quarta-feira, maio 10, 2006

"O insustentável peso de ser"

"Às vezes é a leveza de ser. A leveza de um saber pedagógico que é sempre precário, contextual, conjectural. A leveza de uma relação fluida, fugidia, entrecortada. A leveza do tempo, sempre escasso, sempre breve, sempre fragmentado.

Outras vezes é o peso de ser. O peso de uma ordem que desconfia, menoriza, oprime. O peso da sobrerregulamentação, das rotinas e da inércia. O peso de um mandato social claramente excessivo, claramente impossível. O peso de uma arrogância que tudo sabe, tudo prescreve, quase tudo ignora. O peso de um vazio e de um retrocesso. O peso de uma pobreza de pensamento que se diz ao serviço da democratização, da igualdade de oportunidades. Que se diz emergente do verdadeiro diálogo social.

Às vezes é difícil ser professor. É difícil acreditar num discurso cheio de promessas. É difícil agir em contextos tão solitários, tão desconexos, tão centrífugos. Ser professor entre o peso e a leveza.

Às vezes surge a tentação de desistir. Mas não nos resta outra alternativa que não seja persistir na reinvenção de dias mais claros. Persistir na procura das soluções concretas, na procura das soluções possíveis. Exigir mais de nós mesmos. Exigir mais dos poderes públicos. Em nome das crianças e dos adolescentes. Em nome de uma profissão que se tem de reencontrar."

José Matias Alves
O primeiro de todos os ofícios
Cadernos do CRIAP - 17
ASANovembro de 2000

E, apesar do escuro que invadiu este dia (novamente matrizes, exames e manuais de aplicadores lidos ao professor em voz alta de cima a baixo por superior ordem, como se, de repente, o professor já nem soubesse ler), encontrei nele as minhas claridades e a energia para não baixar os braços:

- na alegria dos alunos, ao distribuir finalmente as tão desejadas t-shirts concebidas no primeiro período, aquando do desenvolvimento dos trabalhos sobre saúde em Área de Projecto. Fui buscá-las ontem em segredo. Tudo com direito a bolo de aniversário (professora podemos fazer uma surpresa à A.? Podem sim...)

- em doces breves leituras e ensinamentos que, partilhados nos intervalos possíveis do dia, o coloriram e me fizeram, apesar de tudo, desejar outros dias.



7 comentários:

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada Cecília! Beijinhos (e é professora, com O)

Miguel Pinto disse...

O peso do ser é, literalmente, o peso das pálpebras de noites mal dormidas.
Vale-me a leveza do ser e as palavras afáveis que se cruzam por aí.

Teresa Martinho Marques disse...

A ti e a mim... ainda tenho uma acta enorme do CP para ler, acabadinha de chegar. CP amanhã, é claro. Uff. Pálpebras... só mais uma forcinha... aguentem-se lá... please...

imaz disse...

Claro, são estes pequenos, mas grandes momentos que nos incentivam a continuar a caminhada...
Beijinhos

Anónimo disse...

Olá Prof!
Estamos muito bonitos!;)
Olhe lembra-se daquela "aulinha" que deu sobre os blogs na escola? Já consegui colocar o clip da múisca num post!

Beijocas,
Mónica

P.S:.Utilizei aquele troque das datas. (O texto da Joana está a ser passado.)

Teresa Martinho Marques disse...

Vocês é que dão cor ao meu dia... se soubessem o que ele foi depois da aulinha convosco, hoje dia 11... Vou dar um pulinho ao teu blog para ouvir! Vocês aprendem tudo tão depressa...
Muitas beijocas!

Anónimo disse...

Mas que fotografias tão bonitas! Para recordar este dia tão especial...