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Agora faz de conta eu era um peixe, dizia-lhe ela com muitos gestos de mão, depois de mais um dia de reuniões, coisas absurdas, coisas sem jeito e coisas nenhumas.
Um peixe?
Sim, um peixe. Não sabes o que é um peixe?
Sei o que é um peixe.
Então faz de conta eu era um peixe.
Porquê?
Porquê o quê?
Porquê um peixe e não uma aranha, por exemplo?
Fazes perguntas estranhas. Por que haveria de ser uma aranha e não um peixe?
Na verdade...
Eu era um peixe e estava a afogar-me.
A afogares-te? Tu, um peixe?
Não percebes nada. Estava a afogar-me em ar. Em ar, percebes? Não conseguia respirar, porque estava habituado a respirágua. Faz de conta eu era um peixe preso em muitas linhas de pescadores lançadas ao acaso só para ver o que acontecia...
Queres chegar onde, com isso tudo?
Não percebes?
Não.
Quero chegar à água de onde nunca devia ter saído...
2 comentários:
Este texto merece (pelo menos) 1 comentário: (em 3 palavras) é uma "história" brilhante!
Bjo, P
Obrigada! :)
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