As fontes, uma das canções-poema no mp3... companhia na viagem de combóio ontem tarde na noite. Ela a ervilha-de-cheiro dos dias, quando o cansaço pesa em cada célula. Ela o melhor nascer do sol. O melhor alento para renovar o entusiasmo. Ela o lar. Ela o banho quente. Ela a coisa tão cheia de nada e de tudo que mata uma fome diferente. A fome que temos tempo de ter se não temos outra fome qualquer. Ela a comunhão com o mundo. Ela a dor, a alegria. Ela que não sabe já viver sem mim. Nem eu sem ela. Ela presa aos minutos que fabricam os meus dias. Peço-lhe ajuda para renascer, sempre que preciso. Sempre que não preciso. A mais leal e desinteressada companhia. História de amor. Abraço que quero pedir e não peço. Mão dada quando acorda a ausência de mão. Adivinha esse espaço em branco mesmo se não lho mostrar. Eu e ela. A única coisa certa. Tudo o mais pode chegar e partir.Tudo o mais acaba por ser um quase silêncio com a voz dela no meio.
Por isso a respiro e partilho.
Por isso me atrevo, às vezes, a prendê-la ao papel com palavras, quando me não chega lê-la.
Por isso. Apenas por isso.
E porque hoje o peso das infinitas tarefas do dia chamou, ao acordar, pela leveza dela.
.
Pronta para escalar as horas.
.
Adio o voo:
um dia...
As Fontes
Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser vivo e total,
À agitação do mundo irreal,
E calma subirei até às fontes.
Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.
Irei beber a luz e o amanhecer
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.
Sophia de Mello Breyner Andressen
.
Votos de Boas Festas
Há 5 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário