Algumas flores antecipam-se como se tivessem medo de que esta Primavera de fim de Inverno fosse a única que vão ter. Como se receassem que a este Inverno se siga outro ainda mais rigoroso e cinzento.
A impaciência delas torna-se bela porque dá flor e fruto antes do tempo. E esse fruto também se come e sabe bem (se provassem a marmelada que fiz o ano passado com os pequenos marmelos do Japão, sa(boreariam)beriam a verdade do que digo).
Não sei se esta impaciência, este desejo de construir os dias antes de os ver chegar, é virtude, ou se é defeito.
Mas contemplo esta antecipação com a secreta esperança de que nos traga alguma sabedoria: nem sempre a esperar se alcança aquilo por que se espera. Atrevo-me a sugerir que, por vezes, mais vale florir antes de tempo do que não chegar a florir nunca.
Neste Inverno que se nos afigura prolongado, são as flores inesperadas que nos dão força para romper as trevas. Que acordam as abelhas do seu sono frio.
Não aguardem pela Primavera. Por favor.
Comecem já hoje a inventar as flores que hão-de esticar a claridade dos dias.
O meu jardim verde lá vai dando o exemplo. Haja energia para o seguir...
E na Oficina de Matemática, durante toda a tarde, muitos professores de várias escolas da região entusiasmados a construir materiais inovadores e desafiadores para os alunos, com intenção de desenvolver nestes a capacidade de resolução de problemas, exalavam, juro, um cheiro a flor com promessa de fruto.
Pensaram na palavra utopia? Na palavra milagre? Ficção?
Não. Pura realidade. (Embora até a mim, que estou lá, me custe a acreditar...).
Um dos meus marmeleiros do Japão (Chaenomeles japonica) - foto de ontem
http://en.wikipedia.org/wiki/Chaenomeles
6 comentários:
É bom sentir a cabeça a fervilhar de ideias, projectos, desafios...
Hoje confesso que a sinto um pouco "em banho maria", sem saber o que pensar, preocupada com a forma como estamos (estamos, não estamos?!) a desenvolver competências matemáticas junto dos nossos alunos...
De novo o Exame Nacional de Matemática do 9º ano e a média de resultados dos alunos. Continuo sem entender. Agora mais do que nunca.
Sempre atribuí (ingenuamente?) as grandes culpas dos maus resultados aos critérios de classificação. Mas apenas uma pequena percentagem de professores o indica, após a análise dos exames dos alunos.
Agora estou em banho maria.
(Ainda vou tentar desenvolver esta ideia do Exame de Matemática lá no meu Canto. Mas não tenho a certeza de conseguir. Agora é a minha vez de sentir a cabeça num verdadeiro novelo.)
Vou tentar florir algumas ideias - sem dúvida que vou encontrando aqui algum fertilizante ;)
Ah - e fico contente com a tua Oficina de Matemática - é óptimo respirar esse "cheiro a flor com promessa de fruto"... Aqui já cheira um bocadinho... Vou tentar "cheirar melhor" (...lolol) e levar o perfume a Primavera amanhã para a minha escola :)
É bom sentir a tua companhia enquanto estou aqui a bater com a cabeça nos documentos do Despacho 50... A Secção de Avaliação que coordeno está em consulta aos Departamentos e como amanhã tenho CP (e reunimos hoje), tivemos pouco tempo... por isso estou aqui a partir pedra a esta hora desgraçada para amanhã (quer dizer hoje... já passa das 12)levarmos tudo direitinho... Vale a ajuda preciosa do grupo responsável por estas coisas que é cheio de ideias... mais flores com promessa de fruto. Portanto, mesmo assim, posso dizer que vale bem a pena o esforço extra! Agora vou cair para o lado! (Não sem antes agradecer a metáfora do fertilizante... um mimo reconfortante!)
Bj e Boa Noite!
Teresa, eu precisava era de estar na tua escola, assim ainda adiava a reforma!
Tit: não foram os critérios de classificação, não. Experimenta, em vez de problemas em que apliquem conhecimentos do 9º ano, mandar para uma turma uma ficha de problemas em que, de Matemática, só precisam de conhecimentos elementaríssimos que todos têm, mas em que tenham que ler um enunciado TODO em simples português corrente, sobre situações que lhes são familiares, e ter atenção a toda a informação e aos pedidos, e verás que não resolvem ou resolvem mal porque não leram toda a informação e têm uma dificuldade estranha em ler e interpretar informação escrita. Isto não tem a ver especificamente com a Matemática, nem com falta de atenção despreocupada, porque em testes pelo menos estão a querer dar o seu melhor (não no exame do ano passado, em que me testemunharam não se terem esforçado porque o exame já não alterava a nota)
Nenhuma escola é o paraíso... "ele há pessoas e pessoas" (não falo de professores, falo de gente em geral). Como disse, nesta oficina estão "pessoas" de "várias" escolas (também da minha actual). E também há contextos e contextos... alunos e alunos, anos e anos, certos dias...
Não significa, pois, que aqui não se sintam os problemas.Sentem-se como em todo o lado. Barafusta-se, reclama-se. Há alunos que querem, alunos que não querem , alunos que não deixam... alunos dispostos...
Há pessoas... como há por aí (olha para ti!!!!) e é dessas pessoas que nasce a força para combater inteligentemente o escuro. Não baixar os braços significa ter mais trabalho, para além do resto. O conceito de bom professor provavelmente nem existe... Existem talvez... bons cidadãos? O resto vem por acréscimo...
«Nenhuma escola é o paraíso... "ele há pessoas e pessoas"»
Olhar minimalista: Qual é a nossa ideia de escola? O que precisamos para a concretizar? Para muitos será necessário vencer um mundo que lhes é hostil. Para outros será suficiente sentir que caminham na direcção certa. :)
"Para outros será suficiente sentir que caminham na direcção certa."... disseste bem: "sentir" em vez de "saber". A Escola que se quer não deveria conter sempre nela a semente de dúvida? O espanto da incerteza que a faz procurar caminhos? Não deveria ser uma escola que ensina a fazer perguntas, mais do que a dar respostas? Pontos de interrogação, sempre os meus pontos de interrogação... (e as minhas reticências...).
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