terça-feira, maio 08, 2007

Da excepção... à regra(?)

Não vai ser fácil tecer. Fui adiando. Não gosto nada de tecer sem cores. Mas faltam-me os fios do costume.

Tento insistentemente colar a palavra excepção ao acontecimento marcante do dia de hoje. Mas, pela sua gravidade, o corpo e a mente resistem a colocá-lo lá onde ele merece, por ser o primeiro, de contorno único no ano inteiro... por merecer destaque e (tentativa de) resolução, mas não merecer acinzentar a esperança nem a alegria dos dias.
Ainda assim...

Cheguei hoje à Biblioteca e, antes de entrar, os olhos foram desviados para o estranho e vândalo ataque que, a X-ato, dilacerou todos os materiais colocados no maior painel de divulgação do átrio. Tratam-se de cartazes e documentos de enorme qualidade recolhidos pelos professores de Geografia que se destinavam a celebrar a semana da Europa (com o seu dia amanhã), organizada em conjunto com a BE-CRE.

Inacreditável.
Alguém se deu ao trabalho de cortar também o símbolo da BE e retirá-lo do painel.

Conselho Executivo, lá fui eu.... é tão preciso saber quem foi como difícil de provar, dada a inexistência aparente de testemunhas. É tão urgente punir exemplarmente, como complexo lutar contra a impunidade de um gesto cobarde feito à revelia dos olhos. Sabe-se, especula-se... alguns alunos de uma certa turma, que sistematicamente causam distúrbios na BE e são repreendidos. Hoje terá acontecido de manhã. Há jovens pouco habituados a ouvir um adulto tentando corrigir os seus comportamentos.... tão cada vez mais comum o gesto de vingança contra quem quer fazer prevalecer valores de cidadania e convívio, de aprendizagem de regras. Mais simples fechar os olhos...
... mas, desculpem, fechar os olhos aqui não tem sido, nem será opção.

Por isso voltam a repetir-se os riscos nos carros (continuam todos os dias a ocorrer) e, agora, os riscos e cortes em todo o trabalho de professores e alunos que se têm empenhado na organização desta semana.

Lá dentro há vestidos novos.
Amanhã fotografo para me renascer a esperança como flor por dentro. Hoje não consegui.

Sensação de que me cortaram também um bocadinho do verde e da claridade.
Sensação de que há algo a mudar num crescendo assustador.
Sensação de que da excepção à regra, se não se encontrar um caminho de retorno, pode ser um passinho apenas.
Sensação de que este X-ato já vem de longe e de cima, que nos corta há já algum tempo o tempo para trabalhar o que é importante, que dilacera a imagem do professor e da escola, que retalha a vida escolar e a arruma em ocupações, quantas vezes sem sentido ou sequência, que não deixem ninguém desocupado, que fere a essência do que devia ser este caminho de aprender a estar e a ser que não se resume ao dar e receber de conteúdos...
O X-ato na mão do aluno é o prolongamento de outros braços que nunca verão, também eles, a sua culpa estabelecida e provada.
Sensação de que perdi um bocadinho desta inocência que me empenho em preservar.

E não me apetece nada, mesmo nada, deixar de acreditar que o bem triunfa sempre sobre o mal.
(É nesta crença, que continuo a não sentir como absurda, que assento os alicerces da força para combater o que tem de ser combatido e da confiança em algo sempre melhor à nossa frente...)

Que imagem para ilustrar estas palavras?
Não encontro nenhuma...
(Desculpem, hoje vai mesmo assim sem cores.)

8 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, 3za: da excepção à regra vai uma grande distância, mas esta ainda acaba por se encurtar. Eu acho que num caso desses o CE devia pedir uma investigação. À polícia? Eu sei que a ideia repugna um pouco, mas quem fez isso não pode ficar impune - por todos os outros que (ainda) não cometem tais actos, e também pelos que o cometeram, porque a punição alguma coisa educa, pelo menos ensina que certos actos não ficam impunes. Sei que depois há o risco da vingança por parte do "grupo de apoio" (grupo que em geral é de mais crescidos, quando não mesmo de já adultos) mas por isso é que eu já admito que se meta a polícia. Mas isto é tudo tão complicado, já não temos pedagogias que nos valham para certos casos!

P.S. Na minha escola conseguiu-se uma espécie de piquete de segurança, eram dois polícias (um era uma mulher) preparados para lidar... digamos que pedagogicamente, com os adolescentes, e por vezes eram chamados ou alertados discretamente.

Margarida disse...

3za

Nem sabes como lamento o que aconteceu. Já estive 2 vezes numa situação semelhante, mas não conseguimos nada, nem com a intervenção da polícia, nem com a judiciária. Nada valeu e até continuaram a ameaçar, escrevendo coisas nas paredes da escola. Lá se iam repintando essas paredes, para minimizar os estragos.

Que fazer? Se tiveres receita diz. Também quero.

Entretanto deixo-te uma corzinha para te ires recompondo.

Teresa Martinho Marques disse...

Temos equipas dessas por vezes na escola..... e concordo que a polícia era coisa adequada nestes contextos... pelo menos a ideia passava de que não se ficava de mãos cruzadas... Veremos qual vai ser a sequência... Obrigada por terem vindo.... Beijinhos

Teresa Lobato disse...

3za, faço minhas as tuas palavras. Sei, tão bem como tu, o que se passa. Mas a sensação de impunidade vem de cima e interioriza-se nas pessoas de formação duvidosa: é o julgamento da Casa Pia que nunca mais acaba; são pessoas tidas como suspeitas de algum crime que continuam a sua vida pública normal; são determinações com base em uma suposta autonomia escolar que são desacreditadas por instituições superiores; são...
O problema, é que o exemplo não vem de cima.
Como se resolve? Intervindo! SEMPRE!

Anónimo disse...

Que fazer quando toda a nossa atenção e amor não chega aos corações dos nossos alunos?

O que/quem lhes terá ensinado a vedar a passagem ao afecto?

Sei que estás revoltada e, mais do que isso, triste porque te tens esforçado por amar todos incondicionalmente. Mas não desistas!

Amanhã verás, de novo, as outras cores que a vida nos oferece. Nem tudo é preto...

Bjis

Anónimo disse...

Eu sei..... obrigada!!
Beijinhos

armanda disse...

É, situações destas abalam-nos mesmo e não há receitas para o impedir. Raramente se encontram os culpados e, mesmo que se encontrem, os castigos nem sempre são os mais certos e o mal não se consegue remediar e demora a ultrapassar o desânimo. Mas a cor volta, porque, felizmente, a grande maioria dos alunos ainda merece o nosso empenho. Força!

João Torres disse...

E eu, que me habituei a vir aqui para ler e ficar contente com tanta energia, cor e relatos de coisas boas...

Hoje também fiquei triste pela falta de cor no teu post... Espero outros mais "coloridos" que, tenho a certeza, em breve escreverás.

Beijinho
João