segunda-feira, março 31, 2008

Ufff... (de como o cansaço pode ter sabor a gelado de morango)

Tal como previsto... novidades. E tantas!
No arranque da manhã, pelas 8 e pouco, enquanto aguardávamos pelos mais atrasados, fiz a ronda das férias, cada um na sua vez (eles gostam de contar e esvai-se assim alguma da energia em excesso com que nos chegam, depois da interrupção)... eu estive doente e eu fiz isto... e eu fui ali... e eu fui acolá...
Pelo meio, a B., cheia de vontade de partilhar o que fez com o scratch e o seu blogue nas férias diz:
Oh professora, adorei corrigir os erros do meu blogue com o vídeo que a professora fez para mim! Até falei disso lá!
(mais tarde no Scratch time... vi que há novos erros para ela corrigir... mas a motivação é grande para manter um blogue limpinho e bem escrito, portanto, estamos no caminho certo. Há que persistir. Eles têm tantas dificuldades na escrita que este tem sido, para alguns, uma forma de os fazer reflectir sobre o seu trabalho, de escrever e de melhorar a qualidade da sua escrita, tal como tem acontecido com o meu Kiko das borboletas que já está no 6º e fez imensos progressos desde o ano passado... Como devem imaginar, este tipo de atendimento tão personalizado tem muitos custos de tempo... coisa que a legislação não leva em conta. Eu é que não tenho culpa e como acredito que é neste cuidar próximo que reside alguma hipótese de sucesso, hei-de continuar a gritar enquanto puder para chamar a atenção.)

Pois é... tenho uma surpresa para aula de hoje.
Lembram-se do referencial cartesiano? Eu preciso de saber se compreenderam... se já sabem como o utilizar... e... fiz uma fichinha de propósito para aplicar hoje, apanhando-vos distraídos, esquecidos (a professora Dalila será testemunha de que não vos ajudarei a não ser com a leitura do enunciado, para ter a certeza de que os erros se devem às dúvidas matemáticas e não a outras). Vamos começar?
Preparei esta actividade na Páscoa. Queria saber quais eram as sobras de um segundo período às voltas com o Scratch e onde o referencial foi introduzido, depois de 15 dias de amêndoas. Mas queria que tal acontecesse sem revisão, sem estudo, sem preparação. É a melhor forma de saber o que guardaram, o alcance da compreensão e da aprendizagem, a dimensão das dúvidas. Depois, sim, depois trabalharei com os que sentiram mais dificuldade, tentando encontrar outros caminhos para todos chegarem onde é preciso.
Na essência a maioria percebeu o conceito. Alguns apenas trocam, em certos pontos, o x com o y, sobretudo no processo de colocação do ponto nas coordenadas indicadas e não no processo de identificar coordenadas de pontos já marcados. Alguns alunos completaram o trabalho praticamente sem erros, alguns não acabaram, embora estivessem no caminho adequado, outros revelaram maior dificuldade. Tenho presente que é um conteúdo do 7º ano e que estes meninos estão no 5º. Mais tarde farei o tratamento dos dados de forma pormenorizada para perceber algumas coisas e relacioná-las com outras... o mestrado sempre presente.
Guardarei estes exemplares, levarei novos para que cada um possa observar o que fez, analisar os erros (serão eles a corrigi-los) e depois voltarmos ao exercício novamente. Avaliação formativa... avaliação entranhada na acção. Avaliação formadora que ajuda a crescer, a aprender a persistir, a ser exigente, a evoluir.

E querem saber uma coisa, meninos?
Siiiim!
Para além disto serem conteúdos do 7º ano e vocês estarem no 5º... usei mesmo exercícios de um manual do 7º sem os alterar. Não preparei uma coisa mais simples...

Verdade?
Verdade!

Ensino-os a gostar de desafios que os arrastem para a frente... Nem todos avançam com a mesma segurança, mas cada um vai avançando como pode, porque eu não quero ninguém para trás e não páro de puxar!
Não lhes facilito o caminho... mas tento colocar obstáculos à medida. Procuro encontrar a medida certa, o que não é simples de equacionar com tantos meninos diferentes, com aquisições de base e medos diferentes. Mas isso é o trabalho do professor que não devia deixar nunca de ser uma espécie de investigador permanente, minuto a minuto, na análise dos problemas, para ensaiar hipóteses e procurar soluções.

Depois à tarde... aula de Ciências com eles. Umas revisões?
Lembram-se do Fado Hiphop da Bicharada que partilhei convosco no blogue da turma, feito há uns anos pelos alunos de outra turma com a minha ajuda? Tem de ser continuado... agora podia ser feito o das plantas...
Oh professora cante um bocadinho da música...
Aula de poucos minutos, só um tempo... pensei... O meu menino autista instável e a precisar de atenção, o meu outro menino que veio tardiamente pisa insistentemente a linha do abandono e da resistência às tarefas...

Por que não cantar?
Avancei...
Nem cinco minutos e já tinha o meu menino diferente a cantar feliz o fado, com uma afinação que os colegas elogiaram e que me apanhou de surpresa.

Animais da biosfera
tão diferentes que eles são
no revestimento do corpo
na forma e na dimensão.

Na forma como andam
ou seja locomoção
e nos alimentos que escolhem
para a sua alimentação(...)


o hiphop pelo meio, o outro menino a prender-se à ideia de apresentarmos a canção no final do ano e de tomarem em mãos a escrita do que falta, em AP, por exemplo, já com vontade de cantar mas ainda envergonhado... a turma ao rubro a esmerar-se. E, não, isto não é um rebuçado que disfarce seja o que for. Trabalhámos estes conteúdos seriamente com estratégias variadas no 1º e 2º Período... isto é um complemento de síntese... educação pela arte. Acredito no poder da música e vejo os efeitos dela nestas idades. Se vissem, ouvissem a felicidade empenhada, atenta e afinada do meu menino diferente cantando ora fado, ora hiphop, eu corrigindo as suas dificuldades de pronúncia, ele fazendo um esforço supremo para dizer as palavras como elas são, percebiam que há milagres que se fazem assim, de forma simples. Só com uma canção. Integra-se quando se encontra uma actividade exigente e partilhável no máximo da sua extensão.

Dali para a aula de apoio com o 6º. Tão bom revê-los e resolver problemas de todas as formas... Depois, sem intervalo, na mesma sala, mergulhei directamente no Scratch time, facultativo, vem quem quer e quer sempre tanta gente... hoje 17 alunos e tantos projectos, tantos entusiasmos! Aproveitei para pedir mais, exigir mais, sugerir que fizessem um esforço para evoluir na programação e não ficarem eternamente presos a projectos simplistas e pouco interactivos, só porque era mais fácil. E insistir cada vez mais na escrita das notas de campo dos projectos, mais completas, mais explícitas, mais reflectindo a verdadeira essência de cada caminho... e na correcção dos erros...

Depois de uma manhã cheia, andei em completa roda-viva entre as 13 e as 17 sem intervalo nem interrupção.


Agora aqui, ainda sem interrupção - são 20 horas, aproveito a teia para fixar no tempo os momentos do dia, recolher as impressões que mais tarde poderei vir a usar no mestrado.
Trato os vídeos feitos, as fotos, as minhas próprias notas de campo.
Doem-me as costas, tenho fome, preciso de parar um bocadinho mas, antes de parar (um parar que não é bem parar, porque tenho de continuar as leituras de férias) deixo aqui um dos vídeos do dia e um dos projectos que ficou concluído (se tiverem oportunidade, experimentem o delicioso e simples desafio proposto pelo Bocas)...

Não, no vídeo não disputo um telemóvel com ninguém. Não é um vídeo triste.
Ajudo, acompanho, alegro-me com as conquistas de uma menina pequenina que, tal como todos os outros nestas turmas, passo a passo se vai dirigindo ao futuro que será o seu e que ninguém consegue imaginar. Será um futuro com a tecnologia ainda mais entranhada na vida do que já está hoje, a única certeza.
Tentar prevenir o inevitável, enterrando a cabeça na areia, é próprio de quem parou no tempo e se consome em inútil lamúria.

Prefiro ajudá-los a dominar utilmente, serenamente, a tecnologia que os rodeia. Vou crescendo com eles e sirvo-me dela para os fazer crescer comigo em todos os sentidos possíveis.





Scratch Project

Despertar muito suavemente...

... para o dia.


David Oistrakh toca Claire de lune.
Gravado em Paris, 1962. Frida Bauer no piano.

Acordei, ainda era luar no céu, com a memória de sons no peito...
É sempre como da primeira vez... em 1962, Paris, eles...
Em Lisboa eu... já o mundo andava acontecer há tanto tempo...
Sempre uma razão, uma surpresa, um desejo a arrebatar-me, a arrastar-me para acordar outra vez, mais uma vez, e outra, e outra... sempre cedo, sempre sede, que o tempo é sempre tão pouco...

E eu vim viver a minha parte... num tempo que me levou de outro tempo a este tempo de que gosto tanto, porque todo o tempo onde estou é meu, apesar dos cinzentos de que vamos falando. Um tempo que põe quase tudo na minha mão cedo pela manhã. Ou tarde na noite.
Um tempo que me viaja com ele sempre que quero.
Um tempo que continua a ser de emoções, por mais tecnologia que seja inventada, colocada entre os corpos.
Porque no fim somos só nós,
nós e os outros,
nós e a música dos dias
nós e as lembranças
nós e os desejos...

O resto são janelas por onde espreitamos. Por onde também crescemos. E sonhamos. Às vezes encontramos flores raras do outro lado. E se éramos felizes, ficamos ainda mais felizes.
São estas adições, estas multiplicações de sabor que gosto de dividir com os meus alunos. A luz que contagia. Nas subtracções só admito a tristeza. Às divisões chamo Amor. Dádiva.

Deixo em casa os meus castanhos: hoje levo comigo uns olhos verdes para o reencontro... Sinais de doçura que alisam o caminho. Me fazem sentir leve.

(Vou já meninos! Vou já!)

Novos vizinhos da Ilha da UA no Second Life...


PT Inovação - Novos vizinhos da Ilha da Universidade de Aveiro no Second Life
Fica mesmo ao lado da ilha da Universidade de Aveiro e da ilha do Sapo.
.
Este espaço vai alojar vários projectos fruto da iniciativa da PT Inovação. A UA e a UTAD vão colaborar para construir este espaço e dotá-lo de algumas tecnologias que julgamos terem potencial para serem do agrado dos residentes do SL.
.
Li a notícia, fui até lá por uns breves minutos durante a tarde. O trabalho avança a bom ritmo... mas o acesso ainda não é possível.
No meu desajeitado voo (falta de experiência, é o que é) fui chocando com os limites e deixei a Te pelos arredores a dormir na relva (sorte a dela) para poder ser das primeiras a chegar (isto deve ser como os concertos, imagino eu). Antes de me adormecer por lá fiz "uma pic" para memória futura (a expressão está na moda) em voo planado (eu sempre suspeitei que tinha asas...) explorando a possibilidade de uma espécie de projecção astral que me permite olhar para mim própria de frente (gostava de o poder fazer de vez em quando na RL).

Que surpresas nos reservará este espaço?
Aguardo convite para a inauguração... :)
(Rubik? Carlos? Não se esqueçam de mim!)

domingo, março 30, 2008

Once in a blue moon...

É Domingo, que coisa!
Once in a while, once in a blue moon merecemos parar um pouco, fechar os olhos e respirar...

A ler...

Opiniões - António Barreto
via 'Umbigo

"A geração do écran"

Opiniões - Alice Vieira
via 'Umbigo

A geração do ecrã


Quando nos gabamos, morrendo de saudades de tempos idos, da nossa geração:

que, sim, aprendeu na escola as coisas certas,
que cresceu para se tornar dona do mundo num tempo em que, sim, era tudo como devia ser e não havia muitos écrans
que agora diz que a escola não ensina nada, não se preocupa se se aprende bem ou não e os deixa sair assim uma espécie de analfabetos com credenciais de escritor
que fala tão bem, escreve tão bem crónicas sem erros ortográficos sobre todos os assuntos não importa quais, sabe as respostas todas, mas nunca explica exactamente como é que se faz para, nem tão pouco faz
que gosta de ler e lê imenso e coisas muito importantes,
que usa tão inteligentemente o intelecto, a abstracção, tudo compreende
que se revolta contra o eduquês e demais modernices
que educa crianças, dá aulas e governa o país,
que tão bem sabe apontar culpas para a península de todos os lados menos o seu...

só consigo pensar nesta frase que encerra o texto de Alice Vieira:
nós deixamos. Porque a Alice olha com os olhos certos para o monstro. Somos responsáveis, em maior ou menor medida. Fomos coniventes na abertura da porta que o foi deixando entrar.

nós deixámos e continuamos a deixar

O mundo, como está, foi feito por nós todos.
Eu não sei se estes miúdos, que um dia nos vão governar, vão conseguir ser tão maus como nós temos sido (com toda a nossa sabedoria, inteligência, cultura e etiqueta trazidas de uma escola que ensinou tanta gente tão bem, a ponto de sermos especialistas em arriscar o futuro do Planeta, em fazer aumentar a violência, deixar por resolver os conflitos, a pobreza...) mas sei que será difícil serem piores e sei, também, de muitos miúdos que mesmo sendo geração do écran nos poderiam ensinar algumas coisas... porque há também uma educação que se faz pelos contrários e, quem sabe, algumas crianças e jovens vão conseguir aprender connosco exactamente aquilo que não se deve fazer nem ser (é que também há nas escolas muitos meninos muito diferentes dos do vídeo, geralmente importunados por estes, com o nosso consentimento integrador).

Eu que até sou muito exigente, engolirei em seco e perdoarei um ou outro erro ortográfico, uma ou outra tabuada esquecida (Meninos! Eu não disse isto! Aos meus alunos não perdoo nada!!! É só assim uma espécie de retórica para reforçar a ideia! Eu depois explico-vos!) se eles no futuro conseguirem fazer melhor do que nós e endireitarem o mundo inteiro. Foram várias gerações, as tais muito bem preparadas por uma escola magnífica e idolatrada, que o colocaram no estado em que está.
Há verdades que dói ouvir, porque estamos dentro delas... do lado dos problemas e não da solução. Afinal a nossa educação/escola do passado ensinou-nos exactamente o quê? Abro a televisão e tenho a resposta todos os dias (não, não falo do espectáculo dados pelos alunos no Youtube... falo dos adultos...)

É talvez boa hora para deixar as lamúrias, acabar com os dedos em riste e tentar realmente fazer o possível para emendar a mão. Cada um no seu campo, com uma visão global, coerente, consistente e empenhada. Com confiança mútua, sem desautorizações constantes.
É mais fácil falar, eu sei, mas em cada dia procuro pelo menos que os meus gestos contribuam para alterar esta impertinente vontade que o mundo tem de se deixar resvalar para o mal... sem certezas, que elas tolhem-nos os sentidos, mas com amor, exigência e convicção.
Está ao nosso alcance, se lutarmos sem vergonha nem culpa pelas condições certas.

ADENDA (quase optimista): Há no mundo muitas coisas boas, feitas por muita gente boa... muitas vezes gente menos letrada mas sábia e sensível, com a inteligência natural de quem escuta o coração do mundo e lhe pergunta "de que precisas? como te posso ajudar?".
Mas também não é mentira que o mundo esteja doente... embora a visão da doença se acentue por via de uma imagem "nos écrans" com natural tendência para a desgraça alheia. Isto não diminui a constatação de que os erros todos, e as consequências graves que geram pelo mundo fora, têm sido cometidos por nós e por mais ninguém (até ver, ainda são os terráqueos que dominam o planeta... ou já andaríamos a apontar o dedo aos animais, às plantas ou... aos marcianos...)

Da saudade, do carinho (e das perguntas)...

Ora bem.
É Domingo... dia propício à chamada depressão da vizinhança de segunda-feira.
Ainda mais depois de finalmente ter tido algum tempito para pôr algumas poucas coisas em ordem (poucas... que a lista de afazeres é maior que a lista de sonhos...) embora precisasse de muito mais tempo para continuar a fazê-lo.

Mas gosto das minhas segundas. Que são as primeiras de cada semana. As segundas da sala de informática com o 5º, do Scratch time à tardinha... E tenho saudades dos meus pardais.Pois tenho. E já sei... amanhã... todos a quererem contar as novidades ao mesmo tempo.

E a S. atrás de mim a correr professora professora e mais isto e mais aquilo e eu a rir a caminho da sala... agora não... ainda estou no Hawai... e ela a rir... pois... tenho de esperar mais um bocadinho que se acabem as férias da s'tora e ao mesmo tempo a provovar-me com perguntas e histórias e mais isto e mais aquilo.

São cumplicidades. Doces cumplicidades. Carinhos trocados. Neste caso, com a S. já lá vão quase dois anos. E, para além disso, vi a S. crescer aqui na casa quase ao lado. Vi os seus grandes olhos perguntadores desde sempre, os seus pedidos para visitar as minhas chinchilas, as minhas borboletas... as suas lágrimas no dia em que me bateu à porta com um pardalinho quase morto na mão, que morreu depois nas minhas... e precisei de lhe falar da morte... o dia em que abri a porta, ainda cabelo molhado, saída do banho, sim S.? Oh Teresa... era só para fazer uma pergunta: por que é que só há vida na Terra, achas que é o oxigénio? Oh Sara! Deixa-me ir secar a cabeça primeiro!
E depois a coincidência: era eu a professora dela sem saber. Na aula começou por me chamar Teresa e, depois, sem reparos, passou a dizer Professora! (depois do final deste ano, regressaremos ao Teresa que ficará para sempre...)

Gosto que os alunos continuem a gostar de fazer perguntas. A sentir que vale a pena fazê-las. Gosto que contribuir para lhes aumentar a quantidade e qualidade das perguntas durante o caminho que fazemos juntos. Porque as respostas às nossas perguntas devem trazer sempre mais perguntas com elas. E algumas respostas têm mesmo de ser as nossas. Recordo o David (agora homem feito) que me fazia perguntas deliciosas como: oh professora, se o ovo é uma célula só, como é que sai lá de dentro um pintainho pluricelular?
Não recordo quem foi que disse que se conhecia melhor um aluno pelas perguntas que fazia do que pelas respostas que dava. Sábio enunciado.

E é verdade também para um professor.
Por isso nos temos interrogado tanto, embora só queiram de nós que sejamos máquinas de respostas, máquinas de cumprir recados, marionetas cheias de fiozinhos complicados a obrigar-nos a gestos sem sentido, articulações dobradas em impossíveis sentidos.
Temos que dizer que dói. Que não pode ser. Temos de questionar, de continuar a lutar pelo direito a fazer perguntas que nos coloquem em melhores caminhos do que aqueles que insistem em traçar-nos como se fossemos acéfalos...
Continuarei a fazê-las. Sempre fiz muitas. Desde pequena. Assim penetro no mundo e o desvendo. Mato a fome e a sede. Arranjo mais fome e mais sede. Assim procuro fazê-lo um melhor lugar para mim e para os outros. Assim defendo os meus meninos, a escola onde têm de viver.
Não me queiram calada. Não sei as falas dessa personagem muda.

Professor que se esqueceu de como se fazem perguntas, não merece ser professor.

Ora falava eu de quê?
Sim. De saudade e de carinho.
Amanhã matarei a primeira e espalharei como estrelas o segundo.
(Enquanto me deixarem...)

Lista de (alguns) sonhos...





Aprender a tocar piano...




Aprender a dançar...



Escrever um romance...



Nunca é tarde demais
...este vai ter lugar marcado na minha prateleira de DVDs...

Bom manter a lista de sonhos em dia e ir riscando conquistas... 'cause we forget how fragile we are...


Caixotes de papel A4, gato Jasmim e arquitectura...

Começar o dia com um sorriso.
(E menos uma hora - dessa parte não gosto nada...)

Depois de usada a primeira resma... o Jasmim inaugura mais um ninho... quando finalmente o caixote fica vazio, procede a obras de arquitectura (à dentada) para poder apreciar a vista e ficar bem acomodado, que a cauda é longa...

Um dia hei-de escrever uma história: O gato arquitecto...
E depois toda a gente vai dizer: Ai que história tão engraçada e original! Ai ela tem tanta imaginação!

Pois...




ADENDA: Não resisti... são quase 11 horas e tinha de partilhar a imagem que tenho aqui à minha esquerda enquanto trabalho... Vêem-se já os vestígios da obra iniciada. Agora... só preciso de lhe ensinar como se usa uma vassoura... Parece coisa menos complicada que projectos de arquitectura... mas há muitos "homens" cheios de manha para se furtar às tarefas caseiras. Se ele não aprender e me quiserem penalizar na minha avaliação de professora por tal coisa, poderei sempre dizer, como o outro numa história que já contei na teia:

Eu ensinei... ele é que não aprendeu!

sábado, março 29, 2008

Antes de existir, um poema é coisa alguma...

... depois de nascer pode transformar-se num...


www.vladstudio.com

www.sabordepalavra.blogspot.com

Second Life® Bloggers requerem clarificação

Second Life® Bloggers requerem clarificação

(Há coisas estranhas... esta é uma delas. Que lucram os Linden Lab. com este tipo de políticas de gestão de marca?)

Manifesto AQUI.

Radio Macau... 2008

cantiga de amor


... Levar-te até à lua para dançar

Que a lua está longe e mesmo assim
Dançar podemos sempre, se quiseres...

Porque hoje é sábado III

Depois de uma semana mais virada para as metodologias, paradigmas e tal, agora quero ler estas duas teses de doutoramento...
(Mais rigor: começar a ler...)
Estivesse o tempo melhor, metia-as numa cestinha e ia piquenicar livros para a praia...
(Hummmm... é uma ideia com potencial...)

Assim, trocarei o Meco por um chá inglês e avanço...
(Não me parece uma troca equilibrada... mas enfim...)
Pergunto-me: e se fosses trabalhar em vez de estares aqui a brincar com as palavras, enredada em fios de seda, músicas, poesia, luares matinais, fantasias azuis, anjos e flores de cerejeira?
(Pois...)
Respondo-me perguntando-me: Nem um poemazinho? Posso? Posso? Há uma imagem nova no vladstudio tão inspiradora...
(Consciência: O melhor é deixar para mais logo...)
Sentença final: Não, não podes.
(O meu Grilo Falante é poderoso: Fui!)


(Livro premiado em 1991 com o Outstanding Book Award from the American Education Research Association )

Yasmin Kafai

Nota: muitos dos livros (a maioria) que adquiro na Amazon são em segunda mão. Conseguem-se verdadeiras preciosidades a preços baixos. O livro da Idit foi um deles.


Porque hoje é sábado II

Para os mais atentos: sim, eu sei que já devem ter ouvido por aqui. Mas o que se há-de fazer?

In the arms of the angel... sabe (sempre) bem!

Porque hoje é sábado...

E preciso de música à minha volta...




Ella - "How High the Moon" and "Some of These Days" 1974

Poesia...

Eu podia escrever um poema... podia...
Para quê?

(A Primavera escreve-os no jardim.)



A maior flor do mundo...

Via Alcameh (http://alcameh.blogspot.com/), entrada de 27/3,
descobri isto:

Cito o El País de hoje e convido-vos a seguirem esta hiperligação para verem a curta metragem:
'La flor más grande del mundo'... José Saramago pone la voz y Emilio Aragón la música en este corto de animación nominado al Goya (...)
...

Tenho o livro há muito tempo comigo.
(Uma experiência bela servida com a ilustração de um dos meus ilustradores favoritos)

Não deixem de seguir a ligação para ver/ouvir...


A Maior Flor do Mundo


A Maior Flor do Mundo


sexta-feira, março 28, 2008

Era uma vez... num sonho... (II)



Sting - Until

.

A ler...

O Professor Do Ensino Básico E Secundário, Esse Ser Mítico

Desencanto = Reformas antecipadas?

via 'Umbigo, o destaque de um artigo do Público:
Finalmente, Boas Notícias Para O ME

Não sei se percebi bem...


... em que ficamos?
O estudo americano, por conta do insucesso, propõe um ensino menos centrado no aluno e mais recurso à memória...


Um especialista (também americano) diz depois, mais à frente, que o problema nos EUA é um padrão assente na exposição do professor e na solicitação dos alunos para a repetição da informação fornecida (hummm, suponho que com recurso à memória... e pouco centrado no aluno).
.

Já na China... parece que preferem, para além da sólida informação (que suponho seja algo diferente da exposição - será?) centrar o processo no aluno, levando-o a explicar os seus raciocínios e procedimentos - coisa que faço com frequência, embora depois me sobre menos tempo para a lista enorme de conteúdos... e ralhem comigo por isso.)

Em síntese: para uns especialistas nos EUA o problema é de excesso de exposição e recurso à solicitação de repetição, de memória, sem compreensão... e resolve-se, segundo outros, para quem o problema parece ser diferente, "moderando a coisa de centrar no aluno" e com "ainda mais recurso à memória". De quantos estudos estamos a falar?

Estou um pouco confusa. Escapou-me alguma coisa?

Admito que sim... Alguém me explique como se eu fosse... (Estes últimos tempos de legislação em catarata anestesiante e ocupação frenética tipo fábrica de enchidos têm vindo a retirar-me algumas faculdades mentais... e depois tudo me parece... chinês...?)

Era uma vez... num sonho...

E as nossas crianças, agora, deixam de acreditar em fadas tão cedo na sua vida...






...

Estava aqui de volta do horário da turma do 5º ano e lembrei-me disto, onde se fala da importância de ter tempo para brincar, tempo para a fantasia, de como é absurda a ideia do ME de querer que as crianças (do 2ºC) passem na escola ainda mais tempo do que este que aqui se vê (complementado, na maioria dos casos, por ATL e actividades desportivas ou outras, fixas em hora certa - assumi que deveriam deitar-se cedo, o que nem sempre acontece, infelizmente, e tranquei o horário a partir das 21:30...). Depois lembrei-me de uma notícia que ouvi por estes dias: o consumo de medicamentos para a hiperactividade aumentou assustadoramente... jornalista perguntando, amável psicóloga respondendo, que era um problema talvez neuro-psicológico e tal e que isto, e que uma coisa era a hiperactividade outra o ser irrequieto e chamar a atenção e tal e que aquilo e que aqueloutro e ninguém a fazer a pergunta que se impunha: por que razão existe este aumento assustador de perturbações do comportamento a merecer tanto comprimido a mais dado às crianças? Não me aventuro em respostas, mas causa-me espanto que não se pergunte porquê... As crianças estão à beira de um ataque de nervos, cada vez mais alergias, mais fragilidades e nem um porquêzinho? Depois lembrei-me de outra coisa que deixei na teia há tempos... e de como fui feliz por ter tido apenas as manhãs ou as tardes na escola, de como, talvez por isso, continue a gostar tanto de histórias de príncipes e princesas, de heróis e de fadas, de luas e arco-íris, de magias e outras fantasias... continue a deixar-me surpreender... a maravilhar-me com a poesia escondida das coisas. Brinquei tanto! Fantasiei tanto! Continuo a fazer o mesmo...
Um dia, quando for grande, não quero nunca de deixar de dançar aqui e ali com algum príncipe, não quero deixar de fazer voar o pássaro da cabeça de que o Pina falava, não quero deixar de desejar que alguém me ofereça a Lua e depois imaginar que alguém ma oferece. Não quero esquecer o que sabia tão bem quando era criança. O que sempre soube. Adulto que não tem a capacidade, a ousadia de imaginar, é um adulto infeliz.

E as nossas crianças, agora, deixam de acreditar em fadas tão cedo na sua vida...

quinta-feira, março 27, 2008

Num tempo de fenómenos estranhos...

... sobretudo em matéria de educação, nada como as estranhas (e belas) criaturas saídas das mãos do meu mano veterinário-escultor (cuja esposa é... professora do 1º ciclo) para exorcisar o espírito!

Uma vaca louca (demências)...

[Vaca+Louca+05+95kb.jpg][Vaca+Louca+00+71kb.jpg]

Um porco voador (ilusões)...

[Porco-voador+05+69kb.jpg]

Um grito (pregos espetados na cabeça, queriam o quê? Que andássemos calados?)...

[Grito+(2).jpg]

Um espantalho (medos)...

[Espantalho-5+01+47kb.jpg][Espantalho-5+03+62kb.JPG]

(Desculpa, mano, tão estranha associação... mas é que... tu sabes... tu perdoas...)

http://www.madeiraviva.blogspot.com/

Eu não ia voltar ao assunto...

Mas...

como resistir a partilhar:

No meu tempo não era assim
(Só Rindo - Ricardo Araújo Pereira)?

via ' Umbigo

Pois...
... a brincar a brincar...

Não sei...

... chamo-lhe

Hoje: encontro em SL... cef^SL08

No blogue oficial da conferência pode ler-se:

A partir das 22 horas (GMT)/15 horas (SLT), juntem-se a nós no Utopia, onde vamos poder trocar ideias sobre o

cef^SL08
A Conferência sobre Comunicação, Educação e Formação no Second Life pretende reunir a comunidade científica, educativa e tecnológica nacional interessada no desenvolvimento do conhecimento e na partilha de experiências de utilização do Second Life como forma de complementar e enriquecer as experiências educativas nos mais diversos contextos de vida, de trabalho e de aprendizagem formal e informal.

Contamos com a presença de alguns elementos da ARCI que, para além de estarem disponíveis para nos falar dos seus projectos, prometem excelentes momentos de conversa.
Mais um encontro a não perder!

A Bruáa Editora...

... já lançou o livro "A Árvore Generosa" de Shel Silverstein (não podiam ter começado melhor...)

e...
... têm um blogue!


O que se vai seguir?

Não percam os próximos capítulos...

Complexidade e Educação

Uma área que me interessa.
Recursos de excelente qualidade, aqui:



COMPLEXITY AND EDUCATION

This website is intended as a meeting place for educators and educational researchers whose work is informed and/or orientated by complexity. To this end, the site includes links to:
the community of
people currently interested in complexity and education.Anyone subscribed to this site can lodge their details on this site (subscribe now).
an
online journal Complicity: An International Journal of Complexity and Education.
the
annual conference of Complexity Science and Educational Research (CSER)which includes a link to the full conference proceedings for every conference thathas been held.
a glossary of terms
a list of references, including general
complexity references which address the issue of complexity per se, or complexity as it relates to fields other than education, and more specific complexity-in-education references.
a webliography comprising a list of
weblinks to other useful complexity websites.
a place to post notices or make
suggestions about the construction,elaboration and/or modification of the site
The decisions to build this site and to found an online academic journal were made during the first Complexity Science and Educational Research Conference, held in Edmonton, Alberta in October 2003. The site itself was conceived and developed at the University of Alberta by a group of professors and graduate students in the Faculty of Education.
We invite you to browse the site and to participate with us in its elaboration—whether through the
online journal, the annual conference, the noticeboard page, or simply by deciding to subscribe and then adding your details to the list of people making up our community of users.

quarta-feira, março 26, 2008

Podíamos copiar? Por favor, por favor...

Via 'Umbigo - Uma Voltinha pela Finlândia:

o documento estratégico para a educação finlandesa - período de 2003 a 2008.

Descubram as diferenças... Já nem falo do financiamento (estou a trabalhar numa área considerada prioritária, a fazer investigação-acção procurando com o trabalho - onde os alunos são directamente envolvidos - não só inovar mas melhorar desde já a prática pedagógica em simultâneo, etc etc... portanto, nada mais natural ser eu a pagar isso tudo, claro...) mas recordo o que já disse: serei penalizada na avaliação pelo facto de ter de faltar a algumas reuniões de Departamento para ir às aulas da Faculdade à noite. E nunca faltei a aulas... nunca desleixei por um minuto sequer o trabalho com os meninos, pelo contrário, empenho-me até ao limite para lhes dar o melhor do meu tempo, materiais e métodos... se houver desleixo, é na leitura, no estudo e no trabalho para o mestrado.

Assim se promove o rigor, o mérito e etc. Com grelhas cheias de indicadores, mas retirando qualquer possibilidade a uma pessoa "normal" de cumprir o dever e o direito de aperfeiçoar estudos e de se tornar melhor profissional. Ah! Como não sou titular, nem quero ser, ficarei para o resto da minha vida no 5º escalão, independentemente dos graus académicos ou das minhas eventuais excelências. E perguntam vocês por que não emigro para um país onde dêem mais valor ao meu trabalho e me tratem como gente, exigindo dos professores sim, mas fazendo uma adequada prospectiva estratégica e oferecendo as condições para que a exigência possa ser cumprida?

(...)

Continuing professional education for teachers


The responsibility for teacher's pedagogical studies and other qualifying training lies with the government. Similarly, the government also finances supplementary training in areas of major relevance to education policy. Other continuing professional education is mainly the employers' responsibility. The costs incurring from teachers' in-service training are co-financed by the government as part of statutory state aid for education. As regards vocational training, the changes in the nature and content of teaching necessitate a special development project. The education policy priorities in teachers’ continuing education are management, evaluation and the development of the work community in educational institutions; management of social problems; health education; the use of information and communications technology in teaching; on-the-job learning and schoolindustry contacts; and education relating to multiculturalism.
The goal is that about 22,000 teachers take part in education relating to these education policy priorities. A project will be undertaken to develop teacher education and school communities in vocational training with the aim of assuring the quality of training and its adequate response to labour market needs and enhancing the appreciation vocational teachers' work.

Pois...

Estas coisas (e outras...) não copiamos nós.

Submersa em livros... música a condizer.

Vou de palavra em palavra cruzo-os e en(tre)laço-os uns nos outros de folha em folha troco-os misturo-os adormeço e acordo entre eles numa sofreguidão que o tempo é pouco e eu agora queria um tempo só de ler e pensar nas coisas que já fiz nas coisas que hão-de chegar por causa do que li e do que fiquei diferente ou igual com o que percorri de linhas eu sei que o tempo não chega para todos os livros que eu queria ler mas finjo que não sei e continuo a acumulá-los a amá-los e a pegar-lhes pelas pontas pelos meios pelos fins a escalá-los a mergulhá-los a comê-los cozinhá-los a fingir que os escrevo pedacinhos de mim depois de os ler pedacinhos de tanta gente que já os leu mas faço de conta meu livro que és apenas e somente meu...

Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e...

Hoje, na FPCE... Universidade de Lisboa

Eu sei que é um bocadinho em cima da hora, mas... quem estiver por perto e lhe apeteça... é só aparecer!


A Microsoft organiza pelo 4º ano consecutivo a Conferência de Professores Inovadores, um evento exclusivo para professores dos Ensinos Básico e Secundário.
Este ano, para além de uma agenda que reunirá testemunhos e intervenções sobre os temas “Escolas, Professores e Alunos Inovadores”, terá também a oportunidade de assistir à apresentação das novas ferramentas MS Web 2.0 e ao lançamento da versão portuguesa do Microsoft Matemática.

À tarde o desafio é outro!

Traga o seu portátil (se não tiver existe um número limitado disponível), escolha um dos 6 Workshops de Formação - “Learning Essentials”, “Caderno Digital”, “Windows Live” (Tafiti, Virtual Earth, Spaces,...), “Microsoft Popfly”, “Microsoft Office Visio” e “Microsoft Matemática” – e crie em 2 horas os seus próprios recursos pedagógicos.


Para saberem mais sobre, por exemplo, o Popfly... podem ir até estes locais:



Scratch...?

Foi publicado o artigo de divulgação Scratch...?, que escrevi para a secção de Tecnologias na Educação Matemática (da responsabilidade de José Duarte) da revista Educação e Matemática nº 96 de Janeiro/Fevereiro 2008 - Associação de Professores de Matemática.

(Provavelmente não devia divulgar já... mas eles vão desculpar-me a partilha aqui na teia...)

terça-feira, março 25, 2008

Projecto Pólya

Via APM, descobri este projecto
da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Excelente recurso!

Explorem, usem, partilhem com os alunos (e colegas)!

Turmas maiores... resultados piores (?)

Já várias vezes referi esta questão.

Podem encontrar um excelente e fundamentado contributo para a reflexão aqui:

Que impacto tem a dimensão das turmas...
... no aproveitamento dos alunos?

The Dot and the Line: A Romance in Lower Mathematics

segunda-feira, março 24, 2008

Canta-me uma canção... (aquela de que eu gosto tanto)

Joe Kincheloe (Os livros são como as cerejas...)

De referência em referência, sigo no rasto de Joe Kincheloe por várias razões.
Já tinha comigo um livro que me abriu horizontes, uns artigos interessantes (por muitas razões: uma divergente reconhece facilmente outros divergentes...) e agora descobri mais este livro, que bem podia ter sido escrito recentemente por estas lusas bandas (espreitem os excertos e verão)...
Na Amazon é possível "abrir" alguns livros e espreitar. Acontece isso com este e lá fui eu dar uma vista de olhos.



Deixo aqui alguns excertos significativos (podem continuar a leitura na Amazon AQUI).



Para além de tudo isto... descobri depois uma relação, que já nem me pareceu surpreendente porque plena de sentido(s), entre Kincheloe e o trabalho de Paulo Freire.
.
Aqui podem encontrar o projecto que os junta:
.
e, aqui, uma série de entrevistas (produzidas no âmbito deste projecto):
.

Um enorme e pertinente suspiro com muitos pontos de interrogação...

A Isabela autorizou...

suspiros que devem ser levados longe...
Porque são as interrogações que habitam insistentemente quem ainda se preocupa...
(Inundam-nos com leis que são supostamente respostas, mas que não respondem às nossas perguntas. Nem sei sequer a que perguntas respondem... apenas às que não nascem no centro da escola e de quem a conhece bem.)

Haverá quem escute o bater do coração de quem realmente ama e sabe quais são as perguntas importantes a fazer?

Os alunos não aprendem e a culpa é dos professores que não sabem ensinar??!!!
Esse foi o lema durante o meu estágio feito há mais de 20 anos!
Durante uma aula assistida, um aluno perguntou-me que horas eram, e aqui d’el-rei que o menino estava enfastiado! Para bem dos meus pecados ainda tinha 27 alunos interessados na aula, que me valeram para “abafar o incidente”!
Como “o professor é um actor”, fazia-se o pino, entoavam-se as palavras, passeava-se pela sala organizada em grupos de mesas, gesticulava-se, levavam-se resmas de imagens, bonecos, retroprojector, diapositivos… cada aluno era um mundo e o professor tinha que se desdobrar por 28 / 30 pequenos mundos por hora…
Não interessava muito o produto final, mas sim os processos, os percursos que cada aluno percorria durante o ano lectivo.
Trabalho de Projecto; trabalho em grupo; pedagogia Freinet; nada de autoridades; muita motivação; as aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, mas sim pela experiência; o fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo… enfim tudo era motivador.
Cada Unidade de Trabalho começava sempre por “sensibilização dos alunos ao problema de…”
E os alunos ficavam sensibilizados.
Resultou? Sim resultou. Durante muitos anos este tipo de pedagogia resultou nas minhas aulas e nas dos meus colegas. Os alunos respondiam aos desafios, experimentavam, eram curiosos, interessados e aprendiam.
E agora? Como é agora?
Se na pedagogia Freinet tudo era centrado nos interesses das crianças, porque é que agora não resulta? Quais são afinal os interesses das crianças e dos adolescentes de hoje?
Passou quase um século, desde Freinet…
Agora os interesses mudam todos os dias. Mudam muito mais depressa do que antigamente. Mudam dois dias antes de se pôr em prática a melhor pedagogia, a melhor metodologia, as melhores estratégias…
Ah! O zapping! Agora está na moda o zapping!
Hoje gosta-se disto, amanhã gosta-se daquilo. Não presta, deita-se fora, troca-se, compra-se novo, desfaz-se, muda-se de emprego, de casa, de canal de TV, de marido, de mulher, de amigos… tudo ao alcance de um click!
Estamos na era do zapping, do imediatismo, do facilitismo, “do quero ter já e depois logo se vê”!
As novas tecnologias, os novos sistemas de comunicação, entram-nos pelos olhos, pelos ouvidos, pela nossa casa dentro, todos os dias e a toda a hora. E não é mau. Usamo-las. Já não dispensamos o nosso ipod, a Tv, o PC, o telemóvel, o pocket PC, o iphone, a PSP, a pendrive… e tantos outros gadgets que nos inundam o dia a dia.
E de repente, toca para a aula e entram-nos 20/30 alunos por uma porta que se sentam em frente de um quadro negro (ou verde), virados para uma criatura que os proíbe de utilizar os Mp3 e os telemóveis, e lhes pede que estejam sentados a conjugar os verbos, a fazer equações, a ouvir contar os descobrimentos…
E eles que já nascem com a cabeça levantada, que com menos de um ano de idade percorrem os corredores dos hipermercados em alcofas e cadeirinhas penduradas nos carrinhos de compras, a levar com outdoors, cartazes, luzes, sons …
Eles que desconhecem o que quer dizer “concentração”, porque já nascem com “concentração dispersa”, eles que conseguem estar atentos a 4 ou 5 coisas ao mesmo tempo, eles que já nascem hiperactivos, têm que permanecer sentados numa sala de aula a aprender matérias que não percebem bem “para quê?”
Para quê ler, se viajam mais e melhor através da Net?
Para quê memorizar aquela quantidade de nomes ou a tabuada, se pode estar ao alcance de um click? Para quê?
Hoje já não “disfarço” os conteúdos como antigamente fazia. Eles não gostam. Acham que é tratá-los como atrasados mentais. E têm razão. Para quê projectar “a caixinha” na aula de Matemática, que é construída em Ed. Tecnológica, é pintada na aula de Ed. Visual, é cantada em Ed. Musical, é escrita no Português, traduzida em Inglês e reciclada em Ciências Naturais?
Dar “a seco” os conteúdos, porque afinal assim eles “sabem” o que estão a aprender.
Também já há salas repletas de computadores, onde os alunos se atiram vorazmente a cada PC, surfando indiscriminadamente na Net ou utilizando o MSN e outros programas do género, onde costumam passar horas a conversar com os próprios vizinhos do lado…
Já não conversam muito entre eles. Falam teclês na Internet, por SMS…
Afinal o que é que querem?
Quais são os seus interesses?
Porque é que as famílias os depositam nas escolas onde sabem estarem seguros?
Porque é que ao mesmo tempo certos pais desvalorizam a escola?
Porque é que os alunos não aprendem?
O que é que afinal quereriam aprender? Ou deveriam aprender?
Porque estão cada vez mais agressivos, mais violentos?
Porque é que os pais não os educam?
Porque é que os profs têm que “tomar conta deles” mesmo depois das aulas?
Porque é que muitos têm famílias desestruturadas e por isso mesmo gostam cada vez mais da escola, do recreio da escola?
Porque é que os profs têm que competir com a televisão, os MP3, os computadores…. etc?
Porque é que já não conseguimos sensibilizá-los para nada?
Porque é que já não se encantam com um bom livro que a professora lhes mostrou? Uma imagem? Uma exposição? Um filme? Uma aula que levou horas a preparar?
Afinal temos que competir com os gadgets que eles trazem no bolso?!!
Afinal para que é que todos temos o telemóvel no bolso, se temos que o ter desligado?
E se o meu filho precisa de mim e telefona? E a minha mãe, que está doente e sozinha?
E porque é que não posso ouvir música ao mesmo tempo que o prof. fala, se lá em casa todos trabalham no PC, com a TV ligada, o CD a tocar, os miúdos a gritarem….?
A comunicação mudou.
A comunicação mudou?
As matérias são uma seca. A professora é uma seca. Diz o meu filho em casa.
Temos que pensar o que é que queremos. Não para amanhã, mas o que queremos para daqui a 10, 20 anos.
Temos que reflectir sobre muita coisa.
Temos que reformar muitas coisas.
Temos que nos actualizar.
Temos que aprender outras coisas.
Temos que ouvir os adolescentes de hoje.
Temos que ser ajudados.
Temos que nos entre ajudar.
Temos que nos equipar.
Temos que experimentar outras coisas.
Temos que “inventar” novas aulas, novas salas de aula.
Temos que nos adaptar aos novos alunos, às novas famílias, às novas profissões, aos audiovisuais, às novas formas de comunicação, até ao zapping!
Temos que aprender novas maneiras de ensinar.
Temos que aprender novas maneiras de aprender.
Mas, de repente, cai-nos um país em cima que diz que está tudo mal e que a culpa é nossa e por isso temos que ser castigados!
Também somos pais, que diabo!
Acabo de ver na Internet o tal vídeo da aluna aos gritos e puxões à professora, só porque esta lhe retirou o telemóvel enquanto decorria a aula. Uma turma inteira a faltar ao respeito a uma professora, que tenta desesperadamente desempenhar o seu papel, que com certeza já trabalha há muitos anos. Reparo agora que não é só este, mas centenas deste género de vídeos que mostram cenas em salas de aula onde se passa tudo, menos ouvir o professor! São escolas em Portugal, em Inglaterra, no Brasil e pelos 4 cantos do mundo. Mas afinal o que é que se está a passar?! De repente todos os professores perderam a autoridade na sala de aula?! E os valores? Ainda são os mesmos valores que perduram? Respeito é sempre respeito. Falta de respeito há 20 anos é a mesma falta de respeito hoje?
Aqui em Portugal, de há 3 anos para cá tem sido uma alegria com alguns políticos a denegrirem a imagem dos professores. Nos outros países não sei. Será que a culpa é dos telemóveis?
São verdadeiros génios os professores que conseguem manter a disciplina e o interesse dos alunos (uma turma inteira – 28 alunos) numa sala de aula durante um dia!
Perguntemos aos pais de hoje se conseguem manter os vossos filhos quietos sentados à mesma mesa a conversar? Quanto tempo dura o vosso jantar lá em casa? No meu tempo era a hora sagrada em que estávamos com os nossos pais a conversar à mesa.
São os vossos próprios filhos – devem conhecer-lhes os interesses, caramba! Quanto tempo conseguem estar à conversa com eles, ou a ensinar-lhes qualquer coisa? Nem que seja só as boas maneiras? Quanto tempo conseguem prender a atenção dos vossos filhos adolescentes?
É que eu já tenho dificuldade em fazer isso mesmo com os meus próprios filhos!
Então, percebam o que é que se pode conseguir sem equipamento nenhum. Só com uma sala cheia de mesas e cadeiras, um quadro negro de giz… e 28 pessoas diferentes.
Entretanto proliferam livros e documentários sobre pequenas crianças ditadoras e pais que pedem ajuda… O que é que se passa afinal?! Os pais estão a demitir-se e pede-se à escola que os substituam também?
São tantas as questões que gostava de ver debatidas, analisadas, reflectidas em conjunto com pais, professores, alunos, governantes…
Claro que queremos ser avaliados. Claro que temos sido avaliados. Há listas de graduação a nível nacional. Estágios, formação anual, antiguidade… más condições e péssimos salários, agora congelados…
Para quando as Reformas a sério?
Uma coisa eu tenho a certeza, não se conseguirá nada sem o envolvimento de todos.
Sou mãe de 3 filhos e professora há 28 anos. Nunca tive problemas de indisciplina nas minhas aulas, mas tem-me saído do pêlo e do tempo que tiro à minha própria família, dedicando-me à escola a tempo inteiro, mas até quando?
Os alunos que me aparecem nas aulas são cada vez mais problemáticos. O seu desinteresse, a falta de empenho e de trabalho crescem avassaladoramente. As forças vão-me faltando e os resultados são cada vez menos positivos. E não, não estou a falar dos resultados do aproveitamento, mas dos resultados das estratégias que utilizamos para ganhar o interesse dos alunos. Esses são para mim os mais importantes, porque os outros decorrem naturalmente dos primeiros.
São os programas, as matérias, os fracos recursos de que dispomos, a própria estrutura em que se sucedem as aulas, as vidas familiares turbulentas e desequilibradas, a grande disparidade entre a vida lá fora e o comportamento que se pretende numa sala de aula, que provocam este desinteresse nos alunos de hoje.
Mudar? Sim. Mas como? Para onde? De que maneira?
Pensar uma escola a longo prazo e no que queremos destes cidadãos daqui a 20 anos, parece-me ser o caminho mais certo. Não interessam reformas para hoje, nem para eleições. Não é só encher as escolas de computadores, se não se souber para que os queremos ou como usá-los.
A tecnologia avançou largamente estes últimos 20 anos. E a educação? A escola? É por decreto que se faz a escola do século XXI? São os professores os culpados por todo este estado de sítio?!


Isabela

(Muitos) Recursos-Metodologias de investigação

Resources for Research Methodologies

Faculty of Education
University of British Columbia