terça-feira, maio 15, 2007

Na aula de Ciências... tudo cabe.

Abrimos o livro...
Não lhes disse nada. Melhor, disse apenas: vou fazer perguntas.
Eles já sabem.
Vão ter de procurar as respostas. Assuntos novos. Gosto de os picar, de nada lhes dar, de lhes pedir que façam eles o esforço. E eles gostam muito. Gostam de ser eles a procurar e a descobrir o que é importante compreender.
Andamos a falar da água. Já lhes disse que pouco me interessa que decorem tudo, se em casa continuarem a desperdiçá-la inutilmente, se não perceberem a importância da sua conservação, se não entenderem, em momento de crise, como tratá-la para que se torne potável.
Admirados um destes dias porque lhes disse que tenho um regador enorme ao lado da banheira. Que nele recolho a água que escorre(ria) da torneira (para o cano) enquanto a temperatura não é a suficiente para me banhar. Oh professora, boa ideia... Lá em casa essa água nunca se aproveita...
Pois... está mal... são muitos litros. Pode ser reutilizada para regar as floreiras que tenho nas varandas, no depósito do autoclismo... São imensos litros por semana, acreditem!

Voltamos ao princípio. As perguntas que eu ia fazer.
Resolvi hoje fazer uma bem complicada, sem saber que retorno esperar. Afinal eles são pequeninos, estão no 5º ano.
Foi assim:
Digam-me lá (procurando no livro a informação), qual a fracção da superfície terrestre que está ocupada por água? (O texto no livro começava assim: se dividíssemos a superfície da terra em três partes, duas delas estariam ocupadas por água...)
Primeiro pediram um bocadinho de ajuda. Fracção... como assim? E eu, ajudei sem exagero, disse-lhes que não queria usar "porção"... ou mesmo percentagem... era mais... qual a parte ocupada? Embora aceitasse que a resposta pudesse ser em percentagem.
Uma aluna de dedo no ar: oh professora, eu acho que é assim mais ou menos 70 por cento, porque eu dividi 100 por cento por 3 e isso dá mais que 30, portanto juntando duas vezes isso deve dar mais ou menos 70... Eu em silêncio escutando... Outra aluna à frente precisa mais e diz, devem ser para aí 65 por cento. 100 a dividir por 3 dá assim mais ou menos 32,5... Note-se que não foram os alunos de "cinco" a falar em primeiro lugar...

Levanto-me. Desenho em silêncio um círculo que divido em 3 partes e pinto duas. Começam eles... Ai! É assim tipo 2 por 3 professora? É aquilo das fracções que nos vai ensinar e falou um dia na aula bola de cristal?
Lá fomos caminhando, com outros exemplos e dois alunos acabaram por dizer a palavra mágica terço, terça parte.... dois terços... Oh professora é mais que metade, é mais que cinquenta por cento!

E eu toda aflita... Ai meninos que o tempo passou a correr... ai que me atraso e depois não conseguimos chegar ao fim do livro! (Pensando melhor, só com os meus botões, quero lá saber disso para alguma coisa... O que fizemos aqui é mais importante...)


Ah, é verdade, nem vos contei que um dia destes, com estes alunos, na aula de matemática, a professora do 1º Ciclo pediu para vir ensaiar umas cançõpes do Zeca para a festa do agrupamento... e que me entusiasmei depois, tive uma ideia para a apresentação do projecto de escrita colaborativa e acabámos a aula a cantar Zeca e a recitar poesia, tendo os "volumes" sido abandonados até à aula seguinte.
Não contem vocês a ninguém, pois nem sei que diga se tiver de escrever que gastei 40 minutos da aula de matemática a cantar Zeca com os alunos, em vez "de dar os conteúdos todos"...

Mas ouvi-los com voz cristalina, motivados e felizes a cantar: Dorme meu menino, a estrela... fez-me querer preservar e aproveitar o momento. E como fora das aulas se acabou o tempo para qualquer coisa extra... paciência!

Ora eu hoje vinha aqui contar-vos exactamente o quê?
Já nem sei.
Acho que vinha só falar da importância do desenvolvimento global do aluno na escola. Sim, esta escola que parece estar mais interessada na quantidade de tempo de ocupação e na quantidade de coisas dadas... do que na qualidade do que se desenvolve. Enquanto puder ir remando contra a maré sem ser avaliada com um insuficiente... (e mesmo depois... :)...

Bem, de volta à canção:
Somewhere, over the rainbow...

8 comentários:

Teresa Pombo Pereira disse...

2 coisinhas:
1ª - o meu E. tb está no 5º e também está a dar a água. Vou-lhe contar essa do regador e havemos de pôr em prática.
2ª - posso ser uma menina da tua aula? posso, posso, possso? :-D

beijocas

Teresa Martinho Marques disse...

kida...... podes sim.... ;)
Beijinhos

Anónimo disse...

E pensas muito bem, nesses pensamentos com os teus botões ;-) A gestão do tempo é o professor que faz, não o manual ou o programa [ai! mas depois vem o exame... Ao menos em Ciências (ainda) não há exames!]
Beijinhos

Anónimo disse...

:)
A inteligência 'emocional' é a mais importante qualidade de um professor...

Teresa Martinho Marques disse...

Pois... os exames... era preciso perceber primeiro o que se pretende exactamente avaliar... até lá é bem melhor que os não haja... não se esente o sufoco que se sente na Matemática... a pressa tão inimiga dos bons métodos...
E emn.... inteligência emocional... sou fã do conceito... Há imensos anos li Daniel Goleman e percebi realmente por que razão o nosso "coração" era tão importante na nossa inteligência...
Beijinhos

Anónimo disse...

...q maravilha Teresa fiquei mais uma vez encantada com as suas palavras...o q esses seus meninos ficam a ganhar... pra quê quantidade se a seguir já se esqueceu...
Tenho uma filha no 6º ano a preparar-se para as provas e que de vez em quando me diz mãe estas provas são esquisitas, pois é eu também ainda não entendi bem o q pretendem avaliar, se o aluno...se os professores... se a escola... enfim...
obrigado Teresa por estes momentos de tão boa qualidade :) ;) bjinhos***

Cristina Gomes da Silva disse...

Olá 3za, sabes que lá por casa fazemos o mesmo com a água do banho e também damos um uso parcimonioso ao autoclismo. A rapariga mais velha (9 anos) transporta esses hábitos para a escola mas outro dia relatou-me este diálogo entre ela e uma professora quando saía do WC, onde só tinha feito chichi (que não é mais do que água + algumas coisitas sem importância):
"Professora: Oh menina, o autoclismo é para puxar
B.: Eu sei mas a água é para poupar"
Resultado, a Prof. não gostou nada da resposta e ela chegou a casa ligeiramente indignada com a ligeireza...
Continua. Bjs

Anónimo disse...

Obrigada eu... E força nessas poupanças da água que o planeta sorri! Beijinhos