Tal como vos disse...
Às 20h a simular como administrar uma injecção de glugagon em caso de emergência (hipoglicémia grave com perda de consciência). Já mais confiantes e conhecedores dos sinais, dos cuidados a ter, das acções a empreender. Se soubessem as vezes este ano em que já tivemos de actuar... interromper aulas, agir, decidir... em simultâneo na mesma turma o autismo e uma diabetes insulino-dependente, muitas vezes entrando em crise simultânea...
Será que lá em cima ninguém consegue perceber a diferença entre a função de professor e outras? Que em cada ano é preciso acolher a criança autista, a criança diabética, a criança maltratada, a criança isto, a criança aquilo? Prepararmo-nos com cuidado? Ter a alma serena para acolher toda a diferença? Um pouco como os médicos, os enfermeiros, um pouco (muito?) como quem lida com gente que precisa de atenção? Será que é difícil perceber a razão do cansaço, do desencanto, às vezes do desespero de quem é tratado como funcionário burocrático para todo o serviço?
É preciso ser profundamente insensível e ignorante para não ver...
Um Conselho de Turma em peso à noite, muitas professoras mães de crianças pequenas, a aprender a cuidar melhor, do ponto de vista médico, de outra criança pequena a seu cargo em matéria educativa... Digam lá onde mais é que isto acontece?
Tinha de registar o momento e deixá-lo como testemunho para, como se diz agora, memória futura.
Votos de Boas Festas
Há 6 anos
8 comentários:
Pois ...
É o que dá dedicar-se a fundo a tudo aquilo que faz.
Deixe lá... não está sozinha...
Na minha turma felizmente que não temos casos desses.
Mas nunca deixam de existir professores dedicados e alunos empenhados.
Compreendo perfeitamente o seu cansaço. Mas no entanto deixo-lhe uma palavra de força:
Coragem vai ver que o seu esforço tem sentido.
Ora, aqui fica um abraço amigo de uma delegada de turma (que a compreende):
Estrela
PS: Será que nos cruzamos um dia destes numa qualquer escola desta aldeia do mundo que se chama Portugal?
Obrigada pelas tuas palavras. Sabes, o problema não é "ter casos". Não me faz confusão, pelo contrário. Todos cabem no coração e temos de nos preparar para os ajudar, o problema é o resto que não leva isso em conta! Um abraço grande para ti! É bom ver uma aluna interessada nestas coisas dos professores! FAz todo o sentido.
Como eu te compreendo! Isto das reuniões e das formações já chegou a um ponto em que o cansaço que nos provoca começa a pôr em causa a qualidade do trabalho diário com os alunos, que ainda deveria ser o que mais interessa! E isto para já não falar daqueles que apostaram em formações complementares (mestrados e doutoramentos) e ficam sem qualquer espaço físico e mental para se dedicarem a esta causa... Enfim.
Quanto às leituras, também te compreendo, pois com isto da escola e do mestrado nem sei há quanto tempo não leio um bom livro!
Um abraço
António
Querida Teresa,
Se o /a aluno/a diabético/a tem crises desta natureza,só pode ser porque a sua diabetes não está controlada e isso não pode acontecer.
Mais do que uma hiper, a hipoglicémia é um perigo, mas tem de ser a família a garantir um seguimento regular, diário e constante e a habituar a criança ao respeito de rotinas que são um suporte essencial à qualidade de vida e a uma vida mais saudável.
Onde estão os serviços de saúde e que controlo e acompanhamento fazem deste caso?
(Fui eu que removi a mensagem anterior, porque havia um acento mal posto num a)
António... é exactamente isso... já nem falo de literatura... neste momento tenho umas pilhas de livros para o mestrado que aguardam... pelo desgraçado Natal.
E Idalina... a aluna até é muito bem acompanhada. As crises realmente indiciavam desajustes (diabetes recente na sequência de um tratamento agressivo aos ossos). Agora foi novamente "investigada", mudou as rotinas e a situação mudou imenso. Neste momento verificam-se algumas hiperglicémias e menos hipo... Ela é muito responsável e a família muito presente (tem dado um apoio enorme). O primeiro período não foi fácil precisamente porque, como dizes, o melhor equilíbrio ainda não havia sido encontrado e houve umas situações de bullying que interferiram com a turma e lhe causaram ansiedades pontuais que destruiram o precário equilíbrio. Vê lá tu que um dia na brincadeira uns "grandes" lhe tentaram tirar a malinha onde tem todo o seu material. Nesse dia teve uma hipo grave e demorada de recuperar... ficou em pânico... Enfim... Os profs têm de estar atentos a tanta coisa.. eles são a linha da frente, os primeiros a estar com os miúdos antes dos pais chegarem à escola e, neste caso, a mãe esteve presente muitas vezes...
Abraço!
Olá 3za,
Só hoje tive tempo de ler com mais cuidado este "post". Eu sei o que são estas crises aterradoras!
Passo a contar um caso que se passou há uns anos:
" Trim, trim, toca a campainha. Eu estava em casa, doente, cheia de febre, com uma gripe daquelas que parece que vamos morrer no instante seguinte. A campainha não pára de tocar. Levantei da cama e fui ver. Era uma miúda do prédio onde vivia. Disse-me: - A Dª Margarida sabe dar injecções? A minha irmã está inconsciente e os meus pais (médicos!!!) não estão. A febre passou-me de repente e lá saltei as escadas e fui acudir. Li as instruções e apliquei a injecção. E assisti ao choro convulsivo da pequena enquanto a irmã não regressava.”
Foi fácil ter «uma baixa». Regressou da escola, tomou a insulina antes do almoço, sentou no sofá e… adormeceu. Já não acordou. A irmã mais nova quando chegou da escola deparou com a cena. E sabia que tinha de pedir ajuda imediata. Não tinha tempo de telefonar aos pais. São situações indescritíveis.
Desculpas por ter tomado tanto tempo.
Bj
Não peças desculpa! É sempre bom ouvir as experiências dos outros... quem sabe um dia não estamos na mesma situação e temos de saber agir!
Obrigada pela partilha.
Beijinhos
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