domingo, junho 10, 2007

Second Life (viagem e perguntas)

Durante o workshop Comunicação Educação e Formação no Second Life que decorreu em Maio na Universidade de Aveiro tive ocasião de participar num encontro virtual (no SL) com Katherine Milton (Katherine Barth) - da Ohio University. Levou-nos, na altura, ao campus SL da Universidade e mostrou-nos alguns projectos em que trabalhou/trabalha enquanto professora, recorrendo ao ensino à distância.
Tive pena de não me poder demorar mais tempo na instalação "In the sweet bye & bye" (confessou-nos ser esta também uma das vantagens do SL: nunca teriam verbas para montar uma instalação deste tipo na vida real, mas virtualmente os alunos puderam fazê-lo).
Finalmente encontrei uns minutos para regressar. Ver, ler...

(Aqui poderão encontrar mais informação e ligações para vários projectos/zonas da Ohio University Second Life Campus
http://vital.cs.ohiou.edu/index.php/Ohio_University_sims
Deixo também ligação para o vídeo de promoção do campus que pode ser visionado no final desta entrada...)

A propósito de tudo isto, lá vou continuando a pensar (hoje em voz alta) sobre a utilidade educativa deste instrumento/ambiente em diversos contextos e perspectivas de diferentes tipos de aprendizagem/desenvolvimento de competências.
Aliás, nem é bem pensar... quer dizer... é pensar com imensos pontos de interrogação, que é assim uma especialidade da casa... nem são perguntas novas, ou inovadoras... mas pronto. Hoje são minhas.

Aprende-se ouvindo e vendo. Sim. Aconteceu no encontro com Katherine. À nossa disposição na vida real temos muitas oportunidades para o fazer (nem sempre com este alcance: de que outra forma teria tido eu a oportunidade de dialogar informalmente com esta professora universitária, de modo tão simples e directo, como se fossemos parceiras de instituição?) A educação sempre se estruturou em torno desses pilares do ver e ouvir, frequentemente em demasia. Continua a ser assim. O que traz de novo o SL a essa dimensão da aprendizagem, que a internet ou outros suportes - os livros não desapareceram - não tenham já trazido, permitindo colocar o mundo e infinitas experiências ao nosso alcance em segundos? O que potencia? O que consegue fazer melhor em menos tempo, ou, pelo menos no mesmo tempo de que dispomos? O que consegue fazer muito melhor, embora com maior dispêndio de tempo? Por que é tão motivadora a criação de uma imagem/corpo (à nossa imagem ou não) a ponto de tornar o ambiente de "chat" mais estimulante? De permitir aos mais tímidos expressar-se sem receio, em contexto de aula ou outro? De que forma amplia a comunicação/relação? O que dizemos/não dizemos aos outros com o corpo que escolhemos, a forma como o vestimos, os gestos que escolhemos? Como pode isso influenciar a formação/educação? Por que razão parece a comunicação escrita em tempo real ser mais útil e eficaz do que a comunicação oral (que se receia, ao tornar-se uma possibilidade, venha a desvirtuar na essência essa mais valia do pensamento estruturado e comunicado através da escrita?)

Aprende-se, todavia, muito mais fazendo, pensando sobre o que se faz... refazendo...
Passando de consumidor a produtor... em que medida a construção de conteúdos no SL permite o desenvolvimento (eficaz....com consumo de tempo realista, sem alienação) de competências de nível superior em diferentes áreas disciplinares? E é possível fazê-lo aí de forma diferente e mais vantajosa do que com recurso, por exemplo, a software dinâmico já existente? É apenas uma questão de maior motivação, ou realmente existem importantes diferenças que permitem imaginar e criar ambientes distintos de aprendizagem, impossíveis de reproduzir com outros instrumentos, que promovam um desenvolvimento integrado de vários tipos de competências em diferentes níveis de ensino?

São mais as perguntas, claro, do que as respostas. Sobretudo para mim que não conheço praticamente nada sobre os processos de construção... embora comece a vislumbrar neles algumas possibilidades de, por exemplo, construir conhecimento matemático usando recursos que já por lá vi (referenciais, coordenadas, sólidos, translacções, rotações....... sinto que o trabalho de projecto neste contexto pode realmente ganhar uma dimensão completamente nova... ai imaginação! Anda cá visitar-nos a ver se saímos destas prisões do hábito do velho e da memória, se saltamos para o futuro distante com ideias mesmo mesmo novas!)

Parece ser pelo menos oportuno pensar um pouco sobre estas questões, quando vemos os alunos a querer aventurar-se nesse ambiente. Numa altura em que se intensifica a formação sobre a plataforma moodle, que se deseja tanto uma mudança de paradigma na construção de conhecimento pelos alunos, que tanto se fala de ensino à distância, a qualquer hora, que se pensa "facilitar" o acesso a computadores e à internet, ainda pergunto: quantos (sobretudo mais jovens, mas não apenas) se sentirão tentados a instalar o SL nos seus computadores? Quantos preferirão viajar por ele, em vez de usar as estradas de uma plataforma às vezes pouco apelativa? Quantos não prosseguirão a exploração desse ambientes no segredo mais perfeito, ou na partilha com amigos? Que futuro terá o SL na escola? E na sociedade? Nenhum? Algum? Será, como já alguém preconizou, o futuro da internet? Uma espécie de viagem em 3D, onde também nós poderemos construir caminhos? Uma moda que se desvanecerá substituída por algo ainda melhor e mais poderoso? Ou não substituída por nada mas vencida pela alegada maior "seriedade" de tudo o que já existe ao nosso dispor e de tudo o que for surgindo em serena continuidade a partir disso? Que limites, que fronteiras? Que céus de liberdade? Que riscos?

Podemos não gostar. Achar irrelevante, pouco significativo, pouco interessante ou eficaz. Perigoso. Podemos até achar que mais não é do que um jogo que consome tempo excessivo a ver se encontra disfarce em coisas sérias, uma gigantesca sala de "chat" e pouco mais, de que rapidamente todos se cansarão em busca da próxima sensação... mas ignorar talvez não seja uma opção.

Acompanho o fenómeno... tento perceber onde pode verdadeiramente chegar. E faço muitas perguntas. Aprendo com quem já está lá muitos passos à frente e desconfio de certezas e de respostas fáceis e prontas a consumir, seja num sentido, seja noutro.
Sou professora, o que querem? A curiosidade e a dúvida são parceiras em todas as horas.

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Eu não gosto lá muito de viajar fisicamente (partilho este meu des-humano defeito de fabrico, tão anti-natural como me repetem todos os que adoram viajar, reforçando e lembrando-me a toda a hora que a paixão pela viagem faz parte da mais essencial natureza humana)...mas o gosto por viajar virtualmente (e em sonho também) é outra coisa! Já nasceu comigo.
A internet abriu uma janela imensa e forneceu-me um par de asas sobressalente (já tinha o meu "pássaro da cabeça" comigo - expressão de Pina - e umas asas interiores) que me têm levado bem longe. Continuam a levar. No SL já estendi mais uns fios desta teia.

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A Te Ya... vai viajando, então, por universos virtuais paralelos, quando lhe sobram uns minutos. Que nunca são muitos. (Por que razão falo na terceira pessoa?)

Aqui, nestas imagens, visita à instalação "In the sweet bye & bye" no campus SL da Universidade do Ohio:





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