Esqueci-me da máquina fotográfica em casa.
Mas, também, ocupada que estive a trocar mimos com todos quantos tão bem me receberam hoje em Campelos... não teria tido tempo. Eles tiraram muitas... filmaram... hei-de (re)ver.
Tantos meninos do 5º ao 8º... tantas histórias, tantas perguntas de fazer pensar. Oh! Sempre as perguntas novas a fazer-me crescer na busca de uma resposta: Nunca se arrependeu do que publicou? (nada a fazer... em literatura as edições seguintes não mudam poemas nem contam outro romance... só à Ciência se permite a evolução do texto que acompanha cada "arrependimento" cada "erro", cada "descoberta nova") Rouba muito tempo à profissão de professora para fazer livros ? (Não roubo nem um segundo, só a enriqueço) Como é que fazendo tanta coisa tem tempo para tratar dos filhos? (Os meus filhos são vocês, os livros, as coisas a que presto atenção todos os dias.) Qual o poema que foi mais importante? (Um que fala de adeus... de aceitar a despedida mas chorar quando se tem vontade, porque aceitar não é deixar de sentir) e tantas mais...
E eu agora sei exactamente o que mais ninguém sabe: sei a Matilde de máquina fotográfica na mão, sei a Matilde atarefada no Conselho Executivo por conta das provas de aferição, sei o sorriso da Matilde, sei os olhos da Matilde... Mas sei, sobretudo, a Matilde dos abraços, dos mimos, dos beijos trocados, das cumplicidades de horas de conversa, do almoço a duas, desta coisa quase estranha, quase mágica de tanto em comum apesar da distância física, da convivência feita de um ano e pouco de palavras, da dúzia de anos que nos separa. Melhor, que nos junta.
E não, Matilde, não te embaraçarei dizendo de ti qualquer coisa entre princesa e fada, qualquer coisa entre criança e mulher, qualquer coisa, assim, entre ser plenamente e aspirar a ser ainda mais, porque é esse o motor que nos faz caminhar, Matilde, a todos. Sempre foi. Sempre será. Nada está desenhado. Vamos desenhando.
Faltava-me uma foto. Só uma para me explicar melhor. Mas sei que não pode ser.
Cheguei a casa e percebi que tinha a foto dela, a tua foto à entrada.
Exactamente como a vi, como te vi quando apareceste à porta da tua escola assim pintada da mesma cor que aqui encontrei tão perto.
E, falava eu do vento no teu canto, quando descubro, ao sair do carro, que ele tinha vindo comigo.
Em Azeitão soprava a mesma aragem fresca insistente a lembrar que o ar existe, que não é uma louca invenção dos poetas.
Deve ter vindo agarrado a mim este vento.
Veio de certeza dentro do bolso do meu coração.
Se dantes já era simples e natural trocar fios de seda, agora passou a ser preciso.
Esta és tu, rosinha perfeita cor-de-rosa. Muitas.
Porque quem disser que é só uma mente.
E nós não mentimos, pois não Matilde?
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