sexta-feira, maio 09, 2008

Alegrias, surpresas e fora com as algemas...

Levantou-se e veio até mim.
Já sabendo que teria de haver uma razão bem forte para a abordagem, sem que lhe tivesse sido dada autorização para se levantar no início dos preparativos para começar a aula de Matemática, foi logo dizendo: Oh professora, isto que eu vou dizer é mesmo importante...

Sim?
Sim.
É sobre o scratch. Eu até enviei um mail à professora a contar.

Ora bem... a novidade que tinha para mim era esta: alguém (originário de Portugal) acabou de criar uma conta scratch... ainda não tem projectos mas já lançou uma galeria a que chamou
Sociedade de melhores projectos de animação e colocou lá um projecto do fca, da cisnedourado e do ffred... Eles estavam felizes com a distinção! Sem dúvida um reconhecimento motivador de novas e mais complexas aventuras. Os projectos da Cisne e do fca, que resultaram da proposta em matemática de modelação do tal problema do caracol, estão muito interessantes e vêm mais a caminho. O amparo/reconhecimento propiciado por estas comunidades, para além dos muros do reconhecimento da escola, é importantíssimo... Sobretudo ao enviar a mensagem de que a qualidade e o empenho são valorizados... Bons efeitos colaterais nos restantes alunos...

Neste caso, embora exista margem para melhorar (há sempre) a distinção é merecida (e não sabe o sr(a)... ou será um jovem? que foram alunos de 10 anos a fazê-los...) . Vêm mais projectos destes a caminho... que surpresas reservarão?

Scratch Project

Scratch Project

O resto da aula de matemática foi uma aventura simples por entre os múltiplos, divisores, critérios de divisibilidade, com o nosso especial toque mágico e muitas surpresas - por exemplo as intervenções da I. que estava imparável, excelente e perfeitamente sintonizada no trabalho depois de dois períodos de muito alheamento e bastantes dificuldades.
A propósito do truque para descobrir se um número era divisível por três (não vem no manual) eu perguntei se achavam que 111 era divisível por três... Oh! Não! Claro que não! Pois é... mas estão enganados...dá... e mostrei o truque: 1+1+1 = 3... se o resultado da soma for divisível por 3, então o número também é!
Depois de mais uns exemplos, a I. de braço no ar pediu para ser ela a enunciar o critério (nem me tinha ocorrido pedir... embora o tenha feito a propósito dos outros, pois eles começaram por dizer coisas como: é divisível por cinco se "acabar" em zero ou cinco e melhorámos a linguagem relembrando que isso do acabar era pouco correcto e elegante... deveríamos dizer: sempre que o algarismo das unidades fosse zero ou cinco)... regressando à I.... muito hesitante, devagarinho, mas confiante, disse algo como isto: se a soma dos algarismos do número for múltiplo de três... então dá...
A alegria que me invadiu secretamente não tem tamanho. A I., como já disse, foi até ao momento uma das alunas com mais dificuldades. A mudança de lugar, a comunicação via mail (dei conta aqui há tempos), a motivação renascida, a interpelação permanente e directa para a manter ligada a mim e à aula surtiram em pouco mais de uma semana efeitos óptimos. Provando, parece-me, que se o professor tivesse realmente tempo para trabalhar de forma mais individualizada com cada criança... e um tempo extra para acompanhamento noutros contextos... muita coisa seria possível. Vá lá a gente explicar isto a quem manda! Mais alunos por professor, muitas horas na escola a fazer coisas não dirigidas aos nossos alunos, assim uma fábrica de encher salsichinhas e pronto: fabrica-se um sucesso mesmo à maneira. (Desculpem a ironia no meio de histórias bonitas.)

Sinto que sim... que há aqui qualquer coisa no ar... que as estratégias mistas, a incorporação de diferentes momentos e estilos de trabalho e funcionamento podem produzir bons resultados a longo prazo. Ao contrário do que tenho visto escrito por muitos (mas de acordo com outras leituras) a abordagem mais sistémica e menos atomizada parece ser uma mais valia... partir tudo em pedaços digeríveis pode acabar na tal formatação onde se perde a visão de conjunto, a interligação entre as coisas, a lógica natural da vida e da matemática. E o feedback permanente e rápido: absolutamente indispensável.

O que rimos quando a propósito da descoberta dos divisores de 32, logo no início, a atrapalhação era mais que muita por... por... muitos acharem que... a tabuada ia até... até... apenas até... ao 10! Oh professora! Então também pode ser o par 2x16 ? O 2 e o 16 são divisores! Ah! Já percebi! O 32 é múltiplo deles e dá para dividir pelos dois e dar logo resto zero!

Oh meus amigos.... até podia ser muito mais!!! A tabuada não acaba no 10!
Duas vezes 11??? Ah... Pois é... dá 22
E... duas vezes um milhão?
Sorrisos rasgados: dois milhões.

Formatamos as cabeças das crianças das formas mais insuspeitas...
Ao fim destes anos todos ainda consigo ser supreendida e aprender sempre mais qualquer coisa para ajudar os próximos a libertarem-se das algemas do cérebro...

2 comentários:

EMD disse...

É! O «poder» do professor... para o bem e para o mal...|-)
Bfs

Teresa Martinho Marques disse...

ois...
Bom fim-de-semana!