Vejamos:
- acabar de ver testes (há sempre mais uma ficha, um trabalho...isto não termina)
- começar a fazer a avaliação dos alunos... um a um.. critérios... ai tantos!
- actualizar o currículo (nunca se sabe o dia de amanhã... e por este andar...)
- conceber bonitas e funcionais fichas de auto-avaliação dos alunos ajustadas às alterações dos critérios de avaliação - minhas, minhas e só minhas (estão a ver aquilo em que querem transformar a educação? Viva o individualismo e a solidão!) Ou isso ou a formatação... o enquadramento e tal... tudo mais ou menos assim clonado para passar por esta coisa sem dissabores, sem altos nem baixos...
- visitar as galerias scratch em busca de projectos novos dos alunos, comentá-los (indicando erros) e seleccionar alguns para os blogues das turmas
- dar uma vista pelos blogues individuais e apontar erros para depois trabalhar em EA e no Scratch time
- fazer finalmente a folha de presenças para o Scratch time
- preparar uma sessão de escrita criativa numa escola em Setúbal à qual fui convidada a ir no âmbito da Semana da Leitura
- estruturar o trabalho de todas as aulas de tantas disciplinas diferentes para a semana que vem
- fazer uma entradinha na Teia para desabafar...
O dia vai a meio... ainda não me levantei daqui e só consegui ver os testes, fazer um esboço da actualização do currículo, produzir as fichas de auto-avaliação, tecer a teia...
É Domingo.
Há muitos professores por aí espalhados na mesma vida, que eu sei.
Já ninguém fala da forma como a distribuição da componente não lectiva é penalizadora no novo estatuto. Os professores são uma montanha de preguiçosos e é só. Aborrece-me este discurso de muitos. Muitos dos que falam, tenho a certeza, trabalham numa semana menos do que eu trabalho num fim-de-semana... e quando chegam ao fim-de-semana conseguem ir passear. Quem era preguiçoso continua a ser. Agora com razão, portanto bem mais aliviado. Não é por se obrigar uma pessoa a estar muitas horas no local de trabalho que ela trabalha mais e com mais qualidade. O nosso trabalho requer muito tempo extra, e quem não o fazia (repito sempre que era uma minoria, como em qualquer profissão), continua a não o fazer. Quem o fez sempre, está à beira de um ataque de nervos, à beira do desespero... Não era por esses, pelos melhores, que o sistema deveria ter zelado? Não eram esses que deveriam ter servido de referência?
Há muitos fins-de-semana que não saía de casa. Ontem fui a Setúbal beber um café com amigos... em nome da profissão. Sempre em nome dela. Dia 8 tenciono completar o conhecimento real de muitos amigos virtuais, num outro encontro ainda maior. A ver se a esperança nos mantém de pé.
Panorama semanal, agora a caminhar para o final do 2º período com um cansaço acumulado que nunca senti até hoje: quatro níveis diferentes 5ºM, 5ºCN, 6ºM, 6ºCN, EA, um aluno autista, um aluno com graves dificuldades de aprendizagem - ambos em ambas as disciplinas a necessitar de diferentes tipos de atenção, apoio de matemática, plano de matemática e projecto dos portáteis. A diferença entre mim e um professor que, por exemplo, só lecciona quintos anos de matemática, é: tenho menos 45 minutos por semana do tempo de estabelecimento na componente não lectiva. Estão a ver esses 45 minutos distribuídos por tudo o que tenho em mãos?
Podem dizer que sou tonta. Que conseguem não trabalhar ao fim-de-semana. Que eu devia diminuir a exigência com que defino os objectivos para o meu trabalho e crianças a quem sirvo. Faço-o apenas onde é possível e não gosto do que a minha consciência me diz, quando atrapalho e atalho caminhos.
Mas acontecem provas de aferição numa das disciplinas que lecciono, acontecem exames. O meu sentido de responsabilidade continua firme por respeito aos meninos e famílias, mesmo com a revolta de saber que só os professores de M e LP têm esse peso avaliativo da comparação das notas atribuídas por si, com os resultados dos exames e provas... e que a matemática é das duas a mais penalizadora para o professor. Curioso um sistema de avaliação que discrimina entre os pares. Justiça? Não pensem que estou a ser feudalista. Nunca fui. Mas confesso que nem sempre é fácil lidar com estas disparidades dentro da mesma profissão.
E o mestrado? Tenho de apresentar o índice da tese na próxima semana e o que tenho são apenas rascunhos e rabiscos, livros meio abertos, meio lidos, guiões meio escritos, uma solidão intelectual imensa... a tentar aprender e fazer com os alunos e observar e estudar e escrever, tudo ao mesmo tempo (sem poder pedir ajuda... onde é que tenho tempo para caminhar para Lisboa e fazer alguns encontros de tutoria? Tempo para conversar calmamente com alguém que perceba, me escute e me ajude?). Há uns dias que não agarro num livro, que não escrevo nada. Ai vida! As leis mentem-me todos os dias dizendo que tenho direito a coisas que não consigo fazer, como estudar, exigindo-me que as faça como dever de profissão (o ECD diz isto tudo) sem que as condições existam para tal. É assédio moral puro. É indigno. É ultrajante. É vergonhoso. Como é possível não ver? Que professores pretendem ter no futuro? Sábios preenchedores de grelhas e papéis? Artífices na construção e montagem de portfolios para vista (quem sabe inspirados de escola para escola - daqui a pouco haverá mercado e tráfico) que não traduzem a realidade do seu trabalho na sala de aula? Mestres em oferecer à vista de um observador umas aulitas engraçadas e voltarem ao cinzento dos dias mal este vira costas? Que rica tropa ficará por aí, quando finalmente os da velha guarda se reformarem (por mim... penso fazê-lo quando for possível, com penalização grande, desde já o afirmo, para que se perceba o que estão a fazer aos professores que realmente se preocupam. Se é o que querem, vão conseguir.
É contra a possibilidade de o cansaço acabar mesmo por tomar conta de mim e me levar a ir fazer algo diferente que possa ser cumprido com dignidade e qualidade, que luto. Contra o absurdo instituído por lei, seja o que descrevo, seja o processo de avaliação de estrutura pesadíssima que mais tempo ainda nos levará para longe dos alunos e dos nossos deveres de formação pessoal e profissional. Quero ser avaliada... não posso é sê-lo desta forma, com documentos e orientações com pouco rigor, nem por pares próximos (quanta promiscuidade), nem quando o tempo não chega nem para cumprir os mais elementares deveres. O par que me poderia avaliar não deveria ser o colega de Departamento, progenitor de uma criança que é minha aluna, por integrar o CE (sabendo que a criança gosta de mim e do meu trabalho, quer nas aulas, quer no apoio... quer nas inovações), e que tem elevado apreço e estima pelo meu trabalho e pessoa. Digo-o para que se perceba que a promiscuidade é para o melhor e para o pior... interfere, não é neutra, não pode ser desligada das emoções nem das relações.
É contra um monstro que nos vai engolindo que ainda vou erguendo a voz, com orgulho, sem medo e sem culpa.
Eu trabalho muito. Trabalho mais do que devia.
Sou professora. Não sou preguiçosa.
Ponto.
(Para os que estão a pensar... em vez de estares aqui a escrever, bem podias ir acabar o trabalho, só digo: escrevo muito muito, mas mesmo muito depressa e verbalizar o meu descontentamento, expressando as razões que me assistem com factos, faz parte do meu dever cívico... Não abdico dele, mesmo que tenha de me levantar um pouco mais cedo ou deitar mais tarde... )
Votos de Boas Festas
Há 6 anos
5 comentários:
Realmente o trabalho é muito mas não posso deixar de dar um espreitadela aqui... quando ficamos apanhados por uma teia libertadora é no que dá.
Foi mais um docinho para o meu café de domingo. E vamos ao trabalho ... e Mestrado.. é melhor nem falar!!
Carpe diem
"Mestres em oferecer à vista de um observador umas aulitas engraçadas e voltarem ao cinzento dos dias mal este vira costas?"
Retirei esse pequenino segmento do teu desabafo porque acho que também é preciso dizer que nem todos os professores são muito bons ou mesmo bons, que é preciso que queiram melhorar o seu desempenho e que sejam ajudados a isso, mas que não será assim, com este sistema de avaliação, incluindo assistências marcadas com grande prazo, que tal acontecerá. E este aspecto é só um pormenor entre tudo o mais deste sistema de avaliação, claro.
Só energia para vos deixar um sorriso :) e abraço
Muito bem verbalizado, sim senhora! Assim todo o país pudesse ouvir estes gritos de desespero. Nem sei que dizer... A não ser que, mudando umas coisitas aqui e além (disciplina, mestrado, scratch...) também eu estou agarrada à escola neste domingo de sol.
Grata pela partilha.
Ah, e obrigada por me contagiar(es) com "bloguite".
É nisso que estou a trabalhar.
Para a escola, claro!
Beijo
Paula
:)... pois... Só não vê quem não quer ver... Beijinhos
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