domingo, janeiro 22, 2006

Laços


Não são visíveis. Não dependem da presença, da forma, da cor.
Há-os antigos. Há-os recentes ainda finos e longos. Há-os com dimensões médias em laboração. Em geral, quanto mais antigos, mais curtos e fortes. Esta regra parece servir a Amizade-Amizade mas encontra a sua mais evidente excepção na Amizade-Amor. É que pode acontecer o mais curto e espesso de todos os laços prender-se à Meia-Laranja, Cara-Metade, Alma Gémea...
Esse laço especial (que tem só um pouco mais de metade do tempo da minha vida toda), pode ir, por exemplo, daqui até França, como a pulga que salta da balança, embora seja a espessura que é infinita e não o comprimento. (O Comprimento? Coincidência no espaço e no tempo. O Amor é elástico.)

Os laços existem, pois, em todos os comprimentos e em todas as espessuras possíveis e impossíveis. Não se vão quando vamos, quando alguém já não está. Permanecem presos à teia da saudade, que é assim uma forma que temos, em português, de traduzir a vontade de encurtar as distâncias que vão de nós até aos outros que nos completam, quando eles não estão exactamente aqui à mão de semearmos neles qualquer coisa boa. Quando os laços vão de nós até ao céu, cresce outra saudade diferente dentro dessa primeira saudade. Mais feita de memórias que ajudam a suavizar a tristeza da transparência (sempre) presente no outro extremo do laço.

Hoje apeteceu-me só isto: lembrar todos os que moram no outro lado de todos os meus laços (aqui na terra e também no céu).
E nessa lembrança incluo alunos passados e presentes (o Professor tem, por vocação, mais espaço para prender laços... mais área na alma para os acolher. E tem um novelo de seda renovável.)

Para ti, além da lembrança, segue um beijo
com Amor
Teresa

(Nem o Fernando Pessoa se surpreenderia com cartas de amor escritas que viajam sem a demora dos selos, num instante quase instantâneo, de país em país. Ele, pela sua natureza de poeta, esteve sempre aberto a todas as possibilidades... mesmo que essas possibilidades lhe parecessem estranhas e até ridículas. Outros lhe seguissem o exemplo. Os laços que lançou conquistaram-lhe o direito à eternidade na memória colectiva, pelas razões certas.)

3 comentários:

Anónimo disse...

Nem esta distancia, nem outras maiores, nos separam. Nem mesmo a falta de acentos, nem a falta de cedilhas, nem sequer a ausencia total de correspondencia nas distancias mais remotas. Nem tao pouco as distancias que sao barreiras, que afinal tambem podem ser vencidas pela robustez da Amizade-Amor que tanto nos une. Nem mesmo a minha falta de poesia, porque de ti vem de sobra. E espero que nem a minha tao grande racionalidade, porque julgo nos ajude nos momentos dificeis e nos deixe mais livres para as emocoes e paixoes dos momentos de prazer e contemplacao.

Bem hajas pela tua emocionalidade e poesia

Com muito amor do sempre teu

Fernando

Anónimo disse...

Um amor assim, queridos Teresa e Fernando, é uma teia de vida, para a vida, pela vida.
Se ao menos a gente toda pudesse um dia viver um amor assim...
O mundo seria tão belo. A vida seria tão rica. E nós seríamos "só" nós, seres humanos autênticos, unidos numa/por uma humanidade sem limites feita de amizade-amor, feita de uma felicidade imensa que só faria sentido partilhada.
Que a vossa lição de amor sem tempo nem distância se espalhe pelo mundo todo e nos encha a todos de esperança.

IC disse...

Teresa, calo-me, discreta, perante um diálogo tão bonito.

Mas, como também se vão criando outros laços, entrei para te dizer que já te apresentei os meus netos na caixa de comentários do meu post "Véspera"