skip to main |
skip to sidebar
Despedida(s)
Não gosto de dizer adeus. De fechar portas. De virar costas.
Nunca gostei.
A vida acaba por ser um fio contínuo e infinito com chegadas e partidas pelo meio, mas sem despedida(s) em ponto algum do caminho.
No amor, na profissão, na morte... partir e chegar são as palavras que se inscrevem alternadamente na estrada, ficando marcadas nela todas as pegadas, todos os rastos.
Partiu, por exemplo, para já, a hipótese de poder vir a desempenhar certos cargos. Dirão vocês: tu assim quiseste. Quem te mandou dizer não?
Sim, efectivamente. Mas eu não desejava ter de escolher, não com as condições e os critérios impostos, não com esta ideia de duas linhas de água paralelas: uma rio, outra apenas riacho. Preferia o bom senso, a competência provada em vida inteira e não em parco pedaço, o mesmo valor para cada escolha. O respeito pelos que mais viajaram.
Partida sim. Foi-se a possibilidade. Mas despedida não, porque confio, apesar de tudo, numa inteligência qualquer que um dia corrija os erros graves que estão a ser cometidos.
Há algo, por exemplo, a querer chegar que vou empurrando como posso. O desencanto, esse monstro. Não desejo que chegue porque viver desencantado é a única verdadeira despedida que conheço. Despedida da vida.
Mas sinto o seu hálito à minha/nossa volta, aproveitando as frestas do cansaço absurdo gerado por uma forma de organização do tempo que sufoca a missão da escola de criar, inovar, evoluir. Com a partida de toda a lógica, ele tenta entrar no espaço vazio que se vai alargando. Mas resisto.
Porque não me despeço do que alimenta o sonho. Não nos podemos despedir de nada que acrescente flores à vida. Tudo o que nos preenche nos intervalos de ser, parte sem partir. Abre espaço para o novo sem nos deixar um vazio, ou uma solidão.
E é por isso que no final de cada ano, de cada viagem, de cada amor, as necessárias partidas vêem o seu espaço ocupado com novas chegadas que alimentam a renovação de um ciclo que se cumpre ininterruptamente.
E lá vamos crescendo com tudo o que nos dão e nos deixam antes de nos deixar.
Sempre crescendo em direcção a uma luz, a uma claridade maiores.
Fazem-nos falta as partidas, as chegadas. Não sabemos nem podemos viver sem elas.
A recordação aquece-nos nos dias mais frios
Mas despedida(s) não.
Definitivamente, não.
2 comentários:
Porque ñ nos havemos d despedir qd o tédio se instala? Para q ficar inerte, qd se pode conhecer novamente? Sim, chegadas e partidas, mas tb despedidas...
Desse ponto de vista, compreendo... mas a verdade é que mesmo o tédio deixa marcas que nos ajudam no novo caminho do conhecer... Não gostar de despedidas é um pouco como aceitar que mesmo o mau fica inscrito como lembrança para caminhar noutros sentidos e procurar outras estradas... é dfícil apagar tudo realmente.
Enviar um comentário