terça-feira, março 10, 2009

A Matemática... esse(s) problema(s)

Comecem por ler a IC aqui e aqui.

Parece que estamos sempre a bater no mesmo e afinal... é preciso regressar a toda a hora às mesmas coisas.

Se é fácil escolher o caminho menos percorrido? Insistir na actividade de resolução de problemas a par com os necessários procedimentos que os suportam? E tudo com duas sessões semanais de menos do que 90 minutos cada uma em competição permanente com todas as solicitações que sugam os nossos jovens?
Não, não é mesmo nada fácil.
Chega a ser frustrante e desesperante. É um caminho muito penoso. Dá muito trabalho ao professor e nem sempre ajuda à sua auto-estima com tantas dificuldades com que se vai cruzando.
É mais fácil caminhar por entre os procedimentos... eles decoram... mecanizam e vai de ter Bons e Muito Bons se os testes se suportarem apenas, por exemplo, na resolução de expressões numéricas. Eu sei. Sabe bem. O ego fica contentinho. Já recuperei a muito custo uns quantos este ano para esse lado mais simples da Matemática. Mas não é disso apenas que a matemática é feita. Aliás, isso apenas suporta a sua função maior. Se o ego ficar contentinho com tão pouco, não estamos a cumprir a nossa missão nesta disciplina.

Mas, ao mesmo tempo que me chega o desespero em dias como os das últimas semanas, em que ando de volta dos problemas sem os largar e surgem negativas na sequência de Muito Bons, também, aos poucos, se vão verificando alguns progressos.

Não baixo os braços.
É mais difícil assim, bem sei. Mas respeito demais os alunos para lhes exigir menos, colaborando na falsa sensação de que tudo corre bem e que somos todos magníficos a resolver expressões, mas incapazes de ler um enunciado ou aplicar o que temos aprendido recentemente. Se consigo com todos? Não. Mas não me canso de tentar.

Uma coisa é certa.
Não formato cabecinhas (já o disse muitas vezes). Procuro que aos poucos encontrem a compreensão que os levará progressivamente a soluções com maior economia/elegância matemática nos gestos. Continuo a comprovar que estou no caminho certo quando vejo o mesmo problema resolvido pelos alunos de muitas formas diferentes, privilegiando o cálculo ao desenho e até ensaiando, por vezes (como vou sugerindo), a escrita de uma expressão numérica única que traduza a solução.

Mas precisava de tempo de qualidade com menos alunos à frente e mais individualização dos processos de apoio. Não duvido que conseguiria ir bem mais longe. A minha turma de quase trinta alunos está a fazer um percurso complicado... ao qual se acrescentam várias crianças estrangeiras que dominam precariamente o português e algumas portuguesas com domínio também precário da língua e de... outras coisas...
Claro que a solução de sucesso no meu país foi o aumento do número de alunos nas turmas sem terem sequer o direito a redução quando há crianças especiais nelas. E subtrair tempo aos professores para poderem fazer o que realmente deviam andar a fazer.
Aplausos. Muitos aplausos pelas iniciativas que revelam um total desconhecimento do que são os jovens e as escolas no século XXI. Há diferenças... já deram por isso?

Ter um aluno este ano que veio de outra escola, repetindo o 6º com negativa a Matemática, a oferecer-me uma das soluções mais simples e elegantes da turma, no teste de hoje, tem de ser motivo de alegria. Ele, este ano e nesta nova escola, decidiu estar atento e estudar (o maior contributo para o sucesso foi seu, não meu) e deu comigo por acaso: alguém que não os limita aos mínimos para fingir que somos todos o máximo...
Não somos o máximo. Temos de nos esforçar todos os dias: eu e eles.

Para além de alguns progressos, também tenho muitas tarefas complicadas pela frente. Alunos "muito bons" em procedimentos e memória que a uma pergunta do tipo: quantos dias demoram para gastar os 5 litros de leite... respondem... 3,35 litros... Outros excelentes que... reduzem litros a... gramas(?) e até a mm(!)
Não podemos estar a toda a hora a rever todos os conteúdos que ficam para trás... mas habituei-me a trazer para a mesa uma imensidade de coisas ao mesmo tempo, pois é cada vez mais nítida a sensação de que tudo o que não é puxado continuamente para o presente é rapidamente desaprendido e enterrado por milhares de outras coisas que povoam as suas vidas com mais intensidade. As tecnologias e os jogos no centro. A TV também.
É um combate duro de travar nos tempos de hoje.

Não os deixo parar para respirar.
Não me deixo parar a mim para respirar.
Meninos! Mãos à obra! Ainda há muito caminho para ser feito!
A ver se na quinta já levo os testes todos vistos para avançarmos com o esclarecimento de dúvidas e correcções.
(A tese? A tese é nos intervalos deles... nunca eles nos intervalos da tese. O bem público acima do privado... como a política devia ser... pois...)

Para os interessados, deixo aqui alguns dos exemplos de respostas dos alunos, montados sem preciosismos numa apresentação em powerpoint. Porque na partilha se aprende/aprendia muito e porque a escola deixou de ser tempo/ter tempo para a troca de experiências e reflexão).

4 comentários:

Eulália Tadeu disse...

Como eu a compreendo!!
Por vezes, dá vontade de desistir.
Mas depois há aquelas tiradas de alguns deles, a raciocinarem tão bem que logo penso que é preciso continuar a insistir.

Teresa Martinho Marques disse...

:) Tal e qual...
Enfim... Há que aguentar firme!

IC disse...

É verdade, 3za. A actividade de resolução de problemas às vezes é frustrante e desesperante, como dizes. Como também dizes, são só duas sessões semanais de menos do que 90 minutos cada uma para muita coisa, e há que "dar" o programa todo. Lembro-me de aulas em que, no final (os meus alunos trabalhavam sempre em grupo) eu dizia: já repararam que hoje estivemos a aula toda só com dois problemas? (No tempo das de 50 min era um só). Na aula a seguir tinha que 'acelerar', mas a verdade é que aquelas aulas só com dois problemas, eles a tentarem e a resolverem pedindo-me que lhes desse tempo, que não fosse explicar no quadro, eram das melhores aulas - valia a pena. Mas o tempo não dá para lhes dar o tempo de que precisam para discutir, errar um caminho ou um raciocínio e recomeçarem, etc. No entanto, uma matemática só de procedimentos a treinar e mecanizar pode servir-lhes para terem boas ou razoáveis notas em testes na base disso, mas para nada ou quase nada serve a matemática nessas idades se não servir para os tornar capazes de pensar, raciocinar, interpretar, descobrir...
E ainda acrescento que uma matemática muito na base de memorizações e repetições de procedimentos leva-os a, quando há um problema a resolver, não conseguirem ou sair disparate porque o vão procurar na memória, o que os impede de meterem a cabeça no problema e soltarem o raciocínio. Dá uma vista de olhos a outro meu post: aqui
Muitos beijinhos e... não desesperes :))

Teresa Martinho Marques disse...

Já acrescentei a ligação (também havia gostado muito desse escrito e tem tudo a ver). Realmente o tempo é um dos piores adversãrios. Os meus fazem como os teus: oh professora, por favor não resolva! Deixe-nos pensar primeiro!

Num ambiente menos adverso, como dizes, poderíamos ir tão mais longe...
Enfim...

Muitos beijinhos