de ensinar para preencherem papéis, verificar se estão ou não dentro dos seus objectivos e coisa e tal. Tudo (teoricamente) em nome da melhoria do ensino.
O engraçado é que não há nenhuma empresa que esbanje tanto dinheiro e energia na avaliação dos seus funcionários. Se o fizesse, certamente entraria em processo de falência em pouco tempo. Tal como vai acontecer com o nosso sistema de ensino. Mas os expertos leram algures (apesar de não saberem bem onde, nem quando) que isto era hip (tradução para portuga: estar na moda, ser prá frentex).
suspiro... e repito: não consigo entender. Por mais que tente. Estou mesmo a precisar que me alguém me explique como se eu fosse muito...
Miga,
nós só somos professorzecos, logo incapazes de perceber este assunto mais parecido com um novelo bem emaranhado :-) .
3za e herr, eu acho que para alguém nos explicar como se fôssemos muito... , só se fosse a própria MLR a abrir-se em confidências longe dos holofotes da comunicação social - a menos que só haja uma outra possibilidade: ser convencida a sentar-se umas horas num consultório de um psicanalista. E não estou a brincar, porque tenho pensado muitas vezes que MLR, para além das suas prioridades economicistas e estatísticas, é simplesmente incompetente por ignorância do que é ensinar numa escola do ensino não superior, por ignorância do terreno, mas tenho lido que ela foi professora do 1º ciclo, e, mesmo que não tivesse sido, qualquer pessoa minimamente instruída que se debruçasse sobre grelhas e outra papelada em que está a afogar os professores e os presidentes de ce levaria as mãos à cabeça. Mas MLR não é estúpida, e é isso que me faz muita confusão. Já tenho tido quem me diga que daqui a dois ou três anos os professores estarão habituados e então se verão os benefícios das medidas da ministra, mas quem me diz isto também ainda não mo conseguiu explicar bem explicadinho como se eu fosse muito...
(Não estive a ironizar - eu também tento pôr em dúvida o que me parece evidente para perceber melhor, mas, muito honestamente, digo que não consigo mesmo)
Eu cada vez vou tendo menos força para ironizar... é mesmo só colocar dúvidas a ver se se faz luz.... :(
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