sexta-feira, maio 12, 2006

Eu ensinei, mas...

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"(...) Acabo de ler num livro que será publicado em breve, com o título O Ego Docente, esta história significativa:
Num congresso sobre o ensino (...) um orador (...) começou o seu discurso comunicando ao auditório um logro impressionante: 'Ensinei o meu cão a falar e tenho-o aí fora.'

Os que assistiam soltaram murmúrios perante a originalidade da proposta e a importância da questão. Todos desejavam ver o que parecia impossível.
'Ensinei-o a falar e está à espera lá fora', reiterava o comunicador muito seguro de si mesmo. Finalmente, saiu da sala e entrou, imediatamente, com um cão. O orador colocou sobre a mesa o animal, visivelmente assustado. Rodeando-o, dezenas de expressões assombradas esperavam que dissesse algo. Os olhares humanos e os do animal cruzavam-se. Do cão não saía uma palavra. Agora os olhares dirigiam-se para o orador, que, imediatamente, esclareceu: 'Eu ensinei-o, mas ele não aprendeu'. (...)"

citado por Miguel Ángel Santos Guerra
No Coração da Escola - Estórias sobre educação
CRIAP ASA 2003

O mérito do encontro com este livro e estas estórias não é meu.
Recolho avidamente cada sugestão de leitura que me é feita.
Quando gosto, partilho.
(Hei-de cá voltar...)

9 comentários:

Anónimo disse...

Já lá fui minha Traquina. Está o máximo! Parabéns e montes de sorrisos e beijinhos.

IC disse...

......'Eu ensinei-o, mas ele não aprendeu'.
Delicioso :)

Miguel Pinto disse...

A mudança de paradigma [do ensino para a aprendizagem] gerou um efeito perverso na actuação do professor: a desresponsabilização pelos resultados do aluno… [estou parco em palavras… mas retomarei a ideia]

matilde disse...

Já tinha lido algures o episódio deste orador (que tinha ideia de ser o Perrenoud, mas talvez tenha sido invenção minha...) e tinha-a já voltado a procurar vezes sem conta, mas sem êxito! :))
E agora... aqui está ela, na Teia, pois claro!
Normalmente, quando os meus alunos me fazem uma pergunta acerca de uma dúvida numa actividade da aula, costumo devolver outras, procurando que cheguem eles mesmos à resposta, e desta forma consigam até encontrar respostas para outras perguntas que não tinham ainda pensado. Por vezes um ou outro diz, já um pouco desalentado "Mas a stora está cá é para ensinar a gente...! Porque não responde simplesmente à pergunta?!" Ao que eu respondo "estou aqui para que aprendam, e não para vos ensinar..."
Nem sempre o conseguimos, mas vamos trabalhando para isso - prof e aluno.
Bjo e bfs.

Pedro disse...

Por isso é que o processo que desenvolvemos (ou pelos menos alguns desenvolvem) nas escolas se denomina processo de ensino-aprendizagem...

Anónimo disse...

'Eu ensinei-o, mas ele não aprendeu'. Pertinente ao ponto de se levantar a questão se foi o cão que não aprendeu ou se foi o professor que não soube ensinar.No fundo qual deles deu o melhor de si...

Teresa Martinho Marques disse...

Ainda que caricata, a situação leva realmente a reflectir sobre essa parceria que tem de ser o trabalho do professor com o aluno. Se, por um lado, colegas se empenham em avançar a correr para poder provar com os sumários que deram tudo... existem realmente as situações em que o professor dá o máximo de si mas não consegue efectivamente a aprendizagem que pretende. Tudo o que é multifactorial é propenso a desculpas e lavar de mãos de parte a parte. Motivo mais que suficiente para dar o melhor, mas evitar desnecessários sentimentos de frustração e desalento quando o melhor não é suficiente. Uma luta pela perfeição que não se encerra nunca. Desígnio de Professor...

Anónimo disse...

Do mesmo autor, tens outro, de que gosto eu muito:

Uma Seta no Alvo
A avaliação como aprendizagem
Edições ASA, col "em foco"


("Diz-me como avalias e dir-te-ei quem és como profissional e como pessoa.)

Para quando puderes.
Prioritário, agora, é deixar-te um mimo ao gato.

Teresa Martinho Marques disse...

Já está assinalado para comprar...
Muito obrigada pela dica! Obrigada pela visita e pelo miminho... O Clóvis também agradece