domingo, outubro 19, 2008

Objectivos individuais - 3 e mais umas coisinhas

Para não sobrecarregar mais a minha teia com "ois"... deixo ligação ao documento em construção (que irei actualizando)


Como o "oi" três foi feito agora de madrugada... é natural que possam existir aspectos a melhorar... embora tenha a certeza absoluta que muitos mais aspectos haverá a melhorar no nosso ECD e neste absurdo todo que nos rodeia, do que no meu textinho...

Às vezes tenho a sensação de estar a viver dentro de um filme (low budget) de alucinado terror...
Alguém na imprensa falava há tempos da nossa "zanga" (em tom depreciativo)... Mas qual zanga? Eu... é mais estupefacção pela coisa e pela aparente indiferença da maioria das pessoas fora da escola (algumas dentro), que assiste impávida e serena à implosão do ensino sem perceber o efeito CO2 e a subida do nível do mar, acima das suas cabeças, o afogamento... um dia (sempre longínquo, claro, e provavelmente nem deve ser neste planeta o efeito...).


Perguntei sobre a questão da delegação de competências... fui esclarecida (acreditei... sou assim, o que querem? É muito Pai Natal, muita Fada ainda no meu sistema linfático...) que isso só se aplicava na delegação de poderes. Agora descubro isto e recordo novamente o Triunfo dos porcos de George Orwell. Muda 'cadinho da lei aqui, muda 'cadinho da lei ali... e assim se vão levando os animais mais iguais do que os outros até ao cadafalso... melhor... eles caminham até lá pelo seu próprio pé como que hipnotizados (lembram-se? Todos os animais são iguais... era o mandamento maior... depois de já terem sido todos acrescentados a jeitinho, neste acrescentou-se, em jeito de toque final para garantir a completa subserviência, ... mas alguns animais são mais iguais do que outros). Já não falta muito para lá chegar.


A lei não pode ser manobrada a jeito, nem cumprida acefalamente, muito menos quando fere princípios, quando prejudica valores básicos e essenciais... O ECD, a forma (critérios absurdos) como foram "encontrados os titulates - avaliadores" - de que agora já pouco se fala e que por si só seria argumento para impugnação de todo o processo, a regulamentação da avaliação, o estatuto do aluno... , a nova GESTÃO das escolas (alguém se lembra?)... tantos outros.

Felizmente, tal como no livro, há sempre quem não feche os olhos e se vá recordando dos mandamentos democráticos iniciais. E sempre que não se fecha os olhos, há uma esperança de luz que pode entrar para dissolver a cegueira em que andamos.

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(Tenho uma imensa saudade de poder acreditar em fadas e não ter de viver em estado de permanente alerta e desconfiança...)

2 comentários:

henrique santos disse...

3za
primeiro desculpa ter andado a trocar o z pelo s no teu nome. Quanto às referências a Rui Grácio de certo modo elas estão dispersas nos textos em que ele se refere dum modo muito insistente aos aspectos psico-relacionais do acto de ensinar. Há no entanto um texto chave dele em que ele acentua esses factores como eixo estruturador de qualquer estratégia de combate ao insucesso/abandono escolar.
Cito aqui com uns comentários que lhes fiz num post que fiz em 2006 para o meu cantinho.
“Rui Grácio: citações sobre insucesso escolar.
Rui Grácio dedicou vários textos ao tema do insucesso escolar. Valem pela sua leitura total. Aqui reproduzimos algumas citações que respigamos num desses textos incluídos nas suas Obras Completas.
"1. O insucesso escolar dos alunos exprime-se institucionalmente em fenómenos de repetência e abandono prematuro do sistema educativo. Ambos traduzem uma inadaptação dos alunos às normas da instituição escolar, inadaptação que pode manifestar-se em dificuldades de aprendizagem e em desvios de normas disciplinares (do alheamento profundo à grave insubordinação), dificuldades e desvios que frequentemente se combinam e mutuamente se determinam e reforçam. A inadaptação e, portanto, o insucesso escolar, são pois conceitos relativos: só têm sentido em relação a uma determinada instituição escolar, a um certo momento do percurso escolar nessa instituição, a certas normas e expectativas desta. Por outro lado, está subentendida outra relação: a que compara os resultados de um aluno com os de outros implicados nos mesmos estudos"...
"... existe uma copiosa literatura sobre os aspectos afectivos, emocionais, personalísticos do comportamento dos alunos, bem como sobre a importância da trama de relações interpessoais que o implicam..."
"... certas experiências e inovações da pedagogia escolar vieram realçar a importância das atitudes e comportamentos do professor na natureza e qualidade da relação pedagógica; tais estudos e experiências comprovaram a influência favorável no aproveitamento escolar dos alunos - portanto na remoção ou minoração do insucesso escolar - de certas atitudes do professor: aceitação da pessoa do aluno, empatia com relação às suas dificuldades, encorajamento dos aspectos positivos da sua conduta. Tais atitudes seriam o suporte de uma relação pedagógica produtiva, porque valorizadora da identidade pessoal do aluno, e, assim condição basilar da sua evolução favorável, do seu construtivo progresso, do seu sucesso escolar."
"Os contributos, científicos e experienciais, da pedagogia são enriquecedores para a compreensão e eficácia do processo educativo escolar. Esses contributos não devem, porém, circunscrever-se às dimensões individuais e relacionais que isolam a vida escolar e, mais amplamente, o subsistema educativo, do sistema social englobante. Na verdade a psicopedagogia, por si só, não pode explicar o carácter maciço e socialmente determinado do fenómeno do insucesso escolar, carácter impossível hoje de contestar."
"... Pela dupla função selectiva e ideológica, a escola colaboraria, assim, na "reprodução" da divisão social e técnica do trabalho e das relações de hierarquia social. Assim, diremos que é só aparente paradoxo afirmar-. "o insucesso escolar é um sucesso do sistema"".
"... numa sociedade estratificada o professor é, no ofício, o "cúmplice inocente" da função reprodutora da instituição escolar."
"... não basta ao professor ser consciencioso (e tecnicamente habilitado); cumpre que seja consciente do facto de que o honesto propósito pode fracassar em escolas de contingente escolar socialmente heterogéneo, pela interferência insidiosa de atitudes e comportamentos docentes que desvalorizam, e penalizam, os alunos dos meios populares: desinteresse pelo seu capital específico de experiência social e cultural; desencorajamento "repressivo" das tentativas de afirmação e expressão dessa experiência, bem como dos correspondentes códigos linguísticos; instauração na escola, sobretudo na aula, de uma rede de interacções verbais, bem como de formas não verbais de comunicação, que privilegiam os alunos das camadas médias e superiores, olvidando e marginalizando os alunos das camadas populares. Deixados ao abandono, eles abandonarão mais cedo as escolas..."
"Não obstante a mobilização de vultuosos meios financeiros e de elaborados meios pedagógico-didácticos, os resultados não se revelaram suficientemente compensadores. Os sistemas educativos continuaram a mostrar-se fortemente selectivos, como o comprovaram e comprovam os estudos estatísticos de demografia escolar, exercendo-se a selecção por forma socialmente diferenciada: o insucesso escolar penaliza sobretudo as crianças dos meios populares, ou, de outro modo dito, "o sistema educativo privilegia os privilegiados".
" O professor, os professores, são o eixo de articulação de tais estratégias, (de combate ao insucesso escolar) condenadas ao fracasso sem a sua conveniente mediação."
"O professor é o eixo de articulação de qualquer estratégia que pretenda prevenir ou minorar o insucesso escolar, o qual depende muito menos do que se julga das metodologias didácticas empregadas e muito mais da natureza e qualidade das relações educativas que o professor polariza.
Estas citações foram retiradas do texto "Insucesso escolar, composição socialmente hetrogénea dos alunos e atitudes dos professores" que se pode encontrar a partir a página 447 das Obras Completas deste autor, Edição Calouste Gulbenkian.
É interessante ver como numa síntese brilhante e muito bem informada, Rui Grácio integra dialecticamente a crítica à teoria dos dons escapando ao fatalismo de algumas teorias da "reprodução". Neste texto aos professores é apontado um papel incontornável e um espectro de acção largamente possível, papel esse tão negado ou desvalorizado nas teorias atrás citadas.”

Teresa Martinho Marques disse...

Só posso agradecer este teu enorme contributo! Tudo já copiadinho para lugar seguro para uma segunda leitura com calma. :) Muito obrigada pela preciosa partilha!