quinta-feira, março 06, 2008

A palavra manhã teve sabor a poesia...

Semana da Leitura.
Convite da Coordenadora da BE da Escola Básica 2,3 Lima de Freitas em Setúbal.
Encontro com escritora Teresa e duas sessões de escrita criativa para 5º e 6º anos. Pode ser?
Ai! Nunca fiz nada assim formalmente com alunos! Eu sou professora de Matemática... Será que consigo?
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Adivinhem a resposta. Hoje às oito da manhã a caminho (tudo planeado desde o ano passado).
Às nove eles entram (5º ano).
Dois alunos monitores prepararam um powerpoint sobre "mim"... na primeira sessão fui apresentada/entrevistada através dele, de forma muito original, pela aluna de 9º. Na segunda, pelo aluno de 6º. Um prazer esta forma de começar. Diferente. Saborosa. Estimulante.

O escritor escreve porquê? Escreve como? Onde nascem as palavras que oferece?
Nascem do olhar com olhos de ver por dentro das coisas. Com olhos de escutar até mesmo ao fundo delas. Por exemplo, o teu lápis... como te chamas? Tiago. O teu lápis, Tiago, pode ter coisas para me dizer. Já estou a ouvi-lo... Olha, prometo que vou escrever um poema chamado o lápis do Tiago e depois envio!

Partilha de leituras e histórias sobre livros e escrita.
As funções das palavras... ferramenta, arma, brinquedo... Estão a ver... se eu quiser reclamar num livro de reclamações de um supermercado não me ponho a dizer algo como: estava o iogurte muito bem sentado, na prateleirinha do vosso supermercado e, oh surpresa desagradável, não é que o iogurte... diz logo um aluno: estava todo estragado! Rimos.
Perceberam que há momentos em que cada palavra tem de dizer exactamente aquilo que nasceu para dizer. O poeta o que faz é apresentar palavras que não se conhecem... torná-las amigas de palavras companheiras improváveis, ou só pô-las a cantar com intenções que podem ser verdades ou fingimentos... aí entra Fernando Pessoa e a sua quadra o poeta é um fingidor... - reflectimos um pouco sobre o seu significado (6º ano)... Depois surge António Gedeão, Pastoral, a Ciência, a poesia, as metáforas... vamos buscar a obra do escritor na BE, ficam interessados. Este foi um dos meus primeiros livros de poesia, digo-lhes. Foi? Foi...
Começam a perceber... experimentamos exemplos... Beber o som do livro...

E chegam os desafios de escrita criativa.
Eles soltam-se. Os lápis e as canetas "barram com mel o papel" (roubei a ideia a um aluno)... "fazem caminhos" (outro aluno)...
O primeiro desafio em ambos os grupos foi: A palavra palavra... Continuem a ideia! Resultados excelentes. Para os mais hesitantes, aguns verbos: A palavra palavra sonha, tem, é, fica, faz, morre... todos escrevem o que lhes chega à alma...
(Quando os trabalhos feitos hoje forem divulgados no blogue da sua BE-CRE, acrescentarei aqui uma ligação. E colocarei as fotos que me enviarem, para preservar a memória de um dia tão doce e especial.)
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Antes de terminar a primeira sessão, um dos alunos monitores de 3º Ciclo (também repórter fotográfico do evento, em conjunto com mais colegas) escreveu num pedaço de papel algo para mim. A coordenadora entregou-me. Ele queria fugir. Não leia já... Mas depois deixou. As palavras dele dizem tudo e eu assim não preciso de dizer mais nada. Tocou-me. É o poder que as palavras têm...
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Entre os números e a poesia está a sua melodia.
Entre as imagens e a imaginação está o seu coração.
Na sua vida não há espaço para entristecer.
Apenas há espaço para a alegria, inspiração e uma grande vontade de viver.

Obrigada, Fábio! E a todos os meninos, por uma manhã que não esquecerei...

O prometido é devido:

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O lápis do Tiago
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Tem uma história presa,
quase quase a sair debaixo da língua, diz
(como se os lápis tivessem língua).
Mas este tem. Tem língua, tem boca e fala.
Mesmo que eu lhe diga: shiu!
ele finge que não ouve e não se cala.
O lápis do Tiago agora já não é dele nem meu
escreveu sozinho um poema que é este
e assim
mesmo pensando eu que fui eu
não fui
foi ele, o lápis, que o escreveu por mim.


Flores lindas... que não murcham depois de guardadas num local secreto.
(Espreitando na janela dos olhos, podemos saber quase tudo o que se guarda nesse sítio onde só nós vamos...)

2 comentários:

Raul Martins disse...

Quem me dera que houvessem muitos Tiagos, e lápis de Tiagos, e muitos Fábios e muitas Teresas...

Parabéns...

Teresa Martinho Marques disse...

:) Obrigada...