Aos poucos crescemos juntos, eu e ele. E é saboroso, mesmo nos dias difíceis em que nenhuma estratégia parece resultar.
De encontro em encontro, de abraço em abraço, vamos descobrindo como lidar um com o outro, vamos descobrindo o que é importante para cada um.
Ele sabe que gosto de o ter perto de mim. Que gosto de cantar. Que lhe peço um bocadinho de silêncio se precisar. Que sou exigente.
Eu sei que ele gosta de inglês, que gosta de matemática, que adora abrir a lição, corrigir as coisas menos bem feitas no quadro.
Hoje foi um dia sereno. Dia de estar com a turma e com ele sem apoio. Depois da tempestade de terça, a bonança.
Assunto novo. Trabalhou feliz, atribuindo significado ao que fazia, participando activamente na aula porque realizou a mesma actividade dos colegas.
Já uma vez o disse: sempre que possível a distância deve ser nenhuma. Hoje foi possível.
Leu números, respondeu em voz alta a perguntas para a turma.
Os outros pareciam surpresos. As classes e as ordens do sistema de numeração decimal estimularam-no, motivaram-no. Vê-se ali muito trabalho feito no primeiro ciclo. Eu recolho essa preciosidade das mãos da professora que o acompanhou até chegar às minhas mãos. E lá caminho de surpresa em surpresa, sem saber nunca o que esperar mas preparando-me para tudo.
Posso tirar uma fotografia? Sim. Quero ver. Olha! Vê! És tu a trabalhar. Tira outra. Tiro sim. Quero ver. Vê! Ele sorri e continua o trabalho. Hoje quer atenção. Noutros dias pede-me que vá para o pé de outros meninos. Precisa do seu espaço. Temos de equilibrar a distância e a proximidade com os sinais que nos dá. Nem excesso de pressão, nem ausência-abandono. Tudo ao sabor de cada dia, que é sempre diferente do anterior.
Ao lado do caderno a letra do rock da matemática. Que costumamos cantar no fim para sua enorme alegria (é a segunda canção matemática que estamos a aprender).
Em voz baixinha cantámos os dois Os números. Ele estava a escrevê-los, a lê-los (sozinho, com muito pouca ajuda) e lembrou-se da canção começando a cantá-la. A canção mais velhinha que já sabe de cor. Eu disse: só nós M. Os meninos estão a fazer os exercícios. Só nós. Tem de ser baixinho. O braço em torno dos seus largos ombros. Cumplicidade. E ele perto de mim cantou com aquele sorriso lindo que veste quando está feliz. Baixinho como lhe pedi, eu a ajudar. A música aproxima-nos. Aproxima-o do mundo e da vida. A turma não se distrai com a diferença. Inclui. Estimula.
Termino a semana em paz.
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8 comentários:
Que momento... mais uma vez os olhos ficaram húmidos... que bonito... que bom ter assim alguém por perto... eu conheço alguém assim também e que por sorte acompanhou a minha filha mais velha no seu primeiro ano na escola... eles nunca mais a esquecerão :D
bjs e bom fim de semana
Adorei, como sempre, a emotividade do discurso.
Mas, hoje, gostava de lhe colocar uma dúvida específica. Posso? Aqui vai?
"No numeral 890345, quantas unidades vale o algarismo 9?" Que responderia e porquÊ?
Peço desculpa se estou, de alguma forma, a ser inconveniente.
Muito obrigada.
Obrigada Ilda... é sempre tão bom sentir-TE por aqui... Beijinhos!
Rute... o 9, encontrando-se na posição das dezenas de milhar... deixa de valer 9 (é esse o sentido da posição dos números no sistema de numeração decimal) para valer 90 000 unidades. Não sei se interpretei bem a questão, ou em que contexto ela surge... mas se bem percebi... acho que esta é a resposta pretendida... Será? Por exemplo, no número 99 999 cada nove tem valor diferente... o único que vale 9 unidades... é aquele que se encontra na posição da ordem das unidades... 9 dezenas serão 90 unidades e assim sucessivamente... Só por curiosidade: a tua questão surgiu como? Espero ter ajudado...
E naquele número específico, o algarismo 9 não pode valer 90345 unidades?
Esta dúvida surgiu-me enquando corrigia testes de alguns meninos... uns responderam 90000 unidades e outros 90345 unidades...
E fiquei com dúvidas? Porque entendo como pensaram...
Muito obrigada pela prontidão na resposta.
Muito obrigada.
Muito obrigada.
Já há algum tempo que tenho andado a acompanhar o seu trabalho, mas nunca parei para comentar. Na verdade, não consegui conter as lágrimas ao ler este texto. É, realmente, muito emotivo.
Isto prova que com amor, dedicação, empenho e muita paciência se pode alcançar os objectivos pretendidos.
Parabéns pelo seu trabalho que é, sem dúvida, um exemplo para todos os professores (e não só) deste país.
Por fim, queria agradecer a sua visita ao meu blogue. Os seus trabalhos e as suas palavras têm servido de apoio e motivado para a realização de alguns trabalhos. Foi uma honra!
Oh Isabel... Quem ficou comovida agora fui eu. Um dia vamos tomar um café la pela Faculdade e perceberá que sou uma pessoa simples e muito "normal (se é que existem pessoas normais). Se há alguma coisa que me possa distinguir, é a vocação profunda para ajudar os meus meninos a crescer e o facto de pensar muito sobre o que faço (o acto de reflectir ajuda-nos crescer humana e profissionalmente. Estás no bom caminho... és sensível, dedicada, já iniciaste o teu percurso de reflexão com o teu blogue e a partilha do que fazes e descobres. São os ingredientes fundamentais para crescer bem. Obrigada pelas tuas palavras doces! As tecnologias sem a nossa humanidade de nada servem. Beijinhos
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