Não é recente, este livro. E muito já se escreveu e falou sobre ele (basta digitar no Google o título e percorrer o que é oferecido).
Então por que o desfolho agora?
Porque sim.
Comprei-o ontem para o ter mais perto, porque é leitura a que se volta com sede. Ainda que mais dirigido ao universo familiar, o professor não pode ficar alheio a este universo, pois não?
E porque li algo no final que permite alguma reflexão sobre questões muito pertinentes e actuais (que a Teresa levanta hoje no seu Segunda Margem) apeteceu-me partilhar.
Escutem:
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(...)
Questão: As crianças deviam brincar ao sol e ao vento em vez de estarem coladas ao teclado.
Resposta: Sem dúvida. Mas se levar este argumento demasiado à letra, também não os deixará ler nem ouvir música, e muito menos ver filmes ou televisão. E nem sequer sonhar.
O equilíbrio é fundamental. Mas sejamos claros quanto àquilo que queremos comparar: é preferível correr em vez de estar sentado, e estar ao ar livre em vez de ficar dentro de casa, também. Mas isso nada tem a ver com computadores.
Questão: Algumas actividades realizadas no computador são de tal forma atraentes que provocam dependência, afastando as crianças de outras actividades que os pais podem sugerir. Os jogos de "vídeo" costumavam ser os maus da fita. Agora, navegar na Internet sem destino certo e manter conversas infindáveis nos pontos de encontro do ciberespaço criam, muitas vezes, o mesmo efeito de dependência.
Resposta: Algumas pessoas (tanto adultos como crianças) ficam, de facto, dependentes de actividades acéfalas realizadas com o computador. Há outras que gostam dos jogos e das excursões pela rede, mas não os praticam com exclusão de outros interesses. Se houver alguém na sua família que não faça mais nada senão jogar e navegar pelo civberespaço, é altura de olhar com mais atenção para o vosso modo de vida.
Que tipo de papel modelar é que o leitor desempenha? Tem interesses diversificados? Costuma levar os filhos a museu e boas peças de teatro? Costuma ler em conjunto com eles. Dá diferentes utilizações ao ao computador? Sente-se entusiasmado com essas actividades e partilha-as com os seus filhos, ou pratica-as por obrigação? Ou talvez fique demasiado entusiasmado com elas e pretnda impô-las aos outros...
(...)
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E por aí fora...
...apetece (re)ler!
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Seria importante que as famílias participassem, juntamente com a escola, na educação tecnológica dos filhotes... É fundamental que as tecnologias, depois da TV, não se transformem nas novas "ama-secas" enquanto se faz o jantar ou se adianta algum trabalho, sem qualquer mediação.
Um dia pode ser tarde e mais difícil de recuar num hábito (vício) enraizado.
(Talvez a escola possa dar uma ajuda às famílias nesse sentido... desde que não vire as costas como às vezes acontece. Continuar a ter colegas que se recusam a usar o e-mail para receber, por exemplo, informações ou actas de reuniões e exigem sempre as suas cópias em papel, começa aparecer muito desajustado...)
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«O presente livro é o primeiro do autor finalmente publicado em Portugal, surgindo em plena fase de expansão do uso da Internet. O centro das atenções de Papert deixa de ser a escola, a que se refere apenas de passagem e passa, sobretudo, para o ambiente familiar. Merecem especial relevo as relações interpessoais entre aqueles que usam computadores para os seus próprios objectivos - sejam adultos ou crianças, pais, avós ou netos. Para todos, o autor tem múltiplas sugestões e conselhos, que incluem tanto os aspectos cognitivos (como se aprende?), como os axiológicos (que valores é importante salientar?) e os relacionais (que papel tem a interacção interindividual e que efitos pode ter em cada um de nós?).»
Da introdução de João Pedro da Ponte
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