sábado, dezembro 08, 2007

Sedes, Sonhos e Sementes...

Pois eu estive na Marinha Grande. Pois estive.

Entre muita coisa, que as histórias surgem ao sabor das perguntas, falámos, como não podia deixar de ser, de sonhos. De como são a coisa mais nossa e mais certa da vida. Como não devíamos desistir deles, como era importante lutar para os fazer acontecer. E, claro, falei da música, de como não deixava que esse sonho passasse ao lado e como o tinha cumprido em paralelo com o das palavras, porque a música pode dar sons à poesia. Eles já se riam com tanto sonho e tanta coisa sonhada acontecida.

No final da sessão, alguns alunos do 9º ano vieram pedir-me que assinasse os poemas de que mais haviam gostado do blogue Sabor de Palavra (trabalhados na aula de Língua Portuguesa por sua escolha). Um outro aluno de 9º ano veio falar comigo, mas para procurar saber como é que eu tinha conseguido, na altura, entrar no mundo da música. Contei-lhe... das maquetas gravadas numa garagem de um amigo, do bater à porta das grandes editoras... até o Tozé Brito reparar em nós na Polygram e levar-nos depois com ele para a BMG. E perguntei ao J. se ele tinha uma banda. Que não. Tocava trombone numa orquestra, mas tinha o sonho de fazer algo mais. Que estava a aprender piano e guitarra. Que tinha uma familiar que cantava e gostava de fazer um projecto com ela (soul, talvez)... Dei-lhe força. Sim. É um sonho bonito e deves lutar por ele. (Durante a sessão eu havia divulgado o Sabor e Saber e o vídeo dos Piratas do Silêncio no YouTube.)

Hoje uma mensagem no correio.

Se eu me lembrava dele. Que tinha gostado do vídeo dos piratas, que tinha gostado do Sabor e Saber, que tinha gostado da canção Com Asas de Borboleta e se eu podia enviar os acordes de guitarra para ele a poder tocar.

Gastei aqui um bocadinho de tempo (que eu de música percebo pouco e os acordes para mim são o que os meus dedos fazem mesmo que eu não saiba lá muito bem o nome do que fazem no braço da guitarra...) mas acho que consegui satisfazer o pedido e espero que o J. consiga tocar a canção. (Se um dia aqui chegares, digo-te isto: sei que vais conseguir e que chegarás longe com trabalho e entrega! Foi a mensagem que vos deixei... a disciplina faz falta também na música.)

Professor serve sobretudo para criar sedes e sonhos. Preparar terrenos e deixar lá sementes.

Às vezes acontece com um aluno distante a quem se tocou por um momento.
Se eu achava que cada quilómetro de viagem na quinta-feira já tinha sido recompensado por cada sorriso e palavra daquela plateia carinhosa, agora ainda o sinto mais.

Uma vez li (ou vi num filme), não sei onde, algo mais ou menos assim: quando te deitas à noite pensa se o dia que passou deixou alguma marca em alguém, se fizeste a diferença, se foste útil de alguma forma, se o dia não foi desperdiçado... Adormecemos tranquilos quando sabemos que não foi em vão. E é tão bom saber que podemos fazer nem que seja uma pequenina diferença enquanto atravessamos o mundo tão cheios de pressa de chegar nem se sabe bem onde...

Força J.!

2 comentários:

IC disse...

"Preparar terrenos e deixar lá sementes." Pois... Se ao menos não dificultassem tanto que os professores sirvam para isso...
(Hoje deu-me para o bom humor, deixei um desafio ao Miguel Pinto a propósito da formatação do disco. E ontem deu-me para voltar ao meu cantinho, mas isso acho que foi fugaz, o humor não me está a chegar para regressos...)
Beijinhos :)

Anónimo disse...

Pois...
Mas mesmo que não seja muito... algum humor já nos vai valendo!
beijinhos