Carinho, sim, muito.
Não esquecer de, aos poucos, mostrar os limites, controlar as birras com firmeza. Exigência, no respeito pelos ritmos.
Dedicação, atenção, cuidado.
Falo do meu menino autista?
Não. Falo de todos.
Há, nas diferenças de que é feita uma aula sempre cheia de crianças especiais, traços comuns que devem cruzar os caminhos. Não os perco de vista.
Por isso, sempre que possível, as actividades são pensadas para que partilhem algo. Só quando é absolutamente indispensável a distância surge.
Sem saber muito bem o que esperar, hoje sugeri a mesma actividade a todos.
Com calma expliquei. A todos mostrei.
Ao M. mostrei bem pertinho. Acompanhei sem abafar.
Para surpresa de todos, avançou sem hesitação. Sem recusa. Gostou do que lhe foi proposto. Primeiro recortando sem muita precisão, no fim demonstrando uma perícia que, percebi, espantou os colegas que tão bem o conhecem. Partilhei as suas conquistas. A turma com carinho celebra. Reforça.
A C., lá de longe, sopra-lhe um beijinho. Ele ri.
Mãe, mãe! (é assim que me chama) Outro! Sim, M., vamos já fazer outro. Pode ser este? Sim. E como se chama? Pirâmide. Pirâmide quê? Mãe, quadrangular... Boa! Pinta primeiro. Agora vais ser tu a colar. Não Mãe tu, faz tu. Puxa-me o braço. Não. Vais ser tu a fazer. Vê, é assim.
Fez.
O M., na aula de estudo acompanhado de ontem, descobriu o afia do colega do lado e percebeu a semelhança com o livro de onde fazia um registo escolhido por si. Gosta de dizer os nomes dos países. Sabe onde ficam. Gosta de os traduzir para inglês.
Não sei se é ele que tem o mundo na mão, se sou eu, por vê-lo a crescer assim à minha beira. Por vê-lo confiar, aos poucos entregar-se, deixar-se embalar no carinho, aceitando as regras necessárias.
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Terminámos os últimos minutos da aula de hoje, enquanto limpávamos as mesas, cantando a canção os números e começando a aprender o rock da matemática. O M. ri com gosto, canta feliz com a turma. No início do ano, ao pedir informações, foi-me dito: o M. não sabe cantar.
Recordo um poema que escrevi há muitos anos, da primeira vez que trabalhei com crianças um pouquinho mais diferentes. Na altura quatro meninos da APPACDM numa turma. Nunca esquecerei o tanto que me ensinaram sobre a vida, sobre a palavra conquista.
Hoje apeteceu-me deixar aqui esse poema. Perceberão porquê.
Por entre o cansaço de uma semana que não foi fácil (como não serão as vindouras), há em mim uma paz com sabor a açúcar que me dá a força necessária para passar o fim-de-semana a trabalhar.
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Obrigada, M., pelas lições de alegria e empenho que me vais dando.
De repente, tudo parece possível.
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Diferentes?
São iguais os passarinhos?
Tu és diferente de mim
e eu de ti sou diferente,
Por isso te ofereço o que é meu
aprendo com o que é teu
e assim cresce toda a gente.
Mas as carícias, os risos,
as lágrimas, os beijinhos,
que usamos se são precisos,
sentir frio ou calor,
o bater do coração,
alegria, medo ou dor,
são coisas que partilhamos
e têm o mesmo sabor.
É como as avezinhas,
cada qual com sua cor,
cada qual com seu cantar.
Primeiro é sempre um ovinho,
todas precisam dum ninho
até aprender a voar.
(…e os voos ao nosso alcance,
seja qual for a distância,
são sempre de festejar!)
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7 comentários:
Fazes-me chorar tu... de muita emoção... todas as minhas experiências com as "ditas diferenças" têm sido também extraordinárias. E não são todos eles diferentes e lindos?
Muito beijos.
Bom fim de semana!
Sabes, um dia gostava de ver esta teia tão tecida, tão tecida que se transforma num texto, um TEXTO, um livro. Lindo! como tu! É que agora lembrei-me do "Diário" de Sebastião da Gama. Tenho-o recomendado a todos os colegas que precisam de se reapaixonar pelo que fazem.
Oh Teresinha... também eu ainda me comovo. Isso quer dizer que continuamos apaixonadas o que é bom. Bem bom.
Curioso falares isso do Diário... (és uma querida e eu fico sem jeito :)Há tempos juntei todas as entradas em estilo de diário. Não, não é um livro... mas vai passar a existir uma rubricazinha no CE e uma ou outra delas hão-de aparecer por lá. Mas nunca se sabe... talvez quando for velhinha... assim umas memórias para partilhar... :)
Beijinhos e bom fim-de-semana!
Quando por aqui paso há sempre uma lagrima q teima em aparecer, essas experiências que são partilhadas também nos ensinam muito... ensinam a ver as coisas de uma forma diferente... muito bom mesmo.
Ontem a Fátima preparou-nos uma surpresa no Papalivros... foi assim em jeito de retrospectiva, porque já estamos nisto há 5 anos, foi um pp com algumas fotos tiradas das várias sessões e as palavras escolhidas para as acompanhar não podiam ter sido as melhores... foram alguns dos poemas da 3za.... não sei se conhece :D também teimaram em aparecer as tais lagriminhas... momentos únicos e especiais :)
Beijinho***
Teresa, um dia destes ainda te peço para assistir a umas quantas aulas tuas, para aprender e depois explicar cá pela ESE como é que eles (os meus alunos, futuros profs.) podem fazer diferente e bom. Pode ser? Uma abraço apertadinho
Oh Ilda, que ternura! Fico tão feliz... A vida tem-me dado tanta coisa boa que depois eu tenho coisinhas boas para dar aos outros. E tu, Cristina, vem tu, traz alunos... sempre bem-vinda! :) Neste momento tenho a professora do ensino especial duas vezes por semana em duas aulas de CN e Mat (nas outras fico sozinha com o M. e a turma, como foi o caso desta). Não é a primeira vez que trabalho em cooperação com um técnico dentro da aula e é sempre bom. Aulas assistidas são um hábito e um prazer. Agora, na brincadeira, melhor que qq coordenador que assista a 3 aulitas minhas num ano, esta colega poderia com propriedade fazer uma mais real apreciação do trabalho regular eh eh eh... coisas! Beijinhos
:)
que bem se respira aqui... ;)
Bjinhos
:)
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