sexta-feira, outubro 19, 2007

Há perguntas e perguntas...



Nesta turma é assim.
Laços bem tecidos de mais de um ano permitem-nos reflectir em conjunto sobre as questões mais inesperadas. Aparentemente nem seriam conversas para ter com alunos. Mas são. E fazem-nos bem. E ajudam a perceber melhor os quês, os porquês, as razões da exigência, a necessidade que temos dela.

Meninos, sabem que há assim umas perguntas tontas que se podem fazer sobre o perímetro do círculo, perguntinhas de nada que nem dá para ver se perceberam bem ou não esta coisa do pi, do perímetro do círculo...
Quais?
Aquelas do tipo: calcula o perímetro de um círculo com tal de diâmetro.
É fácil: é só multiplicar por pi (já todos sabem)
Pois, mas isso não quer dizer que se tenha percebido bem. Basta só decorar e pronto. São perguntinhas tontas porque as respostas vão ser todas iguais. Mas eu quero mais para vocês. Quero que me provem que entenderam e, se não tiverem entendido, eu tento de novo. Claro que no teste vão aparecer algumas perguntinhas tontas dessas, mas as melhores perguntas serão as que vos levem a pensar e vos obriguem a explicar o porquê matemático de qualquer coisa, ou a ter de provar uma escolha. Ah! E já sabem... Um destes dias lá terão umas perguntitas surpresa para eu ver se isto anda a correr bem...

Temos trabalhado nessa perspectiva, e procurado exercícios e problemas que não são fáceis.
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E peço que me vão explicando o que aprenderam até agora, detectando aqueles que mesmo com métodos activos e investigação só "fixaram" a coisa de multiplicar o pi pelo diâmetro.

Antes de ontem, um mini-teste surpresa com apenas uma pergunta (retirada de uma prova de aferição): dou-lhes três círculos de diâmetro diferente, um rectângulo e peço que, através de medições, cálculos e explicações me digam qual dos círculos escolheriam para ser a base do cilindro numa planificação deste sólido (sendo o rectângulo a planificação da superfície lateral).
É o "meu" primeiro grande teste. Aquele em que percebo se cheguei verdadeiramente até eles numa questão que só aparentemente parece simples. Confesso uma certa ansiedade quando pego no trabalho que fizeram. Este ano, as expectativas foram excedidas por um lado, com alunos a surpreender, mas ainda não me sinto satisfeita. Em 26 alunos, cerca de 7 apresentam um trabalho deficiente ou muito incompleto (curiosamente alguns deles são alunos que têm habitualmente resultados bastante satisfatórios). Mesmo com explicações menos completas, ou a merecer ajuste e correcção, mesmo com erros de cálculo (ai o que eu me zango com eles! Fazem o mais difícil e depois as contas... eles percebem a minha zanga...) apareceram muitas respostas bem organizadas e reveladoras do entendimento da questão essencial. Não foi nada mau, claro, mas temos de trabalhar depois as questões da organização das nossas explicações com recurso aos símbolos, aos esquemas, às palavras e frases com sentido, prestando especial atenção a quem revelou não ter entendido na essência o que se pretendia.

Vou devagarinho sempre. Com muita exigência, mas sem acelerações desnecessárias. Não os quero perder e os inícios são decisivos. O 6º ano representa um salto grande na exigência dos conteúdos/conceitos. E pelo caminho eles aprendem muito mais do que apenas as questões relacionadas com o perímetro do círculo. Mais tarde recuperarei o tempo investido. A ideia não é fazê-los aprender?












4 comentários:

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Obrigada pela partilha! Este blogue está cheio de pedras preciosas, vou adicioná-lo às minhas ligações, espero que não se importe! Continuarei a lê-lo atentamente para aprender MUITO!

Anónimo disse...

Olá! Claro que não me importo e até agradeço! Bom saber que as nossas palavritas podem oferecer algo a alguém. Fico sempre feliz... Obrigada!

Teresa Pombo Pereira disse...

Eu só queria saber fazer uma milionésima parte do que tu sabes fazer para ajudar o meu filhote na matemática. Quando ele chega com as fichas de trabalho meio atrapalhadas fico em pânico. Literalmente! E o mai importante é que eu sei que tu os conquistaste para a matemática. E grande parte dos nosso colegas do 2º ciclo - ou do 3º - não consegue. Não podemos clonar-te???!!! ;-) Da mil coisas que fazes havia de haver uma que era formação de professores: bastava gravar em vídeo as tuas aulas e divulgar as cassettes. Sabes eu acho que a formação de profs. pode - só pode - passar por aí. Do género "ó colega, eu não sou melhor que ninguém, fiz apenas aqui umas investigaçõzinhas e tento aplicá-las assim... a colega, como faz? ,sabe, eu faço assim, e podíamos.... bla bla bla". Estou a ser uma tonta como sempre, né? Mas tu perdoas, sim! Mtos beijos!

Anónimo disse...

Sabes... nos encontros semanais do Departamento vou partilhando algumas coisas e trocamos experiências. Também acho que é assim, partilhando, vendo... Mas há coisas que é difícil mudar. Dou-te um exemplo: eu insisto com os miúdos desde o 5º ano no rigor e eles aprendem que um quadrado é um rectângulo (ângulos rectos) só que tem os lados todos com o mesmo comprimento. É assim um rectÂngulo especial. E que um cubo é um prisma quadrangular, é tb um paralelepípedo.... mas quando partilhei ouvi dizer que isso só faz confusão e que continuam a ensinar como no 1º ciclo: um quadrado é um quadrado e um rectângulo é um rectângulo... Ora é um erro e eu não compreendo que se ensine à criança algo errado para ser "mais simples". É desrespeito. Penso que o que caracteriza muito a forma de estar com eles é um imenso respeito, um enorme carinho. E como são verdadeiros eles percebem. E como percebem confiam no que lhes digo e aceitam a exigência. A matemática é só mais uma coisinha que se junta à relação. Tudo se torna mais fácil. E... realmente converso muito com todos e com cada um. Enfim. Não há receitas... mas o amor e o respeito genuínos são uma boa base para qq receita... Tenho sido professora de muitos filhotes de colegas... e quando chegam os manos... querem que a experiência se repita. Ou seja, tenho pouco a esconder. Toda a gente já sabe como tudo acontece dentro das aulas (aqui na escola já fui prof de vários filhotes de profs do agrupamento e este ano sou novamente)e gostam, confesso. Esse vai sendo o sinal mais visível de que não faço um mau trabalho :) os clientes querem repetir a dose eh eh eh. Já te estou a ver a meter uma cunha se estivesses aqui..... Obrigada pelos teus comentários carinhosos. Fico toda vaidosa. Bjinhos