sábado, março 01, 2008

Setúbal: fotografia (em palavras) de um arco-íris

Encontro sim. Abraços. Gente que não via há 5, 10, 15, 20 anos.
Colegas com quem partilhei lutas difíceis, com mil cores como esta, como esta a uma só voz, numa escola de periferia que sempre nos uniu em torno de algo que transcendia partidos, filiações, simpatias. Lutávamos unidos pelo bem estar e direitos dos nossos meninos, já tão penalizados pela vida nos bairros das margens da vida. Lutávamos pela Educação, pela melhoria das condições da nossa Escola feita de barracões desconexos, de inundações, de pobreza . Gastámos muitas horas a desenvolver projectos sem recursos para poder chegar mais longe, dar-lhes tudo o que a sociedade insistia em subtrair-lhes. Para os fazer esquecer que a casa que tinham era menos lar que a pobre escola sem condições onde estavam. Foi duro, mas conseguimos. (Reparem como digo conseguimos, embora já lá não esteja há 3 anos). Muitos anos depois estão a construir uma escola nova. Não a vou habitar, mas sei que os 20 anos que passei a cuidar das dores e feridas de muitas crianças sem família a que se pudesse chamar família, de crianças com histórias impossíveis, os 20 anos passados a lutar pelos alunos, lado a lado com alguns dos melhores professores deste país, deixaram uma marca impressa nas paredes da nova escola. É um orgulho e uma honra saber que ficou lá um pedacinho meu. Que ajudei com a minha migalha, a minha semente. Que servi uma causa importante.
Não foi em vão, embora muitas vezes o desalento tivesse tomado conta de nós. Não foi em vão. E é preciso acreditar que, também agora, não será em vão.

Hoje reencontrei-os e, estranhamente, lutávamos por algo mais do que só a nossa escola. Nunca havia acontecido. Estávamos unidos ali, novamente um arco-íris com uma só voz e um só sentimento, em círculos com sentido à volta de uma estátua, outra vez juntos, mas agora com muitos mais parceiros, de muitas mais escolas (a minha actual muito bem representada - um orgulho), em nome da Escola maior sem muros, que é a casa onde todos os dias continuaremos a acolher aqueles a quem ela deve servir com real qualidade, com tempo de qualidade e exigência, não importa se a norte, se a sul, se ao centro.

Foi esta a fotografia que tirei de uma tarde simples. Deste movimento de mil cores que se vai desenhando pelo país. Gosto da metáfora do arco-íris. Nunca gostei de uma cor só e colecciono canetas e caixas de lápis de cor desde pequena.

Dia 8 irei pela segunda vez na minha vida a um novo encontro.
Não consigo sequer imaginar o tamanho do arco-íris que por lá se desenhará. Não haverá imagem que o diga. É para isso que as palavras servem. Não há tecnologia que as vença.
E eu gosto das palavras por isso mesmo.
Elas têm provado ter a força que nunca ninguém sonhou que pudessem ter.

4 comentários:

Anónimo disse...

A vossa luta tem que continuar e com toda a certeza alguma coisa vai ter que mudar, voces vão conseguir.... eu tenho esperança que a vossa persistencia vença a inflexibilidade, o cinismo, a intolerância... vamos ver, espero sinceramente que sim.
Beijinho
Ilda

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada Ilda! O vosso apoio é importante... Beijinhos

Miguel Pinto disse...

Estes encontros têm o seu quê de... estimulante. :) hummm... é impressão minha ou os colegas da península estiveram hoje um pouco... preguiçosos? (é um pequena provocação, 3za :))

Teresa Martinho Marques disse...

Diria que... preliminares para 8, muita agitação em Lisboa, hummm... fala-se em fretar autocarros na minha antiga escola :)
A noite teria outro encanto. Muita luz, muita luz...
Pois...