segunda-feira, novembro 19, 2007

Pára tudo! Sim, vou falar de futebol... e de outras coisinhas.

Mais vale jogar mal e ganhar do que jogar bem e perder.

Jogámos mal, mas ganhámos, esse era o objectivo.

Algumas das pérolas que ouvi no fim-de-semana a propósito sabem bem do quê.

A vida centrada nos resultados.
Parece ser o modelo a seguir.
(Felizmente o comentador desportivo, logo depois, referiu-se às expressões como sendo um enorme disparate. E acrescentou que o objectivo é jogar bem. Não é ganhar por acaso mesmo tendo jogado mal. Haja alguma inteligência e sensatez. )

Hummm... a propósito. É possível não ir à escola e depois provar que se conseguem meter uns golos numas perguntas. Já há regulamentação para isso. Aliás, já o John Holt dizia, e eu já devo ter dito aqui: o bom aluno é aquele que só esquece a matéria que decorou depois de fazer o teste.

Ahhh! É verdade! Mesmo a propósito. Acabámos de descobrir na escola algo magnífico. Os ATLs que a circundam fazem arquivo sistematizado de todas as fichas de avaliação que os professores utilizam na escola e colocam os seus clientes a realizá-las como treino intensivo de chuto à baliza. O que está a acontecer? Ora bem, eu explico. O tempo da componente lectiva não dá nem para ver testes e trabalhos, quanto mais inventar testes novos todos os anos para variadíssimas disciplinas (no meu caso, quatro). Portanto, por norma, os professores têm um conjunto de instrumentos disponíveis e vão optando pela seleccção deste ou daquele, consoante (de vez em quando lá conseguimos uma pequena inovação - momentos cada vez mais raros)...
Agora, o mais comum é ouvir os alunos nas aulas, quando o teste é colocado na mesa (perdoai-lhes , Senhor, que eles são pequeninos e ainda dizem em voz alta estas coisas, os mais crescidos calam-se que nem espertos ratitos), olha! Este é o teste que fiz no ATL. E fiz várias vezes até saber!
(Trabalhamos para os ATLs de graça! Perfeito.)

Como vamos continuar sem tempo para fazer "testes novos todos os anos"... será que o sucesso escolar vai aumentar por conta dos ÁTÊÉLES? Sim... que se os testes são mais importantes que as aulas (a lei atesta-o, e não pode haver descriminação dentro de uma turma), então isto vai transformar-se num oásis aqui por estes lados. Mesmo que se jogue mal, vão ser marcados imensos golos! Uma felicidade! Eu cá subsidiava-os a fundo perdido!

A propósito, achava eu na minha infinita ignorância que, depois desta coisa da escola a tempo inteiro e da família a tempo reduzido, os ATLs teriam menos mercado. Lembro-me até de ter ouvido responsáveis queixar-se. Mas, pasmemo-nos (eu pasmo-me, tu pasmas-te ele pasma-se... e por aí fora), que afinal o paradigma é outro: escola a tempo quase inteiro, ATL a tempo que resta do tempo quase inteiro e família, em alguns casos, a tempo praticamente nenhum (noites?).

Ahhhhh! E os professores com filhos são bons clientes desses ATLs... passam a maior parte do seu tempo na escola a tempo mais que inteiro - conseguido à sua custa, de sol a sol com dezenas de reuniões a desoras, que terminam muito para além das 8 da noite...
(Ou achavam que os professores não eram também encarregados da educação dos seus filhotes e culpados de absentismo (abzentismo?) às reuniões de pais nas escolas, desleixo no seu acompanhamento e ausência às festinhas dos seus rebentos?)

Veio-me à lembrança um malogrado episódio, nem sei se já o contei aqui, mas se sim, repito (é o que dá ser professor, estou a caminho de alguma debilidade mental pelo stress a que sou submetida e tenho uma certa desculpa), sobre uma professora da 2,3 Luísa Todi que tinha o seu bebé de poucos meses em risco de vida no Hospital de Setúbal. Ao tentarmos explicar aos pais a razão das suas faltas e o porquê dos atrasos do Ministério da Educação na sua substituição, já sem argumentos, um pai ainda disse em jeito de ponto final: as professoras n'áveram de ter filhos!

Está tudo dito.

Quanto mais gosto de estar com os meus meninos, mais me irrita o estado da educação da nação. Eles merecem realmente melhor. E é preciso amá-los, aos meninos, para perceber isso. Talvez seja o que está em falta. Eles não são números e resultados. Têm uma face bem real.

A minha indignação é directamente proporcional ao amor pela minha profissão. Ao amor por eles.

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5 comentários:

Herr Macintosh disse...

Este é o teste que fiz no ATL. E fiz várias vezes até saber!
Gostei! É claro que podemos duvidar que o aluno realmente saiba alguma coisa de jeito e se seria capaz de transferir esse tal saber para novas situações, mas isso é uma coisa que não interessa muito. Com ATLs a funcionarem desta forma os alunos podem, efectivamente, faltar às aulas e passar depois de fazerem o tal testezinho que têm de realizar quando voltarem das suas mini-férias (desde que o tenham feito várias vezes até saberem nos seus tempos livres, está bom de ver).

Miguel Pinto disse...

A escola certifica e a escola paralela [ATL’s] ensina [ou treina ou amestra, ou…] Nem mais!

Anónimo disse...

Resolvidíssimos os problemas da educação...

Anónimo disse...

Na verdade, seguindo o raciocínio futebolístico, a Escola não é uma baliza... É um campo!... E dos pelados... E se a metáfora desportiva quiserem continuar a assumir... então falemos mais de um campo de rugby... É que os pontapés certeiros no campo da Escola vão para além da vedação... Muiiiito para além!... Os que chutam baixo acertam na vedação...

subROSA

Anónimo disse...

POis...... pois............... suspiro (e não é de açucar)