terça-feira, janeiro 17, 2006

A louca da casa


"A imaginação é a louca da casa"
Sta Teresa de Jesus

Já perceberam que gosto de palavras. Que as saboreio como cerejas doces.
Podem ser palavras de qualquer cor, de qualquer tamanho.
Só precisam de ser palavras tecidas com o encanto das notas nas melodias que nos fazem sentir bem.
E hoje podem ser umas, amanhã outras, porque a vida também não é sempre igual. Nem nós.

Hoje, nem sei porquê, lembrei-me de Rosa Montero.

"(...) O envelhecimento é um processo orgânico lamentável que tem apenas duas coisas boas (a primeira é que, se nos esforçarmos, aprendemos algumas coisas; e a segunda, é ser a melhor prova de que ainda não morremos) e muitas outras péssimas, como, por exemplo, os neurónios destruírem-se às mãos-cheias, as células se deteriorarem e se oxidarem, a gravidade puxar o corpo em direcção à terra-campa enfraquecendo os músculos e dependurando as carnes. Pois bem, a todos esses pesares, e a outros que não cito, é possível que também se some um fastio acabrunhante de realidade, a perda progressiva da nossa capacidade de fantasia, o anquilosar da imaginação. Ou, o que dá na mesma, a morte definitiva da criança que trazemos no nosso íntimo. Tornamo-nos velhos por fora, mas também por dentro; e deve ser por isso que os leitores, à medida que crescem, vão deixando maioritariamente de ser leitores de romances e derivam para outros mais instalados no realismo notarial, a biografia, a história, o ensaio. Este emurchecimento senil da imaginação (da criatividade) pode acontecer-nos a todos, mas se somos romancistas ficamos duplamente acabrunhados, porque neste caso ficamos sem trabalho. Então a louca da casa, farta do nosso desprezo de velhos tontos, vai-se embora com o tio Celerino à procura de cérebros mais elásticos. Para escrever, em conclusão, convém continuar a ser criança nalgum lugar de nós próprios. Convém não crescer demasiado. (...)"


Rosa,

para se ser Professor, também.




P.S. É necessária uma interrupção de realidade nas palavras da Rosa: já estou a ouvir o Cara-Metade, nas Terras do Rei Sol (tenho saudade, sabes? ainda faltam quase duas semanas...) a argumentar (e com toda a razão) que aquela coisa dos neurónios, das células, dos músculos, da gravidade, pode muito bem ser atrasada se nos dermos ao trabalho de fazer exercício regular, se nos alimentarmos como deve ser, se exercitarmos o cérebro e se nos preocuparmos racionalmente apenas na conta devida para encontrar soluções, sem nos perdermos na lamúria vaga e sem destino.
Por outras palavras, temos na mão alguma da oxidação, alguma (muita) da firmeza, do contrariar da gravidade, da vida/morte dos neurónios.

Está feita a interrupção. E eu acredito no que ele pensa e diz.

Portanto, vou andar um pouco de bicicleta, tomar umas vitaminas e um bom pequeno-almoço.

A seguir vou estimular os neurónios na preparação da oficina de matemática e na preparação de materiais para as aulas... e pensar no blog da Sala 16 e no do Dia D (não é que os miúdos viram o dos colegas e também querem fazer um!? Epidemia contagiante, esta!).

(Ocorreu-me agora, não contem à sra. Ministra que eu estou aqui... ela pode achar que, apesar de tudo, ainda me sobra muito tempo e arranjar-me mais coisas para fazer. Cruzes!)

2 comentários:

ASAM disse...

very interesting pictures

Teresa Martinho Marques disse...

Alguém que deu comigo não sei como (é engraçado isto, talvez através dos "bloguistas" da rede blogger, ou de uma qq pesquisa, não entendo bem o sistema) e que, tal como é da praxe, deixa traços seus por aí, para que possamos descobri-la também a ela.É assim que, por vezes, descobrimos bons sítios e bons passeios...