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Eu já devia ter percebido o porquê deste meu "estado poético" desde que o dia amanheceu...
Ainda não é tarde. Leiam o Público (secção de Cultura) onde se dedica tempo a um dos meus poetas favoritos: Manuel António Pina. (Junto-lhe Eugénio de Andrade, com paixão). Escutem-no(s). Refrescam-nos a alma. Bem precisados andamos...
E depois lembrei-me de Florbela, de Sophia. E acho que hoje me irei lembrando de muitos mais, sem chegar a todos.
Ao longo deste 21 de Março de flores várias, celebrarei o dia... apenas com poesia. (A Primavera pode chegar de muitas formas possíveis...)
A avó
Tinha ao colo o gato velho
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando
Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela
Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro
(Manuel António Pina in «Os Livros»)
Ser Poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)
poema
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
(Sophia de Mello Breyner, in Livro Sexto II (1962))
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Votos de Boas Festas
Há 6 anos
5 comentários:
Não lhe temos mandado mais(borboletas)Era Uma Vez, porque temos tido aulas mas ainda não nos esquecemos do nosso Era Uma Vez. A partir de agora eu juro que vai ter mais de mil borboletas Era Uma Vez. Beijinhos das netdesenhadoras Cátia e Sofia.
Estejam descansadas! Os meus meninos também andam cheios de trabalho como vocês! Beijinhos
O meu 1ºnome é António, como tantos outros por esse Mundo fora. Talvez mais velho que a maioria dos Antónios que por aí andam a escrever blogues.
Apesar dos anos que a minha vida já percorreu mesmo assim gosto de participar...associativismo, ´páginas web, escrever/ler, desencantado com a política partidária e com muitos dos políticos (de todos os matizes).
Deixo aqui o meu testemunho do interesse que o seu blogue, cara Teresa, me despertou. Pelos temas tratados e o carinho que demonstra na sua abordagem.
Coloquei um link no meu blogue
as@nunes.com.pt
dispersamente.blogspot.com
António as Nunes
Não dei conta de que dia 21 era o dia mundial da poesia. O meu pensamento andou longe, noutra poesia, pois a minha neta mais velha nasceu com a primavera acabada de (re)nascer... que bom ser também o dia da poesia :)
Obrigada, Caro António, pelas suas palavras. Prometo visita em dia menos denso que o de hoje... É bom saber que vai havendo quem goste de repousar um bocadinho nesta teia, de vez em quando...
IC... Parabéns! Há lá poesia maior do que essa!!!! Bela maneira de celebrar o dia!
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