sexta-feira, dezembro 07, 2007

Juntos e com tempo crescemos melhor.

O 6º ano não é um momento fácil. Nem para alunos nem para professores.
Da dedicação e timidez do quinto, passa-se para a exuberância mais atrevida e descontraída do "a meio caminho para a adolescência". Elas mais amadurecidas mas de coração a pintar-se de cor-de-rosa... eles deliciosa e irritantemente infantis em desvarios que os impedem de aproveitar todo o potencial disponível. Perdoem a referência à "questão de género", mas é assim uma espécie de estatística de trazer por casa que acaba por reflectir a realidade que conheço de há muitos anos.
Os avisos têm de ser regulares, as conversas também. Alunos com aproveitamento fraco no quinto, avançam, crescem, por ter tomado consciência da importância do estudo regular. Alunos de 4 e 5 relaxando com excesso de auto-confiança e aproximando-se perigosamente de níveis desadequados. Alternam-se papéis, cresce a auto-estima daqueles que provaram a si próprios ser capazes de ultrapassar as dificuldades, aparece um choro ou outro dos arrependidos pela falta de atenção e excesso de deslumbramento.
Tudo tem lugar, a tudo é preciso estar atento. Muito naturalmente as coisas encaminham-se para o possível equilíbrio feito de avanços e recuos.
São boas as conversas tidas nos intervalos onde contam o que sentem, como se sentem. Onde aproveito para um conselho, um carinho, uma reprimenda de mãezinha.

Nessas conversas vou dando conta de coisas muito especiais.
A R., que propus para aulas de apoio (eu lecciono-as) e tem feito um imenso esforço para se superar, é ajudada pelas amigas, nomeadamente uma que lhe constrói "testes" de matemática e a obriga a estudar, é animada por elas, que não a deixam desistir e a mantêm focada na necessidade de trabalhar. O resultado conjunto destas teias de suporte, das aulas de apoio, de momentos de trabalho com a família, também empenhada, está a dar frutos. A R. cresce pessoalmente e intelectualmente todos os dias. Nas aulas coloca dúvidas, responde, explica. Mil sorrisos confiantes substituem os antigos medos.
No último teste resolveu bem algo que a sua amiga (uma das alunas com melhores resultados) não conseguiu resolver. Esta última veio falar comigo confessando-me que no momento de avaliação teve uma enorme branca e depois ficou tão irritada que não fez o exercício e já nem sabe como se faz. Em vez de lhe esclarecer logo ali a dúvida, disse-lhe: vai ter com a tua amiga R. e pede-lhe que te explique. Ajudaste-a tanto desde o início do ano que agora é a vez dela e, confidenciei, vai ser importante para ela sentir que te pode ajudar.

Hoje, na aula de estudo acompanhado, a R., orgulhosa, mostrou-me a folha de papel onde ajudou a sua amiga explicando-lhe como se fazia para adicionar números representados por fracções com denominador diferente. E acrescentou: oh professora, eu expliquei e agora ela já sabe fazer. Quer ver aqui o exercício que ela fez?
E eu vi. Já no final da aula, já no intervalo que deveria servir para descansarmos um pouco... (mas não há mais tempo nenhum para conversar!).

E, enquanto isso, pensava no imenso que quem manda não sabe sobre educação, não sabe sobre o amor e atenção necessários aos seres colocados ao nosso cuidado, não sabe sobre a importância do tempo, da serenidade. A importância de ter tempo para crescer, para ajudar a crescer. Não é com professores completamente exauridos e desencantados que lá iremos chegar (entristece olhar para as caras das pessoas dividindo-se por mil reuniões e mil papéis sem sentido, resignadas, mecânicas, dando despacho de coisas umas a seguir às outras, quantas vezes de alunos que nem seus são, sem tempo para se emocionar com cada coisa ou sequer de as aprofundar.)

Nas contas de quem manda a educação é uma coisa que se resolve com funcionários a correr de um lado para o outro, sem tempo de qualidade para oferecer aos seus alunos.
Ok. A ver onde vamos chegar.

Perguntavam-se um destes dias na televisão por que razão se faziam poucos filhos em Portugal... e o drama que isso era para a segurança social.
Drama para mim é fazê-los e ninguém ter tempo para eles... nem pais, nem professores.
Drama é não perceber que acenar com um benefíciozito ou outro não resolve o problema na sua essência.

Vou fazendo o que posso e digo-vos, numa outra estatística minha de trazer por casa, muitos miúdos estão mesmo a precisar de gente com tempo para conversar com eles...

9 comentários:

Emilia Miranda disse...

Teresa, amiga!
Mas por que é que:
quem deveria não te lê?
quem deveria não te ouve?
quem deveria não tem a tua serenidade?
nem a tua lucidez?
nem o teu conhecimento?
nem a tua doçura?
Obrigada por mais este momento.
Um beijo,
Emília.
P.S. Relativamente ao norte... claro que é uma expressão bem nossa mas que poderá, e deverá, ser entendida em todos os seus sentidos.

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada eu Amiga pelas tuas palavras... É fácil escrever assim quando a realidade é tão cheia de alegrias e desencantos... Não é fácil mantermo-nos à tona... mas pelos miúdos, é preciso. É urgente (nem que seja descurando coisas sem a mínima importância). às vezes nem me reconheço na indiferença com que faço certas tarefas. Eu interessava-me por tudo e tudo fazia com consciência e cuidado. Agora tento poupar essa energia apenas para as coisas que envolvem os meus meninos.
Beijinho

Cristina Gomes da Silva disse...

Não desistas 3za, tu não!

Abracinhos apertados

Teresa Martinho Marques disse...

Em todas as partes relacionadas com os meus meninos... nunca! Antes disso ia-me embora fazer outra coisa. Com eles tem de ser tudo bem feitinho...
Beijinhos!

tsiwari disse...

pois... tantos...a precisasr de tanto.


***

IC disse...

O título de um meu post já antigo foi precisamente Que espaços para diálogo com o adolescente? - adolescente, porque eu estava com 3º Ciclo, mas a questão estende-se, claro, aos mais novos. E escrevi porque, no meu último ano de ensino, participei num gabinete de atendimento ao aluno e pude aproveitá-lo para conversar também com alunos meus. O gabinete era destinado a alunos "problema", alunos que eram mandados sair da aula, mas em dois dias da semana eu tinha gabinete ao último tempo da tarde e duas das minhas turmas saíam, respectivamente, ao penúltimo tempo desses dias, pelo que podia pedir a um aluno com quem quisesse conversar para passar por lá ao acabar as aulas. (O motivo não era comportamento, apenas aproveitava esse tempo livre comum). Essa experiência deu-me maior consciência da importância de haver tempos livres comuns para conversar, claro que quando era preciso não deixava de o fazer sem isso, mas tinha que tirar o intervalo ao aluno, o que não dispõe muito um puto para conversar e o faz logo pensar que é para alguma repreensão.
Mesmo o director de turma tem hora de atendimento a pais, mas só por acaso tem hora livre comum com tempo livre da turma, e há conversas que devem ser individuais, não na sala de aula.
Senti que aquela minha experiência valeu, mas estas são coisas em que os que mandam na educação não pensam.

Anónimo disse...

Os intervalos, curiosamente, no caso dos mais pequenos, são uma "exigência" deles. Sabem que aí pode ser mais íntimo, mais individual, sabem que não lhes digo que não. E é isso que mostra a necessidade que têm de diálogo: estão até dispostos a sacrificar um bem precioso por mais uns minutos de atenção individualizada. Quem manda escuta pouco, lê pouco, vê pouco. É difícil, fechado num gabinete a produzir disparates descontextualizados, perceber o mal que se faz ao que devia ser o nosso maior bem

Ilda disse...

:)...mais um belissimo momento... é pena q quem manda não vá ao terreno.... mas é assim em todo o lado... resta-nos a nós pais, aos professores e todos os que amam as crianças trabalhar para que estes valores não se percam... a Teresa vai ficar pra sp no coração dos "seus meninos" :) bjs

Teresa Martinho Marques disse...

Se ficar uma sementinha... fico feliz!
beijinhos