Desde sábado às voltas com o preenchimento on-line do relatório de avaliação intercalar do Plano de Acção de Matemática.
Relatório extenso, descritivo, aberto, obrigando a repetições... gostava eu de saber que dados conseguirão ser tratados em suporte tão pouco objectivo, que levará cada escola a relatos descritivos (orientados por uma infinidade de tópicos... supostamente para ajudar).
Mas quem sou eu? Nada sei. Só o que sinto.
Enunciámos dificuldades, ensaiámos mesmo por escrito a reclamação relativa ao reduzido tempo de componente individual que retirou aos professores o necessário tempo de leitura e investigação, de reflexão e preparação de novos materiais, novas abordagens... tempo para uma avaliação realmente cuidada das estratégias aplicadas... Tempo para assumir toda a responsabilidade, sim, avaliação sim.... mas não esta coisa estranha de gastar horas a tentar pedir desculpa por qualquer coisinha, por não vermos o sucesso aumentar milagrosamente à conta de um Plano resultante da boa vontade da tutela, que afirma ter dado todas as condições para que o espectro do insucesso partisse e não mais voltasse. Desculpem alguma desilusão, algum desalento, por esta coisa das generalizações, das estatísticas, das grandes conclusões sem análise de rigor dos processos e condições em que a vida se desenrola.
Vivemos um tempo de superfície, de números sem sentido, de aparências, de enganos.
Um tempo em que as contas servem para oferecer os resultados que queremos vê-las dar.
(Ai a televisão neste Domingo...)
E um país que se deixa enrolar por estas contas estranhas é o espelho exacto do insucesso na disciplina mais maldita de todo o universo. Querem o quê?
Mas digo com orgulho outra coisa, se me permitirem. Pela primeira vez duas turmas minhas foram testadas por outros professores no 7º ano, na mesma escola, o meu A-Team e a turma D. A primeira prova de fogo. Duas negativas em cada uma e a opinião de ambas as professoras de que estes miúdos gostavam da disciplina e se empenharam no trabalho.
Ok. Turmas normais. Não eram turmas especiais com excelente aproveitamento, mas também não eram complicadas em termos comportamentais. Tenho consciência disso. Mas fiquei contente, o que querem? Andei sempre atrás deles o ano todo procurando informar-me sobre o seu trabalho e os resultados. Continuarei a segui-los e, estatisticamente, aos que me continuarem a sair das mãos para o 3º Ciclo. Gostaria de tentar validar o exercício de algumas abordagens e poder, quem sabe, partilhá-las com outros colegas se me parecer que são úteis e oferecem resultados consistentes em condições normais. Não esqueçamos que as "janelinhas da oportunidade" para a matemática se fecham algures pelos 11/12 anos... Trabalhar com alunos no terceiro ciclo que se fecharam para esta disciplina não é tarefa fácil (tantas vezes é quase impossível). Uma responsabilidade acrescida para o 1º e o 2º ciclos...
Gostava de ter passado este tempo de actividade não lectiva em muito mais do que a elaboração de relatórios dos mais variados tipos, reuniões extensas de vários tipos (quinta mais um Conselho Pedagógico: três nestes últimos tempos), tarefas descoloridas de vários tipos. Gostava... mas as férias estão aí e não é esse o balanço que faço deste mês de Julho. Se tivesse havido tempo... teria sido bom partilhar experiências, criar materiais, ler e reflectir em conjunto sobre a diferenciação de estratégias e a utilização de determinado tipo de recursos. Fiz o possível e foi pouco. Francamente pouco.
Leio o cansaço em volta, um certo desimportamento, um certo acomodamento ao inútil. Ao estéril.
Eu às vezes contagiada a ver se sacudo a sonolência.
Vai sonolência! Vai!
Férias.
Uns livros acumulados à espera. Não são romances. Não é poesia.
Mas tenho saudade deles. Não se riam. Ja tenho um projecto importante na manga.
Partilharei quando as certezas se instalarem.
Está quase quase. Adeus à escola a partir de dia 25...
Teia não tecida diariamente no mês de Agosto, tal como no ano que passou.
Preciso... de nem sei o quê! Mas preciso...
Recordação
Há 5 anos
4 comentários:
Gostavas (gostávamos todos) de passar menos tempo a elaborar relatórios estéreis e a preencher papelada que de pouco serve (já pensaste na quantidade de poluição que deixaríamos de fazer se não os preenchessemos?) mas sem estes papéis os mangas de alpaca do Ministério não poderiam apresentar trabalho. Então os resultados não são importantes? Bem, nem por isso: se forem bons então poderão louvar-se a si mesmos, dar umas pancadinhas nas costas uns dos outros (sim, porque os bons resultados são sempre a consequência última da visão brilhante e límpida desta gente que vive confortavelmente na sua torre de marfim); se forem maus é porque foram deficientemente implementados (porque eles lêem muito e meditam profundamente - talvez por isso sejam necessários seis meses para fazer um exame que, mesmo assim, tem erros e perguntas sem solução). Em Portugal é assim. Já o é há demasiado tempo. Mas não tem de continuar: O 25 de Abril deu-nos o direito de protestar, de nos revoltarmos sem medo de irmos parar ao Tarrafal ou sermos visitados de noite pelos esbirros da PIDE, deu-nos o direito à indignação. Indignemos então.
Toda a razão! Toda!
O teu post diz tudo, mesmo tudo, 3za! (E nem te esqueceste de lembrar que as oportunidades para o sucesso na mat se fecham pelos 11-12 anos - e eu pensei no professor generalista, mas isso deve ser uma minha embirração conservadora/retrógrada).
Acho que devias pôr aí na Teia um link destacado para este post, que ainda ficou melhor com o comentário do Herr.
Beijinhos :)
:)
Às vezes a coisa enche tanto que pouco falta para a tampa saltar...
Beijinhos
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