... quando, no Clube, colocou como símbolo de utilizadora do Scratch a bandeira da sua terra (quantas vezes me dizias no início que não gostavas da minha e desejavas regressar à tua?)
... quando viu o vídeo (preparei a supresa em casa) no blogue da turma e ouviu a sua voz pela primeira vez assim longe de si (repetiu o visionamento mais do que uma vez, rindo)
... quando, depois disso, concluiu o projecto que havia começado com a Diabinha na aula de Área de Projecto
... quando publicou o projecto e o viu na Internet na plataforma Scratch do MIT
... quando viu o projecto publicado no blogue da turma (fiz-te essa surpresa, sim)
... quando damos o braço uma à outra (ela é mais alta do que eu) e vamos conversando e rindo até à sala de aula fria e gelada (ontem dizias: tenho frio!), com palavras simples que possas entender e sentir como tuas, palavras que te possam aquecer e fazer esquecer estas salas onde somos obrigadas a viver tantas horas do dia (ora és tu, ora é a doce Ang, ora é a doce Mel, ora é a doce Click, ora é a doce Agnes, ora é... tenho sempre boa companhia no caminho...)
... quando as "notas" de matemática começam a subir... me perguntas "que nota tive?"... e com a minha resposta vai entrando outra luz dentro dos teus olhos negros
... quando finalmente te convenço em AP a cantares para todos nós e nos ensinares uma canção, na tua língua, para a festa de final do ano
... quando...
Sorrias pouco quando te conheci. Falavas nada. Estavas muitas vezes sozinha.
Gosto de gastar tempo (e gasto muito) para te fazer falar, escrever e sorrir cada vez mais. Quando sorris, eu sorrio e tudo se ilumina na Escola.
A lareira que nos falta agora tantas vezes. Vezes demais.
É um tempo que agora já não há (não te conto onde o vou buscar, mas sei bem o que não tenho podido fazer por mim por conta dele)
mas temos ambas direito a ele.
Eu sei. Tenho a certeza.
Tenho (a) razão.
E já não há tempo, porque parece que já se gasta muito dinheiro com a educação e sai muito caro à nação dar-nos assim o tempo que nos faz falta, ou diminuir o número de alunos por turma e colocar mais professores a dar-vos a atenção de que (estas novas gerações tanto) precisam (agora nem é possível, como sempre foi desde há muito tempo, ter turmas mais pequeninas... até isso nos tiraram este ano...)
Deixa-me contar-te um segredo triste. A nação, Nuria, anda mais preocupada com bancos em ruptura e "indemnizações de saída" para maus gestores com "negativa na avaliação do seu trabalho", do que com meninos e professores que são apenas umas pessoas que trabalham pouco e já recebem muito... No caso dos professores (e de outras profissões), todavia, uma avaliação negativa não confere privilégios monetários, nem garante a passagem para outro cargo igualmente bem remunerado... noutra escola...
Portanto, também estou hoje em luta (pela correcção, sim, das injustiças e desinteligências do ECD e dos disparates consequentes que colocaram uns a avaliar outros apenas por acaso) pelo direito a mais tempo que conduziria a... mais partilha com os pares sobre o que realmente interessa, mais e mais exigente formação intelectual e profissional, mais exigência nas aprendizagens, maior qualidade do trabalho com os alunos, melhores condições das salas de aula e mais sorrisos para os meninos ao nosso cuidado - porque o saber, trabalhado com tempo e num ambiente bom, dá prazer...
Tempo que nos está a ser negado por uma distribuição incorrecta estabelecida nas leis em vigor, com uma componente não lectiva exígua que não permite nem as funções mínimas que temos de assegurar, nem os gestos para vos mimar e prender em fios de chocolate, nem os gestos para vos aproximar da tecnologia, nem os gestos para aproximar as escolas das famílias, nem o apoio extra a todos os que precisam e que são, exactamente, TODOS (para ajudar a recuperar e ajudar a avançar mais depressa - nesta turma, como em tantas, seria absolutamente indispensável mais tempo e os problemas não se vão resolver milagrosamente com 45 minutos semanais de apoio e com a minha boa vontade e carinho).
É pelo (direito ao) sorriso da Nuria.
É pelo direito de poder exercer esta profissão, que abracei por vocação, com dignidade e as melhores condições possíveis, a bem dos alunos, das suas aprendizagens (de TODOS os tipos) e dos sorrisos de TODOS eles.
Recordação
Há 5 anos
4 comentários:
Os teus dias de professora são uma greve constante ao desperdício de tempo que nos querem impor.
Beijinhos sorridentes
Nunca tinha pensado nisso dessa forma... mas acho que tens razão... :)
Muitos beijinhos
Às vezes comovo-me com estas leituras, mas não digo nada. Falta-me aquele jeito muito brasileiro de dizer lamechices; mas que dá vontade de ser lamechas, isso dá!
Obrigada eFe... não te falta jeito... Eu cá senti perfeitamente a comoção... Aparece sempre! :)
Enviar um comentário