Corrigi hoje com os meus alunos de 6º ano a prova de aferição.
No item 19, muitos dos meus alunos com melhores resultados disseram-me o seguinte:
Oh professora, como a pergunta diz que eles já gastaram 15 centilitros de tinta e depois dizem que eles vão continuar a pintar... perguntando no fim qual a melhor estimativa para a quantidade de tinta que irão gastar para pintarem completamente o tampo, nós achámos que era apenas a tinta que faltava para acabar de pintar e multiplicámos 15 por 7... só que, como deu 105 e não havia essa opção do 105, pensámos que talvez eles quisessem dizer o total da tinta desde o início (8x15) e assim escolhemos antes a última opção de 110 a 130...
Leio e releio e parece-me que é uma interpretação aceitável. Portanto, tratando-se de uma estimativa, se o valor encontrado com base neste argumento fosse 105, os alunos tanto poderiam optar pela última opção como pela penúltima, pois se num caso aparecia o 100 (a cinco centilitros desse valor) no outro aparecia o 110 (também à mesma distância de 5 centilitros).
O critério de classificação tem em conta apenas a interpretação de que se trata do total de tinta. Repito que foram os meus alunos com melhores desempenhos que levantaram a dúvida (alguns deles têm a prova integralmente ou quase integralmente certa). Terá acontecido a mais alguém os alunos colocarem esta questão?
E para quem não conhecia a prova ou nem é da área, o que vos parece? Professores de língua? Digam coisas se tiverem tempo e paciência.
É claro o que se pede? As duas interpretações são possíveis? Ou apenas aquela pela qual os alunos optaram inicialmente de contabilizar apenas o que ainda faltava pintar?: já gastaram ... vão continuar a pintar... qual a melhor estimativa para a quantidade de tinta que irão gastar ... ?
No final da correcção, depois de um erro grave cometido pela maioria dos alunos na questão 8 - escrevem no ângulo que falta 50º e não 40º (caso a estudar... tenho alunos com a prova quase integralmente certa em que este é o único erro cometido... oh professora, que vergonha! Nem pensei... como parecia que o ângulo estava cortado ao meio e a outra metade era 50º, nem me lembrei que era um ângulo recto! Só pensei que se era metade a outra metade também era 50º...) disse-lhes: eu vou mas é deixar de ser professora de matemática! Sei lá, vou pintar paredes a ver se tenho mais jeito para isso! Oh meninos! Francamente!
Fiquei aborrecida com o disparate, baralhada com as razões e eles envergonhados por se terem deixado levar por uma das perguntas aparentemente mais simples da prova. Que conclusão tirar?
Agora vou passar o resto da tarde (depois de um dia de aulas manhã e tarde) a ver os testes do quinto ano. Para a semana ainda farei mais um teste ao sexto ano. A ver se no fim-de-semana adianto freneticamente o possível antes de receber as provas de aferição na segunda.
Avizinham-se tempos difíceis...
9 comentários:
No item 19, o essencial está na pergunta final: "...quanto irão gastar para pintarem COMPLETAMENTE o tampo da mesa?" É este advérbio que nos indica que querem o total, ou seja, entre 110 e 130 centilitros. Se pretendessem apenas saber quanta quanta tinta faltava para acabar de pintar, teriam de dizer isso mesmo - "quanta tinta vão precisar para acabar de pintar?" ou "indica a quantidade de tinta que é necessária para pintar o resto da mesa."
É a minha interpretação.
Sim eu também concordo com a Bell quanto à interpretação correcta da pergunta. No outro exercicio pois ... mas eu se fosse a si não me preocupava muito. É um erro de falta de concentração natural.
Bem vão estas "aferições" para alunos do 5º e 6º anos em que se tem de fazer estas especulções. Felizmente, Teresa do Lindo Nome, ensinaste-os a pensar, que é o melhor presente, a mais importante mais-valia que podemos dar aos meninos, aos adolescentes, aos adultos. E depois admiras-te de te quererem pôr em tudo?! Teresa, tu és Professora a sério. Isso é que vai ser importante na vida deles. Um beijo de longe, da Carmo
Teresa, eu, que sou uma paz d'alma, ando um bocado nervosa com algumas coisas que leio e passo-me..., como eles dizem. Por isso, o que eu queria dizer, claro, era "especulações". Para que não haja dúvidas de que sei escrever a palavra... Estou a brincar. É a única maneira de poder levar a vida a sério... Carmo
A Bell tem razão, mas... Está correcto o "irão"? Um professor que elabora uma prova tem obrigação de ser muito cuidadoso no rigor da linguagem. E... "Pintarem completamente"... Completamente também tem a ver com completar.
Enfim... as provas abusam destes itens de escolha que não dão lugar a que um aluno explique o raciocínio, e há bons alunos que costumam fazer questão de explicar tudo. Um aluno que explicasse e respondesse correctamente considerando que se tratava da tinta para completar a pintura deveria ter a cotação total, mas assim apenas por escolha não fica alternativa. E o mais "engraçado" é que terá havido alunos com a cotação toda tendo respondido "à sorte", e outros sem nenhuma tendo interpretado como os teus alunos disseram.
Obrigada! Bom escutar-vos... ajuda areflectir... e, IC, também não sou nada fã destas respostas de escolha múltipla. O mais curioso é que os meus meninos estão tão habituados a explicar tudo que, mesmo nestas, muitos deles deixaram todos os cálculos e explicações... o que é óptimo.
Enfim... veremos no que dá...
A primeira interpretação é possível. Mas a dos alunos também é. Logo, basta esta discussão para demonstrar que o item está mal formulado. E que têm de ser aceites as duas hipóteses. (sobre esta questão dos itens de exame tenho quase um um quinto de tese escrita...). Malhas que os exames tecem...
No ano lectivo passado estive na Acção/Conferência Internacional sobe o Ensino do Português. Aí assisti à comunicação da professora Armanda Costa (quanto a mim uma das poucas que realmente teve a ver com a reflexão sobre o ensino, como tal disse-o no meu relatório...) em que apresentou um estudo dos enunciados das provas de Matemática, particularmente as de aferição de 4º e 6º anos.
Muito do valor da comunicação residiu na demonstração científica de evidências, ou seja, no que comummente intuímos (intuímos?): grande parte do insucesso deve-se a problemas de domínio da língua, de raciocínio lógico-formal e do incorrecto ou desadequado enunciado das questões. É obvio que o campo de trabalho da investigadora é o da didáctica da língua, não da matemática. Outros apontariam razões de outras naturezas.
Tudo isto para te dizer, 3za, que tenho apreciado o teu trabalho como professora inteira. Isto é, no que está para além do ensino da Matemática, mais especificamente no que à língua diz respeito, porque sem ela não se pensa. Afinal, todos somos professores de língua... só que uns mais e melhor que outros.
Respondi à pergunta?
A formulação da pergunta continua a não me suscitar dúvidas. Eles não perguntam quanto "... irão gastar AINDA...?", nem quanto "...irão gastar MAIS...?", perguntam apenas quanto "...irão gastar...?"
No nosso dia-a-dia, por exemplo, estamos a fazer obras em casa, já gastamos x, um amigo pergunta-nos: "quanto irás gastar nessas obras?" Respondemos o total ou o restante? O total, obviamente.
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