domingo, novembro 30, 2008

A mana caçula e as suas missões no mundo...

A teia já foi da Lena, já foi do Paulo, já foi da infância... falta aninhar aqui a Isabel...

Se se escrever Isabel Martinho Cuba no Google... chegamos aqui e percebemos qual a missão que tem há um ano em mãos na Comissão Europeia (a Isabel vive e trabalha em Bruxelas, local onde concluiu o curso de Relações Internacionais iniciado em Portugal). Ainda trabalhou no Conselho da Europa em Portugal, depois de concluir o curso, mas o amor e o seu desejo de ir mais longe, associado à sua imensa competência, levaram-na para longe.

Acabada de chegar aos 40 (portanto a mais novinha dos quatro manos que se vão encostando aos 50), desde muito cedo quis fazer tudo o que os manos faziam e integrava-se em qualquer brincadeira sem dificuldade.
Aguerrida, incapaz de resistir a um desafio, aos três saltava à corda quando o fazíamos naquele célebre jogo do entra e sai com uma corda longa. Ninguém conseguia acreditar, só vendo...

Foi aluna minha e da Lena que a perseguíamos implacavelmente em casa para lhe dar aulas sobre o que íamos aprendendo na escola. Gostávamos de brincar às professoras... e foi no que deu... Uma vezes com paciência, outras tentando escapar ou correndo para a Mãe aos gritos perguntando: oh Mãe, o i tem pinta ou não tem pinta? É que a Lena quer que eu escreva um i!!!

Dizia com frequência que ia ser famosa.. e viajar... e que teria melhor média no liceu do que todos nós! Mesmo na área de letras, cumpriu o seu objectivo e guarda para ela o record...
Não é, pois, de admirar que antes dos 30 tenha sido escolhida para ser a comissária do Pavilhão do Conselho da Europa na Expo 98. Uma responsabilidade que desempenhou com imenso sucesso sob um stress imenso - que é como gosta e sabe funcionar. E que, vida fora, tenha estado muitas vezes em missão pelo mundo. Ela melhor do que ninguém poderia contar as aventuras por que passou.
Também não me admirei ao vê-la aqui (ler notícia), em Cuba, sorrindo depois de uma missão bem sucedida. Parabéns, Isabel, por mais este sucesso!


Por tudo o que já sabem e pelo que não sabem, acho mesmo que tenho uma família muito doce e especial. Cada um é inspiração para os outros. Convivemos bem com a palavra exigência...
Deixo uma "aguarela" da Isabel... com aqueles que constituem, desde que nasceram, a sua mais preciosa missão e que, juntamente com o filho do Paulo e o filho da Lena, são o futuro do clã: três rapazes e uma menina... ao contrário de nós (três meninas e um rapaz)...
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Domingo...

... dia da tentação?



Pois...

Não.

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Ruinologias...

Professores escondem por dentro pessoas. Às vezes poesias. Houve um tempo em que a transparência era uma qualidade da escola. E acontecia a leveza da partilha. Agora as opacidades excluem dela o diálogo e os outros lados de que somos feitos. Ela não tem tempo nem para os alunos, nem para as pessoas-Professores que a habitam. Quanto tempo mais sobreviverá nesse vazio?
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Vem isto a propósito de mais um recanto na blogosfera.
A pessoa que o pinta é um Professor (responsável pelo www.memoria.blogspot.com feito em colaboração com alunos, que divulguei há tempos).
Uma nota curiosa: fui, durante muitos anos, colega dos seus dois irmãos na minha anterior escola. E nessa altura, sem conhecer o Zé, já tinha cá em casa certos "Aparecimentos" em forma de palavras (edição de autor).
São desse livro seu as palavras que escolhi para apresentar Ruinologias.


Serenos e íngremes acometimentos, cujo deflagrar indica essas zonas propícias à aproximação da loucura e da sabedoria. Vastas zonas brancas povoadas de coisas estranhas carregadas de musgo e de chuva.

José Manuel Vilhena
in Aparecimentos, 1989

sábado, novembro 29, 2008

Crónicas de além

O Cara-metade tem o saudável hábito de coleccionar viagens por (quase) todo o mundo, fotografias sem par e pensamentos vários.
Resolveu, finalmente, entrelaçá-los e partilhar na blogosfera momentos e reflexões...

Podem encontrá-lo em:

Histórias com viagens



Andes - foto de F. Ornelas

Toutinegra-de-barrete-preto

Têm sido várias pelo jardim.
A plantação de espécies como as macieiras de maçã pequenina (crab aples - escolho as de pequeno porte), plantas variadas com bagas, romãzeira... tem atraído espécies novas para o jardim. Aumentou a frequência de melros e piscos, há mais felosas (embora estas venham pelos insectos), já vimos um verdilhão descer das alturas. Antes esporádicas, as toutinegras-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla) visitam-nos agora frequentemente. Há uma semana vimos pela primeira vez uma fêmea na romãzeira (não sabia que o barrete era ruivo na fêmea da espécie... mas lá fui aos meus "livrinhos" e investiguei, como sempre faço). Tem regressado, mas ainda não foi possível fotografá-la. Encontrei na 'net fotos lindas que mostram bem a sua beleza. Podem ver algumas aqui e aqui ...
Hoje regressou o casal. Ela de volta da romãzeira (onde deixei romãs abertas), ele de volta de uma maçã pequenina.
A correr apanhar a máquina. Zoom, através da janela da cozinha.
O macho deliciado com a maçã. Numa das fotos vê-se um pedacinho no bico.
Foram as fotos possíveis... com um pequeno toque no Corel photopaint para realçar o contraste e afinar contornos (effects - sharpen).





A fêmea não se deixou apanhar... (Ai as mulheres!)


Mais informação: http://www.avesdeportugal.info/sylatr.html
Canto da toutinegra AQUI

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... passarinhos, agora deixem-me um bocadito sossegada.

Tenho mesmo mesmo de ir trabalhar!

Quando a poesia se casa com a música...

Um dos (muitos) belos poemas do Tiago Torres da Silva (lembram-se?) na voz da Mafalda Arnauth...
Agora vou trabalhar...
(Mas, antes, preciso deste mar suave para me embalar o dia. Salpico-o com duas nuvens, também do Tiago, na voz de Ney Matogrosso -
história AQUI)

Ney Matogrosso - Duas nuvens


O Mar Fala de Ti

Não resisti...

... regressei ao Amor feito palavras de Poeta navegando em voz feminina.



Mafalda Arnauth com Luis Guerreiro - Queen Elizabeth Hall, London.

Tristeza?

Não. A tristeza enfraquece.

Para ter força preciso de...


sexta-feira, novembro 28, 2008

Entre um grito e um desabafo, cuidar dos meus meninos...

AQUI:

http://scratchtime.blogs.sapo.pt/


Pensava eu que estava incógnita! (E outros gritos.)

Como recentemente não fui opositora a nenhum concurso do ME... nem preenchi nenhuma aplicação onde deixasse os meus dados... escapei do SPAM propagandístico que tem corrido as caixas de correio electrónico de muitos colegas meus.
Acabou-se hoje a minha imunidade...
A minha escola, a pedido do ME, suponho, fez-me chegar o dito SPAM com muito conforto, carinho e simplicidade... Duas mensagens longas que já conhecia da blogosfera e que nem comento.

Digo apenas que nada se alterou. Se a situação era caricacta antes... agora é indescritível. O tempo gasto a produzir mil e tal despachos de simplexificação em vez de pensar tudo outra vez, ou de pensar em coisas que ajudem realmente a melhorar a educação neste país, assusta-me. Aceitar isto é levar a opinião pública a constatar os dizeres tantas vezes colados a nós de que afinal "o que tu queres sei eu!"... não ser avaliado ou ser assim mais ou menos mas com muito conforto e simplexidade que é quase tão bom como uma espécie de classificação administrativa... foi por isso que andaste por aí a reclamar em manifestações e tal... já conseguiste o que querias... pronto... acabou-se a luta!
Basta ler as propostas emanadas para perceber o esvaziamento de todo o sentido... a perfeita acefalia que reina... O que vamos fazer?

Se se vier a confirmar a redução da componente lectiva como cenoura para os avaliadores terem tempo de andar a preencher papéis e atrás de nós... sentir-me-ei ofendida. Nenhum dos meus projectos o merece e, este ano, o meu Clubito a desoras, com três sessões semanais (duas de 45 minutos e uma de 90) fora de tempo, já conta com 58 alunos... Ando completamente estoirada, porque é uma sobrecarga imensa equiparável a actividades lectivas (trazendo muito TPC de manutenção do blogue, de acompanhamento dos projectos e de comentário e estímulo aos membros)... Guardarei para mais tarde a reflexão sobre o rebuçado dado às tarefas dos avaliadores que o merecem mais do que as tarefas dedicadas aos alunos.

Afinal este mérito todo dos excelentes professores titulares vai afastá-los cada vez mais da possibilidade de o usarem ao serviço dos alunos, da educação e dos resultados estatísticos! Paradoxo interessante: quanto mais mérito tens, mais capacidade científica e pedagógica apresentas (que nem precisa de ser avaliada... claro... só vão servir para fazer o trabalho pouco claro da tutela), mais avaliador te tornas e menos tempo tens para os alunos. Ficaremos apenas nós, pobres professores sem mérito para chegar a titulares, ou progredir nas carreiras, a cuidar das crianças. Ora... se somos menos bons... menos capazes e tal do que quem nos avalia e supervisiona... como será possível vir a melhorar os resultados da educação afastando a frota dos "melhores" para avaliar colegas e colocando no activo a tomar conta das criancinhas apenas os "piores" coitaditos sem lugar, sem cargo e sem terra? Eu arriscaria dizer (como disse ao presidente do meu Departamento na Faculdade que me convidou em 1985 para ficar como docente por lá, usando o argumento de que eu tinha boas notas demais para ir para o ensino e que o ensino estava feito para atrasados mentais) que os mais bem preparados e vocacionados têm de ser colocados a trabalhar com os alunos para que o ensino possa melhorar! Como desperdiçar esse potencial pedagógico e científico, essa vocação específica, em papéis e funções que não nos competem? Essa foi uma das razões que me fizeram não aceitar o convite da Universidade e partir para a aventura do ensino dos mais pequenos, recusar dois anos depois o convite para ir para uma ESE (das melhores que conheço, com quem tenho cooperado, onde se encontram pessoas excepcionais e de elevada competência que admitiria muito mais facilmente me acompanhassem num processo de avaliação) e, agora, recusar ser titular.
Todos são necessários, mas podem estar mais vocacionados para a educação de adultos, a formação de profissionais, a educação das crianças... ser Professor tem todas as cores... até as da coordenação e liderança. Seguindo a vocação que nos orienta o caminho, completamos a nossa preparação comum com o crescimento profissional e académico em certas áreas... Então por que razão a divisão neste formato proposto pelo actual ECD? Eu optei pela proximidade dos alunos, deverei ser penalizada por isso num ECD que vê tudo a preto e branco? Já ocupei todos os cargos na escola (excepto os do CE), tenho a experiência e a certificação da entrega em qualquer tarefa com sentido, mas se me obrigam a optar, que alternativas tenho de oferecer os meus préstimos à escola em diferentes momentos e nas várias qualidades?

Já não quero ouvir falar deste modelo de avaliação com ou sem conforto. O problema que me move, e sempre me moveu nesta luta, persiste: afinal quem são os avaliadores? Que critérios de mérito curricular ou profissional os colocaram nessa posição?
Resposta simples: nenhuns. Só por acaso alguns possuem genuinamente essa formação profissional e científica que os habilita a tal... os outros são todos iguais a mim: boas pessoas mas pronto... incapazes de avaliar colegas... iguais ou melhores do que eles...

E cada vez mais, de remendo em remendo, pode ser avaliador qualquer pessoa... com ou sem título, desta ou doutra escola, assim ou assado... uma festa! Se podemos ser todos avaliadores, por que diabo insistem em ter a carreira partida em duas, com base em critérios perfeitamente absurdos que não premiaram qualquer espécie de mérito e se fizeram em toalha de mesa de restaurante com umas contas mal amanhadas a tinta de esferográfica saída da traseira de uma orelha?

Desta forma não. Recuso-me a ser avaliada por pares, sobretudo pares a quem não reconheça superioridade de conhecimento, capacidade ou desempenho pedagógico e científico na docência e na formação e avaliação de docentes (e isso vê-se em duas aulitas???). Não é nada contra os colegas a quem saíu a rifa premiada... é pelo facto de serem avaliadores acidentalmente, num jogo viciado à partida.

O que está podre é a raiz das coisas. Isto é uma anedota triste e não consigo sequer compreender como chegámos aqui. Por que razão ainda nos damos ao trabalho de discutir o que não pode ser discutido. Um modelo assente em coisa nenhuma. Um modelo com ar por baixo. Um modelo tipicamente português, muito ao estilo desenrasca, porque todos temos habilitações para fazer tudo e assim somos todos amigos e pronto, uma mão lava a outra que nunca se sabe bem quando está um em cima e o outro em baixo.
Tudo vai ficar... não na mesma, mas muito pior.

O que contesto está muito a jusante. Este modelo de avaliação que coloca a faca e o queijo nas mãos de PCEs e colegas, sem que se perceba por que razão estarão habilitados a tratar da minha avaliação, ocupados que andam enredados em tanto papel que nem tempo têm para acompanhar ou conhecer o que faço, é apenas uma consequência aberrante de um ECD que já devia ter desaparecido de cena se houvesse vergonha genuína.

Não baixo os braços. Este modelo de ECD é que não serve e por isso a forma de Avaliação assente nos erros em que se sustenta, também não.

Dia 3, dia 11...
Até às últimas consequências.


Estudo sobre competências em TIC

Estudo sobre competências em TIC
(via Miragens de Fernando Costa FPCE UL)
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PTE

Science Education in the 21st Century: Using the Tools of Science to Teach Science


Nobel Laureate Dr. Carl Wieman directs the Carl Wieman Science Education Initiative at the University of British Columbia and the Colorado Science Education Initiative.
(Sep 22, 2008 at Cornell University)
Wieman emphasizes the importance of making science education effective and relevant for a large and diverse population. The approach, he says, is to transform how students understand and use science, and this calls for teaching them to actually think like scientists.
Sponsored by Cornell's Center for Teaching Excellence.


Ontem...

Muitos Amigos...
Algum frio...


quinta-feira, novembro 27, 2008

All you need is love...


A amar desde muito cedo. O dia todo na escola. O restinho da tarde de volta dos blogues dos meninos (eles adoram chegar a casa e partilhar com os pais).
Daqui a pouco de partida (Setúbal) para defender esse Amor.


http://geracaobest.blogspot.com/2008/11/hoje-na-aula-de-rea-de-projecto.html

http://geracaobest.blogspot.com/2008/11/na-aula-de-cincias.html

http://scratchtime.blogs.sapo.pt/9048.html


Hoje, na aula de Ciências... modelar o funcionamento do Sistema respiratório...


A minha menina doce da Guiné (que está no nível 1 do domínio da língua portuguesa) faz rápidos progressos em todas as áreas, depois de um período complicado de dificuldades de integração e tristeza por ter deixado a sua terra. O Scratch é também uma ferramenta de amor e de estímulo para a comunicação... Está a fazer, com uma colega da turma, um projecto sobre a leitura de fracções (Área de Projecto).



All you need...


Amor à Pátria, Amor à Educação

Por mais de 20 anos, numa escola sem condições, lamber as feridas às crianças mais esquecidas, mais tristes, mais ignoradas, mais violentadas da sociedade... pelo caminho ensinar-lhes ciências, matemática, o amor pela língua, a autonomia crítica e libertadora. Ao mesmo tempo não esquecer as outras e trabalhar para todos com justiça e empenho...
Fazê-lo em barracões com frio, com humidade, sem condições dignas...
Continuar, ainda assim, a lutar por raios de sol possíveis, reinventar jardins do nada, esgotar todas as forças para oferecer o melhor a quem nada tem e a quem tudo tem...
Apesar da colocação de barreiras, muros e obstáculos à formação profissional e académica do docente, continuar o sacrifício de gastar todas as horas (e dinheiro) para ser mais e melhor, dar mais e melhor às crianças portuguesas e às que na pátria portuguesa se refugiam, às crianças diferentes, às crianças sozinhas, às crianças com a sorte de serem felizes...
Procurar com acções chegar ainda mais longe, a outras escolas, a outros professores...
Activamente e sem paga promover o amor pela poesia, pela pátria-língua em várias escolas do país...
Desenvolver projectos envolvendo empresas e instituições universitárias estrangeiras e chamando a atenção para o potencial tecnológico português...
Lutar por uma Escola pública exigente e de qualidade, lutar contra quem a quer esvaziar de sentido, a deseja calada e inerte, aprisionada em fronteiras e papéis, fingindo uma exigência que não é nem há, uma diferenciação que não vai existir, porque assente nos pântanos lamacentos da falta de rigor, do compadrio, da ignorância, da desinteligência, da divisão, do acaso e da sorte...
Assim defendo a Educação e a Pátria que dela depende para ser mais alta e sublime. Só assim as sei amar.
Logo à noite, levarei ao peito para Setúbal esse Amor. Aquece-me nestes tempos frios e sem pudor.

Há mais de vinte anos que o ponho em acção, que o alimento e renovo na prática, no anonimato, sem paga, sem altar, sem recompensa.
Eu e muitos muitos mais com nome de Professor e com outros nomes assim simples.
(Amor verdadeiro não precisa de ribalta, palco, público... cumpre-se diariamente com gestos no silêncio da entrega e da consciência chegando, por isso, muito mais longe.)


Não volto a apregoá-lo, como hoje fiz em sua legítima defesa.
Continuarei a cumpri-lo.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Pó dos livros... (não faz alergia)

Puxa-se um grão de pó e é no que dá...

Pó de pérola com muitos sorrisos à mistura.
Para destacarem a Eterogémeas (entrada anterior)... havia ali coisa...

A coisa é a atitude, a história na origem... o blogue e depois o que mais se vai descobrindo... humor sem pó.

Intervalo absolutamente necessário para que os neurónios não fiquem exauridos com a leitura dos duzentos mil vírgula três educativos Despachos, Leis, Decretos e afins que nos têm soterrado...

Quem são?
Onde estão?

"Eterogémeas na Pó dos Livros"

Sou suspeita sempre que falo e digo que gosto.

Mas descobri isto aqui e percebi que há mais quem goste e aprecie esta qualidade discreta e rara da Eterogémas do Luís...

Nem sempre se encontram por aí, pois... os destaques são sempre outros nas livrarias... a Internet é o melhor e mais seguro caminho mas...

...agora isso já acontece na Pó dos Livros, para felicidade dos leitores lisboetas.

O que é bom é para partilhar...

Dentro da sala de aula: entre 9º e 10º C

Assim trabalhámos hoje (alunos e eu) durante uma manhã inteirinha dentro da sala a que chamamos o frigorífico da escola. As turmas passando por lá, eu permanecendo envolta em camadas de roupa sem sequer desapertar o blusão (daqueles adequados à neve). Azeitão acordou com gelo. Vai começar o pesadelo e depois as gripes..
Alunos a tremer, casacos vestidos e bem apertados, gorros, luvas. Lábios arroxeados. Tremura nos menos agasalhados.
Assim fizeram o teste de Ciências...
(Como sei a temperatura? Temos uma mini-estação meteorológica no interior da sala - laboratório de Ciências do 2.º Ciclo)

Nos gabinetes aquecidos e resguardados, as ideias, as medidas e as leis são sempre, ou quase sempre, completamente desajustadas da realidade vivida nas escolas. Percebe-se por quê.
Calor e conforto a mais...
Muito tempo para errar, fazer, desfazer, remendar, refazer, pressionar, desdizer... de forma primaveril e confortável.

Público, hoje (DN, há cerca de um ano) e... truques

(Recebido via mail...)

ADENDA:

Junto parte de uma entrada mais antiga do 'Umbigo com uma ligação interessante (para que a memória não se perca).

Maria De Lurdes Rodrigues Dixit! (Paulo Guinote)

entrevista de MLR ao DN há cerca de um ano
Vejamos o que Maria de Lurdes Rodrigues dizia então:

Deixa de haver distinção entre faltas justificadas ou injustificadas…
Acabamos com o anterior conceito de falta justificada ou injustificadas. Há faltas. E a escola tem de ter a possibilidade de decidir se aceita a justificação. Este estatuto não fomenta as baldas, pelo contrário. As escola passam a poder interpelar os alunos e os seus pais e a intervir. Faltou? Fica a trabalhar na escola até mais tarde, para compensar. Não foi submetido à avaliação contínua? É submetido a avaliação extraordinária. A exigência é muito maior.

(Acrescento mais um excerto da entrevista:

Sabe quantos alunos reprovaram por faltas no ano passado? Provavelmente nenhum. Estamos a falar de margens. O que acontecia era que os pais justificavam todas as faltas aos meninos. Só os pais que queriam que eles chumbassem é que não justificavam. Portanto, provavelmente nenhum. Quem é que está em condições de avaliar as justificações e a medida coerciva a ser aplicada? As escolas e os professores.)

ADENDA 2

Esta questão já foi referida noutros locais, há tempos (os alertas vão sendo dados, mas chegam tarde aos locais onde podem ser denunciados com mais visibilidade... a blogosfera passou a ser leitura obrigatória para quem queira andar esclarecido)... Mas vai tudo caindo no esquecimento tal é a catadupa de absurdos. Em boa verdade, eu não tenho avaliador... porque lhe foram delegadas competências à margem da lei e porque o (mais um) remendo "enfiado" no projecto-lei do orçamento (pasmemos-nos!) também ainda não foi aprovado... Parece que está tudo a acordar para os mais ou menos discretos truques de engenharia legislativa que permitem a quem manda fazer tudo sem obstáculos...

Paulo Rangel, líder parlamentar do PSD, critica artigo do Projecto de Lei do Orçamento que dispensa a publicação das delegações de competências
(Via Profavaliação, Ramiro Marques)

Ler a notícia JN AQUI

Continuo a escolher não me esquecer.

Soltas:

AQUI
solicita-se ajuda para a elaboração de propostas (avaliação dos professores)

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Um imprevisto de última hora fez com que o lançamento do livro fosse adiado para o início do ano... Depois partilho a data.

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SEAL GRAVA ÍCONES DO SOUL EM NOVO ÁLBUM
(Vou já escrever ao Pai Natal)
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Change Is Gonna Come

terça-feira, novembro 25, 2008

Fazem falta cores no cinzento...

Podemos fazê-las regressar com
voZ, Acção, Convicção
(luZ, Água, Céu)
Razão...


(acabadinha de recolher da janela do escritório)

Imparáveis...

... sacodem-me de todos os sonos.
Não me dão sossego.

Gosto desses voos na companhia deles.
Preciso.

http://scratchtime.blogs.sapo.pt/8716.html

Adormeci...

Não foi a consciência a querer.
Foi o cansaço que falou mais alto... e um despertador programado para as 5:30 a justificar os sonos acumulados. Tentei muito, mas os olhos não quiseram e fecharam.
Tive pena.
Ou, talvez, depois do que hoje li, não valha a pena ter (sen)tido pena.
Fica só a pena de outras coisas caída da asa das expectativas que criámos.

Condenação a pena simplificada ou suspensa, isso é que havemos de ver.

(Ultimamente... penas a mais para esta ave a que chamamos educação. Duras penas.)

segunda-feira, novembro 24, 2008

Eles não sabem que o sonho...

Quando era miúda, lá na nossa casa, todos os dias eram dias de cultura científica. E em muitos deles celebrava-se António Gedeão (o primeiro poeta que li) e Rómulo de Carvalho, o cientista que lhe dava alma e corpo. Dia Nacional da Cultura Científica, na data de nascimento do cientista-poeta, é algo de muito natural e saboroso aqui por estes lados e traz à memória muita coisa doce (a história continuou porque optei pelo caminho da Ciência e porque o Cara-metade é também investigador científico).

É que o meu
Pai Eduardo é Físico (investigador) e também foi professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (curiosamente, o meu Padrinho Jaime também) e na nossa casa havia sempre uma experiência para fazer... quer fosse inspirada na publicação "Física para o povo" (agora reeditada com o título - A Física no dia-a-dia , já na minha posse, claro), quer pelas coisas e acontecimentos que nos rodeavam, ou por causa das perguntas que lhe fazíamos.

Começam assim a perceber as consequências da cultura literário-científica em que fui imersa desde muito pequenina, o que me causou fortes dificuldades na escolha de um caminho, acabando na produção de alguém que, embora com formação em Ciência - Geologia, nunca conseguiu distanciar-se da poesia, da escrita, da música, da pintura, do ensino e do humanismo. Tive muitos bons exemplos...

E como se se celebrava lá por casa a cultura científica?

Para além das nossas perguntas...

que a Mãe com doçura e a brincar pedia que não fossem feitas à hora do almoço, porque o Pai para responder transformava a mesa toda numa actividade experimental... e se ele já comia devagar mais devagarinho comia depois com a brincadeira... e a Mãe coitada não se conseguia nunca mais despachar nas arrumações da cozinha... e era uma risota... com garfos espetados em rolha atravessada por agulha apoiada em cápsula de garrafa, que girava, girava porque o reduzido atrito lhe permitia um carrocel quase interminável...

... havia a actividade científica semanal que culminava com a questão ao fim-de-semana. Explico dando um exemplo:
Durante uma semana o Pai criava variadas situações (ao fim do dia, quando chegava do trabalho no ITN) em que, por exemplo, acabávamos por perceber que o calor dilatava os corpos. Lembro uma delas em que dois pregos espetados numa madeira estavam à distância exacta do comprimento do diâmetro de uma moeda de 5 tostões... aquecia-se a moeda no fogão (com pinça apropriada) e a moeda já não cabia naquele espaço...
No fim-de-semana era feita a actividade final que vinha com uma pergunta... quem respondesse ganhava vinte e cinco tostões! (O que era um acréscimo imenso à semanada).
Por norma eu e o meu mano ficávamos com o dinheiro. A Lena não gostava lá muito de Matemática nem de Ciências. A Isabelinha era muito pequenina. Eu era a mais velha das manas e o Paulo o mais velho dos quatro, estávamos em vantagem (eu e o Paulo frequentávamos já o 2º ciclo nesta história). O Pai começou a experiência: colocou água num tubo de ensaio e marcou com uma caneta de acetato o nível (olhando paralelamente e assinalando a base da superfície curva da água). Em seguida disse que ia aquecer o tubo e perguntou o que achávamos que ia acontecer. Todos dissemos que a água ia subir acima da linha marcada com a caneta de acetato, porque ia dilatar.
Qual não foi o nosso espanto quando percebemos que ao ser aquecido o tubo, primeiro a superfície da água descia abaixo do risco e só depois começava a subir. Mistério...
Chegou então a pergunta da semana: por que razão terá acontecido isto que observaram? Eu e o meu mano calados.
Ouviu-se a voz da Lena: eu cá acho que primeiro dilatou o tubo e a água desceu e só depois é que dilatou a água...
Dessa vez, eu e o meu mano perdemos os vinte e cinco tostões e nunca mais esqueci a história...


Experiência

Doce de abóbora gila
feito pela Avó
colou o Pai cientista
no vidro daquela janela.
Uma ideia esquisita?
As formigas gostaram dela
e vieram de pantufas
de pijama com pintinhas
sem gritos nem empurrões
em fila organizada
provar que nenhuma migalha
fica desaproveitada.

Não sei se era bem esta
a conclusão a tirar
porque, afinal de contas,
podiam ter vindo apenas
para a janela limpar!


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Pela internet... algumas pistas:

DIA NACIONAL DA CULTURA CIENTÍFICA
Abre o Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho
(de Rerum Natura)
.
[antonio_gedeao_retrato_1.jpg]



Amostra sem valor (já uma vez trouxe estas palavras para a teia)

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.


António Gedeão

Um documentário biográfico excelente do Canal 2, com a presença e voz de Rómulo de Carvalho

domingo, novembro 23, 2008

Uma espécie de saudade...

Trago comigo, sempre, todos os sonhos em espera, todos os desejos em pausa, todos os futuros que vou fazer, todos os beijos que hei-de dar, todas as tintas que vou misturar, todos os poemas por escrever, todas as melodias que vou inventar, todas as canções que não cantei, todos os rios que me levarão, todos os mares que me afogarão, todas as asas, todos os ventos e todos os sabores que sei ainda me abraçarão um dia.
Trago-te comigo, sinto tanto tanto a tua falta...
É essa espécie de saudade permanentemente colada ao corpo, essa folha branca página seguinte por escrever, que me ilumina, me faz caminhar, me acorda, me aquece e separa do congelar da desesperança e da morte sua gémea.


3za - aguarela e cera

(ilustração antiga, feita a pensar no poema "Árvore velha, menina nova")



Árvore velha
com mil estações

Menina nova
um rebentinho
sem florações

Árvore velha
livro antigo
com tanta história
para se ler.

Menina nova
folhinha branca
com tanto espaço
para escrever...

Responsabilidade partilhada, respeito, carinho e... tudo mais que apareça, porque quando começo a escrever à flor da pele nunca sei onde acabo...

Considero-me responsável pelos resultados dos meus alunos. Sim.
Responsável por encontrar o melhor caminho que os leve a sentir vontade e prazer em partilhar comigo essa responsabilidade. São pequeninos ainda... nove, dez, onze anos... , para além da Matemática há mais coisas para aprender quando estamos juntos, e não é possível fazer aprender Matemática (ou outra coisa qualquer) se eles decidirem que não querem, se não confiarem em mim e não acreditarem na importância do que quero partilhar com eles.
Muitas vezes lhes digo que sozinha não consigo. Que eles têm de me ajudar. Que têm de querer. Converso muito com eles. Com cada um. Muitas vezes. Não desperdiço tempo nessa doce troca. Esse gesto é um abraço que os prende sem saberem, que os traz até ao desejo de serem melhores e trabalharem para isso. Não por causa da nota, repito até à exaustão, mas porque é importante aprender, compreender, ser exigente consigo próprio, ser autónomo, aproveitar os dias para crescer e para construir com afinco sobre o melhor que existe dentro de nós, dar o melhor de nós ao mundo. Acho que eles percebem o respeito imenso que nutro por cada um deles. Devolvem, mesmo sem que eu peça, esse carinho depositado nas suas mãos. E o meu entusiasmo acaba muitas vezes por contagiá-los.
Os obstáculos são muitos e não são sempre os mesmos em cada criança ao longo do dia, ao longo dos dias. E há crianças que cativamos pelo coração, mas não conquistamos para a batalha do conhecimento. Vidas demasiado complexas, marcas profundas de abandono ou desleixo. Podem entregar-se aos nossos cuidados. Deixar-se ficar no nosso colo, mas não é imediata nem simples a entrega ao gesto ávido de aprender. Carregam uma imensa dor, uma imensa indiferença pelo mundo e pelo que lhes possa acontecer. Não os culpo, nem às vidas deles, nem a mim. Tento tudo até já não ser mais possível porque o ano acabou e me disseram que só tinha direito a 45 minutos extra, com ele e outros, em cada semana. Não exijo menos, ajusto apenas a estratégia. Faço o balanço. Entristeço-me. Aprendo a gestão da derrota. Não somos perfeitos. Fazemos muitos, mas não fazemos todos os milagres. E não mascaro resultados, mas queria ter o tempo que me foi retirado (com esta ideia de que temos de estar na escola muitas horas ao serviço de tudo menos dos nossos alunos) e me impede de poder ser mais e melhor para estas crianças que tanto precisam de nós (evitando que mais tarde sejam incluídos em soluções simplistas e jogados com poucas competências no mundo).

Há tempos uma aluna (que não foi minha no ano que passou), depois de lhes pedir como TPC que tentassem resolver um conjunto de exercícios, reforçando que não havia problema se não compreendessem alguns, devendo nesses anotar as dúvidas sentidas para na aula podermos esclarecer tudo (mas não usando essa desculpa para deixar tudo em branco, pois eu sabia que havia ali exercícios que todos conseguiriam fazer), fez este comentário espontâneo que me tocou: a professora está sempre mais preocupada que a gente compreenda do que com a nota e quem fez ou não fez as coisas...

Ela traduziu exactamente o espírito de toda a avaliação que decorre nas aulas. Até ao lavar dos cestos, é vindima. Só quando me obrigam a fazer juízos sumativos, uma vez por período, é que faço a síntese do caminho e dos progressos (não a média) e ajuízo do melhor "rótulo" para a evidência demonstrada, com as ferramentas e indicadores que usei (nem sempre os melhores), de acordo com os critérios estabelecidos na escola. Até lá concentro-me apenas em ajudar a corrigir os caminhos, encontrar as estratégias que melhor os convençam de que é preciso trabalhar. Concentro-me no diálogo formativo, global ou individual. No diálogo de aproximação a quem são, o que sentem sobre as coisas, o que gostam, o que precisam.

Eu sou como as crianças. Acho que somos todos. Não aprecio a indiferença, nem me quero esconder do mundo. Sou professora. Profissão pública, seguida e avaliada informalmente sempre por centenas de olhares em cada ano (alunos, pais, pais-colegas, colegas do Conselho de Turma...).
Gosto de aprender. Gosto de saber a minha posição no mundo. Gosto, preciso de crescer. Sempre. E preciso de acreditar que faço a diferença e que reconhecem e avaliam de forma justa a minha entrega e o meu trabalho.
Eu até deixo muitas pistas...
Que bom seria instituir o valor das pistas, do necessário tempo para a reflexão pessoal e para o apoio aos nossos alunos, o valor da partilha... não, não de portefólios estéreis e pesados, cheios de matrizes e fichas e planificações e grelhas e muros e paredes e prisões, que pouco dizem sobre quem somos, mas de documentos vivos, de experiências, de testemunhos na primeira voz, na segunda, na terceira.
Multimédia, sim. Pode ser divertido aprender como. Pode ser interessante construir esse nosso caminho de várias cores e com som e movimento.
Assim, nesse processo, não só seria mais fácil desocultar quem é o professor, como pelo caminho ele aprendia cada vez mais sobre a arte de viver neste século e usar as TIC, e outros recursos, criativamente, numa parceria construtiva com os pares e com os alunos, que são a parte mais importante do caminho que traçamos nesta profissão.

Céu?

Mar?

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(Me) Nina estás à janela...


... com o teu olhar atento.

sábado, novembro 22, 2008

Pequenas grandes metáforas...

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Vladstudio - AQUI

Outras formas de olhar

via 'Umbigo

Uma outra visão da avaliação
Fernando Ornelas Marques

A complexa triangulação do simplex
Fernando Cortes Real

As TIC e (a sorte d) o "professor desconhecido"...

Aplicação informática para preenchimento de ois.
Muitos professores receberam mensagens de correio electrónico da DGRHE com aviso e informação sobre a aplicação. Alguns espantaram-se e interrogaram-se: como conhecia o ME o seu endereço se apenas o haviam dado a amigos?

Eu cá não recebi nada.

Parece que os professores que não preencheram até agora aplicações informáticas prévias em concursos, ou candidaturas a professor titular, ou outras, são seres desconhecidos e anónimos para a DGRHE.

Info-excluída, é o que eu sou.
Professora desconhecida para a DGRHE com imenso gosto e alegria...

Elogio da Entrega. Edigital (novo endereço). Erros.

A edigital mudou de casa: novo computador, nova versão do sistema operativo, nova estrutura, novas ideias... O novo endereço é http://edigital.homeip.net . (J.L.)

As coisas tristes da educação fazem-nos por vezes esquecer as coisas bonitas da educação.
E como já afirmei: escolho não me esquecer de nada. Portanto. Falemos de coisas boas (com uns pós das coisas absurdas pelo meio)...
Um dos colegas que mais admiro pelo seu carácter, entrega, inteligência, profissionalismo, rigor, exigência, conhecimento profundo das coisas e imenso entusiasmo pela educação e pela escola (um daqueles com quem se brincava: dormiste cá?), que tem marcado a diferença numa escola degradada sem recursos, inspirador deste meu gosto e capacidade de uso das TIC numa perspectiva de verdadeira mudança de "paradigma" (não gosto lá muito desta palavra, mas que dá jeito lá isso dá...), foi um dos professores que, embora com muitos mais pontos do que o necessário para passar a titular em muitas escolas, não conseguiu chegar a titular na sua escola. Se tivesse sido feita uma análise curricular rigorosa e olhados todos os seus projectos e contributos ao longo de TODA a carreira, e se ele desejasse o papel de "inspirador e líder" (não gosto do rótulo de avaliador), com certeza que acederia rapidamente ao topo e nele eu reconheceria o mérito para me poder continuar a ajudar a ser melhor professora (é para isso que eu acho que serve a avaliação e não para me rotular apenas). De bom grado reuniria (como sempre fizemos, eu, ele, a nossa querida colega e Amiga Dora e tantos outros, de livre vontade no tempo em que havia tempo para isso) não para preenchermos grelhas, mas para discutir práticas, processos, inovações, novo conhecimento, criar projectos que trouxeram muitos recursos para a escola... De bom grado partilharíamos aulas e escutaria sugestões para procurar melhores caminhos, ensaiar outras possibilidades, corrigir defeitos... crescer. E ele também me escutaria, sei. Coisas de respeito e admiração mútuos. Estou profundamente cansada do discurso FALSO sobre o prémio do mérito. FALSO e sem qualquer RIGOR. De uma vez por todas assumam que foi uma coisa fruto de ACASO que definiu, através da regulamentação de um ECD sem sentido (mas intencional - não acredito em distracções), quem era titular e quem não era para começar às pressas e sem reflexão o jogo do quem avalia quem. Aborrece-me a mentira, aborrece-me a desinteligência, aborrece-me a desinformação. Felizmente a opinião pública, a comunicação social, alguns comentadores e pessoas influentes começaram a despertar... Gostaríamos que tivessem acreditado em nós há mais tempo...

Felizmente, mais de uma dezena de anos de trabalho em conjunto, antes deste cinzento fabril, celulósico, acriativo e sem nexo, chegaram para depositar no meu banco as tais reservas de energia e conhecimento que ainda estou a usar. Assusta-me, todavia, a ideia de nunca mais podermos regressar ao trabalho criador, inovador e exigente, que devia sustentar a actividade da docência. Assusta-me a imensa falta de sorrisos na escola. O que nós sorríamos a imaginar projectos para os alunos, o que nós gostávamos de gastar tempo a inventar formas de os servir melhor - uma população complicada de Setúbal com vidas indescritíveis no lado marginal do mundo mais escondido da pobreza e da degradação... as conquistas que fizemos para eles! Os sorrisos e genuíno sucesso que levámos a tantas crianças sem esperança!
(Optimismo Maria 3za! A luz pode sempre regressar!! Melhor: a luz VAI regressar.)

Portanto, o JL (professor de História, Língua Portuguesa, TIC, formador credenciado de professores há muitos anos, um curioso fascínio pela Matemática e até pelas Ciências, uma sede de conhecimento muito infinita...) não chegou nem chegará brevemente a titular, tão pouco verá o seu mérito premiado durante muito muito tempo, de acordo com os novos filtros infalíveis do ME. Resta até saber se alguma vez isso acontecerá. Vai ele também iniciar a jornada universitária (que adiou, como eu, em nome da escola) mas, já sabemos, isso na Escola não interessa nada, até o vai prejudicar, tal como me tem acontecido... E ele, tal como eu, gostaria de ver o mérito premiado com a intenção de lhe ser concedido tempo, autonomia e confiança para desenvolver projectos que podem ser embriões de inovação para a escola. Desejamos consequências muito mais úteis e importantes do que subidas na carreira (eu já não posso subir mais - presa ao 5º escalão de professora para a eternidade, enquanto este ECD estiver em vigor - e ele, veremos...).
Agora é mais um professor desiludido, trabalhando marginalmente a desoras para poder manter vivos os sonhos e projectos em mãos, que servem os seus e muitos outros alunos de outras escolas. Afinidades que nos juntam nesta luta contra todos os absurdos.

E o que faz ele nas desoras que ninguém lhe concede?
O que sempre fez.
Alunos e Escola sempre no topo das prioridades.
O seu projecto continua e cresce. Várias pessoas me pediram ajuda, porque o anterior endereço do EDIGITAL mudou e não conseguiam aceder. É por isso que aqui estou hoje. Para partilhar novamente este excelente projecto do JL... Professor exemplar em todas as dimensões, que não viu o seu mérito reconhecido por se encontrar na escola errada à hora errada... Percebem por que a divisão da carreira é algo sem sentido? Porque é prioritário combater o ECD onde nasceram todas as injustiças e desvarios?
Gosto imenso de poder partilhar com ele a condição de "apenas professora", embora na minha escola fosse fácil aceder a titular... apenas 6 professores para 5 vagas... eu não quis, TODOS os restantes candidatos - quem estava no 8º e 9º o são hoje). Não me sentiria bem comigo se me soubesse "acima" dele apenas por um acaso injusto...
(E, já agora, ficar acima da minha colega Alzira que, na altura, no décimo escalão, 60 anos, e por terem desaparecido uns papéis - que agora apareceram - não chegou a titular por lhe terem sido contabilizados apenas 94 pontos... menos um do que o requerido, enquanto pessoas com menos pontos do nosso departamento tiveram lugar e vão poder avaliá-la a ela, pois nos 8º e 9º escalão o que contava eram as vagas e não o número de pontos. Um ponto teria sido suficiente para ser titular...)

Desculpem repetir-me, mas é preciso NÃO ESQUECER e manter a MEMÓRIA ACORDADA...
O ME, apercebendo-se do erro, em vez de acabar com o ECD e as assimetrias e injustiças criadas por ele, criou novo concurso - remendos do erro já habituais - para possíveis arrependidos (aqueles que se recusaram a concorrer... na minha escola, uma das resistentes acabou por ceder) e para os injustiçados do 10º escalão. Não resolve o problema. Como simplificar também não o resolve, pelo contrário.

Remendo a remendo se comete um erro ainda mais tremendo...

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sexta-feira, novembro 21, 2008

Da raiz, dos erros (e dos novelos)...


O que penso ficou aqui muitas vezes enunciado e não me apetece a repetição. A minha questão é de fundo, relaciona-se muito mais com o ECD e as suas arbitrariedades e injustiças do que com a avaliação (a única coisa de que ontem se falou, com tristeza minha). Ela, avaliação, de acordo com este modelo, decorre de pressupostos incorrectos e injustos estabelecidos no ECD (e demais regulamentação), e não há, na minha opinião, simplificação que corrija um erro. Se se cair nessa armadilha, validamos mais uma vez o dito erro e validamos os remendos do erro. A primeira validação aconteceu quando concorremos a professores titulares aceitando a divisão da carreira e os critérios regulamentados para a promoção, que destacou uns quantos para um suposto topo em que passavam a poder avaliar os outros sem que se garantisse rigor, valorização de carreira por inteiro, a justiça e igualdade de oportunidades entre todos (tudo dependeu da sorte ou do azar de estar numa ou noutra escola durante o processo, o que fez com que pessoas em igualdade de circunstâncias pudessem aceder ou não ao título e que pessoas em desigualdade de circunstâncias fossem promovidas exactamente ao contrário: ficando como titulares professores com menos pontos do que outros que também se candidataram e não foram promovidos noutras escolas). Rigor? Exigência? Avaliação? Que avaliação foi esta que assim definiu levianamente o corpo de avaliadores?
Não posso calar os erros graves do ECD em que assenta o processo de avaliação, não posso aceitar que se continue a laborar sobre ele, a raiz de muitos dos problemas que temos agora em mãos. Tal caminho vai acabar por transformar esse erro numa coisa correcta e boa (esquecidos os males) e depois ouviremos um dia alguém dizer: afinal até era uma coisa bem feita e valeu a pena insistir porque as pessoas agora aceitaram e já não falam do assunto, nem reclamam...

Para além desta questão fundamental que infelizmente ontem não foi abordada, no todo emaranhado também identifiquei umas linhas de raciocínio que me deixaram preocupada, mas acabaram por clarificar algumas das decisões e opções do ME.

Já nem falo da justificação apresentada para necessitarmos de um modelo de avaliação mais complexo do que os da Europa: estamos na cauda da literacia Matemática (!). A Matemática tem a culpa toda. E os problemas da Matemática vão resolver-se todos com um modelo complexo de avaliação. Fiquei esclarecida. E logo agora que eu até estava quase a acreditar que os problemas da Matemática tinham ficado praticamente resolvidos e que com mais um ano (mesmo sem modelo de avaliação a funcionar ainda) se resolveriam por completo. Este pormenor é apenas a caricatura da incoerência e dos vários pesos e perspectivas que se usam de acordo com as situações. Estamos habituados a esta técnica recorrentemente usada. Um jornalista atento e bem informado não teria deixado escapar a oportunidade.

Mas, ontem, ao serem afloradas as desigualdades de natureza académica e profissional entre professores, penso que finalmente percebi a lógica do sistema. Isso de mestrados e especializações e doutoramentos não tem nada a ver com a coisa. A coisa é processual (!) e parece existir apenas uma entidade fiável e credível na definição dos filtros (que até agora nunca existiram (!)): o ME. Esse filtro, finalmente criado no país, tomará forma através das leis e critérios sucessivos que o ME vai definindo e que, por sua vez, permitem ir encontrando/promovendo a frota de pessoas-filtro - uns titulares e outros nem por isso (comissão de serviço) - que garantem apreciações justas e objectivas sobre os seus pares (sem que fiquem claros os critérios para o recrutamento e delegação, tão pouco para as apreciações). A verdade é que os critérios são sempre uma zona muito obscura em todos estes discursos, mas percebemos finalmente que, neste caso da avaliação dos professores, nada têm a ver com os critérios de análise curricular utilizados habitualmente na sociedade... Todos errados, claro. Como tudo o que não emanou de uma tutela salvadora da nação.

Prepara-se assim o quê? A extinção das universidades e espaços afins e a criação de um qualquer instituto ministerial que substitua todas as instituições de formação e que seja filtro à prova de tudo, capaz de certificar sem subjectividade qualquer tipo de competência sem recurso a qualificações académicas, estágios profissionais, pós-graduações e outras coisas perfeitamente desnecessárias?

Assim se tecem novelos e se enterram e esquecem as pontas onde esses novelos começaram...
Só que eu tenho boa memória. Para o melhor e para o pior, decido não me esquecer.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Ideias e experiências com o Scratch... (sorrisos)

No Clube

(Onde estamos a experimentar a integração de um tempo de APA de Inglês nas actividades Scratch do Clube Scratch time - com a professora do aluno, que por acaso é também a DT dos alunos que estão lá a essa hora - não são meus alunos - e que por acaso é a Teresinha da nossa Península... não é por acaso, portanto... somos dadas a experiências e aventuras tecnológicas... Está a ser interessante... e vamos enriquecendo as ideias à medida que caminhamos...
Onde o meu conguito avança no seu complexo projecto persistentemente... hoje fez-me perguntas sobre o x e o y, porque queria resolver um problema e optimizar soluções de programação e dei com ele desenhando um referencial numa folha de papel... estivemos a ver como fazer... acho que para a semana tenho um referencial desenhado e o plano do trabalho a tornar-se real por escrito... algo que nunca me ocorreu que pudesse acontecer... observo os seus gestos, mantenho a motivação alta com diálogos em que procuro desafiar e valorizar as conquistas feitas com argumentos sérios e sem "palminhas" nem "palmadinhas". Respeito demais os miúdos para lhes fazer isso. A exigência é o melhor gesto de carinho.)

Com uma criança asperger
(A minha colega da equipa de educação especial que trabalhou comigo e com o meu menino autista no ano passado, em sala de aula, e continua a trabalhar de forma mais personalizada, está também a utilizar o Scratch por sua iniciativa no trabalho que faz individualmente com um menino asperger de outra turma e contou-me das mudanças verificadas na criança depois do trabalho que está a desenvolver com ele, dos progressos imensos - ultrapassa rapidamente os conhecimentos da professora que teve de me colocar umas questões para o poder acompanhar - dos sorrisos que não existiam antes, da conversa recorrente sobre o trabalho, da forma como vai desenvolvendo estratégias e a autonomia, à medida que o trabalho avança. Para que se avance também na socialização, já criámos a oportunidade de virem ambos frequentar semanalmente uma das sessões do Clube para o integrar nas actividades com meninos que não conhece e aprender com eles "novos truques". Fiquei contente por saber... e onde cabem vinte... cabe sempre mais um! Na falta de PCs a professora vai trazer o dela.)

Com uma técnica - psicóloga da APPACDM
(Que está este ano a desenvolver trabalho com o nosso menino autista, ao abrigo de um protocolo que criámos... estará connosco de vez em quando à sexta no Clube - que o Mig frequenta, no âmbito do seu PEI - para aprender e poder um dia trabalhar com outros meninos da APPACDM de Setúbal para além do Mig... Gosto tanto de ver as sementinhas a percorrer mundo...)

Qualquer dia com uma colega minha de Ciências Naturais - terceiro ciclo
(Que vai estar no Clube em alguns dias porque deseja aprender a mexer na ferramenta e perceber o seu potencial... Será muito bem vinda!)

É o que acontece quando liberto a mente de questões como as do modelo de avaliação que nos suga a alma, o juízo e o tempo que já não existe. Agora sobra um bocadito mais para as partilhas de que tanto gosto e para que possamos aprofundar as potencialidades e versatilidade desta ferramenta em contextos diferenciados, por mãos diversas, com diferentes públicos, a bem da educação de TODAS as crianças, independentemente das suas características. É preciso tempo para os educadores crescerem no processo de domínio e utilização de algo tão novo como o Scratch... Eu própria me sinto ainda muito muito no início...

Isto e mais uma "coisa que é segredo e está quase a acontecer" fazem-me sentir que os ganhos podem ser significativos e assim não pensar tanto nas perdas como há uns dias quando a melancolia apertou o peito mais do que a conta... Ou por outra, pensar nelas como um estímulo para lutar sempre por mais e melhor qualidade de tempo e recursos e pela valorização da importância da Educação e da Escola.
Eu não disse que passava?
Que com as hormonas da tristeza não valia sequer a pena discutir?
.
Pois... "la donna e mobile..."

quarta-feira, novembro 19, 2008

Portugal Futuro - Ruy Belo

Depois de uns quantos testes povilhadinhos mais de números que de palavras, e a saudade com que eu também fico das palavras, umas quantas alegrias neles, umas tantas preocupações para tratar depois e por causa deles, que este vestir de professor nunca é feito de indiferenças adormecidas e todo ele se desliza sempre em torno das crianças que quer (re)criar o melhor que possa e saiba, parto para mais uma reunião nocturna, que os professores são assim corujas sem família, seres de luar e sombras, acordando depois cedo porque todavia também criaturas de sol e de luz branca que nasce e renasce sempre com uma espécie de optimismo doença sem cura, dei comigo à procura de um poema para dizer uma coisa que me apetecia dizer, mas para a qual não encontrava as letras moldadas com a certa forma de encaixe no puzzle desse desejo súbito.

Tentei N Júdice... demorei-me, tentei R Rosa, ia-me perdendo, aterrei em Ruy e fiquei assim sem mais palavras para procurar, de tanta claridade que me nasceu aqui no écran subitamente viagem.

Era assim do futuro talvez de Portugal que eu queria falar hoje e agora posso.


Portugal Futuro, Homem de Palavra[s]

O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e lhe chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro


"Portugal Futuro", Palavra[s] de Lugar, in Homem de Palavra[s]

"Elogio Da Responsabilidade Individual"

Elogio Da Responsabilidade Individual
via 'Umbigo


O que estamos dispostos a fazer em nome individual sem cortina, moção conjunta, ou manifestação que nos esconda, para defender a escola e os alunos?

1 - Não concorrer a professor titular a

2 - Não entregar ao avaliador os meus objectivos individuais (tão pouco colocá-los em qualquer aplicação informática...) a

3 - Expressar sempre, com o nome assinado, em privado e em público, sentimentos e reflexões sobre a actual situação, procurando alertar de forma responsável e fundamentada para os riscos que a Escola sofre com cada normativo que a fere e compromete o futuro dos alunos a


O todo é sempre mais do que a soma das partes. Sabemos.
Mas para haver esse todo... tem de haver partes e cada um deve fazer a parte possível desse todo, de acordo com a sua consciência e as suas possibilidades (de forma coerente com as acções mais anónimas e protegidas).

Revejo-me nesse conceito de responsabilidade individual.
Pauto-me há muito por ele, ou não estaria aqui...

terça-feira, novembro 18, 2008

O(ás)is?


... acordei de manhã para uma aplicação informática de ois.
DGRHE Avaliação de Desempenho do Pessoal Docente - Aplicação Informática
Definição de Objectivos Individuais

Encontrarão pela internet os comentários devidos e as análises adequadas sobre mais este magnífico e estupendo contributo tecnológico para a resolução do problema da avaliação dos professores. Eu já nem consigo comentar.
É Plano Tecnológico a mais para a minha cabeça e a menos para os meus alunos (numa das minhas turmas, nunca tenho computadores vagos à hora em que tenho aula de Matemática, ou Ciências... aquela em que mais precisava, para continuar o projecto do ano passado).

Por isso criei um Clube "marginal"... procurando os tempos vagos na sala com equipamento...
Assim uma espécie de oásis para respirarmos juntos outro ar mais verde e fresco.
Sei que o Hgf acabou sozinho, em casa no fim-de-semana, o projecto de fracções que iniciou em Área de Projecto na semana passada. Sei que tem erros matemáticos e erros ortográficos. Sei que nem gosta lá muito da escola, mas me concede felizmente este interesse pela aplicação (Scratch) que temos usado (pela primeira vez este ano para ele). Sei que tenho 45 minutos de Clube à terça com esta turma (não mais, que o tempo para projectos e acompanhamento de alunos é cada vez menos e só chega para ser colocado em intenções de objectivos individuais, em aplicações informáticas, ser avaliado nos seus resultados, mas depois não tem tempo para se cumprir como devia, com tempo...), sei que tenho lá sempre cerca de 20 alunos na sala (voluntariamente inscritos) e que não me posso sentar ao lado de todos todas as semanas, (mesmo desejando, mesmo eles precisando, mesmo sabendo que isso faz sempre toda a diferença).

Hoje consegui sentar-me com ele. Corrigimos e republicámos as suas fracções. Fez as contas necessárias para tornar mais rico o seu projecto.
Consegui sentar-me com o JP e com o Doogoo... publicámos o seu primeiro projecto (muito) simples (e tão importante sobretudo para o JP) sobre a alimentação.
Consegui sentar-me com a Ang e com o Mathardy... publicámos (o primeiro projecto com interactividade da Ang - moldava - e sobre a matéria em estudo nas Ciências - Sistema digestivo... escrever em português é sempre um desafio, aprender palavras novas também, mas sorri sempre a cada conquista e cativa-nos com a sua doçura). Já deixei tudo aqui.

Percorri outros grupos... projectos sobre a SIDA, sobre o Círculo, corrigir erros ortográficos, corrigir aspectos da programação, corrigir erros matemáticos, cadernos abertos, contas para verificar, livros de Ciências para consultar, que não pedi para trazerem, respira-se vontade de estar ali. Não é uma aula. São muitas. Às vezes parece que consigo ver ali o embrião de qualquer outra Escola que desejo tanto se venha a cumprir um dia, outras vezes apenas a utopia de um sonho sem tempo para se construir. Eles querem-me tantas vezes ao lado deles e tantas vezes não consigo lá estar.

Há dias assim, em que o oásis onde bebo e respiro é também a fonte de uma suave mas profunda melancolia. Por cada conquista feita, só consigo pensar nas que não consigo fazer. No que deixo para trás. Naquilo a que não consigo chegar, nas oportunidades que perco pelo caminho com cada um deles. Sei que nem todos os dias são assim de pensar mais nas perdas do que nos ganhos. Mas é como me sinto hoje. E com as hormonas da tristeza não se discute. Nem tentem consolar-me. Passa. Amanhã já passou.
Tenho mil objectivos individuais para cada uma das crianças a meu cuidado. Ao ouvido delas sussurro quais são em cada mão estendida, em cada mimo de tempo e atenção que consigo dar-lhes, em cada exigência, em cada chamada de atenção, em cada parágrafo das nossas conversas, em cada ponto de interrogação dos desafios que proponho...

Não vou entregar nenhum desses objectivos a ninguém neste formato de avaliação que nada avalia do que sou e do que faço. Muito menos preenchê-los em aplicações informáticas. Até ver, os meus objectivos pertencem aos meus miúdos. Se alguém me quiser escutar, saber quais são, venha ter comigo quando quiser e contemple. Pergunte que eu respondo, mostro, partilho tudo como sempre fiz. Veja o que faço com a minha vida na escola ao serviço deles. Sempre às claras de janela e portas abertas.
Caminho nem sei bem para onde desde que decidi não ser cúmplice de um sistema que prejudica quem devia proteger. Depois de optar por não ser titular, segue-se a recusa de compactuar com um modelo de avaliação em que os avaliadores foram escolhidos pouco mais do que por um acaso fortuito na maioria das escolas. A minha vida e o meu currículo não eram só sete anos de cargos. Nem o currículo ou vida dos outros professores (não entendo sequer a razão pela qual esse direito de análise justa do currículo - não a aplicada - foi negado a professores abaixo do 8º escalão). Recusei esse jogo e agora recuso mais este sem regras de rigor que o sustentem, sem exigência real e que me exclui mesmo antes sequer de me escutar.

Repito: caminho nem sei bem para onde.
Mas como caminho com eles e por eles, estou em boas mãos e não receio pelo futuro.

(É que o futuro - esse oásis sonhado - fazêmo-lo nós com os nossos gestos em cada dia.)