quinta-feira, novembro 27, 2008

Amor à Pátria, Amor à Educação

Por mais de 20 anos, numa escola sem condições, lamber as feridas às crianças mais esquecidas, mais tristes, mais ignoradas, mais violentadas da sociedade... pelo caminho ensinar-lhes ciências, matemática, o amor pela língua, a autonomia crítica e libertadora. Ao mesmo tempo não esquecer as outras e trabalhar para todos com justiça e empenho...
Fazê-lo em barracões com frio, com humidade, sem condições dignas...
Continuar, ainda assim, a lutar por raios de sol possíveis, reinventar jardins do nada, esgotar todas as forças para oferecer o melhor a quem nada tem e a quem tudo tem...
Apesar da colocação de barreiras, muros e obstáculos à formação profissional e académica do docente, continuar o sacrifício de gastar todas as horas (e dinheiro) para ser mais e melhor, dar mais e melhor às crianças portuguesas e às que na pátria portuguesa se refugiam, às crianças diferentes, às crianças sozinhas, às crianças com a sorte de serem felizes...
Procurar com acções chegar ainda mais longe, a outras escolas, a outros professores...
Activamente e sem paga promover o amor pela poesia, pela pátria-língua em várias escolas do país...
Desenvolver projectos envolvendo empresas e instituições universitárias estrangeiras e chamando a atenção para o potencial tecnológico português...
Lutar por uma Escola pública exigente e de qualidade, lutar contra quem a quer esvaziar de sentido, a deseja calada e inerte, aprisionada em fronteiras e papéis, fingindo uma exigência que não é nem há, uma diferenciação que não vai existir, porque assente nos pântanos lamacentos da falta de rigor, do compadrio, da ignorância, da desinteligência, da divisão, do acaso e da sorte...
Assim defendo a Educação e a Pátria que dela depende para ser mais alta e sublime. Só assim as sei amar.
Logo à noite, levarei ao peito para Setúbal esse Amor. Aquece-me nestes tempos frios e sem pudor.

Há mais de vinte anos que o ponho em acção, que o alimento e renovo na prática, no anonimato, sem paga, sem altar, sem recompensa.
Eu e muitos muitos mais com nome de Professor e com outros nomes assim simples.
(Amor verdadeiro não precisa de ribalta, palco, público... cumpre-se diariamente com gestos no silêncio da entrega e da consciência chegando, por isso, muito mais longe.)


Não volto a apregoá-lo, como hoje fiz em sua legítima defesa.
Continuarei a cumpri-lo.

12 comentários:

João Paulo Proença disse...

Olá Teresa:

Que te posso eu dizer?

Estou profundamente solidário contigo

João P.

Anónimo disse...

"Teceu" muito bem este texto, obrigada por partilhá-lo.
rita

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada pelas vossas palavras... Ontem ouvi um discurso que me magoou. Muitos de nós que fazem da vida missão, dão lições de Amor. Essas escuto... as outras incomodam-me.
Voltem sempre... :)
Abraço

henrique santos disse...

Também ouvi um pouco esse discurso falso como Judas, 3za. Tão falso e a soar tão falso que "zappei" logo para outra estação.

Amélia disse...

«Para se ser professor é preciso ter as mãos puras» -dizia, mais ou menos com estas palavras, o 1º e mais belo livro sobre educação que li e fiz ler a estagiários, em tempos - o Diário desse amador da Arrábida, quase ou mesmo seu vizinho,Sebastião da Gama - o poeta. A Teresa tem.Por isso gosto de a visitar e ler.

Anabela Magalhães disse...

Sublime o teu texto, Teresa. Sublime!

Maria Lisboa disse...

Continuando a Amélia...

- Tens muito que fazer?
- Não.Tenho muito que amar.

Sebastião da Gama

E nisto, neste amar sem condições tu és das melhores.

E é isso que os burocratas do ensino não conseguem perceber.
Para eles só existem números!
E os números são muito bonitos, servem para imensas coisas, conseguem fazer-se maravilhas com eles. Só não servem para usar em vez de pessoas...

Bjs

PS: ainda bem que não ouvi esse discurso (nem sei a qual te referes)! A ignorância de alguns factos às vezes ajuda-nos...

JMA disse...

Provavelmente a pátria não merece o teu amor, como diria Camões. Mas as pessoas, sim.

IC disse...

Bem hajas, 3za!
(Não digo mais, não ando a ser capaz de escrever)

Hilda Helena Raymundo Dias disse...

Amada professora,aqui no Brasil a Educação não está muito diferente daí,faltam para ambos governantes um projeto político pedagógico que em parceria com as nossas universidades tracem novas metas para que uma educação de qualidade!!!Parabéns pelo espaço!!!

Luis Neves disse...

Aquele discurso do PM de portugal ser merecia ser feito com o senhor Sócrates com um nariz vermelho, uma cabeleira encaracolada e loira, com com um fato largo às riscas vermelhas e brancas, com umas luvas brancas, os lábios pintados de vermelho, e a cara com base toda branca, olhos pintados de amarelo. Pois é, já está a chegar o Inverno e chega sempre o circo de Natal , com os seus palhaços. Este ano o Palhaço veio mais cedo. Palhaço cada vez mais pobre!! E todos nós também.
Quando o ouvi falar ontem fiquei com a boca aberta, de espanto, grande Pantumineiro!

Gostei muito do teu texto, como sempre. Gostei de o ver no Blog do Guinote, para que mais pessoas possam conhecer o teu trabalho.
Parabéns, pelo teu entusiasmo e por fazeres coisas muito belas com os teus alunos, e por eles.

Teresa Martinho Marques disse...

Convosco desse lado... é tão mais fácil amar... e renovar a força:)
Obrigada pelo imenso carinho que conforta nestes tempos difíceis.
Abraço grande