Com apresentação de Nuno Artur Silva e Miguel Guilherme, A História Devida baseia-se num conceito do escritor Paul Auster e pretende dar a conhecer as histórias de vida dos ouvintes da RDP.
Não tenho irmãos e o meu primo não foi à guerra dispensado por doença (faleceu ainda novo). Mas vi morrer nela dois jovens que eram como família. Um, ainda meu primo embora não em 1º grau, morreu lá com a licença no bolso para vir a Portugal - vinha conhecer a filha recém nascida. A mulher era minha companheira de infância e como família, estavam casados há um ano, ela nunca mais quis refazer a sua vida. Também outro amigo de infância, muito próxio, lá ficou. O 25 de Abril libertou as famílias portuguesas desse pesadelo, e libertou também os que lutaram contra a ditadura de perseguições, prisões e torturas (excepto os que morreram assassinados pela Pide ou em campos de concentração como o Tarrafal) Será que são precisas situações dessas para forjar homens e mulheres capazes de lutar com sacrifícios e riscos? A democracia conquistada com o 25 de Abril veio a descambar em "um luxo dos ricos", mas nem para uma lutazinha que apenas implica uns euros a menos num(nuns) vencimento(s) grande parte das novas gerações está disposta quando as políticas/medidas que lhes caem prepotentemente em cima passam por cima até de leis do Estado ainda dito Democrático? (Desculpa, Teresa, o "desvio" - memórias e presente andam sempre no meu pensamento)
E com toda a propriedade Isabel, com toda a propriedade... Será que é por conta dos provérbios "o carácter tempera-se na adversidade", "o que não mata fortalece"? Será que fomos adormecendo gradualmente sem dar conta? Beijinhos
Que maravilha, que realismo, pareceu-me estar a viver aquele tempo, desde que comecei a ouvir na rádio "Angola é nossa/Angola é nossa" até à minha ida para Moçambique pela tropa. Estive lá de 1969 a 1971. Mas fui dos felizardos, na medida em que a minha "arma" era a caneta. Estive no SAM (Serviço de Administração Militar). Mas...um dia tive um acidente de automóvel e fui em estado de coma para o Hospital Militar de Nampula (Julho de 1970). Nessa altura, decorria a célebre operação militar "Nó Górdio". O "nosso" General Kaúlza e Arriaga, com quem tive ocasião de falar uma ou duas vezes, era o Comandante da Região Militar. Quando acordei do coma, quase 24 horas depois, de madrugada, estava na sala de reanimação. Gritos, soldados a chorar, etc etc até me arrepio quando lembro esse episódio. Mas era à sua mãe que eu queria homenagear pelo texto, belo na crueza da narração, na descrição viva que mexeu com a minha memória. Tem uns pais que merecem todo o meu respeito, apesar de não os conhecer. Um grande abraço...alargado! António
Quanto ao teu pai só posso dizer que, por algum motivo, "quem sai aos seus..." Quanto à história, à guerra, também eu a vivi de perto, também lá tive familiares que, felizmente regressaram, mas tive amigos com menos fortuna. Também os meus pais tinham a vigilância da Pide e, em minha casa, sempre ouvi histórias que mais tarde me apercebi serem verdadeiras. Já passaram mais de trinta anos... Daqui a outros tantos já não haverá memórias vivas. Vamos deixar morrer o sonho? Nunca!
7 comentários:
Não tenho irmãos e o meu primo não foi à guerra dispensado por doença (faleceu ainda novo). Mas vi morrer nela dois jovens que eram como família. Um, ainda meu primo embora não em 1º grau, morreu lá com a licença no bolso para vir a Portugal - vinha conhecer a filha recém nascida. A mulher era minha companheira de infância e como família, estavam casados há um ano, ela nunca mais quis refazer a sua vida. Também outro amigo de infância, muito próxio, lá ficou.
O 25 de Abril libertou as famílias portuguesas desse pesadelo, e libertou também os que lutaram contra a ditadura de perseguições, prisões e torturas (excepto os que morreram assassinados pela Pide ou em campos de concentração como o Tarrafal)
Será que são precisas situações dessas para forjar homens e mulheres capazes de lutar com sacrifícios e riscos? A democracia conquistada com o 25 de Abril veio a descambar em "um luxo dos ricos", mas nem para uma lutazinha que apenas implica uns euros a menos num(nuns) vencimento(s) grande parte das novas gerações está disposta quando as políticas/medidas que lhes caem prepotentemente em cima passam por cima até de leis do Estado ainda dito Democrático?
(Desculpa, Teresa, o "desvio" - memórias e presente andam sempre no meu pensamento)
E com toda a propriedade Isabel, com toda a propriedade... Será que é por conta dos provérbios "o carácter tempera-se na adversidade", "o que não mata fortalece"? Será que fomos adormecendo gradualmente sem dar conta?
Beijinhos
Um beijinho :o)
Dá gosto saber que ainda há famílias assim. Um grande e doce beijinho***
(Boa sorte para o novo ano lectivo!)
Que maravilha, que realismo, pareceu-me estar a viver aquele tempo, desde que comecei a ouvir na rádio "Angola é nossa/Angola é nossa" até à minha ida para Moçambique pela tropa. Estive lá de 1969 a 1971. Mas fui dos felizardos, na medida em que a minha "arma" era a caneta. Estive no SAM (Serviço de Administração Militar).
Mas...um dia tive um acidente de automóvel e fui em estado de coma para o Hospital Militar de Nampula (Julho de 1970). Nessa altura, decorria a célebre operação militar "Nó Górdio". O "nosso" General Kaúlza e Arriaga, com quem tive ocasião de falar uma ou duas vezes, era o Comandante da Região Militar. Quando acordei do coma, quase 24 horas depois, de madrugada, estava na sala de reanimação. Gritos, soldados a chorar, etc etc até me arrepio quando lembro esse episódio.
Mas era à sua mãe que eu queria homenagear pelo texto, belo na crueza da narração, na descrição viva que mexeu com a minha memória.
Tem uns pais que merecem todo o meu respeito, apesar de não os conhecer.
Um grande abraço...alargado!
António
Quanto ao teu pai só posso dizer que, por algum motivo, "quem sai aos seus..."
Quanto à história, à guerra, também eu a vivi de perto, também lá tive familiares que, felizmente regressaram, mas tive amigos com menos fortuna.
Também os meus pais tinham a vigilância da Pide e, em minha casa, sempre ouvi histórias que mais tarde me apercebi serem verdadeiras.
Já passaram mais de trinta anos... Daqui a outros tantos já não haverá memórias vivas. Vamos deixar morrer o sonho? Nunca!
Obrigada pelas vossas palavras e testemunhos nas visitas a este cantinho... Eles são o melhor desta teia de encontros...
Abraço a todos.
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