domingo, novembro 18, 2007

Acordar com poesia...

O tempo já não tem tamanho suficiente.
(É preciso para tanta objectiva coisa.)

Mas hoje... Acordar para as palavras. Gesto de rebeldia: um livro na mão. Abri-lo sem pressa. Demorá-lo para provocar os deveres.

Gosto desse canto.
De cada recanto.
(Saudades desse olhar)

Sorrio.

E saboreio as cerejas que se desprendem dele sem precisar de outra refeição. Ofereço esta:


Amor como em casa

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraídíssimo percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeníssimas coisas me prendem,
uma tarde no café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.


Manuel António Pina

.

Sem comentários: