sábado, outubro 04, 2008

Objectivos individuais...

Quando marcamos no calendário mais um ano completo de vida, às vezes apetece-nos definir uns quantos objectivos individuais (assim como quando o 1º de Janeiro surge por entre fogo de artifício a seguir ao Natal).
Coisas da meia idade :)
(sim... gostaria de viver pelo menos até aos 92... para o ano desejarei viver até aos 94... gosto do conceito de "meia idade"... e da expectativa positiva com que nos preenche a ambição de mais futuro...)

Há duas semanas atrás partilhei na escola com alguns colegas algo que lhes causou algum espanto no início, mas que faz sentido para mim: não vou conseguir estabelecer metas numéricas de sucesso e, se me "obrigarem", colocarei 100% nas minhas intenções de sucesso para as turmas a meu cuidado.
Porquê?
Porque foi sempre isso que fiz a vida toda mesmo sem escrever nada em papel nenhum. Não tenho por hábito, no arranque de um ano lectivo, desenvolver expectativas negativas sobre os alunos, tão pouco reprová-los "percentualmente" à partida, sem ter tido a oportunidade de trabalhar com eles um ano inteiro.
Também havia decidido que, à medida que fosse conseguindo escrevinhar os ditos objectivos, os iria partilhando por aqui. Tenho o vício da partilha e não o vou perder.

Hoje encontrei em blogue vizinho algo que me deu esperança e confiança na inteligência da classe docente. Alguém se antecipou e entendeu também que não fazia sentido essa coisa das quantificações "negativas" (sinal de pessimismo), tão pouco esconder este processo de olhos alheios. Mais haverá por aí... tenho a certeza. Não fui nem a primeira, nem a segunda, ... a perceber o que de mais perverso se esconde na matematização das vidas e destinos de gente de carne e osso com cara, com nome, com história...

Assim, neste dia especial para mim, assumo perante vós os objectivos individuais que se seguem:
- permanecer optimista em relação aos meus alunos, não caindo na tentação de quantificar o inquantificável, ou de me proteger de papões, lobos e bruxas;
(Não foi por acaso que, por exemplo, não usei o teste diagnóstico do conselho curricular de Ciências, mas elaborei um instrumento qualitativo que os alunos irão utilizar e reutilizar de forma autónoma e crítica - em jeito de auto-avaliação - ao longo do ano, à medida que forem avançando no conhecimento... um dia partilho aqui o conceito...)
- partilhar os meus "outros" objectivos individuais à medida que for pensando neles;
- manter as ideias limpas de qualquer contaminação que me faça ser quem não sou, fazer coisas que nunca faria, aceitar o inaceitável;
- não ceder à pressão para me transformar numa professora de papel, fazendo o exercício necessário para manter a minha humana forma, as minhas mais que três dimensões e a minha intuição e inteligência naturais;

Se for bem sucedida... os meus alunos ganharão com isso e eu continuarei a dormir profundamente e descansada como até ao dia de hoje (mesmo que muitas vezes poucas horas, porque o trabalho é muito).

O sono profundo de consciência serena é indispensável à manutenção da saúde, à preservação da juventude de espírito e ao prolongamento da juventude do corpo. Sim, sou tendencialmente vaidosa (confesso).
Não deixarei que ninguém me faça envelhecer prematuramente de insónia e infelicidade...

8 comentários:

Teresa Lobato disse...

... e qual é a receita, miga?

Teresa Martinho Marques disse...

:) Manter a coerência, o respeito por nós próprios: se não concordo com uma carreira bi-partida, não concorro, se acho absurdo quantificar, não quantifico... se não tenho tempo para fazer formação com créditos porque tenho um mestrado para acabar, não faço e por aí fora. Encontrar as margens legais para expressar a nossa não adesão a um sistema injusto. Tal como em certos medicamentos, os benefícios (consciência tranquila, vida menos agitada, apesar de tudo, mais tempo para os alunos) compensam os efeitos secundários (ser penalizada na progressão da carreira e na posição de graduação - passar de 1ª do grupo a 5ª, ser eventualmente penalizada na avaliação por questões técnicas). Tenho a certeza de que a algumas pessoas nasceram bem mais cabelos brancos do que a mim no último ano... :)
Não resolve tudo... mas tem ajudado! Beijinho

EMD disse...

Ou, para usar um exemplo mais comezinho, a farpela está na moda mas não vai comigo, como tal não a visto, ainda que me rotulem de excêntrica, de antiquada, ...
Ah, se ninguém tivesse concorrido a titular, ainda que com um ECD gravoso, não estaríamos onde estamos.
Adiante, que para a frente é o caminho.
Sim, faz todo o sentido. De outro modo estaremos a reprová-los no início do ano, ainda que façam progressos extraordinários, muitos dos quais pouco mensuráveis. Como se medem todos os mecanismos que, em conjunto, fazem a correcção de um texto, por exemplo? E a sua eficácia? E como se avaliam, se os pontos de partida (logo também as metas) não são os mesmos para todos os alunos.
Estes são problemas antigos mas nem por isso objecto de muita reflexão, de procura de caminhos, porque para estas e outras questões não há TEMPO, nem vontade.
Lá está, parabéns por ser como és e por contribuíres para a reflexão e o debate.

Teresa Martinho Marques disse...

:) FAz falta esse tempo de reflexão... muita falta...

João Torres disse...

Parabéns 3za.

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada, J.! :)

Anónimo disse...

Nas reuniões de Departamento que tive, vários foram os professores que patilharam da mesma ideia e sentimento de estabelecer metas sempre e de início para os 100%. Não é a única a pensar dessa forma! Eu concordo e tb sempre o fiz! E... estou farta de papéis que não servem para nada...papéis que acabam todos os anos no ecoponto azul!!!!
http://pasteldecor.blogspot.com
http://paulafrade.deviantart.com/gallery/

Teresa Martinho Marques disse...

Fico tão feliz por saber! Que a lucidez nunca morra! Os meus, mesmo rebeldes, acabaram na gaveta pois decidi não ser cúmplice do processo de forma alguma... Não os vou entregar!
Força para todos voz. A razão é nossa. Obrigada pela partilha!
Abraço e Feliz Ano de 2009!