Mais do que uma avaliação eminentemente burocrática de referentes que colocam muitas dúvidas, com reduzidos efeitos na progressão intelectual, profissional e institucional, seria fundamental que nos fosse devolvido o tempo para o trabalho cooperativo, para a reflexão, para o encontro entre pares e para o encontro com outros parceiros externos. Na escola de hoje é cada vez mais difícil/impossível. Por isso me aflige ver o debate centrado na avaliação, como se essa fosse A Razão do descontentamento, sem trazer à luz a denúncia regular, persistente do tempo inexistente para o cumprimento da sua mais essencial função formativa, reflexiva e agente de mudança... (O modelo proposto é apenas o culminar de um conjunto de medidas que poupam dinheiro, acredito, mas não são mobilizadoras do empenho, de uma outra visão educativa, de uma implicação de todos na melhoria de processos e resultados e vai ter custos irreparáveis no futuro).
Não gosto de ter um estatuto que divide uma carreira em duas, sem razão sustentável e que é impraticável (já leram bem todos os deveres e direitos?). Gostava de poder cumprir realmente todos os deveres de forma exigente e aprofundada (já nem falo de usufruir dos direitos - neste momento estão a ser-me negados os mais básicos), mas qualquer leigo percebe a impossibilidade, se fizer as contas ao tempo disponível para as mais elementares tarefas caseiras associadas ao trabalho de professor, quanto mais as outras que deveriam ser essenciais no seu percurso. Claro que esta constatação poderá não ser consensual... porque a vida dos professores não é sempre igual, nem uniforme. Porque nem todos podem estar em situação de leccionar várias disciplinas ao mesmo tempo, ou ter uma componente lectiva mais pesada e estar numa escola jovem (com poucos tempos disponíveis para o plano de ocupação) onde se deita mão a todas as horas para substituições e afins, ou ter muitas turmas, ou vários alunos com "problemas" complexos, ou estudos/investigação em mão, ou projectos TIC com alunos, que ocupam muito tempo fora das aulas, ou preparação de alunos para exame (disciplinas com avaliação externa)... Mas eu, 23 anos de carreira, 45 anos e 20 tempos na componente lectiva (a que se acrescentam os outros 5/6 de presença obrigatória), falo por mim e por quem sente realmente que não consegue ter tempo para desenvolver outro tipo de projectos enriquecedores na Escola. Engano-me se disser que é a maioria?
Hoje à tarde, no âmbito dos encontros semanais do Plano de Matemática, irei apresentar na escola uma sessão sobre o Scratch para professores (para além de colegas de 2º e 3º ciclo, estará presente um professor da ESE de Setúbal e, espero, professores do 1º ciclo). Levarei comigo alguns alunos meus, do 5º e 6º anos, que me ajudarão na tarefa de formação, rentabilizando o tempo e permitirão um apoio mais individualizado a cada um dos adultos presentes (será uma surpresa... lembrei-me hoje de manhã e os alunos gostaram imenso da ideia... mais um desafio às suas capacidades). Uma hora e meia apenas. Nada. Um nada sem sequência de aprofundamento (está onde o tempo para o que importa?). Apenas aperitivo que, espero, seja estimulante, apesar dos pesares e da correria em que as escolas se transformaram.
Dar-me-ia um imenso prazer ter tempo para partilhar com outros o que vou descobrindo, pensando, fazendo nas aulas com bons resultados. E implicar os alunos nesses processos de partilha, onde fossem exemplo e agentes de mudança, junto dos docentes... É cá um sonho que eu tenho. Cada vez mais longínquo...
A Escola...
ou cresce por dentro, ou definha
ou tem tempo para pensar e aprender a amar-se a si própria, ou morre.
ou tem o ar necessário para respirar, com o apoio interno e externo ajustado às suas necessidades e características, ou asfixia...
Transformá-la em fábrica, condená-la à produção em série, à tarefa sem sentido, ao formulário para preencher, será a resposta aos problemas?
Ver diálogo completo aqui
Recordação
Há 5 anos
2 comentários:
O que se aprende do SER PROFESSOR e de sentir orgulho nisso ,lendo diariamente a sua Teia!...
Gostei, uma vez mais, de vir AQUI.
Que seja sempre feliz neste trabalho de ajudar a crescer com dignidade.Eles,os seus meninos e meninas, como a Teresa,merecem essa felicidade e saberão trazê-la consigo,como referência.
Amélia, obrigada...
Sigo o exemplo de "outros" antes de mim. Quem se revê nestes encantos é porque os sentiu e continua a sentir... :)
Beijinho
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