sexta-feira, abril 28, 2006

A aranha na rosa...

.
Passei a manhã a tratar das minhas flores...
Quais?
Os alunos e os seus blogs.
Digitalizar imagens, corrigir histórias, publicar entradas nos das turmas. Escrever à Emília, enviar textos novos. Espreitar, comentar aqui, mimar acolá nos cantos dos meninos.
A tarde será inteirinha de aulas.

Envolvê-los, motivá-los, caçá-los para o mundo onde o trabalho e o empenho nos trazem coisas boas. Um mundo que eu sei nem sempre é assim perfeito. Mas é preciso atraí-los para os aromas do melhor lado das coisas. Assim terão forças para enfrentar, depois, os recantos menos claros da vida.
.

Pelo meio do trabalho tive de ir até ao jardim. Porque as rosas estão a despertar numa orquestra interminável de cor e cheiro que me inspira com uma melodia forte que não me sai dos olhos, mesmo quando deixa de estar à minha frente. Valem, as minhas flores, cada arranhão, cada gotinha de suor, cada mimo entregue. Elas e os meninos. E a vida. São o meu melhor alimento.
Foi aí que, subitamente, tive uma visão clara do que sou (ou penso que sou).
Uma aranha que se serve da rosa para atrair (quem se deixe tentar) à teia onde se aprende que crescer dói, exige disciplina e sacrifício, esforço, entrega, dedicação. Amor. Nunca foi nem será diferente. Onde se aprende que morar lá nesse lugar a que gostamos de chamar felicidade só é possível depois de cada cabo dobrado, em cada dia.
A aranha na rosa.
(Fotografei-a como se fotografasse o espelho onde me estive a ver.)
.

.

Alimento-me tanto de vocês, que se deixam atrair, como vocês de mim.
Cada um que vem faz-me crescer pelo espanto de mais qualquer coisa que não conhecia. E ofereço esse alimento que me é dado (também por uma visão do belo, uma leitura especial, um beijo, um pensamento...) ao visitante seguinte. Seja ele a família, um amigo, um aluno, alguém que não conheço, uma flor do jardim, uma borboleta por nascer, um animal sem casa, um poema, uma história, algumas palavras soltas, uma canção, uma aguarela, um livro...

Trago em mim, confesso, esse quê solitário, esse quê de espera, esse quê de contemplação, de não saber o quê nem para quê, esse quê de confinamento, de ninho, de casulo, de fuga ao assustador espaço do mundo. Mas já nem quero saber se é bom ou mau viver assim dentro de uma rosa que desenhei exactamente como queria.

Viajo pouco. Mas viajo muito. Não guardo para mim tudo o que recebo.
E assim acho que vou crescendo...
(Sem engordar.)


7 comentários:

Hindy disse...

:)
Bom fim-de-semana e beijinhos.

Teresa Pombo Pereira disse...

Que belíssimo texto Teresa! Vê-se que amas a profissão que abraçaste! Para mim, essa é única forma de se SER professor! Um abraço!
Bom fim de semana!

Um dia, se quiseres, passa por
http://abiblogteca.blogspot.com

Sugestões de leitura e alguns textos dos meus alunos. Links para projectos de escrita colaborativa com escolas do Brasil. Obrigada!

imaz disse...

Esta semana fiquei mais uma vez agradavelmente surpreendida com a tua sensibilidade e a ternura que pôs em tudo o que fazes. São os alunos, as flores, os animais que precisam dos teus cuidados, as histórias, poemas, livros...e canções...
A Helena teve a amabilidade de me ofereceu os dois... Vou aproveitar este fim de semana para os ouvir e depois vou partilhá-los com os alunos... Vão conhecer uma nova faceta dessa "aranhiça" que eles já admiram e estou convencida que irão dizer"também faz canções?"
Beijinhos e bom fim de semana grande

matilde disse...

Obrigada Teresa por esta partilha. Vou roubar umas ideias (com indicação da fonte, claro) para enviar a alguém que me é especial ;)
É fascinante e uma sorte tremenda ter a oportunidade de se fazer o que se gosta e a força para aprender em cada dia a gostar cada vez mais do que se faz...
Um beijinho e um doce FS

AnaCristina disse...

Às vezes também acho que sou essa aranha que envolve na sua teia algumas moscas... mas fico triste quando uma mosca me escapa e começa a voar em direcções estranhas!

Hoje estou triste pela Raquel!

emn disse...

:)...

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada pelas visitas e pelas vossas palavras! Imaz, espero que gostes dessas minhas outras aventuras sonoras... Os dias são pequenos para tudo o que gostaria de fazer e dança na minha cabeça. Teresa, logo que possa, lá vou eu biblogtecar... já lá estive e tenho pena que o tempo não dê para o muito que gostaria de ver, ficar, estar, participar. A teia de amigos na blogosfera alarga-se continuamente e o tempo infelizmente não. Mas vou dar o meu melhor! Tit, partilha tudo o que te apetecer partilhar... É essa partilha que dá sentido a tudo isto que vamos construindo por aqui. Ana, percebo-te bem... apetecia cativar todos, salvar todos... nem sempre conseguimos.
Um bom fim de semana para todos!