(É preciso para tanta objectiva coisa.)
Mas hoje... Acordar para as palavras. Gesto de rebeldia: um livro na mão. Abri-lo sem pressa. Demorá-lo para provocar os deveres.
Gosto desse canto.
De cada recanto.
(Saudades desse olhar)
Sorrio.
E saboreio as cerejas que se desprendem dele sem precisar de outra refeição. Ofereço esta:
Amor como em casa
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraídíssimo percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeníssimas coisas me prendem,
uma tarde no café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina
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