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O Gato que ensina gaivotas a voar...
“Sabe” dizia-me a mãe dela “Eu gostava que a Maria lesse mais... ela até escreveu um texto para Português a dizer que não lia muito, nem gostava muito de ler porque nunca tinha encontrado um livro que lhe tivesse tocado o coração” e continuava “Ela não o mostrou à professora? É que ela gosta tanto de Ciências que pensei... mas, provavelmente, teve receio de a magoar, pois gosta de si, gostou muito dos seus livros e não deve ter querido que ficasse a pensar que não lhe tinham tocado o coração...”.
Procurei nas minhas prateleiras uma ideia, uma resposta por entre os amigos que por lá se encostam uns aos outros, meio desalinhados de tão remexidos... E o olhar levou-me até Spúlveda: “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”.
Há duas semanas, numa aula de Ciências, entreguei-lhe discretamente o livro. “Lê quando te apetecer, demora o tempo que quiseres e no fim diz-me como foi.”
Não sei se vai ser este o livro, ou outro que um dia cruze o seu caminho...
Sei que prometo não sentir ciúme. Afinal, se não entrei no coração da Maria, terá sido para dar lugar nele, quem sabe, ao grande Luís. Com a vantagem de ser eu, e não o Luís, quem vai ter a sorte e o prazer de a ver crescer à minha frente... a ela e a todos os meninos que me levam pela mão até onde se esconde a realidade mais mágica de todas (aquela que poucos conhecem e nenhum livro conta).
O Professor vai ser sempre uma espécie de Soldado Desconhecido, uma Sereiazinha que salva secretamente o Príncipe para depois o entregar nas mãos de outra Princesa, o Gato que ensina Gaivotas a voar...
Não quer, nem espera mais do que isso...
...mas comove-se (esquece as dores e os dias escuros) quando um dia mais tarde alguém se lembra dele.
TMM
Excerto de um texto publicado no Correio da Educação,
CRIAP ASA, nº214, 28 Fevereiro 2005
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