A verdade é que na escola uso muito menos tecnologia do que precisava e deveria... Não confundam o meu entusiasmo, partilha de pistas, produção e experiências... com imensidade de recursos disponíveis a todas as horas na escola. Nem confundam o meu entusiasmo com a ideia de que tudo gira em torno da tecnologia para mim. Nem só de tecnologia deve viver a escola, nem a vida... Nós é que escolhemos a importância e o tempo que ela ocupa a nossa existência.
Mas gostava, claro, de poder fazer a opção sem estar condicionada pela permanente falta de acesso ao equipamento...
A maioria do tempo que passo com os alunos é sem computadores por perto em quantidade suficiente para colocarem as mãos na massa (sala com um PC e quadro electrónico portátil é bom, apenas uma vez por semana em Matemática, mas não chega para pôr em prática as muitas coisas que gostaria de fazer com os alunos).
A turma G não pode aceder a computadores em nenhuma aula que tem comigo (equipamentos e duas salas sempre ocupados com TIC de 3º ciclo). Às vezes Estudo Acompanhado... Só às vezes. A turma B pode aceder apenas em Área de Projecto, quando não há reuniões na sala dos portáteis.
Em síntese?
Verdade, verdade, cada turma tem direito a apenas 45 minutos semanais de clube. Sim. Depois também trabalham um pouco em casa e assim se vai conseguindo a produção que partilho. Pouca para a quantidade de alunos que tenho, essa é que é a verdade, embora de muito valor e qualidade, porque eles são empenhados e eu tento não os desamparar.
Como fiz para ampliar um pouco este tempo? "Colei" a aula de apoio de cada uma das turmas (ficando com muito mais trabalho) a esses 45 minutos de clube para garantir que entre tira portáteis do armário, liga portáteis, desliga e arruma não estivessem apenas meia hora por semana nos computadores e pudessem ficar pela sala mais 45 minutos enquanto apoio quem precisa (mesmo quem não esteja designado para ser apoiado). Não tem sido tarefa fácil: é como se fosse uma aula normal com estratégias diferenciadas... e demasiados alunos, no tempo de estabelecimento e nos 90 minutos da "redução por idade" para além da minha ainda densa componente lectiva (que eu sou velha com horário de menina). Mas... acham que lhes recusaria a inscrição voluntária no clube, quando mais nada têm de parecido como oferta? Pois...
A sessão de clube dos pequeninos tem 90 minutos, mas esses não são meus alunos e não sei que mais tempo têm. No clube são sessenta miúdos ao todo, distribuídos por três sessões, duas das quais têm oficialmente 45 minutos e não 90, como tento fazer todas as semanas com esforço, como se imagina.
Hoje, tal como a Turma G faz habitualmente, alguns alunos da Turma B surpreenderam-me com o pedido de 90 minutos de apoio a Matemática... mesmo com os PCs à mão de semear. Aproxima-se avaliação... e pediram ajuda.
Claro que os acolhi. Que valorizei a sua escolha e decisão (mesmo sabendo que deviam ter o direito a não ter de fazer a opção dessa forma algo cruel: ou uma coisa, ou outra, nesse bocadinho único que temos uma vez por semana).
E foi assim hoje a sessão do clube e do apoio: eu correndo de um lado para o outro (nada de novo aí), fracções, números, do lado do grupo que trabalhava no apoio, coordenadas no projecto do sistema digestivo da Mel e do Anjobranco, os desejos de 2009 da Lilimix e da V. e o cartão animado de Natal do H. do lado dos scratchers...
A seguir saí a correr, sem o segundo intervalo (já tinha perdido o primeiro), para mais uma aula de Matemática. Das 8:15 às 13:15 sem parar um minuto pelo meio.
E, para concluir, provando que o sistema recompensa bem os filhos da nação que tentam empenhar-se em alguma coisa... partilho (mais) um espanto. Aproxima-se um evento importante onde se vai firmar um protocolo "especial" com a presença de um elemento do MIT e me foi dada a oportunidade de falar e contar a história do trabalho com o Scratch nas aulas e fora delas... Aceitei o convite. Passei o fim-de-semana a preparar um slideshow digno e bonito que honre o nosso país aos olhos de um investigador estrangeiro e estimule o público português presente. Uma apresentação com sentido, que motive, que cative, que ajude a semear... Como o evento é na sexta... tenho de faltar nesse dia (em que estarei a trabalhar de outra forma, não só para a escola, mas também para outras escolas...). Mesmo tendo convite formal provando a necessidade da minha presença para apresentar trabalho feito na escola, com crianças da escola (entre os presentes estarão também coordenadores TIC), já me foi respondido (à pergunta se havia uma maneira da escola justificar a minha presença por lá) que esta falta não tem "enquadramento legal" pelo que terei de usar uma falta normal por conta de um dia de férias.
Acrescento apenas que... só muito muito raramente falto. E este ano só tive de o fazer uma vez a uma aula de Área de Projecto (ficando o meu par pedagógico com os alunos)... também para dar uma aula a alunos de mestrado da FPCE da Univ de Lisboa, a convite da professora, sobre o Scratch e o trabalho que desenvolvo na escola. Tudo em "tempo de férias"... porque nada disto é trabalho... tudo isto é triste... provavelmente... tudo isto é fado...
De mim só querem, ao que parece, a entrega dos objectivos individuais.
Um papel estéril que nada dirá sobre quem sou e o que ando a fazer. O "sistema" ficará sem ele, porque para mim há coisas muito mais importantes e dói-me ver a educação e a avaliação dos professores reduzida a esses nadas. Uma empresa privada teria por mim, penso eu, maior consideração. A avaliação serve afinal para quê? Me carimbarem como a um bezerro ou me ajudarem a fazer mais pela escola? Me darem condições para ajudar outros a conseguir um pouco mais, um pouco melhor?
Acontecimento como o de sexta, objectivos que tenho traçados há muito e ando a cumprir com esforço, tantas vezes sem condições, isso não é importante nem interessa muito... De tal forma que terei de fazer esse trabalho... mais uma vez... num dia de férias.
Pois.
(Vou até ali ver uns testes e depois continuar a preparar a apresentação e depois tentar ler alguma coisa - ai a minha tese sem aconchego esta semana! - e depois morrer de cansaço até às 6 da manhã debaixo do fofo edredon novo e dos lençóis de tecido polar. Ninguém me rouba a alegria de participar nestas aventuras! A alegria de partilhar. É que a minha alegria, felizmente, não precisa de enquadramento legal e posso usufruir dela sempre que quero sem pedir autorização a ninguém...)
7 comentários:
Como eu a compreendo!! E o serviço oficial serve para quê? Para almoços e lanches de representação local?
Uma Escola que não sabe reconhecer o mérito dos que lá vivem, está morta. Chamo a estas situações falta crassa de visão do que é uma Escola e do que é o acto de educar.
Fica só o gosto pessoal de ir mais além e mais nada. Vivem-se tempos mesquinhos norteados pelas invejazinhas de quem não consegue ir mais além.
Não desista. Boa apresentação (sei que sim!).
Os meus alunos continuam a investigar o scratch. Tenho é tido muito pouco tempo, entre alunos muito problemáticos e reuniões que não têm fim.
Acredito que o sistema está formatado desta forma e depois não há volta a dar. Acredito que existiria vontade e que a possibilidade legal seja inviabilizada pelas limitações impostas na lei.Nem sei quais as limitações do serviço oficial, mas depreendo que apenas se possam aplicar quando a solicitação é feita interinamente por órgãos do Ministério, o que não é o caso. Enfim. Não chega para escurecer a luz destas aventuras... fica apenas um amargozito por não ver a lei reconhecer este tipo de contributos, excluindo-os dos normativos como se não pudessem existir... Obrigada pelo encorajamento. Não tenho muito tempo para me preparar (a escola não pára, nem eu desligo o carinho e atenção aos miúdos) mas darei o meu melhor... Abraço grande
Parabéns pelo convite. Quanto ao resto... o que dizer da "legalidade" que vai agora pelas nossas escolas...
3za, permutar aulas, na tua escola, não é permitido?
É permitido. Raramente preciso. Quando posso faço-o. Mas clube e EA não se permuta (4 tempos de falta à tarde) e na manhã ainda comecei a procurar para mais quatro tempos e depois aborreci-me de andar em stress na busca, porque é uma questão de princípio e não tenho de estar sempre a trabalhar em dobro, que é o que faço, pois só tenho faltado para ir "dar o litro" a outro lado. Desta vez decidi que seria mesmo assim... se não há enquadramento legal, então faço algo que nunca acontece: tirar um dia para mim (em dois anos é a primeira vez). Compensarei os miúdos de outra forma.Nunca perdem nada comigo, eles sabem... dou sempre a volta... :)
Obrigada, Henrique... Pois... legalidade...
...esta falta não tem "enquadramento legal"...
Eu diria que uma escola assim formatada (e quem a formatou) carece de enquadramento moral...
EdMar
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