quinta-feira, outubro 25, 2007

Rótulos alimentares: a casa vem à escola e a escola vai a casa


Sessão prometida desde o início do ano.
Pedi logo no arranque das aulas de Ciências de 6º para coleccionarem rótulos alimentares de alimentos que se consomem habitualmente nas suas casas.
Esta semana foi tempo de análise crítica.
.
.
Formaram os grupos de trabalho habituais e dedicaram-se à identificação de aditivos, da composição nutricional, de outros aspectos importantes mencionados neste suporte informativo, em busca de desequilíbrios ou de substâncias menos adequadas (algumas até perigosas). Munidos das tabelas da DECO (que havia deixado no seu blogue e aqui na Teia) foram muitas as surpresas. Leites com sabor a chocolate contendo aditivos desaconselhados, produtos carregados de corantes e aditivos duvidosos, bolachas com "os mesmos" problemas... bebidas azuis e com outros tons que não fazem o mínimo sentido na dieta alimentar...
Imensos alimentos que consomem habitualmente não são os mais adequados... e pelas suas bocas as surpresas iam sendo partilhadas com os colegas (em cada grupo seleccionaram os rótulos que mais lhes chamaram a atenção e todos os alunos da turma, um a um, tiveram ocasião de falar criticamente sobre alguns dos alimentos que habitualmente consomem.)
.
Ontem, depois de apresentado o último alimento, lá tive de fazer uma das minhas perguntitas: então meninos, o que aprenderam com este trabalho? As respostas foram variadas e percebi que expressavam preocupação com a surpresa de terem percebido a quantidade de aditivos desnecessários e até perigosos que consomem regularmente.
.
.
Está bem, está bem... já vi que perceberam... mas o que me preocupa não é bem isso, o que eu quero saber é o que tencionam fazer com a informação que recolheram.
A esta pergunta seguiram-se os muitos dedos no ar e o desfiar de histórias de como na véspera tinham ido contar aos pais as descobertas e qual havia sido a sua reacção: oh professora eu disse ao meu pai que as bolachas belgas que nós comíamos todos os dias tinham uns aditivos duvidosos e ele disse que então nunca mais íamos comprar nem comer essas bolachas. Oh professora eu disse do leite de chocolate e agora só vou trazer leite simples. Oh professora eu disse que a gelatina afinal não fazia lá muito bem com aqueles corantes e agora vai ser só nas festas. Oh professora eu falei dos refrigerantes que vimos aqui como a Coca-cola e a Fanta e vamos tentar beber menos ou só nos aniversários. Oh professora, eu disse à minha mãe que aquelas bebidas das fibras tinham aditivos que não eram bons e ela disse que não fazia mal que ia continuar a beber.
.
Falei-lhes então do direito à escolha. Das decisões de consumo. Que o importante era tomar decisões informadas. Que se um ou outro pai decidisse continuar a consumir um alimento menos adequado, tinha direito a fazê-lo, mas que eu esperava que eles, que tinham acesso a outro tipo de informação, cada vez mais adequassem as escolhas no sentido de proteger a saúde, pois estavam bem mais expostos do que os adultos que só mais recentemente começaram a entrar em contacto com todos estes aditivos.
Também expliquei que não há necessidade de fundamentalismos. Que há que distinguir entre o que se faz todos os dias e as excepções de momento.
Terminei falando do livro da DECO (Veneno no seu prato?) que inclui uma listagem e descrição exaustiva de todos os aditivos indicando os que devem ser evitados e os inofensivos (a vitamina C é um aditivo... aquela conversa "ai isto tem tantos E" não faz sentido... há Es aceitáveis e que são substâncias naturais... também explico isto aos alunos). Enfim. Penso que a mensagem mais importante terá passado.
(E quando me perguntam: O quê? Ainda andas às voltas com a unidade da alimentação? Só penso: perdoai-lhes Senhor que não sabem o que é importante.)

Ah! Continua o desfiar de histórias de como o atum conservado em água se insinua pelas casas de alguns "azeitonenses". Muitos miúdos e com eles as famílias, já se tornaram fãs... Só me ocorre que por muito que tentem desvalorizar a profissão docente, quando esta coisa é feita com amor na ponta dos dedos, o poder de agir para melhorar um bocadinho do mundo pode ser grande. E poder ter um papel activo na melhoria dos hábitos de vida de algumas famílias é algo que me enche de alegria. Não será vencer a guerra, mas já é importante ganhar algumas pequenas batalhas...
A coroa de glória do dia de ontem foi a maçã que caíu da mochila aberta da P e rolou pela sala... deixando exposta uma garrafa de água em vez do ice-tea habitual. Se conhecessem a P, percebiam a importância deste aparentemente simples acontecimento.

7 comentários:

Anónimo disse...

:) Bem hj quando chegar a casa já tenho TPC´s... vou ver todos os rótulos das bolachinhas, dos leites, dos cereais e por ai fora que se consemem lá em casa e vou fazê-lo com duas ajudantes... assim talvez consiga com que desistam de alguns deles :D
Mais uma vez obrigado pelas partilhas... muitas vezes não é por não sabermos das coisas mas ás vezes precisamos de ser abanados pk estamos adormecidos ;) bjs

Teresa Martinho Marques disse...

É exactamente isso: adormecidos.Não significa não saber... vamos-nos deixando ir com a corrente dos velozes dias. Eu acabo por tomar regularmente mais consciência por ter de lidar com estes conteúdos... Beijinhos

Teresa Pombo Pereira disse...

olha q fixe. Acho q vou pedir ao E. pra fazer esse tpc tb ;-) e que vontade tenho eu de imprimir este post e de fazer os profs de ciências tropeçar nele. No nosso bar até temos uns autocolantes vermelhos amarelos e verdes.... cada vez menos vermelhos e os senhores das maqs de venda automatica já não gostam mto de nós ehehehe mas..... ainda há mto pra fazer... beijoca

Anónimo disse...

Beeeem! Ideia fabulosa! Hummmmm acho que vou propor... :0)
Bjinhos

Anónimo disse...

Bom... tenho que lhe dar os meus mais sinceros parabéns, quer como professora quer como escritura de sensibilização.
Já a leio há algum tempo, pois também sou da área. Mas hoje resolvi deixar um post, porque tenho gostado cada vez mais da sua escrita sensível, emociante e capaz de mudar mentalidades.
O meu muito obrigada por existir e partilhar a sua existência connosco.

Anónimo disse...

escritora... peço desculpa.

Teresa Martinho Marques disse...

Oh Rute... fiquei tão contente. Sabes (vou tratar-te por tu... é mais forte do que eu) o mais bonito destas teias todas que se vão tecendo é a sensação de que sem se saber se pode tocar gente real, se pode levar a palavra um pouquinho mais longe... Quando temos alguma confirmação através de palavras como as tuas... a alegria é imensa e a motivação para continuar fortalece-se! Obrigada por visitares a Teia e por teres partilhado esse teu sentimento comigo. Escreve sempre que te apetecer! Beijinho