quarta-feira, novembro 07, 2007

O sistema digestivo em 2 minutos... o cancro conversado muito tempo

Já sabem que é assim.
Importante não é gastar horas infindas com a comida entra na boca e tal e a saliva e a língua os dentes a cortar e tal e o bolo alimentar e deglutição e contracções musculares do esófago e tal e mais o estômago e assim e... Num instante se aprende tudo isso e até sugeri um desafio: fazermos um filmezito do tipo: o sistema digestivo em dois minutos, para imitar o célebre vídeo da História de Portugal em 7 minutos. Se conseguirmos, depois partilho.

O importante é perceber a importância do equilíbrio de funcionamento de cada sistema, a sua fragilidade, as doenças que podem acontecer, quantas vezes por culpa nossa, gestos e hábitos errados, outras porque a genética nos marcou. Infalivelmente a pergunta acabou por surgir, como sempre surge:

oh professora, mas afinal o que é o cancro?

E lá fomos nós ontem. Ávidos de perceber. Como é constituído o nosso corpo? Por células... Sabiam que...? Depois a natural tendência para irem pedindo a palavra e contar algo, fazer mais uma pergunta: qual é a diferença entre uma infecção e um cancro? Ou são a mesma coisa? (Percebi no fim da aula que esta aluna devia ter tido uma infecção mamária e que a angustiava pensar que seria cancro). Todos com histórias próximas. Deixo-os falar. Mas uma das histórias demasiado próxima. Demasiado presente ainda. Felizmente com situação estável, cenário muito bom e optimista. Mas luta complicada. Eu sabia. E procurava os olhos dela para não ferir, para trabalhar a delicadeza nas palavras, recolhendo a confirmação em acenos de cabeça quando falei de tratamentos, das suas difíceis consequências, da importância da detecção precoce, do facto da palavra esperança e cura serem as mais importantes na estrada do cancro. A palavra Mãe não rima com cancro por uma razão forte. Não devia ser possível acontecer. Mas é. E muito cedo, quantas vezes demasiado cedo, temos de lidar com essa realidade, crescer mais depressa do que os amigos. Ela sabe. Talvez também por isso seja a menina especial que é. Não é segredo para a turma. E a certa altura senti que precisava de parar, olhá-la, pedir-lhe directamente desculpa por avivar memórias, por entrar por porta tão delicada que de certa forma a tocava. As lágrimas finalmente chegaram ao rosto sempre feliz e acolhedor. Chegaram ao dela, depois ao meu em frente da turma enquanto continuava a falar procurando a melhor maneira de nos apaziguar, depois aos da sua melhor amiga que se levantou e a abraçou. Aos de outra menina sensível. Olhares ternos, compreensivos, silêncio acolhedor. Serenámos. A última palavra foi de alegria pela confirmação de uma batalha vencida, regressaram os sorrisos após a comoção.

Reforcei o desafio do vídeo explicando e exemplificando de forma divertida como se podia condensar a informação sobre o sistema digestivo (acharam graça e riram aliviados... precisavam de rir um pouco... eu pressenti). Acrescentei:
perceberam por que gastamos pouco tempo com os sistemas e muito com o que realmente é importante? Porque me preocupo quando vos vejo a comer o que não devem? Porque insisto tanto com a necessidade de revermos os nossos hábitos de vida?
Acho que perceberam.

A melhor lição que de ontem? As lágrimas que partilhei com eles. O melhor do dia? A humanidade da comoção e da solidariedade em meninos tão jovens. E confesso, aqui no silêncio e na paz desta solidão forçada, ao recordar estes preciosos momentos, as lágrimas regressam por todos os que na sua pele, ou na pele dos que amam, passam por este duro caminho. Por ti T. Pela vossa luta.
Não vos esqueço. E sei que a vida tem de ser vivida intensamente, aproveitada e bebida até ao fundo. Foi a mensagem do final da aula. Ainda me falaram do aluno que deixou memória imensa nos recantos da escola (foi um orgulho conhecê-lo no ano anterior)... um excelente aluno, agora no 10º ano. Oh professora ele tinha leucemia não era? Era. Foram muitos anos a lutar. E sabem que no IPO ajudava os mais pequeninos? E ainda conseguia estudar, trabalhar e ser sempre o melhor. Ele sabe bem que a vida não pode ser desperdiçada, mesmo quando estamos doentes. É um bom exemplo para todos nós!

Essa lição são vocês que nos ensinam... Eu sou apenas o mensageiro.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ao ler este post sinto-me comovida. Por saber que ainda existem crianças (como se eu fosse muito velha) com coração e prof's que não receiam partilhar o que sentem com os alunos. Tenho bons professores e acho que apenas dois ou três receiam partilhar as suas emoções mais profundas. Fiquei comovida com este relato...

Teresa Pombo Pereira disse...

alô! eu e o Duda estamos a estudar CN. Viemos mostrar-te este jogo:
http://web.educom.pt/escolovar/alimenta_vidasaudavel.swf

já conhecia?

beijocas dos dois e um sorriso do bebé!

Anónimo disse...

Obrigada pelas tuas palavras Estrela! Fico contente... Também tive bons professores e isso fez toda a diferença.
E, família doce, bem gira esta dica! Não conhecia. Já estou mais rica e posso partilhar a pista com os alunos! Beijinhos A todos!

Anónimo disse...

:)momentos assim partilhados fazem toda a diferença e jamais serão esquecidos...e quando estas crianças forem homens e mulheres eles vão recordar que um dia tiveram uma prof. chamada Teresa que partilhou com eles os seus sentimentos e as suas emoções... mais um momento especial :D
Bjs**

Teresa Martinho Marques disse...

:) Beijinhos