Jogámos mal, mas ganhámos, esse era o objectivo.
Algumas das pérolas que ouvi no fim-de-semana a propósito sabem bem do quê.
A vida centrada nos resultados.
Parece ser o modelo a seguir.
(Felizmente o comentador desportivo, logo depois, referiu-se às expressões como sendo um enorme disparate. E acrescentou que o objectivo é jogar bem. Não é ganhar por acaso mesmo tendo jogado mal. Haja alguma inteligência e sensatez. )
Hummm... a propósito. É possível não ir à escola e depois provar que se conseguem meter uns golos numas perguntas. Já há regulamentação para isso. Aliás, já o John Holt dizia, e eu já devo ter dito aqui: o bom aluno é aquele que só esquece a matéria que decorou depois de fazer o teste.
Ahhh! É verdade! Mesmo a propósito. Acabámos de descobrir na escola algo magnífico. Os ATLs que a circundam fazem arquivo sistematizado de todas as fichas de avaliação que os professores utilizam na escola e colocam os seus clientes a realizá-las como treino intensivo de chuto à baliza. O que está a acontecer? Ora bem, eu explico. O tempo da componente lectiva não dá nem para ver testes e trabalhos, quanto mais inventar testes novos todos os anos para variadíssimas disciplinas (no meu caso, quatro). Portanto, por norma, os professores têm um conjunto de instrumentos disponíveis e vão optando pela seleccção deste ou daquele, consoante (de vez em quando lá conseguimos uma pequena inovação - momentos cada vez mais raros)...
Agora, o mais comum é ouvir os alunos nas aulas, quando o teste é colocado na mesa (perdoai-lhes , Senhor, que eles são pequeninos e ainda dizem em voz alta estas coisas, os mais crescidos calam-se que nem espertos ratitos), olha! Este é o teste que fiz no ATL. E fiz várias vezes até saber!
(Trabalhamos para os ATLs de graça! Perfeito.)
Como vamos continuar sem tempo para fazer "testes novos todos os anos"... será que o sucesso escolar vai aumentar por conta dos ÁTÊÉLES? Sim... que se os testes são mais importantes que as aulas (a lei atesta-o, e não pode haver descriminação dentro de uma turma), então isto vai transformar-se num oásis aqui por estes lados. Mesmo que se jogue mal, vão ser marcados imensos golos! Uma felicidade! Eu cá subsidiava-os a fundo perdido!
A propósito, achava eu na minha infinita ignorância que, depois desta coisa da escola a tempo inteiro e da família a tempo reduzido, os ATLs teriam menos mercado. Lembro-me até de ter ouvido responsáveis queixar-se. Mas, pasmemo-nos (eu pasmo-me, tu pasmas-te ele pasma-se... e por aí fora), que afinal o paradigma é outro: escola a tempo quase inteiro, ATL a tempo que resta do tempo quase inteiro e família, em alguns casos, a tempo praticamente nenhum (noites?).
Ahhhhh! E os professores com filhos são bons clientes desses ATLs... passam a maior parte do seu tempo na escola a tempo mais que inteiro - conseguido à sua custa, de sol a sol com dezenas de reuniões a desoras, que terminam muito para além das 8 da noite...
(Ou achavam que os professores não eram também encarregados da educação dos seus filhotes e culpados de absentismo (abzentismo?) às reuniões de pais nas escolas, desleixo no seu acompanhamento e ausência às festinhas dos seus rebentos?)
Veio-me à lembrança um malogrado episódio, nem sei se já o contei aqui, mas se sim, repito (é o que dá ser professor, estou a caminho de alguma debilidade mental pelo stress a que sou submetida e tenho uma certa desculpa), sobre uma professora da 2,3 Luísa Todi que tinha o seu bebé de poucos meses em risco de vida no Hospital de Setúbal. Ao tentarmos explicar aos pais a razão das suas faltas e o porquê dos atrasos do Ministério da Educação na sua substituição, já sem argumentos, um pai ainda disse em jeito de ponto final: as professoras n'áveram de ter filhos!
Está tudo dito.
Quanto mais gosto de estar com os meus meninos, mais me irrita o estado da educação da nação. Eles merecem realmente melhor. E é preciso amá-los, aos meninos, para perceber isso. Talvez seja o que está em falta. Eles não são números e resultados. Têm uma face bem real.
A minha indignação é directamente proporcional ao amor pela minha profissão. Ao amor por eles.
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5 comentários:
Este é o teste que fiz no ATL. E fiz várias vezes até saber!
Gostei! É claro que podemos duvidar que o aluno realmente saiba alguma coisa de jeito e se seria capaz de transferir esse tal saber para novas situações, mas isso é uma coisa que não interessa muito. Com ATLs a funcionarem desta forma os alunos podem, efectivamente, faltar às aulas e passar depois de fazerem o tal testezinho que têm de realizar quando voltarem das suas mini-férias (desde que o tenham feito várias vezes até saberem nos seus tempos livres, está bom de ver).
A escola certifica e a escola paralela [ATL’s] ensina [ou treina ou amestra, ou…] Nem mais!
Resolvidíssimos os problemas da educação...
Na verdade, seguindo o raciocínio futebolístico, a Escola não é uma baliza... É um campo!... E dos pelados... E se a metáfora desportiva quiserem continuar a assumir... então falemos mais de um campo de rugby... É que os pontapés certeiros no campo da Escola vão para além da vedação... Muiiiito para além!... Os que chutam baixo acertam na vedação...
subROSA
POis...... pois............... suspiro (e não é de açucar)
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