terça-feira, setembro 18, 2007

Vida, Língua, Poesia, Matemática e Ciência



Assim recebi os meninos pequeninos na aula de Ciências...

Era uma vez uma Escola e Eu
e um mar enorme para navegar.

Páginas e ondas, palavras e flores
e livros e bolas, lápis e cores
amigos antigos, outros a chegar.

Era uma vez a Escola e Eu
e um céu imenso para voar.

As respostas aguardam
por entre as estrelas...
só é preciso
saber perguntar.

Era uma vez esta Escola e Eu
e o dia de hoje
para começar...
.
E na outra aula de Ciências dos crescidos... o mistério da máquina humana a seduzir-lhes o apetite... Oh professora, é que gostei mesmo desta aula! Vou gostar muito de aprender sobre as coisas do corpo! Oh professora, podemos já hoje começar a fazer o diário alimentar?

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Na aula de matemática dos crescidos: a stora não perdoa! Eu bem dizia à minha mãe que era melhor trazer já o material todo! Começámos logo a valer! Disse-lhes: chega de férias! Julho, Agosto, Setembro... toca a marchar! Risota. E uma bolinha de cristal, vai? De repente coordenadas no quadro, x e y, até números negativos... Olha, pois.. é como as temperaturas negativas, não é stora?
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Na outra aula de Matemática dos pequeninos... bem... já é costume, quase tradição (depois dos registos habituais): colam no caderno o hino e aprendem a cantá-lo...
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Porque:

- os começos são pontas de laços doces que têm de ficar bem presos ao coração...
- a língua portuguesa (as palavras, a poesia), a matemática, a ciência não vivem em casas diferentes... (con)vivem entrelaçadas entre si e com a vida.


...




António Gedeão




Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
.
Ah como ele sabia!

Hoje cometi o erro de apontar (numa reunião de matemática... plano de acção, estão a ver?) que para além das manhãs e tardes ocupadas de segunda, terça (reuniões) e sexta... quartas ainda tinha, ou as reuniões da escola (Dep ou grupo), ou a faculdade (seminários) em Lisboa... portanto... com tantos currículos para preparar, sem manhãs nem muitas tardes, só viria às reuniões de terça se me dessem dois tempos daqueles em que somos obrigados a estar presentes na escola, já que as reuniões seriam obrigatórias... (fora isso achava que não deveriam existir). Nunca fiz nada disto... mas agora é uma questão de respeito pelos meus alunos... não lhes roubo nada a que tenham direito. Mesmo sem reuniões já excedo as 35 horas, portanto...só me custa, e disse-o, ver toda a gente tão esquecida e tão calada... se eu fosse ministra arriscava atribuir mais umas horazitas a ver se pegava... Estas já pegaram, já quase ninguém reclama e eu começo a sentir-me uma preguiçosa carta fora do baralho. Chapa 5 para todos os alunos? É por isso que estamos calados? O tempo afinal chega para tudo e eu é que estou a ver mal a coisa?Já nos ajustámos a fazer menos e com menos qualidade para sobreviver? E ficamos satisfeitos com isso? Conseguimos dormir de consciência tranquila? Temos medo de quê?

Foi então que alguém me disse /recordou (que eu ando mesmo a precisar de ser recordada, claro, armada em enfant-terrible), que "isto-escola é que é o meu emprego", que não podia argumentar com o mestrado nas tardes de quarta que é "uma coisa privada"... não faz parte do meu horário/distribuição de serviço... etc. que uns também podiam argumentar com os filhos (por exemplo aquela colega ali teve um filho há pouco tempo), outros com outras coisas...

Hummmm... ora bem... deixem cá ver se percebi: um mestrado que será um projecto de intervenção directa numa turma de quinto ano, em didáctica da matemática, com novas tecnologias, programa nunca experimentado em Portugal com potencialidade para mudar o paradigma da aula, que pode vir a revelar-se bem útil para, exactamente estas reuniões de partilha e procura de estratégias para o sucesso, para o plano de acção de matemática e tal, é algo "privado"... e não é "o meu emprego"? A escola "não tem de ter em conta" nem "ter em atenção" a formação do seu funcionário numa área de intervenção que é prioritária? Hummm... as coisas que eu estou a descobrir. Lá se vai a minha doce e infantil ingenuidade...

Pensava eu até (pensava mal, já percebi agora) partilhar neste espaço os avanços, a experiência do mestrado... como sempre tenho feito com tudo o que descubro e experimento nas minhas horas "privadas" de auto-formação para o ensino da matemática, frequentemente ao fim-de-semana... Mas não. Seria como partilhar a minha vida privada... e ninguém vai para estas reuniões partilhar detalhes da coisa não pública da sua vida, ou vai? Partilhei com todos este meu raciocínio... Durmo melhor. Talvez com custos no futuro (de repente pensei na avaliação) mas continuarei a dizer o que me parece justo sem receio.
Os miúdos não percebem nem sentem nada desta coisa paralela (oh o que já ri e sorri hoje com os meus meninos de manhã e de tarde! O tempo que já lhes dediquei! Que saudades tinha dos meus 28 na sala, a minha turbêturma! Que bom o reencontro com os pequeninos! Que feliz me sinto do lado deles e que cansada estou de muitos adultos...)

Regresso ao Gedeão... sim... sou amostra sem valor, que as estatísticas se fazem de muito mais gentes. E se as gentes não gritam... sou (somos alguns de nós) amostra sem qualquer peso ou significado. Mas...
...repito as palavras sábias e deixo-as ecoar na memória infinitamente, para acreditar que vale sempre a pena. Que sou importante. Que não posso aceitar ser só mais um e apagar-me, secar-me, reduzir-me... dissolver-me.


(...)
Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

4 comentários:

Herr Macintosh disse...

A escola "não tem de ter em conta" nem "ter em atenção" a formação do seu funcionário numa área de intervenção que é prioritária?
Já para não falar do facto de a actualização científica/pedagógica ser um dos deveres dos professores. Mas, parafraseando o célebre anúncio da Pasta Medicinal Couto (passe a publicidade): "Palavras para quê?". O resto da frase abstenho-me de dizer...

Hummm... as coisas que eu estou a descobrir.
Alegra-te. Pelo menos tu ainda vais descobrindo alguma coisa :-).

Teresa Martinho Marques disse...

Eh eh eh eh... e... até já consigo rir! Não está nada nada mal! :0) Por conta deste teu comentário... lá teve de nascer uma breve adenda...

Anónimo disse...

"Que feliz me sinto do lado deles e que cansada estou de muitos adultos"
Teresa amiga, que verdade tão verdadeira aqui dizes!
Começo a sentir necessidade de aqui vir encontrar-te quase sempre ao fim do dia. Consegues, como já te disse anteriormente, colocar em palavras os sentimentos. Isso é arte, amiga.
Um beijo,
Emília.

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada Amiga! É um prazer sentir-te aqui na minha companhia todos os dias. Esta casa é tua, é vossa... é nossa... Muitos beijinhos