segunda-feira, abril 24, 2006

O caminho menos percorrido...

.
Águas passadas não movem moinhos…

E as portas fechadas que ficam
para trás
será que vão dar a alguns caminhos?



JL não resistiu a esta pergunta e "respondeu" com o poema de Robert Frost. Mas, desta vez, não se reservaram para os comentários as citações a propósito... Com a sua licença, veio para a ribalta este conjunto de palavras tecidas com mestria por este poeta, que aflora o mistério das portas abertas e das portas fechadas no seu poema:

O caminho menos percorrido

Duas estradas separavam-se num bosque amarelo,
Que pena não poder seguir por ambas
Numa só viagem: muito tempo fiquei
Mirando uma até onde enxergava,
Quando se perdia entre os arbustos;

Depois tomei a outra, igualmente bela
E que teria talvez maior apelo,
Pois era relvada e fora de uso;
Embora, na verdade, o trânsito
As tivesse gasto quase o mesmo,

E nessa manhã nas duas houvesse
Folhas que os passos não enegreceram.
Oh, reservei a primeira para outro dia!
Mas sabia como caminhos sucedem a caminhos
E duvidava se alguma vez lá voltaria.

É com um suspiro que agora conto isto,
Tanto tempo já passado:
Duas estradas separavam-se num bosque e eu -
Eu segui pela menos viajada
E isso fez a diferença toda.

Robert Frost
Tradução de José Alberto Oliveira e foi
publicada em A Rosa do Mundo 2001 poemas para o futuro,
Ed. Assírio e Alvim, 2001

Não satisfeito, JL ainda avançou com:
Nada ou seja o que for existe sem mim ou para além de mim.
Os átomos do universo poderão ser contados, mas não tanto as minhas manifestações;
pois para sempre faço criar inúmeros mundos.


Srimad Bhagavatam (no mesmo livro)

Se as portas que ficam para trás vão dar a algum caminho?

Permanece a certeza da dúvida.

Certo é que o caminho menos percorrido é um caminho solitário, um caminho não fácil, um caminho de aprendizagem, de sofrimento também. Porque as escolhas se assumem pelo que oferecem na essência e não pela superfície que apresentam. Mas é o nosso caminho, a nossa escolha, que faz a diferença, em cada momento, entre o que podia ter sido e o que será. Alguém se referia a isto mencionando a teoria dos mundos paralelos... Srimad evoca-o: cada escolha possível cria cenários de mundos paralelos também eles possíveis. No fim, apenas restará os que se concretizarem, para o melhor e para o pior. Quererá isto dizer que encontrámos a resposta?

"A vida é difícil. Esta é uma grande verdade, uma das maiores verdades. É uma grande verdade porque, uma vez que vejamos realmente esta verdade, transcendemo-la. Quando sabemos verdadeiramente que a vida é difícil - quando o compreendemos e aceitamos verdadeiramnete -, a vida deixa de ser difícil. Porque assim que é aceite, o facto de a vida ser difícil deixa de ter importância. (...) A vida é uma série de problemas. Queremos lamentar-nos ou resolvê-los? Queremos ensinar os nossos filhos a resolvê-los?(...) é neste processo de confrontação e resolução de problemas que a vida adquire significado. (...) Os problemas apelam à nossa coragem e à nossa sabedoria; na verdade, criam a nossa coragem e a nossa sabedoria. É unicamente devido aos problemas que crescemos mental e espiritualmente.(...)"

Quem disse isto? M. Scott Peck E em que livro? O Caminho Menos Percorrido. (Não terá sido por acaso a escolha do título.)

O poder de um professor é, frequentemente, excessivo de levar aos ombros. Quantas vezes muitos caminhos para escolher o que fazer, o que dizer, como dizer, sem conhecer o mundo futuro que resulta da decisão? Os mundos perdidos por cada uma? O poder dos pais é idêntico. Maior, suponho. E quantas vezes as decisões se tomam sem tempo para reflectir, para escolher com calma o caminho a percorrer? É condição da vida ter de a viver assim, sem que o tempo abrande, de escolha em escolha, de porta em porta, de problema em problema, de desafio em desafio. Por isso, quem escolheu de alma e coração o caminho de ajudar os outros a crescer, fez uma escolha que cruza mais de perto os caminhos dos outros e que, por isso mesmo pode fazer mais diferença. Gostaríamos de pensar que será sempre para o melhor...

... Essa é a nossa esperança por cada entrega, por cada dádiva, por cada porta aberta, por cada porta fechada.


E não há resposta, ainda. Ou talvez haja. Mas não queremos pensar muito nela...

No original:

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;


Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,


And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.


I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I--
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


The Academy of American Poets - http://www.poets.org/poet.php/prmPID/192
American Poems - http://www.americanpoems.com/poets/robertfrost/
The Literature Network - http://www.online-literature.com/frost/
O poema: http://www.bartleby.com/119/1.html.
Com "som": http://www.poets.org/viewmedia.php/prmMID/15717

Pesquisa feita por JL.

imagens - office clipart

5 comentários:

Anónimo disse...

Querida Teresa
Aqui estou eu, a Mammy Teresa.Sei já é tarde,mas é a estas horas que me encontro comigo mesma, que consigo apreciar a minha vida,e saborear(com os amargos e doces) o que ela me tem dado diáriamente e ao longo desta caminhada.É a estas horas que medito e consigo apreciar, de um modo profundo, as coisas simples da vida...e,é aí, que eu encontro a
Felicidade, o Equilibrio mental e espiritual, "o meu carregar de baterias". A minha Paz.
Que Maravilhoso poema e tema, para uma reflexão(meditação)...
A vida, é sim díficil... e concordo quando M.Scott refere, "quando aceitamos e compreendemos o díficil da vida,ela deixa de ser díficil", "e a vida díficil deixa de ter importância".
Temos de encarar a Vida como um Jogo, que nos dá prazer jogar, mesmo correndo o risco de abrir portas, que nos levam a caminhos menos agradáveis.Esses caminhos,levam-nos ao crescimento interior,e,com optimismo,sem receios, recalcamentos,ou tabus,encontrar a Felicidades nas coisas simples.Estarmos atentos ás pequenas,grandes belezas que nos rodeiam(cheiros,cores,sons,imagens,atitudes).
Como diz Maria José Costa Félix,"Está nas nossas mãos treinarmo-nos em cada dia a pensar nas coisas boas que,nesse dia, nos aconteceram, saboreando-as,procurando o significado de cada passo que damos e perguntando-nos:De tudo aquilo que hoje fiz, o que é que teve,para mim,de facto importância".
Estando bem connosco,estamos bem com a vida(aceitação das dificuldades),estamos bem com todos os que nos rodeiam,prontos e seguros,com optimismo, ajudar o nosso próximo a crescer,com Carinho,Amor e de um modo Equilibrado... também ajudando a aceitar as portas que abriu, com as consequências positivas e/ou negativas que daí advêm.
Beijos e Desculpa esta meditação por escrito,já vai longa...
Beijos

Teresa Martinho Marques disse...

Não peças desculpa... lindo. Como sempre. Obrigada por estares sempre presente... em todos os lados da vida... pensando nela. Bj

Teresa Lobato disse...

Estás imparável, Teresa. Não sei onde vais buscar tanta energia!
Já pensaste enveredar pelo ensaio?
Jokas

Teresa Martinho Marques disse...

Se queres que te diga... nem eu sei bem onde a vou buscar. Quanto ao ensaio... estou muito verdinha. São apenas pensamentos dispersos ao sabor da vida... sem pretensão de nada. Vai fluindo... Obrigada pelas tuas palavras!

Teresa Martinho Marques disse...

Foi tirado do office clipart na internet... Não sei onde fica, mas é lindo! Beijinhos