A LEITORA
A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.
Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,
branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.
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António Ramos Rosa
Antologia Poética
Selecção, prefácio e bibliografia de
Ana Paula Coutinho Mendes
Publicações D. Quixote
2 comentários:
Olá, Teresa
Belo poema!
Adorei a imagem: vestir-se de leitora!
Ando sem tempo para escrever, mas para ler sempre tenho tempo.Por isso estou aqui.
Abraços.
Abraços enormes Fátima! Ler ler ler... pode não hver tempo para mais... para isso temos de encontrar.....
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