segunda-feira, dezembro 10, 2007

Adenda à anterior...

Tal como vos disse...

Às 20h a simular como administrar uma injecção de glugagon em caso de emergência (hipoglicémia grave com perda de consciência). Já mais confiantes e conhecedores dos sinais, dos cuidados a ter, das acções a empreender. Se soubessem as vezes este ano em que já tivemos de actuar... interromper aulas, agir, decidir... em simultâneo na mesma turma o autismo e uma diabetes insulino-dependente, muitas vezes entrando em crise simultânea...
Será que lá em cima ninguém consegue perceber a diferença entre a função de professor e outras? Que em cada ano é preciso acolher a criança autista, a criança diabética, a criança maltratada, a criança isto, a criança aquilo? Prepararmo-nos com cuidado? Ter a alma serena para acolher toda a diferença? Um pouco como os médicos, os enfermeiros, um pouco (muito?) como quem lida com gente que precisa de atenção? Será que é difícil perceber a razão do cansaço, do desencanto, às vezes do desespero de quem é tratado como funcionário burocrático para todo o serviço?

É preciso ser profundamente insensível e ignorante para não ver...

Um Conselho de Turma em peso à noite, muitas professoras mães de crianças pequenas, a aprender a cuidar melhor, do ponto de vista médico, de outra criança pequena a seu cargo em matéria educativa... Digam lá onde mais é que isto acontece?
Tinha de registar o momento e deixá-lo como testemunho para, como se diz agora, memória futura.






Agora sim... o pijama. E coisas para fazer, que não apetece fazer.Que não vou fazer. Não consigo. Preciso de alguma frescura para sorrir aos meus meninos manhã cedo.
Amanhã às 8 a caminho da escola novamente.
E mais uma reunião à tarde depois das aulas da manhã...
E...

8 comentários:

Anónimo disse...

Pois ...
É o que dá dedicar-se a fundo a tudo aquilo que faz.





Deixe lá... não está sozinha...
Na minha turma felizmente que não temos casos desses.
Mas nunca deixam de existir professores dedicados e alunos empenhados.
Compreendo perfeitamente o seu cansaço. Mas no entanto deixo-lhe uma palavra de força:
Coragem vai ver que o seu esforço tem sentido.


Ora, aqui fica um abraço amigo de uma delegada de turma (que a compreende):

Estrela


PS: Será que nos cruzamos um dia destes numa qualquer escola desta aldeia do mundo que se chama Portugal?

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada pelas tuas palavras. Sabes, o problema não é "ter casos". Não me faz confusão, pelo contrário. Todos cabem no coração e temos de nos preparar para os ajudar, o problema é o resto que não leva isso em conta! Um abraço grande para ti! É bom ver uma aluna interessada nestas coisas dos professores! FAz todo o sentido.

A. Carlos Coelho disse...

Como eu te compreendo! Isto das reuniões e das formações já chegou a um ponto em que o cansaço que nos provoca começa a pôr em causa a qualidade do trabalho diário com os alunos, que ainda deveria ser o que mais interessa! E isto para já não falar daqueles que apostaram em formações complementares (mestrados e doutoramentos) e ficam sem qualquer espaço físico e mental para se dedicarem a esta causa... Enfim.
Quanto às leituras, também te compreendo, pois com isto da escola e do mestrado nem sei há quanto tempo não leio um bom livro!
Um abraço
António

Paideia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paideia disse...

Querida Teresa,
Se o /a aluno/a diabético/a tem crises desta natureza,só pode ser porque a sua diabetes não está controlada e isso não pode acontecer.
Mais do que uma hiper, a hipoglicémia é um perigo, mas tem de ser a família a garantir um seguimento regular, diário e constante e a habituar a criança ao respeito de rotinas que são um suporte essencial à qualidade de vida e a uma vida mais saudável.
Onde estão os serviços de saúde e que controlo e acompanhamento fazem deste caso?

(Fui eu que removi a mensagem anterior, porque havia um acento mal posto num a)

Teresa Martinho Marques disse...

António... é exactamente isso... já nem falo de literatura... neste momento tenho umas pilhas de livros para o mestrado que aguardam... pelo desgraçado Natal.
E Idalina... a aluna até é muito bem acompanhada. As crises realmente indiciavam desajustes (diabetes recente na sequência de um tratamento agressivo aos ossos). Agora foi novamente "investigada", mudou as rotinas e a situação mudou imenso. Neste momento verificam-se algumas hiperglicémias e menos hipo... Ela é muito responsável e a família muito presente (tem dado um apoio enorme). O primeiro período não foi fácil precisamente porque, como dizes, o melhor equilíbrio ainda não havia sido encontrado e houve umas situações de bullying que interferiram com a turma e lhe causaram ansiedades pontuais que destruiram o precário equilíbrio. Vê lá tu que um dia na brincadeira uns "grandes" lhe tentaram tirar a malinha onde tem todo o seu material. Nesse dia teve uma hipo grave e demorada de recuperar... ficou em pânico... Enfim... Os profs têm de estar atentos a tanta coisa.. eles são a linha da frente, os primeiros a estar com os miúdos antes dos pais chegarem à escola e, neste caso, a mãe esteve presente muitas vezes...
Abraço!

Margarida disse...

Olá 3za,

Só hoje tive tempo de ler com mais cuidado este "post". Eu sei o que são estas crises aterradoras!

Passo a contar um caso que se passou há uns anos:

" Trim, trim, toca a campainha. Eu estava em casa, doente, cheia de febre, com uma gripe daquelas que parece que vamos morrer no instante seguinte. A campainha não pára de tocar. Levantei da cama e fui ver. Era uma miúda do prédio onde vivia. Disse-me: - A Dª Margarida sabe dar injecções? A minha irmã está inconsciente e os meus pais (médicos!!!) não estão. A febre passou-me de repente e lá saltei as escadas e fui acudir. Li as instruções e apliquei a injecção. E assisti ao choro convulsivo da pequena enquanto a irmã não regressava.”
Foi fácil ter «uma baixa». Regressou da escola, tomou a insulina antes do almoço, sentou no sofá e… adormeceu. Já não acordou. A irmã mais nova quando chegou da escola deparou com a cena. E sabia que tinha de pedir ajuda imediata. Não tinha tempo de telefonar aos pais. São situações indescritíveis.

Desculpas por ter tomado tanto tempo.

Bj

Teresa Martinho Marques disse...

Não peças desculpa! É sempre bom ouvir as experiências dos outros... quem sabe um dia não estamos na mesma situação e temos de saber agir!
Obrigada pela partilha.
Beijinhos