Eu antes gostava muito de ir à escola. Gostava de aprender.
Mas agora... Agora aprendo tão pouco...
A professora não gosta de mim. Eu não gosto da professora. Não acredita em nós nunca. Não confia. Enche-nos de TPCs repetidos, está sempre a ocupar-nos com coisas estranhas e não conseguimos estudar o que interessa. Põe-nos a um a canto de castigo todos os dias. Ralha por tudo e por nada, diz que temos culpa de tudo o que acontece de mal, que somos mal comportados, preguiçosos, que não fazemos as coisas bem feitas e por isso é que ela tem sempre de estar a dizer como é que se faz tudo. Diz que não quer perguntas nossas. Que quem faz as perguntas é ela. E que ela é que sabe quais são as respostas que quer. Diz que não tem de gostar de nós nem nós dela. Basta apenas fazermos o que ela quer e pronto. (Ai se visses alguns dos meninos que ela põe a tomar conta de nós quando não está!...)
Eu até gosto de certas coisas da escola. Quer dizer, gosto daqueles colegas que não se calam e que estão sempre a dizer coisas certas de que a professora não gosta (tenho pena que muitos deles estejam noutras escolas). Gosto do jardim e das flores que ele tem. Gosto de as regar. Mas deixei de gostar da escola. E não sei bem como trazer de volta o amor que lhe perdi.
Fim
Oh Mãe, dói-me a barriga, acho até que estou com febre, por favor, por favor, deixa-me ficar em casa...
Votos de Boas Festas
Há 5 anos
8 comentários:
Bom, de acordo com a avalição grelhada, esta senhora professora têm uma má nota na relação com os seus alunos. Se não mudar será certamente convidada a deixar o ensino.
Estamos a falar ficcionalmente, verdade?
pois..... só tu Teresinha para pores as coisas assim. Também não gosto da prof. Mas adoro o jardim da escola :-) As minhas colunas acabaram de dar o berro enquanto ouvia via web os primeiros minutos da entrevista à RTP. Tá visto que cá em casa até as colunas têm personalidade ....ehehehehe
Cuidado! Se a Srª Ministra se lembra ainda coloca na grelha um item a dizer "Possui equipamento informático/digital capaz de ouvir/ver/ler a verborreia da tutela" seguido de "Concorda com os desvarios da tutela".
Perdoem-me a sinceridade, não quero ofender, mas daqui da ignorância e da distância a que estou, por vezes sinto que misturar assim a mensagem da 3za com a esfera da(s) política(s) é o mesmo que esperar que o burocrata funcionário de uma repartição consiga ser mais humano com as pessoas que atende por decreto e não por amor ao próximo.
O que acontece é que é difícil não associar a esfera da(s) política(s) com a essência da mensagem... O amor/desamor ao próximo não pode ser decretado, claro. E por isso a Teresa, eu própria, O Joaquim, claro, continuamos, apesar de tudo, a amar profundamente as flores de quem cuidados com o mesmo empenho de sempre, o mesmo carinho e entrega (não é difícil comprovar isso com o trabalho extra feito por cada um para os seus alunos). A proletarização da nossa função em muitos sectores da escola é que vai desumanizando aos poucos o gosto pela intervenção naquela coisa vaga a que chamamos "escola" e que não reside no interior das salas de aula onde mora o melhor do que fazemos. Roubam-nos tempo a esse melhor, e colocam-nos em situações absurdas que desgastam e nada trazem de bom (tenho ouvido coisas estranhas em reuniões e já não digo sempre tudo o que penso... sinto uma certa náusea com muitos absurdos e um desgosto profundo com certas acções... inventam-se mais coisas absurdas como fazer provas para alunos que faltam (sabem de onde sai o tempo para fazer as provas? POis... do tempo que nem temos para preparar coisas boas e bonitas para os meninos, ver testes e trabalhos, participar em projectos com eles... etc etc...) Todo o trabalho que nos é atribuído por decreto nunca leva em conta o que já foi e tem sido atribuído por outros decretos nestes anos... vão-se esquecendo por cada decreto que sai... e a componente não lectiva NÃO é elástica...).
Regressando ao início. A escola está a virar (já virou) manta de retalhos desconexos, desafinados, desarmoniados... não se toca melodia.. só notas dispersas... e isso vai ter custas a curto prazo. Sim, tenho dor de barriga em dias de tarefas sem sentido, em dia de reuniões sem sentido, em dias em que o tempo de nada serve para a qualidade do meu desempenho mas me desgasta estupidamente. E adoro, como sempre adorarei, cada minuto passado dentro da sala de aula... mesmo que não lhes consiga levar, como sempre consegui, os diamantes mais puros e novos, os materiais mais bonitos e actualizados...
É este o drama.
Não gosto de fazer coisas importantes mal feitas. MAs é cada vez mais difícil fazê-las bem feitas... não chega só o amor que levamos para dentro da aula...
Não, não gosto da professora, porque ela não sabe, nem sei se alguma vez chegará a saber, o que é na essência uma escola... Só quem vive dentro dela percebe a tristeza de ter de viver assim dividido entre o desejo de ser/fazer melhor e não o deixarem por colocarem mil obstáculos, distracções e gastos de tempo inúteis pelo caminho... Só experimentando. Obrigada pelas visitas e pelas palavras!
Hoje lembrei-me de uma coisa: como é que alguém doutorado em sociologia do trabalho pode dizer que os professores não têm de estar com ela? Como é possível que uma pessoa com formação nessa área não saiba que uma revolução não se faz sem se ter os operadores das reformas do lado dos decisores? Talvez seja o reconhecimento da ignorância da realidade daquilo que tutela que faça a Srª Ministra ter este género de atitudes no mínimo bafientas que seriam de esperar em Portugal há quarenta anos.
E complementando aquilo que a 3za disse: neste momento, o trabalho que desenvolvo com os meus alunos não é porque a Srª Ministra mandou isto ou aquilo mas sim apesar daquilo que a Srª Ministra e os Srs Secretários de Estado dizem e mandam.
Hoje acordei a discutir acerrimamente com um colega em plena escola - há muito tempo que não me via a discutir assim com ninguém, e nunca na escola! - pela forma como relatava uma situação de sala de aula. Como relatava o gozo com os alunos. E o pior mesmo é que o sonho era baseado num relato real.
Haverá infelizmente muitas situações em que doi a barriga - aos alunos, aos professores, assim como em qualquer outra profissão onde por vezes a falta de bom senso, a falta de amor pelo que se faz e a quem se faz, também existe. Depois há os tais retalhos de que falas, Teresa. Os tais retalhos uns novos e outros velhos, uns de seda, outros de lã e mesmo outros de rafia, uns garridos e outros já debotados - tantas vezes os mais novos são os que menos cor têm... Os tais retalhos de que se espera que nós professores façamos uma manta bonita, confortável, que realmente tape do frio, e que seja fresca em épocas de calor...
Obrigada pelo teu pequeno conto. Tão doce, como aqueles a que nos já habituaste.
Bom fim de semana.
Pois....
Obrigada pela visita e palavras doces (ai o tempo!) Muitos beijinhos e bom fim-de-semana
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